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Enzo Maresca e a provocação que entrou para a história

Há diversas maneiras de um jogador de futebol imortalizar momentos de sua carreira. Uma delas é marcar um gol decisivo em um clássico e provocar o rival com a comemoração mais abusada da história do confronto. O meio-campista Enzo Maresca surgiu como grande promessa e não se firmou entre os mais importantes da Itália, mas nunca será esquecido pelos torcedores da Juventus e os que foram vítimas de sua chacota, os do Torino.

Natural do sul do Belpaese, Maresca passou em uma peneira do Milan com apenas 11 anos de idade e permaneceu no clube rossonero até os 14, quando foi para o Cagliari. Na Sardenha, o jovem Enzo completou sua formação como jogador e, quando estava prestes a passar para a equipe profissional, recebeu uma proposta do futebol inglês, em 1998.

O meia aceitou jogar a segunda divisão da Inglaterra pelo West Bromwich e, após uma temporada de estreia sendo utilizado como reserva, se tornou titular e um dos jogadores preferidos da torcida dos Baggies. Um ano e meio de futebol positivo em Midlands foram suficientes para que a Juventus colocasse em prática a sua estratégia habitual: contratar promissores jovens italianos. Maresca era tido como um dos meio-campistas mais interessantes da Itália na virada do milênio.

Naquele momento, o jogador nascido na província de Salerno já havia sido convocado para todas as seleções de base da Itália, desde a sub-15. Maresca era capitão dos azzurrini que ficaram com o vice-campeonato europeu sub-19, em 1999 e, no ano seguinte, ganhou espaço constante na seleção sub-21 do Belpaese – chegou a realizar 45 partidas somando as participações em todas as categorias. Depois que chegou ao Delle Alpi, em janeiro daquele ano, o meio-campista estagnou: só fez uma partida em seis meses.

Os dois anos seguintes foram de baixa para Maresca, mas também lhe reservaram o grande momento de sua trajetória. Em 2000-01, foi emprestado ao Bologna, mas se desentendeu com colegas e com o técnico Francesco Guidolin, o que afetou suas atuações. De volta à Turim, o meia central era apenas uma opção a Edgar Davids, Antonio Conte e Alessio Tacchinardi, e entrava mais no segundo tempo. Somando todas as competições, chegou a disputar 28 partidas e marcou um gol – o mais lembrado de sua carreira.

O meia não deslanchou pela Juventus, mas entrou para a história da agremiação (EMPICS/Getty)

Em fevereiro de 2002, Enzo impediu, aos 44 do segundo tempo, que o Torino quebrasse um jejum de sete anos sem vitórias contra a Juve. Lilian Thuram avançou pela direita e cruzou na meia-lua da grande área, onde Maresca estava para cabecear (ou chifrar) aquela bola que se oferecia para ele. Na comemoração, imitou um touro, mascote do rival, e provocou a torcida grená, que estava em maioria no Delle Alpi – veja o vídeo aqui. Ao fim da temporada, conquistou seu único scudetto, decidido no detalhe, na última rodada da Serie A.

No fim da temporada, Maresca acabou sendo comprado em copropriedade pelo Piacenza, que frequentava a parte mais baixa da tabela. A temporada 2002-03 acabaria sendo a última dos lupi na Serie A, mas o meio-campista teve atuações significativas, apesar do rebaixamento. Atuando mais avançado do que de costume, anotou nove gols em 31 partidas e acabou sendo recomprado pela Juventus.

Marcello Lippi lhe deu mais minutos na temporada 2003-04, mas os quatro tentos em 29 jogos não foram suficientes para assegurar sua permanência no Piemonte. Após desentender-se com a direção juventina e recusar a oferta de renovação de contrato, Maresca acertou com a Fiorentina, que voltava à elite do Belpaese.

Chegou à Florença elogiado pelo técnico Emiliano Mondonico, que reconhecia em Enzo um jogador com potencial de atuar (bem) em todas as posições no centro do campo. De fato, Maresca preferia jogar como regista, mas podia ocupar a função de um clássico volante ou até de trequartista. O problema é que ele não emplacou vestindo a camisa violeta: recomprado pela Juventus, foi subitamente negociado com o Sevilla, no verão europeu de 2005. Se, naquele momento de sua carreira, já era claro que Maresca não seria o que se esperava dele nas categorias de base, não dava para dizer que era de todo mal. Era um jogador mediano que, em um time bem montado, tinha seu valor.

No Sevilla, Maresca viveu o momento mais importante da carreira e foi decisivo na Copa Uefa (AFP/Getty)

Enzo mostraria exatamente isto na Espanha. Pelos rojiblancos da Andaluzia, Maresca foi companheiro de Daniel Alves, Adriano, Renato e Luís Fabiano e teve os melhores anos de sua carreira. Recebeu do treinador Juande Ramos uma vaga no time titular e nem mesmo uma lesão no tendão de Aquiles em março de 2006 o fez perder espaço no final da temporada. O campano retornou aos gramados e foi decisivo na final da Copa Uefa, na qual o Sevilla bateu o Middlesbrough por 4 a 0: dois gols foram anotados por Maresca, que foi eleito o melhor jogador em campo.

Sob o comando de Ramos, Maresca continuou exercendo papel importante na equipe e ainda faturou, entre 2006 e 2007, uma Supercopa Uefa, uma Copa do Rei e outra Copa Uefa – além de uma Supercopa da Espanha, com o técnico Manolo Jiménez, que passou a utilizá-lo menos vezes. Em grande parte de sua trajetória em Nervión, Maresca atuou como trequartista.

Em 2009, Maresca acabou deixando o Sevilla, após quatro anos no Ramón Sánchez-Pizjuán. Com isso, foi para o Olympiacos, da Grécia, e teve sua terceira experiência fora do futebol italiano. A passagem do jogador por Atenas foi curta, e, após apenas uma temporada, Enzo optou por rescindir seu contrato com o clube e abrir mão de um salário de 2 milhões de euros anuais, uma vez que não se sentia estimulado esportivamente. Para manter a forma, treinou com a equipe Primavera da Fiorentina, mas só achou uma equipe para jogar em dezembro de 2010, quando o Málaga lhe fez uma boa proposta.

Maresca ficou na Espanha por mais um ano e meio, período em que disputou 42 partidas pelos boquerones. Jogador útil para equipes de médio porte, Enzo continuou tendo mercado e optou por retornar à Itália: foi contratado pela Sampdoria, que era treinada por Ciro Ferrara, antigo companheiro dos tempos de Juventus. Com Ferrara no comando, Maresca foi titular absoluto no meio-campo blucerchiato, mas a demissão do ex-juventino, que acumulava resultados negativos, mudou drasticamente o seu futuro em Gênova.

Perto de se aposentar, o meia adotou visual diferente e passou pelo Palermo (Getty)

Delio Rossi chegou ao Marassi na 18ª rodada da Serie A 2012-13 e barrou o jogador de 33 anos, dando a sua vaga a Nenad Krsticic. Na temporada seguinte, Maresca foi afastado do grupo e só foi reintegrado quando Rossi foi substituído por Sinisa Mihajlovic. Ainda assim, o sérvio pouco utilizou o experiente meio-campista, que viria a trocar de equipe antes mesmo do final do campeonato.

Em janeiro de 2014, Maresca aceitou descer um degrau e foi defender o Palermo, então na Serie B, por um pedido expresso do técnico Giuseppe Iachini – quando era jogador, Beppe atuava na mesma função que Enzo. Titular, o meio-campista ajudou os rosanero a conquistarem o acesso à primeira divisão com cinco rodadas de antecedência e depois comemorou o título da segundona. No ano seguinte, Maresca foi um pilar de sustentação fundamental para que Paulo Dybala e Franco Vázquez conduzissem o time siciliano a uma ótima campanha na elite do futebol italiano. Foi exatamente o último grande momento dos palermitanos.

A partir de 2015, o Palermo teve um severo aumento no caos societário, causado pelo então presidente Maurizio Zamparini. Maresca bateu de frente com o cartola após a demissão de Iachini e não aceitou as duras críticas aos jogadores: acabou sendo chamado pelo dirigente de “burro e ignorante” e foi afastado do elenco. Um mês e meio depois ele foi reintegrado e ajudou a equipe a escapar do rebaixamento, inclusive marcando um gol decisivo na vitória por 3 a 2 com o Verona. O Carpi, adversário pela salvezza na ocasião, venceu a Udinese e teria ficado na elite se o Palermo não tivesse conseguido seu triunfo.

O Hellas Verona foi exatamente o destino de Enzo Maresca ao final da última temporada. O experiente meio-campista emprestaria um pouco de sua qualidade para ajudar os butei a retornarem imediatamente à elite, mas, apenas nove jogos depois, entrou em acordo com a diretoria e rescindiu seu contrato, em janeiro deste ano. Em 10 de fevereiro, dia em que completou 37 anos, anunciou sua aposentadoria, com uma carta publicada em seu perfil no Instagram: na missiva, lembrou dos títulos, dos países em que morou e das camisas que vestiu. Político e mais maduro, dessa vez não extravasou as emoções com nenhuma polêmica, para alívio dos torcedores do Toro.

Enzo Maresca
Nascimento: 10 de fevereiro de 1980, em Pontecagnano Faiano, Itália
Posição: meio-campista
Clubes: Cagliari (1997-98), West Bromwich (1998-2000), Juventus (2000, 2001-02 e 2003-04), Bologna (2000-01), Piacenza (2002-03), Fiorentina (2004-05), Sevilla (2005-09), Olympiacos (2009-10), Málaga (2010-12), Sampdoria (2012-14), Palermo (2014-16) e Verona (2016-17)
Títulos: Serie A (2001), Supercopa Italiana (2003), Copa Uefa (2006 e 2007), Supercopa Uefa (2006), Copa do Rei (2007), Supercopa da Espanha (2007) e Serie B (2014)

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