A temporada do Milan segue uma montanha russa. São muitos altos e baixos de um time que continua procurando sua forma ideal de jogar com Paulo Fonseca, comandante que assumiu em 2024-25. E a partida desta terça, 22 de outubro, contra o Club Brugge em San Siro, mostrou tudo isso. Uma sofrida vitória por 3 a 1 que se tornou ainda mais importante após as derrotas nas duas primeiras rodadas da Champions League e que pode ter apresentado um novo cenário para os rossoneri na competição e na própria temporada.
Paulo Fonseca montou a equipe em um 4-3-3, apostando na dobradinha entre Hernandez e Rafael Leão no lado esquerdo e permitindo bastante alternância entre Fofana, Loftus-Cheek e Reijnders, três meio-campistas de muita marcação e chegada na área. Já Nicky Hayen mandou o time belga a campo em um ousado 4-1-4-1, sem medo de atacar uma equipe mais poderosa.
O início de jogo foi extremamente positivo para os visitantes, que, em menos de dez minutos, já haviam exigido ao menos quatro importantes intervenções de Maignan, além de terem balançado a trave. Alguns erros individuais milanistas ainda aumentaram a pressão de um time corajoso, que se propõe a jogar e criar oportunidades e não a apenas ficar se defendendo. Foi apenas aos 15 que os rossoneri finalizaram pela primeira vez. Um chute de longe, sem grande perigo, de Fofana.
As duas equipes utilizavam muito mais o lado esquerdo de ataque, o que funcionou melhor para o Brugge, que tinha em Tzolis seu jogador mais produtivo. O principal nome do Milan na temporada, por outro lado, é Pulisic, que joga na ponta direita, embora tenha feito uma boa partida como meia na última rodada da Serie A, na vitória contra a Udinese por 1 a 0. O norte-americano, portanto, não teve muita participação, mas era nítido que o jogo dos mandantes fluía melhor quando a bola chegava nele.
O time belga seguiu melhor até os 33, quando as coisas começariam a mudar. Hernandez interceptou um passe no semicírculo de defesa e arrancou para o contra-ataque, tabelou com Rafael Leão e conseguiu um escanteio. Na cobrança, Pulisic surpreendeu o goleiro Mignolet, cobrando fechado. A bola passou por jogadores do Milan e do Club Brugge, terminando num fantástico gol olímpico do camisa 11. Desde 1974, com Chiarugi, um rossonero não anotava diretamente desde um corner.
Menos de cinco minutos depois, mais um grande baque para os visitantes. Em uma dividida com Reijnders, o volante Onyedika chegou atrasado, atingindo o neerlandês no tornozelo, com as travas de sua chuteira. Após uma longa análise do VAR, o nigeriano foi expulso. Mesmo jogando pior, o Diavolo vencia e passou a ter um homem a mais. A equipe, porém, decidiu administrar a vantagem até o intervalo, permitindo que o rival se organizasse para o segundo tempo.
E foi o que aconteceu. Hayen mandou a campo Vetlesen e Sabbe nos lugares de Talbi e Seys, reequilibrando seu time e trazendo resultados imediatos. Demorou apenas cinco minutos para que Vetlesen desse a assistência para Sabbe igualar o marcador, numa jogada que envolveu a defesa do Milan e fez parecer que eram os mandantes que tinham dez em campo. Mesmo em inferioridade numérica, o Club Brugge seguiu corajoso e melhor na partida, até os 60, quando Fonseca efetuou a alteração que faria a diferença no jogo e pode vir a mudar o rumo da temporada.
Okafor e Chukwueze entraram nos lugares de Loftus-Cheek e Rafael Leão. O Milan, assim, voltou ao tradicional 4-2-3-1, com os dois que entraram abertos pelas pontas, Pulisic como um camisa 10, por trás de Morata, com mais liberdade e espaço para participar da criação das jogadas, além de Fofana e Reijnders como dois volantes de muita marcação, mas sem perder a chegada.
O resultado não poderia ter sido mais rápido. No primeiro lance após a alteração, Okafor foi acionado pela ponta esquerda, chegou à linha de fundo e rolou para trás, observando a chegada de Reijnders, que recolocou a vantagem do lado mandante. A mesma jogada se repetiria do lado direito, com Chukwueze assistindo o volante a marcar pela segunda vez no jogo, aos 71 minutos.
Após os gols, a partida ficou muito mais tranquila para os rossoneri, e seu comandante aproveitou para dar a primeira oportunidade para uma das promessas sobre a qual se tem a maior expectativa dos últimos anos, especialmente na base do clube italiano. Camarda entrou com 75 minutos, se tornando o mais jovem jogador de seu país a entrar em campo pela Liga dos Campeões, e o sétimo no geral.
Ele precisaria de menos de dez minutos para chegar às redes, com um lindo cabeceio. O lance o transformaria no mais novo atleta a marcar na história da maior competição de clubes do futebol mundial, com apenas 16 anos e 226 dias. Porém, o tento foi anulado por conta de um impedimento – o que deixou Camarda absolutamente desolado.
Ao final do jogo, restaram mais dúvidas sobre a defesa milanista, além de diversas contestações sobre a dificuldade do time para aproveitar a vantagem numérica e o fator casa contra um adversário de menos tradição, pouco investimento e que não tem como característica se fechar na defesa. Além disso, aumentou a nebulosidade sobre o desempenho de Rafael Leão.
Não foi a primeira vez que, assim que o ponta deixou o campo, seu substituto produziu mais e de forma imediata. Tem faltado empenho ao português, que ainda estava caminhando à beira do gramado quando Okafor deu a assistência para Reijnders? O camisa 10 comemorou o gol juntamente ao elenco, mas certamente não vive a sua melhor fase.
O bom desempenho após as alterações, por outro lado, traz à tona uma nova maneira de jogar, que pode trazer os melhores frutos aos rossoneri – ainda que isso tenha deixado exposto o jogador mais talentoso do elenco. Okafor e Chukwueze como pontas habilidosos e objetivos, com Pulisic tendo liberdade para flutuar, Morata atuando como um centroavante móvel e uma dupla de proteção no meio de campo. Este será o caminho para o Milan? Bem, pode-se dizer que esta partida, mais do que o Club Brugge, quem perdeu foi Rafael Leão.