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Riccardo Ferri, o zagueiro recordista em gols contra

O mundo do futebol pode ser cruel. É um ambiente no qual alguns bons ou razoáveis jogadores convivem com o fantasma de serem lembrados apenas por suas falhas ou marcas negativas, embora tenham uma carreira digna e que não pode ser resumida apenas a isto. Riccardo Ferri, zagueiro que atuou por Inter, Sampdoria e seleção italiana, é um deles: ficou conhecido por ser o recordista em gols contras na Serie A, mas teve uma trajetória exemplar.

Nascido na cidade de Crema, próxima a Milão, Ferri foi formado nas categorias de base da Inter e estreou profissionalmente em 1981, aos 18 anos. Após seu primeiro jogo com os nerazzurri, diante do Cesena, o zagueiro passou a ser convocado para a seleção sub-21 da Itália, com a qual disputou duas Eurocopas da categoria: foi terceiro colocado em 1984 e vice-campeão em 1986.

O zagueiro foi figurinha carimbada da seleção italiana no fim da década de 1980 e início dos anos 1990 (BT Sports Photography/Getty)

Ferri ganhou uma vaga no time titular da Beneamata muito cedo, em 1983, quando acabara de completar 20 anos. Jogador tenaz e muito forte na marcação, o lombardo formou uma forte defesa ao lado de Giuseppe Bergomi, Giuseppe Baresi, Graziano Bini e Fulvio Collovati, e acabou ganhando espaço com o avançar da idade de Bini, capitão da equipe.

Ainda muito jovem, Ferri foi duas vezes consecutivas semifinalista da Copa Uefa com a Inter, em 1985 e 1986, e passou a ser conhecido como um dos mais promissores zagueiros do país. Titular absoluto da equipe nerazzurra já aos 22 anos, o defensor foi convocado para a seleção principal da Itália em 1986, por Azeglio Vicini – que o conhecia bem, pois era o técnico do time sub-21. Ferri estreou com o pé direito – ou melhor, com a cabeça: contra Malta, em partida válida pelas Eliminatórias para a Euro 1988, foi o autor de um dos dois gols da vitória.

Apesar do recorde inglório, Ferri era um zagueiro técnico (Getty)

A partir de 1988, ano em que disputou a Euro como titular da defesa azzurra, Ferri viveu seu auge. A Inter era o único gigante italiano que não havia faturado o scudetto na década de 1980, dominada pela Juventus e com conquistas pontuais de Roma, Verona e Milan, mas Giovanni Trapattoni mudou este panorama para os nerazzurri. A partir de uma defesa fortíssima, que tinha Ferri pelo lado esquerdo, e com a ajuda de Andreas Brehme e Lothar Matthäus, o treinador montou o esqueleto de uma equipe histórica.

Na temporada 1988-1989, a Inter enfim ganhou o título nacional em uma campanha que ficou conhecida como a do “scudetto dos recordes”. O time conseguiu 26 vitórias, seis empates e apenas duas derrotas em 34 jogos, alcançando a maior quantidade de pontos na história da Serie A em campeonatos de 18 equipes, quando as vitórias ainda valiam dois pontos: 58. O time fez 67 gols e sofreu apenas 19 sofridos, ficando com o melhor ataque e a melhor defesa. O suficiente para que Ferri continuasse como titular da seleção e disputasse a Copa do Mundo de 1990, na qual a Itália jogou em casa e ficou com a terceira posição.

Por mais de uma década, Ferri foi figura central no Dérbi de Milão (Getty)

Ferri ainda foi titular da Beneamata até 1992 – ano em que recebeu suas últimas convocações para a Itália – e ganhou uma Supercopa Italiana e duas Copas Uefa. O zagueiro encerrou sua passagem pela Inter em 1994, depois de 13 anos e 418 jogos pelo clube. Nos dois últimos anos de carreira, ele defendeu a Sampdoria, sem muito destaque, e se aposentou, com 33 anos.

Após abandonar a profissão, o zagueiro continuou a ser conhecido pelo recorde de gols contra na Serie A, dividido com o craque Franco Baresi, do Milan: foram oito, ao longo da carreira, incluindo um por cobertura no Derby della Madonnina. Mas nem todos eles foram “gols contra de autor”, como este no clássico. Na época, qualquer desvio que acabasse indo contra o próprio patrimônio (como chutes desviados na barreira) eram contabilizados oficialmente. Uma crueldade.

Embora ícone da Inter, o beque encerrou sua carreira pela Sampdoria (Allsport)

Riccardo Ferri teve uma breve experiência como treinador, após se aposentar, e passou pelas categorias de base da Inter e pelo pequeno Pavia. Dedicou-se também à profissão de comentarista, mas logo se mudou para nos Estados Unidos e passou a ser responsável, juntamente ao filho Marco, de uma academia de talentos dos nerazzurri na Flórida. Mais tarde, o ex-zagueiro chegou a ser diretor esportivo do Vicenza por uma temporada e se afastou do esporte por cinco anos. Porém, a ligação com a Beneamata falou mais forte e, em 2022, ele voltou à equipe de Milão para ocupar o cargo de club manager.

Riccardo Ferri
Nascimento: 20 de agosto de 1963, em Crema, Itália
Posição: zagueiro
Clubes como jogador: Inter (1981-94) e Sampdoria (1994-96)
Títulos como jogador: Coppa Italia (1982), Serie A (1989), Supercopa Italiana (1989) e Copa Uefa (1991 e 1994)
Clubes como treinador: Pavia (1997-98)
Seleção italiana: 45 jogos e 4 gols

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