Todos os anos 1990 e a parte inicial dos anos 2000 foram uma época de glórias esportivas para o futebol italiano. No entanto, a construção de esquadrões teve sua consequência: o gasto desenfreado com jogadores e seus salários pagou sua conta. A bolha criada pelos altos custos fez com que boa parte das equipes italianas acabasse enfrentando problemas financeiros, uma vez que a administração deles não era sustentável. Foi o que aconteceu com a Lazio, que antes de quase falir gastou o equivalente a 48 milhões de euros com o basco Gaizka Mendieta, uma das piores contratações da história da Serie A.
Mendieta era um meio-campista que atuava pelo lado direito. Nascido em Bilbao, ele começou a atuar pelo Castellón, time valenciano, e logo passou para o Valencia, maior clube da região. Foi em quase 10 anos pelos Che que o espanhol ganhou maior destaque, especialmente a partir de 1999: primeiro, com Claudio Ranieri, faturou três títulos, enquanto depois, com Héctor Cúper, foi vice-campeão da Liga dos Campeões em dois anos seguidos. Após as duas campanhas europeias, foi eleito pela Uefa o melhor meio-campista do continente em ambas as temporadas: moderno, tinha visão de jogo privilegiada, cobrava faltas, sabia aparecer para finalizar e ainda era bom marcador.
Àquele momento, a Inter, agora treinada por Cúper, queria contratar Mendieta, mas foi a Lazio que desembolsou o valor necessário para tirá-lo do Valencia. O espanhol seria um reforço que manteria a tendência de negócios impactantes feitos pelo presidente Sergio Cragnotti: Christian Vieri e Hernán Crespo já haviam entrado para o rol de transferências mais caras do mundo e Gaizka entrou para o ranking das 10 maiores. O basco também chegaria para reforçar um meio-campo que perdera Juan Sebastián Verón para o Manchester United e Pavel Nedved para a Juventus – não havia divergência de que era o setor a ser reforçado. Mas Mendieta era o nome ideal? O técnico Dino Zoff tinha dúvidas sobre isso.
Logo no início da temporada o treinador mostrou seu ceticismo, mas após três partidas, Zoff foi demitido. Alberto Zaccheroni, seu substituto, continuou com os mesmos problemas: tentou deslocar Mendieta para o centro do meio-campo, mas o jogador de 48 milhões de euros errava muito e, por isso, foi sendo colocado à margem do time titular à medida que a temporada avançava.
Além de não acertar passes e até mesmo seu posicionamento em campo, Mendieta também não fazia gols – isso em uma temporada na qual a Lazio não brigava pelas posições mais altas da tabela. Em 27 jogos (20 na Serie A e sete na Champions), o meia não anotou um gol sequer, algo bem diferente do que estava acostumado, uma vez que havia marcado 54 gols nas quatro temporadas anteriores.
O desempenho decepcionante para um jogador tão caro deixou a torcida impaciente. Assim, a diretoria da Lazio quis se desfazer de Mendieta apenas um ano depois de sua chegada. Recuperar o investimento seria quase impossível: o Real Madrid se interessara pelo espanhol anteriormente, mas uma cláusula proibia a Lazio de vender o espanhol para os merengues (a não ser que pagasse uma multa).
A solução foi tentar aliviar pelo menos a folha salarial, e por isso Mendieta foi emprestado ao Barcelona, que não vivia grande fase na época e ficou apenas na 6ª posição de La Liga no ano em que o espanhol vestiu blaugrana. Depois de mais uma decepção, o meia foi negociado com o Middlesbrough, da Premier League inglesa.
Ao todo, a Lazio só recuperou 5 dos 48 milhões investidos em Mendieta. No entanto, o clube não tinha chegado a pagar ao Valencia tudo o que devia e, em 2004, para liquidar a dívida, cedeu o meia Stefano Fiore e o atacante Bernardo Corradi aos morcegos valencianos, à época treinados por Ranieri. A dupla fracassou retumbantemente na cidade mediterrânea e, de alguma forma, os clubes ficaram quites também em campo: todos saíram perdendo.
A separação definitiva entre Gaizka Mendieta e a Lazio levou os dois a um caminho de percalços e poucas glórias. O meia ficou cinco anos no clube inglês, venceu uma Copa da Liga Inglesa em sua primeira temporada, mas depois conviveu com muitas lesões e pouco jogou: já como reserva, viu o time de Teeside ser vice-campeão da Copa Uefa, em 2006. O espanhol se aposentou em 2008, aos 34 anos, e fixou morada em Yarm, cidade próxima a Middlesbrough. Hoje, ele vive uma espécie de crise da meia-idade: fez implante de cabelo para se livrar da calvície, é dj e tem uma banda.
Os celestes, por sua vez, enfrentaram um processo forte de crise. A empresa alimentícia Cirio era de propriedade do presidente Cragnotti e financiava a Lazio, mas faliu em 2004, afetando o clube. O próprio cartola foi condenado por administração fraudulenta e teve de deixar o comando do time romano, que acabou ficando com Claudio Lotito. Desde então, os aquilotti conquistaram duas Copas da Itália, uma Supercopa Italiana e ficou duas vezes na terceira posição da Serie A. E não torraram mais dinheiro em nenhum Mendieta.
Gaizka Mendieta Zabala
Nascimento: 27 de março de 1974, em Bilbao, Espanha
Posição: meio-campista
Clubes em que atuou: Castellón (1991-92), Valencia (1992-2001), Lazio (2001-02), Barcelona (2002-03) e Middlesbrough (2003-08)
Títulos: Copa do Rei (1999), Supercopa da Espanha (1999), Copa Intertoto (1998) e Copa da Liga Inglesa (2004)
Seleção espanhola: 40 jogos e 8 gols
Seleção basca: 6 jogos e 1 gol