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Parceiro de Roberto Baggio, Stefano Borgonovo foi vítima de doença degenerativa

Caso estivesse vivo, Stefano Borgonovo estaria completando 52 anos nesta quinta, 17 de março de 2016. No entanto, o ex-parceiro de Roberto Baggio no ataque da Fiorentina faleceu, em 2013, devido a complicações da esclerose lateral amiotrófica (ou ELA). Em campo, o jogador lombardo foi um dos bons avantes das décadas de 1980 e 1990, e quando recebeu o diagnóstico da doença, acabou se tornando, através de uma fundação, uma bandeira para seus portadores e familiares.

Borgonovo nasceu em Giussano, na província de Monza e Brianza, e fez as categorias de base na vizinha Como. Pelo clube homônimo, o atacante concluiu sua formação e estreou na Serie A, três dias antes de completar 18 anos, fazendo sua única partida na temporada 1981-82, que acabou com a queda da equipe para a Serie B.

Após mais um ano atuando pelo Como, Borgonovo entrou em algumas partidas na campanha que levou os lariani de volta à elite, mas foi emprestado para a Sambenedettese, que jogava a segunda divisão. Pelo clube marchegiano apareceu de vez: marcou 13 gols pelo campeonato cadetto e, ao final da temporada 1984-85, voltou para seu clube de origem. Enfim teria a oportunidade de atuar na Serie A de uma forma mais contínua.

Atacante começou a carreira no Como e continuou ligação com o clube após se aposentar (Liverani)

O atacante lombardo não só estreou na primeira divisão como foi titular e principal jogador da ótima campanha do Como em 1985-86 – e olha que o brasileiro Dirceu fazia parte do time, juntamente com o selecionável sueco Dan Corneliusson. Aos 21 anos, Borgonovo foi o grande artilheiro dos azzurri na Serie A, e, com outros três gols na Coppa Italia, fechou a temporada com 13 tentos. Em suas atuações, o atacante mostrou muito oportunismo e presença de área, oferecendo o corpo para proteger a posse de bola e fazer o trabalho de pivô. Bom finalizador, Borgonovo também cabeceava bem e era mestre em dar cortes curtos antes de chutar a gol.

Na Serie A, o Como ficou com a 9ª posição, a apenas três pontos da classificação para a Copa Uefa, e na copa acabou caindo apenas nas semifinais. Borgonovo fez um gol decisivo na prorrogação do jogo de volta contra a Sampdoria, e sua equipe ia se classificando, com vitória por 2 a 1. Porém, um objeto lançado ao campo feriu o árbitro, que suspendeu a partida. No tapetão, a Samp avançou.

Após as grandes exibições com a camisa comasca, Borgonovo foi convocado para a seleção sub-21 da Itália, que foi vice-campeã europeia em 1986. O jovem também atraiu a atenção do Milan, recém-adquirido por Silvio Berlusconi, que o contratou em 1986. No entanto, o atacante passou outros dois anos emprestado ao Como, nos quais teve atuações irregulares, e que não convenceram os rossoneri a levá-lo para Milão. Dessa forma, foi cedido novamente, desta vez à Fiorentina, que o levou para a Toscana.

No estádio Artemio Franchi, Borgonovo teve a sua melhor temporada como profissional. Sob o comando de Sven-Göran Eriksson, Borgonovo chegou para disputar posição com Diego Aguirre (hoje técnico do Atlético-MG) e com Roberto Pruzzo, uma vez que Baggio era titular absoluto. O uruguaio, que não agradou o treinador, logo foi negociado, e o ex-centroavante da Roma esquentou o banco florentino. A dupla de ataque, então, ficou sendo a chamada B2, Baggio e Borgonovo, sustentada por um sistema defensivo forte, com os volantes Dunga e Celeste Pin e o zagueiro Glenn Hysén.

Borgonovo alcançou um patamar mais alto com a camisa da Fiorentina, na qualidade de parceiro de Baggio (Ansa)

A dupla de ataque da Fiorentina foi implacável e marcou 29 dos 44 gols dos viola: Baggio fez 15 e Borgonovo 14. As redes balançadas pela dupla foram fundamentais para que a Viola alcançasse a 7ª posição e uma vaga na Copa Uefa. Entre os principais momentos do atacante naquela temporada se destacam a cabeçada que valeu o gol da vitória sobre a Juventus, nos últimos minutos do clássico, além da doppietta em um 4 a 3 sobre a campeã Inter, que teve a melhor defesa da Serie A. No entanto, o gol mais bonito de sua passagem pelos gigliatti foi um gol de bicicleta contra o Pisa.

Ao final da temporada, o Milan enfim quis exercer o seu direito contratual e determinou que Borgonovo embarcasse rumo à principal cidade lombarda. O atacante, que chegou a receber três convocações para a seleção italiana, até pediu para ficar emprestado à Fiorentina por mais um ano, mas o diretor Adriano Galliani bateu o pé e não o liberou. Nos amistosos de verão e no início de 1989-90, Borgonovo foi muito bem e marcou gols, mas uma séria lesão no joelho o tirou de combate por vários meses – ele pediu, inclusive, para se tratar em Florença.

Após se recuperar, o atacante voltou na reta final da campanha e foi fundamental nas semifinais da Copa dos Campeões contra o Bayern Munique: na ida ele sofreu um pênalti, convertido por Marco van Basten, e, na volta, anotou o gol que valeu a classificação rossonera pelo placar agregado. Na final contra o Benfica, o título ficou com os italianos. Foi a terceira e última taça que Borgonovo conquistou no Milan e na carreira, após a Supercopa Uefa e o Mundial Interclubes.

Mesmo tendo ajudado o Diavolo, depois da lesão Borgonovo nunca mais foi o mesmo. O atacante foi vendido pelos rossoneri à Fiorentina após uma única temporada, e na segunda passagem pela Toscana foi mal, prejudicado pela má fase da equipe. Sem muito dinheiro e com poucos jogadores de qualidade, a Fiorentina lutou para não cair nos dois anos em que o atacante ficou por lá – em um deles, treinado pelo brasileiro Sebastião Lazaroni. Com apenas sete gols anotados em dois anos, ele se transferiu para o Pescara junto com Dunga, mas seus nove gols não impediram que a equipe fosse a lanterna da Serie A.

Os únicos títulos da carreira de Borgonovo ocorreram na sua curta passagem pelo Milan (Arquivo/AC Milan)

Borgonovo ficou mais um ano no Pescara, mas sem muito sucesso. Nos dois anos sucessivos, que foram os últimos de sua carreira, só marcou cinco gols, na primeira passagem com a camisa da Udinese, e passou em branco no Brescia e na volta ao Friuli. Em 1996, com apenas 32 anos, ele pendurou as chuteiras e se afastou do futebol até 2000, quando assumiu o cargo de treinador nas categorias de base do Como. Cinco anos depois, ele abandonou o trabalho por causa de um sério problema de saúde. Ali começava o maior desafio da vida de Borgonovo – uma batalha que, infelizmente, ele não conseguiu vencer.

Três anos depois de deixar o mundo do futebol, a família de Borgonovo anunciou que ele sofria de esclerose lateral amiotrófica, a mesma doença que o físico Stephen Hawking tem e que acometeu alguns jogadores, como Gianluca Signorini (Genoa) e Adriano Lombardi (Avellino). A doença neurodegenerativa o fez perder a capacidade de se movimentar, falar e de se alimentar sozinho, e impulsionou a criação de uma fundação com seu nome, para pesquisar mais sobre a doença e ajudar portadores e familiares a terem uma vida melhor.

A entidade organizou uma série de amistosos para arrecadar fundos e ajudou muita gente, mas, em 2013, o ex-atacante faleceu, em casa, deixando esposa e quatro filhos. No mesmo dia, a Itália jogou contra a Espanha, pela Copa das Confederações, e homenageou Borgonovo, utilizando braçadeira em sinal de luto. Mesmo que ele não esteja mais entre nós, torcemos para que o seu legado continue deixando frutos para quem padece de ELA.

Stefano Borgonovo
Nascimento: 17 de março de 1964, em Giussano, Itália
Morte: 27 de junho de 2013, em Giussano, Itália
Posição: atacante
Times em que atuou: Como (1982-84 e 1985-88), Sambenedettese (1984-85), Fiorentina (1988-89 e 1990-92), Milan (1989-90), Pescara (1992-94), Udinese (1994 e 1995-96) e Brescia (1994-95)
Títulos conquistados: Copa dos Campeões (1990), Mundial Interclubes (1989) e Supercopa Uefa (1989)
Seleção italiana: 3 jogos

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