Quando olhamos para os grandes times no passado, é normal que os atletas que atuam do meio para frente sejam os mais lembrados. Isso acontece com a Lazio da virada do século, que teve craques como Marcelo Salas, Pavel Nedved, Alen Boksic e Christian Vieri, mas lá atrás, contava com Paolo Negro numa ótima linha defensiva, ao lado de Alessandro Nesta. Com 12 temporadas em biancoceleste, Negro foi um útil e quase onipresente coadjuvante, a ponto de se tornar o quarto jogador com mais partidas pela equipe e também um dos mais vitoriosos.
Paolo nasceu em 1972, na cidade de Arzignano, no Vêneto. Após iniciar como ponta nas categorias de base do clube de sua comuna, foi adquirido aos 16 anos pelo Brescia, onde foi transformado em lateral-direito e completou sua formação em 1989-90 – temporada em que começou a ser relacionado para partidas da Serie B pelo time profissional. No entanto, o seu debute entre os adultos não aconteceria pelos biancazzurri.
Bem cotado por suas atuações no setor juvenil, Negro subitamente se transferiu para o Bologna, da Serie A, reforçando o plantel dos rossoblù para 1990-91. Sua estreia ocorreu pela Copa Uefa, na vitória fora de casa dos veltri sobre o Zaglebie Lubin, da Polônia. Na competição continental, ante o austríaco Admira Wacker, Paolo também anotou o primeiro gol de sua carreira, fazendo a partida ir para os pênaltis e o clube italiano, posteriormente, avançar às quartas de final – onde foi eliminado pelo Sporting.
Negro acumulou 31 aparições na temporada, atuando principalmente como zagueiro pela direita. O Bologna acabou caindo para a Serie B, mas o defensor impressionou e ganhou suas primeiras chances na seleção italiana sub-21. Na segundona, recebeu mais tempo de jogo com a camisa rossoblù, porém não conquistou o acesso com os emilianos, que viviam uma grande crise financeira. Assim, acabou por ser repatriado pelo Brescia, que à época estava na elite.
Com a camisa dos biancazzurri, Negro fez uma boa dupla com Massimo Paganin, cresceu de rendimento e marcou o seu primeiro gol em Serie A, em confronto contra a Sampdoria. O defensor apareceu na segunda trave e testou para o fundo das redes abrindo o placar da partida que terminaria com vitória do Brescia, por 3 a 1. Apesar de sua ótima contribuição, o time da Lombardia acabou sendo rebaixado: empatou em pontos com a Udinese, mas perdeu o jogo de desempate previsto por regulamento para definir o descenso.
A trajetória do defensor pelo Brescia terminaria logo em seguida: Negro assinou com a Lazio, onde viveria o capítulo mais importante de sua carreira. O jovem vêneto foi um dos primeiros reforços do magnata Sergio Cragnotti, que havia adquirido o clube em fevereiro de 1992 e estava disposto a investir muita grana para fazer dos time celeste um dos mais fortes postulantes a títulos da Itália. Chegando por nove bilhões de liras, Paolo permaneceu na Cidade Eterna por 12 anos consecutivos. Apesar de atuar quase sempre como lateral-direito, foi às redes em dez das temporadas em que representou a equipe.
Negro deu retorno imediato com a camisa da Lazio, quarta colocada da Serie A em 1993-94. Suas atuações lhe renderam as primeiras chamadas para a Squadra Azzurra, mas antes de chegar à seleção principal, foi convocado para a disputa do Europeu Sub-21, integrando um elenco que ainda tinha nomes como Francesco Toldo, Fabio Cannavaro, Christian Panucci, Filippo Inzaghi e Vieri.
Na estreia da competição, a Itália venceu a Checoslováquia por 3 a 0 com tentos de Vieri e Panucci no primeiro tempo, e Paolo fechou a conta na reta final da partida. A boa geração italiana acabou se sagrando campeã do torneio sobre Portugal, de Rui Costa e Luís Figo, numa final decidida pelo gol de ouro. Meses depois do título, Arrigo Sacchi chamou o laziale para a seleção principal. Negro estreou em derrota para a Croácia e de modo geral, foi preterido por outros defensores durante toda a sua carreira: jogou apenas oito vezes pela Nazionale.
No início de sua trajetória em biancoceleste, Paolo era coadjuvante de um elenco ainda em formação. Apesar da boa impressão deixada no primeiro ano, no trabalho de Dino Zoff, o defensor veio a se firmar mesmo na temporada 1994-95, quando sob o comando de Zdenek Zeman, a Lazio fez bonito em três frentes: foi vice-campeã italiana, semifinalista da Coppa Italia e caiu nas quartas da Copa Uefa. Negro marcou oito gols e acabou sendo o jogador que mais entrou em campo, com 48 aparições – ficou de fora de apenas dois compromissos, contra Bari e Cagliari.
Se a evolução aconteceu com Zeman, foi nas mãos de Sven-Göran Eriksson que vieram as grandes conquistas. Depois de dois anos de atuações regulares, nos quais a Lazio não decolou, em 1997-98, Paolo foi peça importante do time do sueco: participou de todas as partidas da Coppa Italia, a primeira conquista da era Cragnotti. Os celestes ainda foram vice-campeões da Copa Uefa. Na decisão, contra a Inter, Negro pouco pode fazer para combater a noite primorosa de Ronaldo e Iván Zamorano.
No início da temporada posterior, acabou ficando de fora da festa da Supercopa Italiana, vencida sobre a Juventus, mas participou da campanha invicta na última edição da Recopa Uefa. Em seguida, Negro conquistou a dobradinha nacional, no ano do centenário biancoceleste, fazendo parte da segunda melhor linha de retaguarda do campeonato, ao lado de Nesta, Sinisa Mihajlovic e Giuseppe Pancaro. Em ótima fase, com scudetto e copa no bolso, Paolo foi convocado por Zoff, seu velho conhecido, para representar a Itália na Euro 2000. Reserva na trajetória do vice, jogou apenas na vitória por 2 a 1 sobre a Suécia, na fase de grupos.
Em dezembro de 2000, num dos tantos dérbis romanos que disputou, Paolo acabou sendo protagonista… negativo. O defensor ficou em evidência por conta de um gol contra que até hoje é lembrado. Em jogada que nasceu do cruzamento de Cafu, Cristiano Zanetti cabeceou com força e obrigou Angelo Peruzzi a espalmar; na hora de afastar o perigo, Nesta chutou em cima de Negro, que acabou violando a própria meta. O tento acabou sendo decisivo para a vitória da Roma, que viria a conquistar o scudetto naquele mesmo ano.
Aos poucos, a partir de 2001-02, Negro foi perdendo seu espaço entre os titulares da equipe. Contra o Parma, em fevereiro de 2002, sofreu uma lesão nos ligamentos colaterais do joelho esquerdo, que o deixou fora do resto da temporada. Mesmo após sua recuperação, o camisa 2 foi preterido e não reconquistou seu lugar no time principal.
Negro teve uma participação bem discreta na conquista da Coppa Italia de 2004 e se despediu da Lazio em 2005. Aos 33 anos, o defensor até estava disposto a permanecer até o final da carreira na Cidade Eterna, mesmo jogando pouco, mas os biancocelestes atravessavam uma crise institucional: Cragnotti passou o bastão para Claudio Lotito, que assumiu o clube severamente endividado, o que ocasionou a sua abrupta e indesejada saída.
“Meu agente me ligou, porque precisávamos ir a Villa San Sebastiano para assinar a renovação. Lotito já tinha informado os valores a ele. Porém, no momento de assinar, o presidente mudou de ideia e ficou pechinchando, tentando abaixar a oferta. Por causa disso, rompemos” relembrou Negro, ao jornal Il Tempo. Por conta dos atritos com o novo dono, Paolo encerrou a sua passagem pela Lazio com 378 aparições e, no clube, apenas Giuseppe Wilson (392), Giuseppe Favalli (401) e Stefan Radu (413, até o fechamento deste texto) estão à sua frente. Com oito títulos, é o mais vitorioso atleta da história dos aquilotti, ao lado de Favalli e de Guerino Gottardi.
Ciente de que ainda tinha lenha para queimar, Negro decidiu aceitar a proposta do Siena, quarto clube de sua carreira profissional. Os bianconeri haviam estreado na elite na temporada anterior e Paolo emprestou sua experiência para ajudá-los a garantirem mais duas permanências na Serie A.
Pelo alvinegro toscano, viveu dois episódios muito especiais de sua carreira: na sexta rodada do Italiano 2005-06, enfrentou a Roma e se vingou do traumático gol contra no dérbi capitolino ao anotar o primeiro tento da vitória da sua equipe por 3 a 2, em pleno Olímpico. Na campanha seguinte, na derradeira rodada da Serie A, apareceu como centroavante para, aos 85 minutos, salvar o Siena do rebaixamento. O adversário na vitória por 2 a 1? A Lazio.
Negro, então com 35 anos, teria aquela partida e aquele gol como os últimos momentos de sua carreira. Ao menos por um tempo: depois de anunciar aposentadoria e fazer cursos para ser treinador, voltou aos gramados no fim de 2010. O Città di Cerveteri, da sétima divisão, o convidou para acumular as funções de jogador e técnico. Terminou por salvar o time do Lácio do rebaixamento.
Como treinador, Paolo também se tornou um coadjuvante. Comandou times principais do Zagarolo, na quinta divisão, e do Spoleto, na sexta categoria. Além disso, passou pelas categorias de base de Latina e Frosinone, além da escolinha do Cragnotti. Em 2021, Negro começou a colaborar com a comissão técnica do Siena.
Paolo Negro
Nascimento: 16 de abril de 1972, em Arzignano, Itália
Posição: zagueiro e lateral-direito
Clubes como jogador: Brescia (1989-90 e 1992-93), Bologna (1990-92), Lazio (1993-2005), Siena (2005-07) e Città di Cerveteri (2010-11)
Títulos como jogador: Europeu Sub-21 (1994), Coppa Italia (1998, 2000 e 2004), Supercopa Italiana (1998 e 2000), Recopa Uefa (1999), Supercopa Uefa (1999) e Serie A (2000)
Clubes como treinador: Città di Cerveteri (2010-11), Zagarolo (2012-14) e Spoleto (2016-17)
Seleção italiana: 8 jogos