Jogadores

Parceiro de Roberto Baggio, Stefano Borgonovo foi vítima de doença degenerativa

Stefano Borgonovo, um dos grandes parceiros de Roberto Baggio no futebol, viveu um drama no fim de sua vida: faleceu, em 2013, devido a complicações da esclerose lateral amiotrófica (ou ELA). Em campo, o jogador lombardo teve passagens por Fiorentina e Milan, sendo um dos bons avantes das décadas de 1980 e 1990. Fora dos gramados, acabaria se tornando, desde que recebeu o diagnóstico da doença que o vitimou, uma bandeira para os portadores e seus familiares.

Borgonovo nasceu em Giussano, na província de Monza e Brianza, e fez as categorias de base na vizinha Como. Pelo clube homônimo, o atacante concluiu sua formação e estreou na Serie A, três dias antes de completar 18 anos, fazendo sua única partida na temporada 1981-82, que acabou com a queda da equipe para a Serie B.

Após mais um ano atuando pelo Como, Borgonovo entrou em algumas partidas na campanha que levou os lariani de volta à elite, mas foi emprestado para a Sambenedettese, que jogava a segunda divisão. Pelo clube marchegiano apareceu de vez: marcou 13 gols pelo campeonato cadetto e, ao final da temporada 1984-85, voltou para seu clube de origem. Enfim teria a oportunidade de atuar na Serie A de uma forma mais contínua.

Atacante começou a carreira no Como e continuou ligação com o clube após se aposentar (Liverani)

O atacante lombardo não só estreou na primeira divisão como foi titular e principal jogador da ótima campanha do Como em 1985-86 – e olha que o brasileiro Dirceu fazia parte do time, juntamente com o selecionável sueco Dan Corneliusson. Aos 21 anos, Borgonovo foi o grande artilheiro dos azzurri na Serie A, e, com outros três gols na Coppa Italia, fechou a temporada com 13 tentos. Em suas atuações, o atacante mostrou muito oportunismo e presença de área, oferecendo o corpo para proteger a posse de bola e fazer o trabalho de pivô. Bom finalizador, Borgonovo também cabeceava bem e era mestre em dar cortes curtos antes de chutar a gol.

Na Serie A, o Como ficou com a 9ª posição, a apenas três pontos da classificação para a Copa Uefa, e na copa acabou caindo apenas nas semifinais. Borgonovo fez um gol decisivo na prorrogação do jogo de volta contra a Sampdoria, e sua equipe ia se classificando, com vitória por 2 a 1. Porém, um objeto lançado ao campo feriu o árbitro, que suspendeu a partida. No tapetão, a Samp avançou.

Após as grandes exibições com a camisa comasca, Borgonovo foi convocado para a seleção sub-21 da Itália, que foi vice-campeã europeia em 1986. O jovem também atraiu a atenção do Milan, recém-adquirido por Silvio Berlusconi, que o contratou em 1986. No entanto, o atacante passou outros dois anos emprestado ao Como, nos quais teve atuações irregulares, e que não convenceram os rossoneri a levá-lo para Milão. Dessa forma, foi cedido novamente, desta vez à Fiorentina, que o levou para a Toscana.

No estádio Artemio Franchi, Borgonovo teve a sua melhor temporada como profissional. Sob o comando de Sven-Göran Eriksson, Borgonovo chegou para disputar posição com Diego Aguirre (hoje técnico do Atlético-MG) e com Roberto Pruzzo, uma vez que Baggio era titular absoluto. O uruguaio, que não agradou o treinador, logo foi negociado, e o ex-centroavante da Roma esquentou o banco florentino. A dupla de ataque, então, ficou sendo a chamada B2, Baggio e Borgonovo, sustentada por um sistema defensivo forte, com os volantes Dunga e Celeste Pin e o zagueiro Glenn Hysén.

Borgonovo alcançou um patamar mais alto com a camisa da Fiorentina, na qualidade de parceiro de Baggio (Ansa)

A dupla de ataque da Fiorentina foi implacável e marcou 29 dos 44 gols dos viola: Baggio fez 15 e Borgonovo 14. As redes balançadas pela dupla foram fundamentais para que a Viola alcançasse a 7ª posição e uma vaga na Copa Uefa. Entre os principais momentos do atacante naquela temporada se destacam a cabeçada que valeu o gol da vitória sobre a Juventus, nos últimos minutos do clássico, além da doppietta em um 4 a 3 sobre a campeã Inter, que teve a melhor defesa da Serie A. No entanto, o gol mais bonito de sua passagem pelos gigliatti foi um gol de bicicleta contra o Pisa.

Ao final da temporada, o Milan enfim quis exercer o seu direito contratual e determinou que Borgonovo embarcasse rumo à principal cidade lombarda. O atacante, que chegou a receber três convocações para a seleção italiana, até pediu para ficar emprestado à Fiorentina por mais um ano, mas o diretor Adriano Galliani bateu o pé e não o liberou. Nos amistosos de verão e no início de 1989-90, Borgonovo foi muito bem e marcou gols, mas uma séria lesão no joelho o tirou de combate por vários meses – ele pediu, inclusive, para se tratar em Florença.

Após se recuperar, o atacante voltou na reta final da campanha e foi fundamental nas semifinais da Copa dos Campeões contra o Bayern de Munique: na ida ele sofreu um pênalti, convertido por Marco van Basten, e, na volta, anotou o gol que valeu a classificação rossonera pelo placar agregado. Na final contra o Benfica, o título ficou com os italianos. Foi a terceira e última taça que Borgonovo conquistou no Milan e na carreira, após a Supercopa Uefa e o Mundial Interclubes.

Mesmo tendo ajudado o Diavolo, depois da lesão Borgonovo nunca mais foi o mesmo. O atacante foi vendido pelos rossoneri à Fiorentina após uma única temporada, e na segunda passagem pela Toscana foi mal, prejudicado pela má fase da equipe. Sem muito dinheiro e com poucos jogadores de qualidade, a Fiorentina lutou para não cair nos dois anos em que o atacante ficou por lá – em um deles, treinado pelo brasileiro Sebastião Lazaroni. Com apenas sete gols anotados em dois anos, ele se transferiu para o Pescara junto com Dunga, mas seus nove gols não impediram que a equipe fosse a lanterna da Serie A.

Os únicos títulos da carreira de Borgonovo ocorreram na sua curta passagem pelo Milan (Arquivo/AC Milan)

Borgonovo ficou mais um ano no Pescara, mas sem muito sucesso. Nos dois anos sucessivos, que foram os últimos de sua carreira, só marcou cinco gols, na primeira passagem com a camisa da Udinese, e passou em branco no Brescia e na volta ao Friuli. Em 1996, com apenas 32 anos, ele pendurou as chuteiras e se afastou do futebol até 2000, quando assumiu o cargo de treinador nas categorias de base do Como. Cinco anos depois, ele abandonou o trabalho por causa de um sério problema de saúde. Ali começava o maior desafio da vida de Borgonovo – uma batalha que, infelizmente, ele não conseguiu vencer.

Três anos depois de deixar o mundo do futebol, a família de Borgonovo anunciou que ele sofria de esclerose lateral amiotrófica, a mesma doença que o físico Stephen Hawking tem e que acometeu alguns jogadores, como Gianluca Signorini (Genoa) e Adriano Lombardi (Avellino). A doença neurodegenerativa o fez perder a capacidade de se movimentar, falar e de se alimentar sozinho, e impulsionou a criação de uma fundação com seu nome, para pesquisar mais sobre a doença e ajudar portadores e familiares a terem uma vida melhor.

A entidade organizou uma série de amistosos para arrecadar fundos e ajudou muita gente, mas, em 2013, o ex-atacante faleceu, em casa, deixando esposa e quatro filhos. No mesmo dia, a Itália jogou contra a Espanha, pela Copa das Confederações, e homenageou Borgonovo, utilizando braçadeira em sinal de luto. Mesmo que ele não esteja mais entre nós, torcemos para que o seu legado continue deixando frutos para quem padece de ELA.

Stefano Borgonovo
Nascimento: 17 de março de 1964, em Giussano, Itália
Morte: 27 de junho de 2013, em Giussano, Itália
Posição: atacante
Clubes: Como (1982-84 e 1985-88), Sambenedettese (1984-85), Fiorentina (1988-89 e 1990-92), Milan (1989-90), Pescara (1992-94), Udinese (1994 e 1995-96) e Brescia (1994-95)
Títulos: Supercopa Uefa (1989), Mundial Interclubes (1989) e Copa dos Campeões (1990)
Seleção italiana: 3 jogos

Compartilhe!

Deixe um comentário