Serie A

Retrospectiva da Serie A, parte 1: em 2023-24, um sólido Genoa se opôs a um Sassuolo mambembe

Ontem, 2 de junho, mais uma Serie A teve o seu fim. E, com isso, podemos iniciar a nossa tradicional retrospectiva da temporada, na qual analisamos o desempenho de cada um dos clubes participantes do certame. Ao longo da semana, falaremos de um campeonato mágico para a torcida da Inter, que celebrou a conquista de sua segunda estrela, e vexaminoso para o Napoli, que defendia o título. Como sempre, passaremos pelos extremos. Começando, claro pela metade inferior da tabela.

Na primeira parte do especial de 2023-24, analisamos a ferrenha corrida contra o descenso, que terminou com uma diferença de apenas três pontos entre o Frosinone, 18º colocado, e o Verona, 13º. Salernitana e Sassuolo, porém, destoaram e rumaram à segundona em queda livre. A propósito, acabaram sendo relegados à categoria inferior os donos das três piores defesas e dos três piores aproveitamentos do returno, exatamente na ordem da classificação final. Por outro lado, indo de encontro a essas estatísticas, podemos afirmar que tivemos rebaixamentos inesperados, cada um a seu jeito.

A retrospectiva ainda abre espaço para as análises sobre o milagre do Empoli, o sufoco da Udinese e a reviravolta do dizimado Verona. Além disso, o especial traz um panorama do ano de despedida de Claudio Ranieri no Cagliari, aponta os motivos que levaram Lecce e Monza a protagonizarem campanhas tranquilas e também avalia a sólida temporada do Genoa, que tem sido bem conduzido – ao menos até agora – pela 777 Partners. O que faz com que a gestão do grupo norte-americano no clube italiano seja tão diferente daquelas que comanda em outros cantos do mundo?

Navegue pelo menu abaixo para acessar a análise do time desejado ou role a página para conferir o balanço completo, equipe por equipe – aqui, você pode conferir a segunda parte do especial. Boa leitura!

Análise clube a clube

Salernitana | Sassuolo | Frosinone | Empoli | Cagliari | Udinese | Lecce | Verona | Monza | Genoa

Salernitana

Candreva, da Salernitana (Getty)

A campanha: 20ª colocação, 17 pontos. 2 vitórias, 11 empates e 25 derrotas. Rebaixada.
No primeiro turno: 20ª posição, 12 pontos.
Fora da Serie A: Eliminada nas oitavas de final da Coppa Italia pela Juventus.
Ataque e defesa: 32 gols marcados (o segundo pior) e 81 sofridos (a pior)
Time-base: Ochoa (Costil); Pirola (Pierozzi), Fazio (Lovato), Gyömbér (Daniliuc); Sambia (Mazzocchi, Zanoli), Coulibaly (Basic), Maggiore (Kastanos), Bradaric; Tchaouna, Candreva; Dia (Ikwuemesi).
Artilheiros: Antonio Candreva (6 gols), Loum Tchaouna (4), Boulaye Dia (4) e Giulio Maggiore (4)
Garçom: Antonio Candreva (6 assistências)
Técnicos: Paulo Sousa (até a 8ª rodada), Filippo Inzaghi (entre a 9ª e a 24ª), Fabio Liverani (entre a 25ª e a 29ª) e Stefano Colantuono (a partir da 30ª)
Os destaques: Antonio Candreva, Loum Tchaouna e Guillermo Ochoa
A decepção: Boulaye Dia
A revelação: Loum Tchaouna
Quem mais jogou: Antonio Candreva (34 jogos), Domagoj Bradaric (34) e Loum Tchaouna (33)
O sumido: Trivante Stewart
Melhor contratação: Loum Tchaouna
Pior contratação: Trivante Stewart

Desde o início, deu tudo errado para a Salernitana e o rebaixamento dos grenás, que não era tido como favas contadas, se tornou uma realidade após o derretimento da equipe ao longo da Serie A. Apesar das rusgas de pré-temporada entre Paulo Sousa e a diretoria, que demorou a buscar reforços, o elenco dos campanos não era o pior do certame. E sequer um plantel que parecesse capaz de quebrar recordes negativos, como o da pior campanha em edições do Italiano disputadas por 20 times e com três pontos por vitória; ou seja, de 2004 em diante. Foi uma construção – ou demolição, melhor dizendo.

As primeiras marretadas no edifício granata foram dadas pelo senegalês Dia, artilheiro da equipe em 2022-23. O atacante tentou forçar sua saída para o Wolverhampton e chegou a ser barrado pelo diretor Morgan De Sanctis, com quem se desentendeu e, mais tarde, afastado em definitivo por ter se recusado a entrar em campo contra a Udinese. O próprio cartola acabou deixando o clube no meio da temporada e a volta de Walter Sabatini não foi tão positiva, visto que o responsável pelas contratações acabou buscando veteranos que nada renderam, como os zagueiros Boateng e Manolas.

O desarranjo defensivo, aliás, foi o que mais custou caro à Salernitana, que somou míseros cinco pontos no returno. A equipe tinha muitas peças pouco confiáveis no setor – além da dupla citada acima, Fazio, Gyömbér e Pirola acumularam erros – e, após demitir Sousa, não buscou treinadores tarimbadas, que pudessem lidar com essa evidente carência. Pippo Inzaghi e Liverani jamais fizeram um bom trabalho na Serie A e Colantuono, que assumiu a bronca com o descenso quase consumado, estava longe dos grandes palcos havia muitos anos. Assim, nem os bons momentos de Ochoa, Costil, Candreva e Tchaouna impediram que os granata deixassem de segurar a lanterna, que pegaram na 10ª rodada. E para não mais largarem.

Sassuolo

Berardi, do Sassuolo (Getty)

A campanha: 19ª colocação, 30 pontos. 7 vitórias, 9 empates e 22 derrotas. Rebaixado.
No primeiro turno: 15ª posição, 19 pontos.
Fora da Serie A: Eliminado nas oitavas de final da Coppa Italia pela Atalanta.
Ataque e defesa: 43 gols marcados e 75 sofridos (a segunda pior)
Time-base: Consigli; Toljan (Pedersen), Erlic, Ferrari (Ruan), Doig (Viña); Boloca (Bajrami), Matheus Henrique; Berardi (Defrel, Volpato), Thorstvedt, Laurienté; Pinamonti.
Artilheiros: Andrea Pinamonti (11 gols), Domenico Berardi (9) e Kristian Thorstvedt (6)
Garçom: Jeremy Toljan (5 assistências)
Técnicos: Alessio Dionisi (até a 26ª rodada), Emiliano Bigica (21ª; jogo recuperado) e Davide Ballardini (a partir da 27ª)
Os destaques: Andrea Pinamonti, Domenico Berardi e Armand Laurienté
A decepção: Mattia Viti
A revelação: Luca Lipani
Quem mais jogou: Andrea Pinamonti (38 jogos), Armand Laurienté (37) e Andrea Consigli (35)
O sumido: Alessio Cragno
Melhor contratação: Daniel Boloca
Pior contratação: Marash Kumbulla

Nós duvidamos que, quando a temporada estava para começar, você tenha apostado sequer uma ficha no rebaixamento do Sassuolo. No nosso guia para esta Serie A, escrevemos que esta campanha deveria ser como nove das outras 10 que o time neroverde tinha protagonizado: sem qualquer tipo de flerte com a zona de descenso ou risco similar. Afinal, os emilianos tinham ótimas peças no elenco, que foi aprofundado durante a janela de transferências do verão europeu, a décima maor folha salarial da competição, um trabalho consistente, estabilidade dentro e fora do campo… Porém, eis que, após 11 anos seguidos na máxima categoria do futebol italiano, amargaram a sua primeira queda.

Apesar de vitórias importantes, como aquelas contra Inter, Juventus e Fiorentina, o Sassuolo não teve a fluidez de outrora no primeiro turno. Considerando a falta de acerto defensivo e uma menor eficiência no ataque, trabalho de Dionisi passou a ser questionado. Entretanto, o técnico foi mantido no cargo, já que o time mantinha uma distância aparentemente segura para a zona de descenso. Em janeiro, com o mercado aberto, Berardi teve uma lesão meniscal e, aí, os cartolas cometeram o pecado original que terminaria punido com o rebaixamento: não buscaram um reforço que suprisse apenas parte do vácuo de qualidade e liderança deixado pelos seu camisa 10. Encontrar alguém de estatura similar ao ponta seria impossível, mas improvisar Bajrami ou Defrel por ali não parecia boa solução. Esperar que o garoto Volpato, mais acostumado a atuar centralizado, se adaptasse rapidamente à responsabilidade, idem. Todavia, a diretoria decidiu pagar para ver e o barato saiu caro.

No fim de fevereiro, uma derrota caseira para o Empoli deixou o Sassuolo à beira do precipício e Dionisi foi demitido. Em seguida, uma goleada por 6 a 1 para um péssimo Napoli, em jogo recuperado da 21ª rodada, acendeu o alerta: Berardi tinha que voltar. E o ponta teve seu retorno apressado para a jornada seguinte, na estreia de Ballardini, contra o Verona. O resultado foi o rompimento do tendão de Aquiles e um prognóstico de pelo menos 10 vezes afastado dos campos. Ali, o psicológico dos neroverdi foi diretamente para o beleléu e a tendência de queda livre no returno não foi mais revertida, apesar de um espasmo com triunfo imediato, na bacia das almas, sobre o Frosinone. Pinamonti, Laurienté e Thorstvedt tentaram de tudo, mas escapar do descenso sem o seu principal jogador e com a profusão de erros crassos de Ferrari e Ruan se revelaria uma missão impossível até mesmo para um especialista em evitar rebaixamentos, como o seu terceiro treinador em 2023-24.

Frosinone

Soulé, do Frosinone (Getty)

A campanha: 18ª colocação, 35 pontos. 8 vitórias, 11 empates e 19 derrotas. Rebaixado.
No primeiro turno: 14ª posição, 19 pontos.
Fora da Serie A: Eliminado nas quartas de final da Coppa Italia pela Juventus.
Ataque e defesa: 44 gols marcados e 69 sofridos (a terceira pior)
Time-base: Turati; Lirola (Monterisi), Okoli, Romagnoli; Zortea (Oyono), Mazzitelli (Harroui), Barrenechea, Valeri (Marchizza); Soulé, Brescianini (Gelli, Reinier); Cheddira.
Artilheiros: Matías Soulé (11 gols), Walid Cheddira (7) e Luca Mazzitelli (5)
Garçom: Nadir Zortea (5 assistências)
Técnico: Eusebio Di Francesco
Os destaques: Matías Soulé, Walid Cheddira e Stefano Turati
A decepção: Pol Lirola
A revelação: Ilario Monterisi
Quem mais jogou: Matías Soulé, Marco Brescianini, Enzo Barrenechea e Walid Cheddira (todos com 36 jogos)
O sumido: Giorgi Kvernadze
Melhor contratação: Matías Soulé
Pior contratação: Kevin Bonifazi

O roteiro da queda do Frosinone foi tão curioso quanto cruel. O time giallazzurro começou a temporada com o pior elenco da categoria, de muito longe. Mas era uma estratégia do diretor esportivo Guido Angelozzi, que optou por esperar a aproximação do fim da janela de transferências para barganhar no mercado e, então, reforçar o plantel com jovens interessantes. Dali em diante, a avaliação sobre os canários mudou.

Sob as ordens do contestado Di Francesco, que alternou muito entre linhas de quatro e três homens na retaguarda, os ciociari fizeram um ótimo primeiro turno, com futebol muito bem jogado e concentrado na individualidade de Soulé, emprestado pela Juventus, e no qualificado toque de bola de Harroui e Brescianini – sem falar nas defesas de Turati. Entretanto, apesar da importante adição de Zortea e de uma participação mais eficaz de Cheddira, que marcou seis dos seus sete gols no returno, a queda de produtividade do meia-atacante argentino, principal jogador do time, fez os canários estagnarem na segunda metade do certame.

Embora tenha obtido aproveitamento similar nas duas frações da competição, somando apenas três pontos a mais na primeira delas, o Frosinone viu os adversários melhorarem e a sua situação se complicar: de 13º colocado na 22ª rodada, passou a antepenúltimo na 28ª. Ainda assim, o time superou a maior parte dos percalços, ganhou fôlego nas últimas jornadas e garantia a inédita permanência na elite até os derradeiros minutos de sua campanha. Os ciociari só entraram na zona de rebaixamento quando faltavam pouco menos de 180 segundos para o encerramento do campeonato. E de lá não saíram, para o regozijo dos sádicos de plantão e para a incredulidade geral dos presentes no estádio Benito Stirpe, que não tiveram reação com a derrota para a Udinese e o triunfo do Empoli sobre a Roma, que selaram o indigesto retorno dos canários à Serie B.

Empoli

Niang, do Empoli (Getty)

A campanha: 17ª colocação, 36 pontos. 9 vitórias, 9 empates e 20 derrotas.
No primeiro turno: 19ª posição, 13 pontos.
Fora da Serie A: Eliminado na fase de 32-avos de final pelo Cittadella.
Ataque e defesa: 29 gols marcados (o pior) e 54 sofridos
Time-base: Caprile (Berisha); Ismajli, Walukiewicz, Luperto; Gyasi (Bereszynski, Ebuehi), Maleh, Grassi (Marin), Cacace (Pezzella); Cancellieri (Fazzini, Zurkowski), Cambiaghi; Caputo (Niang).
Artilheiros: M’Baye Niang (6 gols), Matteo Cancellieri (4) e Szymon Zurkowski (4)
Garçom: Razvan Marin (3 assistências)
Técnicos: Paolo Zanetti (até a 4ª rodada), Aurelio Andreazzoli (entre a 5ª e a 20ª) e Davide Nicola (a partir da 21ª)
Os destaques: M’Baye Niang, Sebastiano Luperto e Razvan Marin
A decepção: Emmanuel Gyasi
A revelação: Elia Caprile
Quem mais jogou: Sebastiano Luperto (38 jogos), Nicolò Cambiaghi (37) e Matteo Cancellieri (36)
O sumido: Mattia Destro
Melhor contratação: M’Baye Niang
Pior contratação: Emmanuel Gyasi

Chama que o homem dá jeito. Pela quinta vez em sua carreira, o técnico Nicola levou um time ao 17º lugar da Serie A, salvando-o do rebaixamento – e foi a quarta ocasião em que celebrou o milagre após passar a dirigir um bonde que já estava andando. O treinador assumiu o cargo quando o Empoli estava na penúltima posição, com míseros 13 pontos, e somou 23 com o pior ataque do certame, atingindo o seu objetivo com um gol a menos de três minutos para o fim da temporada. Mas o que mudou desde a sua chegada?

Bem, o Empoli começou 2023-24 com um dos piores elencos da Serie A. Um plantel recheado de jogadores acostumados a rondarem pela parte inferior da tabela, veteranos que já não vinham apresentando o bom rendimento de outrora e jovens que ainda precisavam dar um salto na carreira. A combinação entre esses fatores fazia com que a permanência na elite se convertesse numa missão complicada. Zanetti, técnico confirmado após a salvação anterior, foi demitido após quatro derrotas em quatro rodadas – com direito a 7 a 0 aplicado pela Roma e nenhum gol marcado no período. Andreazzoli, seu antecessor, foi chamado para apagar o incêndio, mas não foi capaz de promover uma significativa alteração do quadro.

A improdutividade do ataque era o maior problema do Empoli. Quando Nicola assumiu o cargo, o time tinha passado em branco em 12 das 20 partidas disputadas na Serie A. No primeiro compromisso do novo treinador, um 3 a 0 aplicado sobre o Monza mostrou que a situação poderia ser diferente. Bem, nesse departamento não chegou a ser, já que os azzurri não anotaram em metade dos 18 jogos restantes. Mas um atacante mais prolífico chamou a responsabilidade: o senegalês Niang, que guardou seis dos 14 gols que o time toscano fez a partir de sua chegada. Além disso, a defesa se solidificou, centrada numa boa reta final de campeonato do capitão Luperto, e o aproveitamento da equipe melhorou sensivelmente. O técnico chegou a passar seus seis primeiros embates invicto e mostrou o caminho a ser seguido. Assim, o duro calendário nas derradeiras rodadas do certame não intimidou a formação interiorana, que conseguiu importantes vitórias sobre Torino, Napoli e Roma para atingir o seu objetivo.

Cagliari

Gaetano e Luvumbo, do Cagliari (Getty)

A campanha: 16ª colocação, 36 pontos. 8 vitórias, 12 empates e 18 derrotas.
No primeiro turno: 17ª posição, 15 pontos.
Fora da Serie A: Eliminado nas oitavas de final da Coppa Italia pelo Milan.
Ataque e defesa: 42 gols marcados e 68 sofridos
Time-base: Scuffet; Zappa, Mina (Goldaniga, Wieteska, Chatdziakos), Dossena, Augello (Obert, Paulo Azzi); Prati (Deiola, Sulemana), Makoumbou; Nández, Shomurodov (Viola, Gaetano), Luvumbo (Jankto, Oristanio); Lapadula (Petagna);
Artilheiros: Nicolas Viola (5 gols), Zito Luvumbo (4), Gianluca Gaetano (4) e Leonardo Pavoletti (4)
Garçom: Zito Luvumbo (5 assistências)
Técnico: Claudio Ranieri
Os destaques: Zito Luvumbo, Nahitan Nández e Nicolas Viola
A decepção: Pantelis Chatzidiakos
A revelação: Mattia Prati
Quem mais jogou: Gabriele Zappa (38 jogos), Alberto Dossena (35) e Nahitan Nández (33)
O sumido: Marco Mancosu
Melhor contratação: Gianluca Gaetano
Pior contratação: Mateusz Wieteska

A última temporada de Ranieri no futebol de clubes foi um tanto quanto curiosa. Para começar, não foi nenhuma obra-prima, como a que protagonizou em sua outra passagem pelo Cagliari, entre o fim da década de 1980 e o início da posterior: se tornou ídolo rossoblù ao liderar arrancada da terceira divisão à elite, com direito à permanência na categoria principal. Aliás, este ano começou muito mal: os isolani sequer venceram nas nove primeiras rodadas e só ganharam algum fôlego após um intenso 4 a 3 sobre o Frosinone. Os mandantes perdiam por 3 a 0 e viraram graças a dois gols de Pavoletti nos acréscimos.

Ainda que tenha passado 20 das 38 rodadas da Serie A na zona de rebaixamento, lutando ponto a ponto com os adversários, o time sardo jamais deixou a impressão de que cairia para a segundona. O único a ter dúvidas da salvação foi o próprio técnico que, hesitante, chegou a entregar o cargo em meados de fevereiro, quando os isolani ocupavam a penúltima colocação. Talvez Ranieri estivesse assombrado pelo mau desempenho da defesa, departamento do qual é especialista. A retaguarda dos casteddu realmente mostrou mecanismos inferiores aos de trabalhos anteriores do romano e foi a quarta pior do campeonato.

Don Claudio foi demovido da demissão pelos jogadores e pela diretoria, para a sorte do Cagliari. Logo após esse episódio, os sardos viraram a chave e foram conduzidos por Ranieri a uma briosa reação, com pontos somados em 10 das 14 rodadas restantes. Nessa reta final positiva, o time chegou a ficar invicto numa sequência de jogos com Atalanta (vitória), Inter e Juventus (empates). Assim, garantiram mais um ano na elite de forma antecipada e puderam dar uma digna despedida ao experiente treinador, que desempenhou a função por cerca de quatro décadas.

Udinese

Walace, da Udinese (Getty)

A campanha: 15ª colocação, 37 pontos. 6 vitórias, 19 empates e 13 derrotas.
No primeiro turno: 16ª posição, 17 pontos.
Fora da Serie A: Eliminada na fase de 16-avos de final da Coppa Italia pelo Cagliari.
Ataque e defesa: 37 gols marcados e 53 sofridos
Time-base: Okoye (Silvestri); Kristensen (João Ferreira), Bijol, Pérez; Pereyra (Ebosele, Ehizibue), Samardzic, Walace, Lovric (Payero), Kamara (Zemura); Thauvin (Success), Lucca.
Artilheiros: Lorenzo Lucca (8 gols), Lazar Samardzic (6) e Florian Thauvin (5)
Garçom: Lorenzo Lucca (4 assistências)
Técnicos: Andrea Sottil (até a 9ª rodada), Gabriele Cioffi (entre a 10ª e a 33ª) e Fabio Cannavaro (a partir do fim do jogo recuperado da 32ª e da 34ª em diante)
Os destaques: Lorenzo Lucca, Walace e Florian Thauvin
A decepção: Brenner
A revelação: Thomas Kristensen
Quem mais jogou: Lorenzo Lucca (37 jogos), Walace (37) e Nehuén Pérez (36)
O sumido: Gerard Deulofeu
Melhor contratação: Lorenzo Lucca
Pior contratação: João Ferreira

A Udinese terminou o campeonato numa posição bastante enganosa – afinal, passou boa parte da última rodada na zona de rebaixamento e escapou da queda na bacia das almas. Apresentando um coletivo medíocre, a equipe friulana se manteve na região inferior da tabela durante toda a temporada, não indo além da 13ª posição. Não à toa, apenas a lanterna Salernitana somou menos vitórias ao longo de 2023-24. Por outro lado, os bianconeri obtiveram o recorde de empates em edições da Serie A com 20 times: 19, o equivalente a um turno inteiro. Foi esse exagero de igualdades que manteve os zebrados na elite e lhes permitirá completar 30 anos seguidos na máxima categoria italiana.

Dona de um futebol extremamente opaco, a Udinese teve o quinto pior ataque da Serie A e demorou muito a mostrar reação. Em sua segunda temporada no comando da equipe, Sottil foi demitido após uma péssima largada: um golzinho em apenas cinco rodadas. Na nona jornada sem triunfos, terminou despedido. A primeira vitória, absolutamente surpreendente, só foi ocorrer na 11ª, já com Cioffi, em visita ao Milan. Aliás, os friulanos ainda conseguiram outros sucessos acachapantes, como aqueles fora de casa sobre Lazio e Juventus, e um sonoro 3 a 0 caseiro sobre o Bologna.

Estes espasmos demonstravam que a equipe, apesar de não jogar bem, era tinhosa. E que disputar a Serie A durante 29 anos consecutivos não era algo imotivado. Representava, inclusive, uma vantagem anímica sobre as concorrentes. E isso foi demonstrado, através da seriedade de Walace, Bijol e Pereyra, ou dos lampejos de Samardzic, Thauvin e Lucca. A Udinese não perdeu nenhuma das partidas em que o tetracampeão Cannavaro a comandou inteiramente – descartando, portanto, os minutos finais do duelo recuperado com a Roma. Foram empates cruciais com Bologna e Napoli, além do arrancado a fórceps no confronto direto com o Empoli e, claro o triunfo naquele com o Frosinone. O suficiente para garantir o alívio da torcida, mas não a sua satisfação completa. Afinal, o projeto dos friulanos está em crise e aquele time que brigava por vagas em torneios continentais foi relegado a um passado cada vez mais distante.

Lecce

Falcone, do Lecce (Getty)

A campanha: 14ª colocação, 38 pontos. 8 vitórias, 14 empates e 16 derrotas.
No primeiro turno: 12ª posição, 21 pontos.
Fora da Serie A: Eliminado na fase de 16-avos de final da Coppa Italia pelo Parma.
Ataque e defesa: 32 gols marcados (o segundo pior) e 54 sofridos
Time-base: Falcone; Gendrey, Pongracic, Baschirotto, Gallo; Oudin (Rafia, González), Ramadani, Blin (Kaba); Almqvist, Krstovic (Piccoli), Dorgu (Banda).
Artilheiros: Nikola Krstovic (7 gols), Roberto Piccoli (5) e Rémi Oudin (3)
Garçom: Lameck Banda (4 assistências)
Técnicos: Roberto D’Aversa (até a 28ª rodada) e Luca Gotti (a partir da 29ª)
Os destaques: Wladimiro Falcone, Nikola Krstovic e Pontus Almqvist
A decepção: Joan González
A revelação: Patrick Dorgu
Quem mais jogou: Wladimiro Falcone (38 jogos), Federico Baschirotto (37) e Valentin Gendrey (37)
O sumido: Ahmed Touba
Melhor contratação: Nikola Krstovic
Pior contratação: Lorenzo Venuti

Mais uma salvação obtida com louvor. O Lecce teve a menor folha salarial da Serie A 2023-24 – inclusive, menos custosa do que a de cinco clubes da segundona – e sequer frequentou a zona de rebaixamento durante toda a competição, mostrando que o seu projeto continua a funcionar brilhantemente. O diretor esportivo Pantaleo Corvino é um grande descobridor de garotos nas divisões de base e de atletas em mercados periféricos, o que barateia os custos do futebol salentino. Sem prejudicar a sua produtividade, como está evidente.

O Lecce poderia ter sofrido por conta de algumas peças perdidas ou pela mudança de treinador de uma temporada para outra, mas não foi o que ocorreu. D’Aversa fez o básico e, nas rodadas iniciais, chegou a deixar o time na zona de classificação para a Champions League. Os giallorossi se mantiveram na parte alta da tabela por um bom tempo e viraram o ano numa posição intermediária, até que uma crise de resultados, intensificada pela sequência de cinco jornadas sem triunfos, atirou os apulianos às portas da zona de rebaixamento e mostrou que o técnico já tinha atingido o teto de seu trabalho. Em choque com alguns atletas e a diretoria, foi demitido por justa causa, após cabecear Henry, atacante do Verona.

O destempero de D’Aversa acabou sendo fundamental para a salvação do Lecce. Com a troca no comando e a chegada de Gotti, o time retomou as estribeiras, pontuou em confrontos diretos – vencendo os mais importantes deles – e garantiu sua permanência com três rodadas de antecedência. E olha que este nem foi o ano mais cintilante de diversos pilares do elenco, como Gendrey, Gallo e Baschirotto. Por outro lado, Falcone continuou sendo uma segurança na baliza e manteve sua trajetória ascendente de valorização.

Verona

Suslov e Folorunsho, do Verona (Getty)

A campanha: 13ª colocação, 38 pontos. 9 vitórias, 11 empates e 18 derrotas.
No primeiro turno: 18ª posição, 14 pontos.
Fora da Serie A: Eliminado na fase de 16-avos de final da Coppa Italia pelo Bologna.
Ataque e defesa: 38 gols marcados e 51 sofridos
Time-base: Montipò; Tchatchoua (Terracciano), Dawidowicz (Coppola), Magnani, Cabal (Doig); Duda, Serdar (Hongla); Suslov (Ngonge), Folorunsho, Lazovic (Bonazzoli); Noslin (Djuric).
Artilheiros: Cyril Ngonge (6 gols), Milan Djuric (5), Tijjani Noslin (5) e Michael Folorunsho (5)
Garçom: Tomás Suslov (5 assistências)
Técnico: Marco Baroni
Os destaques: Tomás Suslov, Michael Folorunsho e Tijjani Noslin
A decepção: Rúben Vinagre
A revelação: Stefan Mitrovic
Quem mais jogou: Lorenzo Montipò (37 jogos), Michael Folorunsho (34) e Giangiacomo Magnani (33)
O sumido: Charlys
Melhor contratação: Tijjani Noslin
Pior contratação: Jordi Mboula

Baroni operou um pequeno milagre durante 2023-24. Responsável pela salvação do Lecce na última temporada, o técnico repetiu a dose com um elenco de qualidade inferior, especialmente na defesa, e ainda o fez diante de um cenário de desmanche. O Verona se desfez de incríveis 14 atletas no mercado de inverno, sendo que 10 deles jogavam regularmente – além disso, os negociados Ngonge e Djuric eram seus artilheiros e continuaram ocupando seus postos até o fim do certame. Rápido não apenas em reajustar, mas inclusive melhorar o desempenho do time, o treinador viveu o melhor ano de sua carreira.

O Verona teve uma largada razoável na Serie A, ainda que logo tenha sofrido com um processo de queda livre que resultou em sua entrada na zona de rebaixamento na segunda metade do primeiro turno. Jogadores como Duda, Folorunsho, Suslov, Djuric e Ngonge até faziam suas partes, mas a situação era bastante tensa. E tinha tudo para se complicar de forma definitiva quando, em meio a este cenário, o presidente Maurizio Setti – que planeja vender o clube há anos – resolveu lucrar com a cessão de várias das principais peças do plantel e optou por reinvestir em nomes mais baratos.

O time do Hellas foi dizimado. Porém, Baroni foi hábil perante as adversidades. E também teve um pouco de sorte, já que Noslin, reforço de janeiro, se adaptou rapidamente e entrou na lista de artilheiros dos mastini – com gols contra adversários potentes, como Juventus, Atalanta, Fiorentina e Inter. Assim, com o reforço do holandês, os chutaços de longa distância de Folorunsho e o dinamismo dos eslovacos Duda e Suslov, o Verona pontuou em todos os confrontos diretos do returno, com quatro vitórias nesse recorte, e desenvolveu uma trajetória ascendente, que culminou na confirmação antecipada de sua permanência na elite, com apenas três pontos de vantagem sobre o rebaixado Frosinone, mas bem acima em termos de classificação. Uma campanha que merece ser valorizada.

Monza

Colpani e Di Gregorio, do Monza (Getty)

A campanha: 12ª colocação, 45 pontos. 11 vitórias, 12 empates e 16 derrotas.
No primeiro turno: 11ª posição, 25 pontos.
Fora da Serie A: Eliminado na fase de 32-avos de final da Coppa Italia pela Reggiana.
Ataque e defesa: 39 gols marcados e 51 sofridos
Time-base: Di Gregorio; Izzo (D’Ambrosio), Caldirola (A. Carboni), Pablo Marí; Birindelli (Ciurria), Pessina, Gagliardini (Bondo); Colpani, Mota (V. Carboni); Colombo (Djuric).
Artilheiros: Andrea Colpani (8 gols) e Matteo Pessina (6)
Garçom: Andrea Colpani (4 assistências)
Técnico: Raffaele Palladino
Os destaques: Michele Di Gregorio, Andrea Colpani e Matteo Pessina
A decepção: Alejandro Gómez
A revelação: Samuele Vignato
Quem mais jogou: Andrea Colpani (38 jogos), Matteo Pessina (37) e Samuele Birindelli (35)
O sumido: Alejandro Gómez
Melhor contratação: Milan Djuric
Pior contratação: Alejandro Gómez

O Monza foi de uma regularidade impressionante ao longo de 2023-24: passou 32 das 38 rodadas da Serie A oscilando entre a nona e a 12ª posição. Destinado ao meio da tabela desde que chegou à primeira divisão, em 2022, o time biancorosso cumpriu novamente o seu objetivo de permanecer na categoria sem sustos – ficou sete pontos acima do Verona, 13º colocado, que lutou contra o rebaixamento. Ao mesmo tempo, jamais ensaiou brigar de fato por uma vaga em competições europeias, apesar das inconsistências de muitos dos favoritos a elas. Altos e baixos que permitiram, por exemplo, que o Torino sonhasse com a Conference League.

Durante a temporada, o Monza repetiu a fórmula de 2022-23, com uma grande base de italianos entre suas principais peças. Somente cinco dos 17 jogadores mais utilizados por Palladino ao longo da Serie A eram estrangeiros – alguns de grande importância para o funcionamento do time, como Pablo Marí, Mota e Djuric. Porém, os maiores destaques dos biancorossi foram mesmo os itálicos. Sobretudo o meia-atacante Colpani, que teve um início de campeonato muito forte, com seis de seus oito gols marcados no primeiro turno, ou o “tigre” Di Gregorio, um dos melhores arqueiros do certame, senão o melhor.

Apesar dos destaques individuais, vale salientar que o Monza também teve um coletivo bem ajeitado, que funcionou tanto no já conhecido 3-4-2-1 quanto numa variação em 4-2-3-1, utilizada um pouco mais frequentemente por Palladino neste campeonato – uma amostra disso é quatro jogadores dividiram o terceiro lugar da artilharia biancorossa, com quatro gols. Porém, vale destacar que os bagai foram menos brilhantes em 2023-24 do que em sua estreia na elite e causaram menos problemas para os grandes. Enquanto somaram seis vitórias contra times da parte superior da tabela na temporada anterior, na recém-encerrada conseguiram somente uma sobre adversários situados nesta região – um 4 a 2 sobre o Milan.

Genoa

Gudmundsson, do Genoa (Getty)

A campanha: 11ª colocação, 45 pontos. 12 vitórias, 13 empates e 13 derrotas.
No primeiro turno: 13ª posição, 21 pontos.
Fora da Serie A: Eliminado nas oitavas de final da Coppa Italia pela Lazio.
Ataque e defesa: 45 gols marcados e 45 sofridos
Time-base: Martínez; Vogliacco (Dragusin), De Winter, Bani; Sabelli, Badelj, Frendrup, Malinovskyi (Strootman, Junior Messias, Thorsby), Vásquez (Martín); Gudmundsson, Retegui (Ekuban).
Artilheiros: Albert Gudmundsson (14 gols), Mateo Retegui (7), Ruslan Malinovskyi (4) e Caleb Ekuban (4)
Garçom: Morten Frendrup (5 assistências)
Técnico: Alberto Gilardino
Os destaques: Albert Gudmundsson, Mateo Retegui e Morten Frendrup
A decepção: Emil Bohinen
A revelação: Alan Matturro
Quem mais jogou: Morten Frendrup (37 jogos), Johan Vásquez (37) e Josep Martínez (36)
O sumido: Emil Bohinen
Melhor contratação: Mateo Retegui
Pior contratação: Berkan Kutlu

Seria o Genoa o único clube de posse da 777 Partners que não tem problemas e, além disso, parece habilmente gerenciado? Apesar do rebaixamento sacramentado logo após a compra da agremiação por parte do fundo de investimentos norte-americano, todo o resto vem fluindo a contento: os rossoblù diminuíram seus débitos, pararam de gastar com jogadores que não seriam utilizados e técnicos demitidos em profusão, se organizaram nos bastidores, internacionalizaram sua marca graças a ações de marketing bem-sucedidas, ganharam audiência nas redes sociais e ainda produziram um projeto esportivo consistente, com estabilidade. As contratações feitas chamaram atenção e renderam em campo, num trabalho conduzido com excelência por Gilardino desde meados da última temporada.

Ao longo de 2023-24, o Genoa jamais foi além da 11ª posição. Tampouco flertou com a zona de rebaixamento, que sempre esteve bem distante. E isto não é pouco para um time que acabou de voltar da Serie B e que passou a década passada namorando sério com as últimas posições da tabela. Dessa vez, foi o contrário: os grifoni, equilibradíssimos, tiveram uma defesa sólida, sobretudo no período em que puderam contar com o ótimo romeno Dragusin, vendido ao Tottenham em janeiro, e um ataque que, centrado na eficiência de Gudmundsson e Retegui, fustigava os adversários.

Assim como ocorreu com Dragusin, aliás, a dupla de ataque do Genoa deve ser vendida na janela de transferências do verão europeu e permitir que os rossoblù tenham uma pequena fortuna para administrar. Gilardino, por outro lado, continuará no time e poderá aprofundar o seu trabalho, calcado num futebol operário e concreto. Um estilo que já permitiu ao Vecchio Balordo, na Serie A recém-encerrada, golear a Roma e dificultar a vida de peixes grandes, como Inter, Juventus e Milan – todos perderam pontos para os grifoni.

Compartilhe!

Deixe um comentário