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Ubaldo Righetti, de promessa romanista a ator de teatro

O roteiro não é lá muito original: cria da base de um grande clube surge mostrando potencial e, na hora de se firmar, não se torna o jogador que todos esperavam. Um dos tantos que foram protagonistas de um filme com esse enredo foi o zagueiro Ubaldo Righetti, que fez parte de um time histórico da Roma na década de 1980, mas se transformou em uma eterna promessa.

Righetti nasceu na cidade de Sermoneta, no centro-sul da região do Lácio, e fez parte das categorias de base do time mais expressivo da província, o Latina. O defensor treinou com os nerazzurri entre 1978 e 1980, até ser notado pela Roma, quando tinha somente 17 anos. Chamado carinhosamente de “Ubi”, ele concluiu sua formação como profissional no complexo de Trigoria e foi incorporado ao plantel romanista para a temporada 1980-81.

Recém-saído do vivaio romano, Righetti já tinha sua estreia aguardada com altas expectativas pela torcida. Quem o colocou pela primeira vez em campo foi Nils Liedholm, um dos grandes treinadores que passaram pelo futebol italiano: o zagueiro participou dos minutos finais da partida contra o Cagliari, na 3ª rodada da Serie A 1981-82. Na reta final daquela mesma campanha, o jogador de 18 anos também fez suas primeiras aparições como titular, que aumentaram para a temporada 1982-83. Ubi novamente era uma opção para o banco de reservas giallorosso, mas entrou 12 vezes em campo e deu uma pequena contribuição para a conquista do segundo scudetto da história da Roma.

O jovem Righetti foi reserva na campanha do segundo scudetto romanista (Arquivo/AS Roma)

Com a saída de Pietro Vierchowod, titular do time capitolino no ano do título italiano, Righetti ganhou mais espaço e começou a integrar o onze inicial da Roma com uma frequência maior. A temporada começou com bons presságios para o zagueiro lacial, que recebeu as primeiras convocações para a seleção italiana, treinada por Enzo Bearzot – ele entrou em campo pelas Eliminatórias da Euro 1984, nas partidas contra Checoslováquia e Chipre.

Na temporada 1983-84, o zagueiro ainda atuou em 23 partidas pela Roma, conquistou uma Coppa Italia e foi titular na final da Copa dos Campeões, contra o Liverpool. Ubi fez um bom jogo, realizando eficiente marcação sobre Ian Rush e convertendo seu pênalti na série decisiva, mas os giallorossi ficaram com o vice. Ainda assim, Righetti recebeu o Troféu Bravo, da revista Guerin Sportivo, dado ao melhor atleta sub-23 do futebol europeu.

Àquele momento não parecia haver dúvidas de que Ubaldo Righetti se tornaria um grande zagueiro. Após a derrota na Copa dos Campeões, Liedholm deixou a Roma e foi substituído pelo também sueco Sven-Göran Eriksson, que deu sinal verde para as saídas do capitão Agostino Di Bartolomei e de Michele Nappi e, finalmente, deu um lugar cativo na equipe para o zagueiro. A pressão de tomar o lugar de um ícone romano foi grande e Righetti não atuou tão bem, assim como toda a equipe. Resultado: apenas a 7ª posição na Serie A 1984-85.

Righetti converte pênalti na final da Copa dos Campeões, quando viveu auge da carreira (imago)

Em 1984 e 1985, Righetti ainda chegou a ser convocado para amistosos da seleção italiana, como um voto de confiança de Bearzot. No entanto, não conseguia se firmar e até mesmo o comissário técnico azzurro o deixou de lado como opção para a disputa da Copa do Mundo de 1986. O defensor central até foi titular na maior parte dos jogos da temporada 1985-86, que rendeu à Loba giallorossa um vice-campeonato italiano e a conquista da copa local, mas a brutal queda de rendimento o fez perder a estima de Eriksson. Nem mesmo o retorno de Liedholm, em 1987-88, fez com que a eterna promessa recebesse novas chances. Em outubro de 1987, após jogar somente uma vez, Ubi se transferiu para a Udinese com o objetivo de colocar a carreira nos trilhos novamente.

Ao decidir disputar a Serie B no Friuli, Righetti pensava em voltar aos grandes tempos e ajudar a equipe de Údine a retornar à elite. O defensor lacial chegou a fazer um bom campeonato, mas a Udinese ficou longe da disputa por uma vaga na primeira divisão. De qualquer forma, Ubi atraiu o interesse do Lecce, que foi vice-campeão do torneio e fez uma proposta para contar com o seu futebol na Serie A.

Righetti ficou dois anos na Apúlia, onde voltou a atuar em bom nível, mas sem alcançar o patamar esperado em seus primeiros anos de Roma. Sob o comando de Carlo Mazzone, alguns bons valores – Pedro Pasculli, Antonio Conte e Francesco Moriero – e, sobretudo, com Ubi no centro da zaga, os salentinos conseguiram fazer duas campanhas consistentes na Serie A. Em ambas as ocasiões, a equipe garantiu a permanência com posições honrosas, como um 9º e um 12º lugares. No final de sua passagem pelo Via del Mare, em maio de 1990, Righetti foi emprestado ao rival Bari para disputar (e vencer) a Copa Mitropa.

Além de ter ido bem na Roma, Righetti teve uma passagem de sucesso pelo Lecce (imago)

Ao fim do contrato com o Lecce, Righetti seguiu Mazzone e acertou com o Pescara, que estava na segundona e ambicionava um novo acesso à elite. Sor Carletto foi demitido após a 12ª rodada daquela Serie B, mas o seu substituto, Giovanni Galeone, continuou aproveitando o futebol de Ubi, que permaneceu no Adriatico até 1994. Neste período, ele foi titular absoluto em duas edições da segundona e auxiliou no acesso do time do Abruzzo para a elite, em 1992-93 – ano em que teve Dunga como colega. Righetti começou a ter muitos problemas físicos e fez apenas 14 jogos na Serie A, contribuindo pouco e não evitando mais um rebaixamento dos biancazzurri.

Entre 1993 e 1994, Ubi mal vestiu a camisa do Pescara. Entrou em campo menos de 15 vezes e, no início de 1994-95, decidiu se aposentar, de maneira precoce – tinha somente 31 anos. Um fim bastante melancólico para uma trajetória que começava com um brilho ímpar.

Após terminar sua carreira como jogador profissional, Righetti ficou um tempo afastado do futebol e tentou iniciar a carreira como treinador, em 1999. Sem sucesso algum, ele rodou em divisões inferiores e não conseguiu nada além de equipes da terceirona – seus trabalhos mais razoáveis foram com o Renato Curi e a Lodigiani. De forma bastante razoável, percebeu que não teria prazer como técnico e virou comentarista, exercendo o papel de analista para a Rai e para o Roma Channel. Em outubro de 2016, o ex-zagueiro deu uma nova guinada em sua própria vida: estreando como ator de teatro, foi protagonista da comédia “TRS. Ti regalo un sogno”, ao lado de um colega da Teleradiostereo.

Ubaldo Righetti
Nascimento: 1º de março de 1963, em Sermoneta, Itália
Posição: zagueiro
Clubes como jogador: Roma (1980-87), Udinese (1987-88), Lecce (1988-90), Bari (1990) e Pescara (1990-94)
Títulos conquistados: Serie A (1983), Coppa Italia (1981, 1984 e 1986) e Copa Mitropa (1990)
Clubes como técnico: Renato Curi (1999-2000), Gela (2000-01), Lodigiani (2001-02), Fano (2002-03), Tivoli (2003-04) e Vittoria (2005)
Seleção italiana: 8 jogos e nenhum gol

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