Acabou o melhor Campeonato Italiano dos últimos tempos. Neste fim de semana, a festa da Juventus e a despedida de Buffon emocionaram a todos no sábado. No domingo, porém, a situação era outra: as lágrimas e as homenagens ficaram de lado para dar espaço à mais pura adrenalina e à definição do último rebaixado e das vagas europeias. Primeiro, a Spal comemorou a permanência na elite, em detrimento ao Crotone, e mais tarde Lazio e Inter fizeram um dos jogos mais eletrizantes de toda a temporada. No fim das contas, foram os nerazzurri que comemoraram o retorno à Liga dos Campeões. Confira como foi a última rodada da Serie A.
Juventus 2-1 Verona
Rugani e Pjanic | Cerci (Rômulo)
Tops: Pjanic e Dybala (Juventus) | Flops: Aarons e Souprayen (Verona)
Com o heptacampeonato assegurado na rodada passada, a festa no Allianz Stadium ganhou um sabor ainda mais especial: um dia antes da partida final da temporada, Buffon anunciou que esta também seria sua última presença como jogador da Juventus. Contra o rebaixado Verona, o time de Allegri não teve problemas para honrar o ídolo e teve Douglas Costa e Dybala como protagonistas mais uma vez. Inclusive, em uma jogada do brasileiro, Rugani aproveitou o rebote de Nícolas para abrir o placar pouco depois da volta do intervalo. Logo na sequência saiu o gol que assegurou a vitória: ao seu estilo, Pjanic cobrou falta com perfeição e ampliou o placar.
Enquanto Pinsoglio aquecia, quase a festa foi prejudicada. Lançado em profundidade, Ryder Matos foi derrubado por Buffon na área, mas Riccardo Pinzani deixou o jogo seguir. No lance seguinte, o jogador com mais presenças na história da Juventus saiu de campo homenageado com muitos aplausos e lágrimas de torcedores e companheiros. O capitão segurou o choro e passou a faixa de capitão para Marchisio, que foi um dos melhores em campo, mas novamente se lesionou e acabou cortado da primeira convocação de Roberto Mancini. O gol de Cerci, seu primeiro em 2018, após boa jogada de Rômulo, não mudou o humor da festa. Lichtsteiner, que teve cobrança de pênalti defendida, e Asamoah, de partida para a Inter, também se despediram do clube.
Napoli 2-1 Crotone
Milik (Insigne) e Callejón (Insigne) | Tumminello (Martella)
Tops: Insigne e Jorginho (Napoli) | Flops: Rohdén e Trotta (Crotone)
O Napoli não tinha muito a perder contra o desesperado Crotone, mas ainda assim levaram a sério a despedida de uma temporada memorável. O time partenopeo ficou perto do scudetto mais uma vez e fez uma campanha histórica, que nem mesmo o time do trio MaGiCa conseguiu no período áureo dos azzurri. Enquanto Jorginho controlava o meio-campo com mais uma atuação dominante (foram impressionantes 163 passes e 179 toques na bola), Insigne conseguiu voltar a ser objetivo no ataque, ou pelo menos decisivo.
Com a ajuda de Mário Rui, que vive grande fase e foi convocado para defender Portugal na Rússia, o baixinho deixou sua marca com brilhantes assistências para Milik e Callejón marcarem os gols da vitória ainda no primeiro tempo. Na etapa final, o veterano Cordaz evitou a goleada, enquanto o jovem Tumminello marcou pela segunda rodada seguida, mas o Crotone acabou sendo o último rebaixado para a Serie B – mesmo se vencesse, o time de Zenga acabaria caindo, já que seus concorrentes diretos triunfaram. Já o time de Sarri conseguiu o feito de ser o primeiro time na Serie A a fazer mais de 90 pontos e não ser campeão. O que mostra como o campeonato foi nivelado por cima.
Sassuolo 0-1 Roma
Pegolo (contra)
Tops: Gonalons e Dzeko (Roma) | Flops: Pegolo e Peluso (Sassuolo)
Com seu lugar na Liga dos Campeões assegurado, tudo o que restava para a Roma era definir a posição final no campeonato. Uma vitória da rival Lazio e uma derrota no Mapei Stadium significaria a quarta posição, mas os giallorossi fizeram sua parte e fecharam o campeonato com a 23ª vitória graças ao gol contra de Pegolo, que parou Dzeko algumas vezes, mas não cortou bem o chute cruzado de Manolas no final do primeiro tempo.
A partida marcou a volta de Di Francesco ao estádio em que fez história com o Sassuolo. O técnico romanista até brincou ao ir em direção ao banco de reservas de Iachini, como se ainda trabalhasse no time neroverde, mas não aliviou para sua antiga equipe depois que a bola rolou. A Roma fez o suficiente para controlar o jogo e poderia até mesmo ter goleado, enquanto os anfitriões levaram pouco perigo com Politano, que parou duas vezes no bom Skorupski, que estreou na temporada apenas nesta rodada – mesmo tendo qualidade, foi ofuscado pelas atuações magistrais de Alisson.
Lazio 2-3 Inter
Perisic (contra) e Felipe Anderson (Lulic) | D’Ambrosio, Icardi (pênalti) e Vecino (Brozovic)
Tops: Milinkovic-Savic (Lazio) e Brozovic (Inter) | Flops: Lulic (Lazio) e Candreva (Inter)
Era matar ou morrer mais uma vez entre Lazio e Inter, que estavam de volta ao Olímpico em uma última rodada decisiva, como 16 anos atrás, no famoso 5 de maio de 2002. Quem vencer, estaria na Liga dos Campeões. Ou melhor, bastava o empate para a Lazio, que, inclusive, começou melhor com mais uma grande exibição de Milinkovic-Savic e participação ativa de Felipe Anderson. O time da casa também saiu na frente do placar: Marusic recebeu na segunda trave e chutou meio torto, mas teve a sorte de acertar o rosto de Perisic e deslocar Handanovic, logo aos nove minutos. Os anfitriões seguiram melhores e perderam mais duas oportunidades antes do empate de D’Ambrosio, que aproveitou falha de Strakosha após escanteio.
A situação mudou com o empate, já que os visitantes cresceram no jogo e passaram a pressionar em busca da vitória, o único resultado que lhes importava. Até que, no fim da primeira etapa, Lulic puxou contra-ataque brilhante e descobriu Felipe Anderson nas costas da defesa nerazzurra: um dos melhores em campo, o brasileiro finalizou com tranquilidade. Após a volta do intervalo, Spalletti, que já tinha mudado o esquema tático ainda com o time titular, colocando Candreva na esquerda e liberando Perisic para apoiar Icardi, substituiu o ponta italiano por Éder e, mais tarde, Rafinha por Karamoh. No entanto, não alterou o time a ponto de fazê-lo pressionar.
O que realmente mudou o jogo foi um erro de saída de bola de Strakosha. A pelota sobrou para Icardi e o centroavante foi derrubado por De Vrij na área. O zagueiro holandês, acertado com a Inter desde março, teve a presença contra seu futuro clube colocada em dúvida, mas acabou ajudando a reação dos nerazzurri – ainda que esta não tenha sido sua intenção. O camisa 9 interista, pressionado pelas exibições ruins nas últimas partidas e também pelo gol perdido no primeiro tempo, tirou o peso das costas com o empate e um gol que também lhe rendeu a artilharia compartilhada com Immobile.
O centroavante laziale, aliás, era dúvida para a partida por causa da sua condição física, não teve grande desempenho e foi substituído pelo lateral Lukaku – ironicamente, Ciro viu do banco o seu time levar a virada. Lulic, que tinha passado para o ataque junto com Felipe Anderson, bastante apagado na etapa final, aumentou ainda mais a empolgação dos visitantes ao dar entrada violenta e ser expulso com o segundo cartão amarelo logo após o 2 a 2. A reação de Spalletti foi colocar Ranocchia para dar uma força à Icardi no ataque, e o zagueiro se mostrou decisivo logo no primeiro lance, ao carregar a marcação em cobrança de escanteio e deixar Vecino livre para cabecear e marcar o gol da vitória. Por ironia do destino, Ranocchia, vilão nas últimas temporadas com atuações inseguras, voltou para a zaga e ajudou a equipe se manter na frente do placar. Uma vitória que valeu o retorno à Liga dos Campeões para a Inter após seis anos.
Milan 5-1 Fiorentina
Çalhanoglu, Cutrone (Çalhanoglu), Kalinic, Cutrone (Çalhanoglu) e Bonaventura | Simeone (Chiesa)
Tops: Çalhanoglu e Cutrone (Milan) | Flops: Dragowski e Cristóforo (Fiorentina)
Nada como uma goleada para afastar um pouco o resultado final decepcionante de uma temporada que começou com a expectativa lá em cima para o Milan. A diretoria gastou mais de 200 milhões de euros para reforçar o grupo e o time acabou fazendo apenas um ponto a mais do que na temporada passada, com as mesmas 18 vitórias e a sexta posição também repetida. Mas o final da campanha mostrou que Gattuso pode ser capaz de liderar a equipe em busca de algo mais e que, principalmente, o time já tem uma boa base. Bonaventura, Çalhanoglu e Cutrone são os seus pilares e mostraram isso contra a Fiorentina.
Os rossoneri nem mesmo precisavam vencer na última rodada para assegurar a vaga na fase de grupos da Liga Europa – desde que a Atalanta não ganhasse, o que aconteceu –, porém fizeram valer a superioridade criada desde o primeiro minuto, que não foi estremecida quando Simeone abriu o placar com belo gol após enfiada de bola de Chiesa. Isso porque Çalhanoglu estava em tarde inspirada e, logo na sequência, marcou seu primeiro gol de falta pelo Diavolo, o primeiro dessa forma desde 2015. O turco ainda fez grande jogada antes de entregar a assistência para o gol da virada, marcado por Cutrone pouco antes do intervalo. As coisas passaram a ir tão bem para os anfitriões que até Kalinic deixou sua marca contra seu ex-clube. Depois, Çalhanoglu voltou a brilhar ao participar de mais dois gols: deu a segunda assistência para Cutrone marcar sua doppietta e o 10º gol na Serie A, e iniciou a jogada do tento de Bonaventura, que fez fila e fechou a conta.
Cagliari 1-0 Atalanta
Ceppitelli (Cigarini)
Tops: Ceppitelli e Cragno (Cagliari) | Flops: Caldara e Cristante (Atalanta)
Para garantir a salvezza, o Cagliari nem mesmo precisava vencer, desde que contasse com a vitória quase certa do Napoli sobre o Crotone. No entanto, tinha como dever dar uma pequena alegria à torcida, depois de mais uma temporada abaixo do esperado na Serie A. A Atalanta dominou o jogo, já que ainda disputava uma vaga direta na fase de grupos da Liga Europa, mas ao passo em que não conseguia chegar ao gol, as notícias da goleada do Milan, em partida simultânea, chegavam à Sardenha e desanimavam os nerazzurri.
Um dos poucos destaques positivos da equipe rossoblù na temporada, Ceppitelli marcou o gol da vitória em um momento especial para o clube: quando Cossu entrava em campo para se despedir definitivamente da torcida, o zagueiro subiu mais alto que todos para finalizar a cobrança de escanteio de Cigarini. Para piorar a situação da Atalanta, Caldara teve a chance de evitar a derrota na sua última partida pela Dea – o zagueiro irá para a Juventus na próxima temporada –, mas desperdiçou a penalidade. Com isso, a equipe de Bérgamo disputará a fase preliminar da Liga Europa.
Spal 3-1 Sampdoria
Antenucci (pênalti), Grassi (Viviani) e Antenucci (Viviani) | Kownacki (Capezzi)
Tops: Antenucci e Viviani (Spal) | Flops: Belec e Caprari (Sampdoria)
Sem dar chance ao azar, a Spal assegurou sua permanência na elite e, em grande estilo, estendeu a festa em Ferrara – que desde o início da temporada comemorava o retorno à Serie A após ausência de quase cinco décadas. A sofrida campanha se desenvolveu no ritmo do seu capitão e artilheiro, Antenucci, que na quarta passagem pela Serie A finalmente conseguiu deixar sua marca – antes teve experiências curtas pelo Catania, mas nenhuma delas foi positiva. Neste domingo, o time de Semplici jogou de igual para igual contra uma Sampdoria em má fase, mas que ainda consegue praticar um bom futebol. O caminho das vitórias, porém, foi perdido e a Samp acabou se afastando da zona de classificação às competições continentais.
Além de Antenucci, quem também foi protagonista na vitória em Ferrara foi Viviani, de volta ao time depois de um mês sem jogar. O regista criado na Roma participou dos três gols: primeiro, seu chute bateu no braço de Caprari, que acabou expulso no final do primeiro tempo, e levou à cobrança de pênalti precisa de Antenucci. Viviani também foi o autor dos passes para Grassi, aos 50, e Antenucci mais uma vez, aos 52, ampliarem o placar em menos de dois minutos. A Spal poderia ter vencido por mais, não fosse o gol anulado de Paloschi nos acréscimos. Por outro lado, de pouco serviu o gol do garoto Kownacki. O polonês, pelo menos, deixou boa impressão no primeiro ano na Itália e fechou a temporada com um registro de oito gols e lembrança na pré-convocação para a Copa do Mundo.
Chievo 1-0 Benevento
Inglese
Tops: Hetemaj (Chievo) e Sandro (Benevento) | Flops: Puggioni e Diabaté (Benevento)
Com dois pontos de vantagem para o desesperado Crotone, que tinha pela frente o Napoli no San Paolo, o Chievo não tinha muitos motivos para se preocupar na rodada final e uma prova disso é que a equipe anfitriã não se esforçou contra o rebaixado Benevento. Enquanto era pressionado pelos visitantes, o time de D’Anna levava perigo nos contra-ataques e em um deles chegou ao gol no primeiro tempo. Inglese recebeu belo passe de Birsa na entrada da área, mas teve seu tento corretamente anulado depois de Fabrizio Pasqua ter sido avisado pelo árbitro de vídeo.
De qualquer forma, minutos mais tarde, logo após a volta do intervalo, o centroavante teve mais uma oportunidade de ouro. Dessa vez, Inglese não estava impedido e aproveitou o terrível rebote de Puggioni em um chute de Hetemaj. E apesar da pressão do Benevento pelo empate, a meta de Sorrentino foi pouco ameaçada e ficou intacta até o apito final. No final das contas, após o susto, o Chievo ainda terminou a temporada com 40 pontos e a 13ª posição.
Udinese 1-0 Bologna
Fofana (Barák)
Tops: Fofana e De Paul (Udinese) | Flops: Orsolini e Avenatti (Bologna)
Da mesma forma que Chievo, Cagliari e Spal, a Udinese podia confiar na vitória do Napoli sobre o Crotone, mas fez a sua parte para evitar o rebaixamento. O time friulano encerrou sua acidentada campanha com um pouco de alívio: a segunda vitória seguida afastou de vez a série de 14 partidas sem vencer, que custou a cabeça de Oddo e levou à contratação de Tudor.
O treinador croata, aliás, repetiu a formação do triunfo contra o Verona, assim como a estratégia. No domingo, a Udinese foi um time rápido e objetivo nos ataques, que não segurava a bola e se defendia recuado na área. Um dos reflexos dessa tática foi uma menor posse de bola para os anfitriões, que, por outro lado atacaram mais que o dobro dos visitantes. Ainda assim, valeu a participação segura do setor defensivo. O gol da vitória saiu ainda na primeira etapa, depois que Fofana concluiu boa jogada entre De Paul e Barák.
Genoa 1-2 Torino
Pandev | Falque (Belotti) e Baselli (Ansaldi)
Tops: Baselli e Falque (Torino) | Flops: Izzo e Lapadula (Genoa)
Em um dos três jogos que não tinham mais importância para as últimas decisões do campeonato, o Torino foi até Gênova e mesmo sem uma grande exibição, sendo inferior ao adversário em praticamente todos os aspectos, conseguiu a 13ª vitória no campeonato. Como em toda a temporada, Falque decidiu para os visitantes e abriu o placar no primeiro tempo: depois de passe de Berenguer nas costas da defesa, Belotti tocou para o meio da área, onde o ex-grifone apareceu livre para marcar seu 12º gol no campeonato.
Na etapa final, foi a vez de outro ex-jogador do Genoa participar do segundo gol. Ansaldi, convocado para a Copa do Mundo de surpresa, após não ter participado da preparação, cruzou na área e viu o companheiro Baselli ampliar. Em falha de Molinaro, Pandev descontou e por pouco não empatou: após a expulsão de Ansaldi, tentou encobrir Milinkovic-Savic e parou no travessão.
*Os nomes entre parênteses após os autores dos gols se referem aos responsáveis pelas assistências
Seleção da rodada
Cragno (Cagliari); Stryger Larsen (Udinese), Nkoulou (Torino), Ceppitelli (Cagliari); Çalhanoglu (Milan), Pjanic (Juventus), Viviani (Spal), Brozovic (Inter), Insigne (Napoli); Antenucci (Spal), Cutrone (Milan). Técnico: Gennaro Gattuso (Milan).