A noite de quinta-feira, 11 de maio, teve gosto de alívio para a torcida da Juventus. Em Turim, a Velha Senhora recebeu o Sevilla, bicho-papão da Liga Europa, e por pouco não saiu derrotada no jogo de ida das semifinais da competição. A má atuação bianconera não pode ser desprezada, mas o gol no último lance da partida deu gás à equipe italiana, que ficou a segundos de iniciar o confronto de volta, na Espanha, condições ainda mais adversas.
O Sevilla do técnico José Luis Mendilibar chegou ao duelo do Allianz Stadium em sua melhor fase na temporada. Desde o início de abril, perdera apenas um de seus nove compromissos, tendo vencido seis deles – um desempenho que afastou o concreto risco de rebaixamento dos rojiblancos em La Liga. A Juventus, por sua vez, tem oscilado e apresentado raros momentos de bom futebol desde o início da segunda passagem de Massimiliano Allegri pelo Piemonte. Fatos que não lhe impediram de avançar na Europa League graças a uma boa performance defensiva, no geral.
Contra o Sporting, a defesa da Juventus já havia sido posta em xeque. Diante do Sevilla, a equipe bianconera foi exposta a um novo patamar de afã e ficou perto de capitular na primeira etapa. Szczesny evitou que o prejuízo fosse maior durante os 45 minutos iniciais e, no segundo tempo, uma postura mais agressiva dos mandantes afastou os espanhóis de sua área.
Apesar desse contexto geral, a Velha Senhora levou perigo no início do jogo – e até criou a primeira chance digna de nota do duelo. Aos 12 minutos, a Juventus engatou ataque veloz, mas o chute cruzado de Kostic foi para fora. Numa sequência, aos 18 e aos 19, Vlahovic chegou a perder duas oportunidades cara a cara com Bono. O sérvio parecia estar em posição irregular na segunda e arbitragem assinalou impedimento na anterior, mas o fato é que ele não aproveitou ocasiões cristalinas que caíram em seus pés.
A essa altura, o Sevilla já ensaiava as suas primeiras chegadas, acionando sempre o ponta direita Ocampos, ex Genoa e Milan. Aos 14 minutos, o argentino recebeu cruzamento na área, subiu no espaço que encontrou nas costas de Alex Sandro e cabeceou, mas Szczesny defendeu com segurança. Aos 17, novamente numa testada, o camisa 5 obrigou o polonês a rebater para longe.
O time de Mendilibar não escondia o jogo. Entendendo que Alex Sandro apresentava dificuldades como zagueiro pela esquerda e que Bonucci – em sua 500ª aparição pela Juve – tinha dificuldades de fazer a cobertura do brasileiro, atacava os espaços entre eles. O cenário ainda foi facilitado pela noite ruim de Locatelli, perdido na recomposição. Aos 25, um lance em que En-Nesyri deu uma casquinha na bola e Ocampos chutou para fora serviu como prelúdio. No minuto seguinte, o Sevilla balançaria as redes.
Aos 26, os espanhois engataram contra-ataque fulminante quando Óliver Torres clareou a jogada com um passe longo para Ocampos. Alex Sandro, fora de posição, sequer apareceu no campo visual da transmissão televisiva e o argentino avançou em velocidade, acompanhado de muito longe por Locatelli. No meio, Bonucci corria contra a própria idade e os problemas físicos que têm lhe acompanhado, de modo que nem fez menção de tentar cortar o cruzamento rasteiro do ponta para En-Nesyri. O marroquino não desperdiçou a oportunidade, bateu no contrapé de Szczesny e fez um gol que já estava maduro.
Para a sorte da Juventus, Ocampos sentiu uma lesão muscular aos 34 minutos e deu lugar a Montiel, que foi atuar na lateral direita – o capitão Navas terminou sendo avançado para a ponta. O ímpeto do Sevilla diminuiu e a única outra vez que o time rojiblanco ameaçou no primeiro tempo foi numa trama na frente da área bianconera. A troca de passes resultou num forte chute de Rakitic e em escanteio cedido por Szczesny.
Insatisfeito com o que viu, Allegri fez duas trocas no intervalo. Com as entradas de Chiesa e Iling-Junior nos lugares de Kostic e Miretti, a Juventus se tornou mais ofensiva, passando do 3-5-1-1 a um 4-4-1-1, com Cuadrado sendo recuado para a lateral direita. No entanto, o contexto do jogo não se transformou do jeito que o técnico gostaria. Ainda que o Sevilla tenha deixado de incomodar tanto, a equipe italiana também não ameaçava. Assim, aos 61, a lesão de Bonucci foi a deixa para o treinador sacar Vlahovic junto. Milik e Gatti foram os escolhidos para renderem os colegas.
Aos 64 minutos, finalmente a Juventus produziu algo digno de nota. A oportunidade saiu dos pés do garoto Iling-Junior, que entrou bem e mostrando personalidade. O inglês arriscou um chute rasteiro, defendido por Bono e, antes, já havia efetuado uma caneta pornográfica em Badé.
Num último recurso para buscar um gol, Allegri resolveu colocar Pogba em campo, aos 70 minutos. Para não perder na marcação e ver o tiro sair pela culatra, o técnico sacou Di María. O francês entrou bem no jogo, mas a Juve seguia com dificuldades de finalizar. Uma boa chance surgiu aos 85, quando Cuadrado cruzou para Rabiot, na grande área, arrematar para fora. No lance, Badé entrou forte sobre o compatriota e não acertou a bola, mas o VAR não chamou o confuso árbitro Daniel Siebert para revisar a jogada.
Tudo parecia perdido para a Juventus. Mas, aos 97 minutos de jogo, um escanteio daria aos mandantes a última chance de buscar o empate, que viria de forma chorada, e com um personagem inesperado – outra vez. Depois do cruzamento de Chiesa, se deu uma linha de passes de cabeça dentro da área espanhola: Danilo encontrou Pogba, que ajeitou para Gatti chegar no primeiro pau e empurrar para o gol vazio. Logo o zagueirão, que saiu do banco para substituir o capitão Bonucci. O mesmo beque que havia garantido a magra vitória do confronto de ida contra o Sporting, nas quartas de final.
Dizem que os gatos têm sete vidas e a Juventus, salva por Gatti, talvez compartilhe dessa característica. Se há dúvidas sobre isso, certo mesmo é que na próxima quinta, 18 de maio, a equipe de Allegri precisará de peles novas para superar o Sevilla no Ramón Sánchez Pizjuán, que ferverá como um caldeirão. Repetir a péssima atuação de Turim é algo fora de cogitação para os bianconeri.