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O veloz Diomansy Kamara conseguiu chegar à elite italiana pelo modesto Modena

Rápido e com muito vigor físico, Diomansy Kamara nunca foi um exímio goleador. No entanto, o atacante senegalês sempre teve bastante vontade e, com sua entrega habitual, foi capaz de contribuir em todas as posições de ataque dos clubes pelos quais passou. Sua polivalência lhe fez ser útil na Serie A, campeonato que lhe projetou para o futebol europeu, e também na Premier League. Na Itália, o jogador deixou saudades na torcida do Modena.

Filho de senegaleses, Kamara nasceu em Paris, em novembro de 1980. Ainda garoto, começou a sua carreira no pequeno e tradicionalíssimo Red Star, clube da capital francesa fundado por Jules Rimet. Diomansy se desenvolveu na base dos audoniens e ascendeu ao profissional em 1998-99, mas só permaneceu por lá por uma temporada. Depois de ter seu contrato encerrado, ficou alguns meses parado e, em meados de 1999-2000, assinou com o Catanzaro, que disputava a Serie C2.

Na quarta divisão italiana, o jovem atacante ambidestro foi galgando o seu espaço aos poucos. Em sua primeira temporada pelos giallorossi, marcou quatro gols em 11 partidas, só que o Catanzaro ficou a seis pontos do Fasano, quinto colocado, e não conseguiu se classificar para os playoffs de acesso. Mais utilizado em 2000-01, Kamara anotou cinco tentos em 25 aparições e ajudou as águias do sul a brigarem pela promoção: após a terceira posição em seu grupo na categoria, o sonho foi frustrado pelo Sora, na repescagem.

Kamara, no entanto, impressionou clubes de divisões superiores e, depois de duas temporadas na Calábria, foi adquirido pelo Chievo, promovido à Serie A pela primeira vez em sua história. O time de Verona desembolsou pouco mais de 500 mil euros para contratar o atacante, mas Diomansy mal foi utilizado. Após estrear na etapa complementar de um jogo de Coppa Italia contra o Prato, o senegalês foi repassado ao Modena, que havia subido para a segundona.

Tradicionalíssimo, o Modena foi um dos times presentes na primeira edição da Serie A, em 1929-30. No entanto, desde 1964 os canarini não frequentavam a elite e chegaram até a cair para a quarta divisão. Sob o comando de Gianni De Biasi e contando com Nicola Legrottaglie e Omar Milanetto no elenco, os gialloblù foram campeões da terceirona em 2001 e, para disputarem a segunda categoria, se reforçaram com nomes como Marco Ballotta, Maurizio Domizzi e Stefano Mauri – além, claro, do garoto Kamara.

Após passar por Catanzaro e Chievo, Kamara estreou na Serie A com a camisa do Modena (Getty)

Aos 20 anos, Diomansy foi utilizado com parcimônia por De Biasi, que não queria se precipitar com o jovem talento. O senegalês entrou em campo 24 vezes, sendo 13 como titular, e marcou quatro gols na campanha do vice da Serie B. Surpreendendo a Itália, o Modena conseguiu chegar à elite com duas promoções consecutivas.

Na Serie A, um amadurecido Kamara ganhou espaço e passou a ser utilizado por De Biasi em diversas posições do ataque. O técnico precisava dele como falso 9? Ele se propunha ao papel. Era para fazer dupla com Giuseppe Sculli num 3-5-2? Ficava ainda mais fácil. Diomansy também era capaz de atuar como ponta pela direita, pela esquerda ou mais centralizado, oferecendo suporte a um centroavante.

Realizando todas essas funções, o jogador atuou em 31 partidas e marcou seis gols, sendo cinco pela Serie A. No campeonato, Kamara anotou nas importantes vitórias sobre Parma, Atalanta e Bologna, e também num empate caseiro com a Roma. No fim das contas, o Modena somou 38 pontos e conseguiu escapar do rebaixamento na última rodada, porque superava Empoli, Reggina e Atalanta nos critérios de desempate – a Dea acabou tendo de disputar o spareggio com a equipe de Reggio Calabria e caiu.

Durante essa temporada, Kamara foi convocado para a seleção de Senegal pela primeira vez. O atacante, que optou por defender o país de seus genitores, teria a missão de manter os Leões de Teranga no alto, visto que a equipe tricolor havia impressionado na Copa do Mundo de 2002, competição em que venceu França e Suécia, chegando até as quartas de final. Diomansy estreou numa derrota por 1 a 0 em amistoso contra Marrocos, realizado em Paris.

No verão europeu de 2003, De Biasi trocou o Modena pelo Brescia. A diretoria gialloblù substituiu o treinador por Alberto Malesani, que continuou a ser titular do time – dessa vez, tendo o centroavante Nicola Amoruso como companheiro de ataque. Kamara repetiu a performance da temporada anterior, com 31 aparições e seis gols marcados, mas os emilianos não tiveram o mesmo destino. A equipe terminou na antepenúltima colocação da Serie A, com 30 pontos. Foram quatro a menos que Siena e Reggina, que escaparam do descenso.

Voluntarioso, o atacante senegalês atuou no Modena por três temporadas inteiras (AFP/Getty)

Kamara, que havia disputado a Copa Africana de Nações de 2004 por Senegal, até permaneceu no Modena pelos primeiros meses de 2004-05 e chegou a disputar dois jogos da Coppa Italia. No entanto, nos últimos dias do mercado de verão, o Portsmouth levou o atacante para a Premier League por 2,5 milhões de libras. Na época, Diomansy – que encerrou sua passagem pelos canarini com 88 aparições e 16 gols – foi a contratação mais cara da história de Pompey.

Pelo Portsmouth, Kamara começou a mostrar que poderia ser útil para a Premier League mesmo vindo de baixo. Em 2004-05, o senegalês lutou contra algumas lesões, mas conseguiu ajudar o time do sul da Inglaterra a permanecer na elite. Depois disso, acabou sendo repassado ao West Bromwich, que também havia brigado bastante para se segurar na primeira divisão.

Com a camisa do West Brom, Diomansy teve temporada bem inferior às expectativas: marcou somente duas vezes e não foi capaz de impedir o rebaixamento do time, que ainda contava com o nigeriano Nwankwo Kanu. Kamara permaneceu para disputar a segundona e se recuperou em grande estilo, alcançando o ano mais prolífico de toda a sua carreira. O senegalês anotou 21 gols no campeonato (23 no total, considerando a Copa da Inglaterra) e, como terceiro principal artilheiro da competição, foi o craque dos Baggies. O WBA ficou com a quarta posição e só não retornou à Premier League porque perdeu a final dos playoffs de acesso para o Derby County.

O grande desempenho na segunda divisão inglesa devolveu Kamara à elite. Em julho de 2007, o Fulham pagou 6 milhões de libras ao West Brom, que conseguiu a sua venda recorde naquela altura. Na primeira temporada pelos Cottagers, o senegalês se destacou por ter anotado, nos acréscimos, um gol de bicicleta num empate por 3 a 3 com o Tottenham e pela contribuição na campanha de permanência na elite. Porém, nos dois anos seguintes, perdeu espaço com o técnico Roy Hodgson após romper os ligamentos cruzados do joelho. Até participou do esforço que resultou no melhor desempenho dos londrinos na Premier League (o sétimo lugar, em 2008-09), mas de forma tímida.

No fim das contas, as lesões e o desprestígio com Hodgson fizeram Kamara deixar o Fulham. O senegalês rejeitou sondagens do Bordeaux e da Roma e, em fevereiro de 2010, foi emprestado ao Celtic. Na Escócia, também não jogou muito. Marcou três gols e forneceu quatro assistências, mas só entrou em campo 10 vezes. O aproveitamento até foi positivo, mas Diomansy não oferecia garantias físicas e os Bhoys optaram por não exercerem o direito de compra de seu passe.

O senegalês comandou o ataque do Modena, mas não evitou o rebaixamento do time, em 2004 (AFP/Getty)

Kamara tinha a esperança de acertar com o Paris Saint-Germain, seu time do coração, mas voltou ao Fulham – e também não caiu nas graças do técnico Mark Hughes. Em março de 2011, o Leicester, então treinado por Sven-Göran Eriksson e militante na segunda divisão inglesa, adquiriu o senegalês por empréstimo. Diomansy teve desempenho pífio pelos Foxes e marcou somente dois gols pela equipe. Em baixa e na condição de agente livre, o atacante aceitou se mudar para a Turquia. O destino foi o Eskisehirspor.

Pouco depois de assinar com os turcos, Kamara, então com 31 anos, fez seus últimos jogos pela seleção de Senegal. Com a camisa dos Leões de Teranga, o atacante jamais disputou uma Copa do Mundo, já que o país não conseguiu se classificar para as edições de 2006 e de 2010 do torneio. Diomansy disputou a Copa Africana de Nações em três oportunidades (2004, 2006 e 2008) e foi titular na campanha do quarto posto obtido pelos tricolores, em 2006.

Pelo Eskisehirspor, Kamara teve seus últimos momentos de brilho. Em 2011-12, foi vice-artilheiro da Süper Lig, com 15 gols, e ajudou a equipe, conhecida como estrela da Anatólia, a brigar por vaga na Liga Europa. No segundo ano, teve bom desempenho numa campanha de meio de tabela e, no terceiro, contribuiu para que o time fosse vice-campeão da Copa da Turquia.

Em fim de contrato e beirando os 34 anos, o senegalês recebeu uma oferta do Catanzaro e decidiu ajudar o time que o projetou a sair da terceira divisão italiana. No entanto, problemas físicos e o desarranjo econômico dos giallorossi levaram Kamara a rescindir o seu contrato em fevereiro de 2015 – os calabreses ainda terminariam o campeonato apenas no meio da tabela.

Depois de deixar a Itália, Kamara assinou com o NorthEast United, da Índia, e pendurou as chuteiras em dezembro de 2015, aos 35 anos. Aposentado, se mudou para Dakar, capital do Senegal, e abriu uma escolinha de futebol, além de ter se tornado consultor de um canal esportivo e passar a ter uma atuação no setor imobiliário da cidade. Enquanto isso, Catanzaro e Modena, times pelos quais brilhou, lutam para voltarem aos bons tempos.

Diomansy Mehdi Moustapha Kamara
Nascimento: 8 de novembro de 1980, em Paris, França
Posição: atacante
Clubes: Red Star (1998-99), Catanzaro (1999-2001 e 2014-15), Chievo (2001), Modena (2001-04), Portsmouth (2004-05), West Bromwich (2005-07), Fulham (2007-10 e 2010-11), Celtic (2010), Leicester (2011), Eskisehirspor (2011-14) e NorthEast United (2015)
Seleção senegalesa: 52 jogos 9 gols

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