Liga Europa

A Inter terminou a temporada com vice europeu e muitas dúvidas nos bastidores

Um pouco mais de 10 anos depois de conquistar o tricampeonato da Liga dos Campeões, a Inter voltou a decidir uma competição europeia. Diante de um Sevilla que mostrou muita qualidade durante toda a temporada e carregava uma sequência de 14 jogos sem perder desde o retorno do futebol no continente, a Beneamata lutou, mas acabou ficando com o vice da Europa League, após derrota de virada, por 3 a 2.

Antonio Conte repetiu a mesma escalação que havia vencido Getafe, Bayer Leverkusen e Shakhtar Donetsk. Dessa maneira, a Inter iniciou a partida com Handanovic no gol; Godín, De Vrij e Bastoni formando o trio de zaga; D’Ambrosio e Young nas alas; Brozovic, Barella e Gagliardini como meio-campistas; além de Lautaro e Lukaku formando a dupla de ataque. Julen Lopetegui respondeu com seu 4-3-3 habitual, mas com uma mudança que se revelaria fundamental: De Jong no lugar de En-Nesyri, como centroavante.

O jogo começou dentro do cenário esperado, com o Sevilla buscando ter a posse de bola e a Inter saltando suas linhas para pressionar alto, mas antes mesmo que as equipes pudessem se estudar no gramado, Barella roubou uma bola no meio-campo e ativou Lukaku, que arrastou Diego Carlos até a área rival: o belga acabou derrubado dentro da área pelo zagueiro brasileiro. O próprio Lukaku cobrou o pênalti com força, no canto inferior esquerdo de Bono, abrindo o placar para a Inter. Com seu 34º gol em 2019-20, Romelu igualou a primeira temporada de Ronaldo pelo clube – e se tornou vice-artilheiro da Liga Europa, com sete tentos.

O Sevilla não sentiu o peso do gol sofrido e conseguiu bons minutos de futebol logo depois dele. O time espanhol baseou seu jogo em Banega, que controlava as ações, direcionava a equipe em campo e buscava ativar Ocampos e Suso por dentro, para posteriormente conseguir chegar à linha de fundo com seus laterais. Foi numa dessas jogadas, que aos 15 minutos, Navas recebeu com espaço pela direita e conseguiu cruzar para De Jong. O holandês se antecipou muito bem a Godín e testou para o fundo da rede, empatando a partida.

O futebol pode ser cruel: a excelente temporada de Lukaku terminou com um gol contra (AFP/Getty)

Depois do gol do Sevilla, pela primeira vez a Inter buscou trabalhar um pouco mais a posse de bola. Outra vez, a equipe outra vez que tem bons mecanismos para escapar da pressão e chegar ao ataque. Brozovic era o centro de tudo: voltando para receber a pelota e distribuir o jogo. Contudo, outra vez se mostrou um problema contar com Gagliardini pelo centro do campo. Pouco refinado tecnicamente e com pouca confiança em seu momento, o volante da Inter parece se esconder no gramado, o que facilita a marcação e atrapalha a progressão do time.

Nessa disputa de ideias e suas execuções, o jogo tinha um bom nível técnico, até que a bola parada começou a aparecer como fator preponderante. Aos 33, Banega cobrou falta vinda do lado direito, De Jong virou a partida para a equipe da Andaluzia ao cabecear no ângulo, depois de subir mais alto do que Gagliardini – que tem na imposição física e no jogo aéreo as principais razões alegadas por Conte para dar-lhe preferência em detrimento a Eriksen.

A Beneamata nem teve tempo para sentir o peso do gol marcado pelos rivais, já que, dois minutos depois, foi a vez de Brozovic cobrar falta com perfeição. A bola foi na cabeça de Godín, que se redimiu pelo erro no primeiro gol do Sevilla e se transformou no primeiro zagueiro a marcar em decisões de Liga dos Campeões e Liga Europa.

Depois do 2 a 2, a partida caiu em termos de ritmo e acerto técnico, já que as duas equipes passaram a cometer muitos erros na zona central e fazer muitas faltas. O jogo foi para o intervalo e os dois treinadores buscaram realizar ajustes em suas estratégias apenas na conversa, sem realizar substituições. O Sevilla voltou mais focado em estabelecer o seu fluxo de jogadas pelo corredor esquerdo, com sua dupla mais produtiva – Reguilón e Ocampos –, enquanto a Inter tentou realizar uma disputa mais acirrada pelo controle da posse de bola, abrindo Godín e Bastoni pelos flancos e contando com Barella mais recuado até a base da criação.

O embate entre dois coletivos fortes estava sendo bastante interessante, mas poucas chances de gol estavam sendo criadas. Até que, aos 64 minutos, quando o Sevilla atacava com oito jogadores no campo ofensivo, De Vrij roubou a bola e Brozovic ativou Lukaku em transição. O belga avançou em velocidade e finalizou com a perna esquerda, sem conseguir tirar Bono da jogada: o marroquino fez a defesa e evitou a virada da Inter.

Indefinição sobre o futuro de Conte é, novamente, a bola da vez nos bastidores nerazzurri (AFP/Getty)

Depois da chance perdida, a Inter perdeu rendimento, Lopetegui trocou Ocampos por Munir e o Sevilla passou a controlar as ações. Conte demorou para responder e, aos 79, a bola parada outra vez foi preponderante para o resultado da partida. Banega cobrou falta pela direita, a defesa nerazzurra rebateu e Diego Carlos emendou de bicicleta. Lukaku tentou afastar a bola da direção do gol e acabou marcando contra.

Após o 3 a 2, Conte finalmente realizou mudanças na equipe: sacou D’Ambrosio, Gagliardini e Martínez, colocando Moses, Eriksen e Sánchez em seus lugares, mas já era tarde demais. Assim como em outros momentos da temporada, a resiliência e força mental desse grupo se mostrou abaixo do esperado e a Inter não conseguiu reagir na partida. Tentou empurrar o Sevilla, realizou alguns cruzamentos laterais, mas levou perigo a meta rival em apenas uma oportunidade, quando Koundé afastou a finalização de Sánchez, que ia em direção ao gol. Com o hexacampeonato do Sevilla, a Inter continua sem levantar uma taça desde 2011, quando venceu a Coppa Italia pela última vez.

O trabalho de Conte tem muitos méritos, principalmente quanto à diversidade da saída de bola da equipe e ao modo como sua dupla de ataque foi capaz de criar suas próprias chances – Lukaku e Lautaro nunca precisaram de muito suporte para gerar jogo. Embora a temporada tenha sido positiva e represente um salto de desempenho, alguns pontos terminam sob avaliação mais dura.

Ainda que os resultados tenham sido os melhores em nove anos (dois vice-campeonatos, na Serie A e na Liga Europa, e uma campanha semifinalista na Coppa Italia), os 21 pontos desperdiçados em partidas em que tinha a vantagem no placar no Italiano e a postura mostrada após o terceiro gol do Sevilla, deixam o torcedor com a cabeça cheia. Há margem para evolução, mas é possível que a equipe precise recomeçar do zero, pois Conte não deu garantias de sua permanência: o clube quer mantê-lo, até por conta de seu alto salário, mas o treinador tem apresentado aborrecimento por questões que, segundo ele, são de foro íntimo. Resta, portanto, aguardar os desdobramentos da reunião do treinador com a direção durante a semana e ver como o clube irá planejar a temporada 2020-21, que começa em menos de um mês.

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