Originalmente escrito para o Olheiros.
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Meghni: o Zizou pequeno demais
Apelidado de “pequeno Zidane”, meia da Lazio ainda não convence.
Mourad Meghni, ou “petit Zidane” (pequeno Zidane) – mesmo apelido dado a Yohan Gourcuff e a tantos outros franceses com qualquer parentesco argelino – tem se consolidado cada vez mais nos gramados do continente. Engana-se quem pensa que essa consolidação é como um dos jovens de maior potencial da Europa, ou então como grande destaque de alguma equipe. Meghni, que um dia chegou a ser grotescamente comparado com o dono da camisa 10 de seu país na última Copa do Mundo, firma-se somente como mais uma eterna promessa do futebol.
Habilidoso, ágil e com um estilo de jogo repleto de dribles, Meghni se destaca no Centro Técnico Nacional Fernand Sastre, ou simplesmente Clairefontaine. Localizada a 50 km de Paris, esta associação – licenciada pela Federação Francesa de Futebol – seleciona somente os mais fortes prodígios da Île-de-France, uma das regiões administrativas do país. Thierry Henry, Nicolas Anelka, William Gallas, Abou Diaby e Louis Saha são alguns dos nomes criados neste mesmo local. Seguindo a rotina diária local, que consistia em duas horas de treino para aprimoramentos técnicos e físicos, Meghni acaba chamando a atenção do Bologna, com 16 anos de idade.
Bologna e torneios de base
Meghni, no grupo liderado pela dupla Le Tallec e Sinama-Pongolle, consegue chegar ao vice-campeonato do Europeu sub-16 de 2001, organizado pela Uefa (cujo limite etário, hoje, é de 17 anos). Os franceses, após passarem pela Rússia e atropelarem a Inglaterra de Routledge, são barrados na final pela estrela de Fernando Torres. Após a competição, com apenas recém-completados 16 anos de idade, o filho de um argelino com uma portuguesa é levado pelo Bologna, tradicional equipe da Serie A italiana. À época – mais precisamente na temporada 2001/02 – um time que batalha para chegar à Copa da Uefa.
Como normal e esperado para qualquer garoto de sua idade, Meghni não entra em campo pela equipe principal na sua primeira temporada pelo Bologna. Atuando na categoria Primavera, encontra-se com a geração campeã do Allievi Nazionali (sub-16 da Itália) do ano anterior. Após pouco mais de dois meses na bota, surge a oportunidade de maior relevância em toda a sua carreira, até hoje: o Mundial sub-17 de 2001, disputado em Trinidad e Tobago.
Seguindo a fase fantástica atravessada pela seleção francesa – então campeã da Copa do Mundo, em 1998; e da Euro, em 2000 – os garotos não fazem por menos. Com os inspiradíssimos Sinama-Pongolle (artilheiro e craque da competição), Le Tallec e Meghni – este dono da camisa dez – a França conquista o cobiçado título após deixar para trás Brasil, Argentina e uma poderosa Nigéria. Atuando num 3-5-2 que contava com Meghni de meia-avançado, os franceses vencem cinco de suas seis partidas, balançando as redes cinco vezes contra o Japão e outras cinco contra os Estados Unidos. Depois deste vitorioso torneio que, sem dúvidas, várias oportunidades se abrem para “petit Zidane” (no alto de seus 180 cm, o ‘pequeno’ referiu-se sempre à sua idade).
O flop
Na temporada seguinte, Meghni tem a chance de estrear na Serie A italiana: em uma partida já perdida contra o Milan, o francês entra em campo pela primeira vez com a equipe principal. Até o fim de 2002/03, o meia acaba jogando 8 partidas e marcando dois gols, ainda sendo considerado como uma das principais promessas de seu país. No ano seguinte, com incompletos 20 anos, Meghni não passa de 12 partidas com o Bologna na Serie A, sem marcar nenhum gol. O número baixo de atuações não serve para desmotivar o garoto, visto que sua reputação do torneio sub-17 ainda lhe dá créditos para buscar a titularidade. Vale lembrar também que são raros os casos de titularidade absoluta com tão baixa idade na Itália.
O declínio inegável, porém, chega com a temporada 2004/05: o Bologna, após uma nada empolgante 12ª colocação no ano anterior, termina a Serie A na 18ª posição e, conseqüentemente, cai para a Serie B. Os três gols em 17 jogos do “petit Zidane” de nada adiantaram para fazer os rossoblù retornarem à divisão que não disputavam desde 1995. Os dribles do francês já não são tão eficazes, as jogadas de efeito perdem o brilho e seus passes não são tão precisos. Outro ponto crítico de Meghni é a sua inconstância, fator decisivo para a falta de firmação do jogador.
Depois de uma declaração extremamente infeliz, na qual Meghni se diz muito superior ao nível da Serie B italiana, o francês é emprestado a uma equipe de sua terra natal, o Sochaux. Lá, ainda atuando como um meia-avançado de velocidade e explosão, simplesmente não consegue – mais uma vez – explodir. Jogando por um time cheio de limitações e mostrando um futebol igualmente limitado, inconstante e ineficiente, já se forma como uma longa promessa. Completa, ao fim da temporada 2005/06, somente 16 partidas, sem balançar as redes. Retorna ao Bologna e disputa 35 partidas na Serie B, naquela que acaba sendo – mesmo sem muito brilho – a sua melhor época na carreira.
Lazio, futuro e os outros
No início da temporada 2007/08, confirma-se a negociação da co-propriedade de Meghni com a Lazio. Por aproximadamente 2,5 milhões de euros, o jogador veste a camisa azul-celeste por, no mínimo, um ano. E, infelizmente para o francês, mais um ano em que seu futebol não convence. Não se torna uma decepção completa, porém o peso de eterna promessa já o persegue inquestionavelmente. Sem marcar nenhum gol sequer, Meghni teve seu ápice na partida contra o Werder Bremen, pela Champions League, na qual contribui com uma decisiva assistência para o gol da vitória de Tommaso Rocchi.
Vale destacar, também, que Meghni não falha sozinho. Tomando como base a sua geração – cujos sucessos na base criam altas expectativas – tanto Le Tallec quanto Sinama-Pongolle não conseguem se firmar até hoje. Os dois, que por sinal formavam uma entrosadíssima dupla no Le Havre e nas categorias menores da seleção, não correspondem às esperanças do passado. O primeiro, contratado pelo Liverpool na mesma época do segundo, rodou emprestado por clubes franceses e Sunderland, até fechar – em definitivo – com o Le Mans. Já Sinama-Pongolle terá agora, provavelmente, sua última grande chance: após ser flop no Liverpool e emprestado ao Blackburn, o atacante se reergue, mostrando um grande potencial no Recreativo, transferindo-se para o Atlético de Madrid. O habilidoso atacante brigará por uma vaga no ataque colchonero na próxima temporada.
Com 24 anos de idade, aquele que foi comparado com Zinedine Zidane jamais arrebentou. Sua vantagem, porém, é o tempo. Por mais que tenha desperdiçado boas chances, ainda haverá muitas outras. É indubitável o fato de que Meghni, hoje, é uma eterna promessa. Todavia, se por algum dia o francês conseguir ser o mesmo daquele torneio sub-17 que o credita até hoje, terá muita lenha para queimar. O próximo conjunto de chances virá nesta temporada, levando-se em conta que a co-propriedade entre o time romano e o bolonhês foi renovada por mais um ano.
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Ficha técnica
Nome: Mourad Meghni.
Data de Nascimento: 16/04/1984.
Local de Nascimento: Paris, França.
Clubes que defendeu: Bologna, Sochaux e Lazio.
Seleções de base que defendeu: França sub-15 e 16, sub-17, sub-21.
E a pronúncia certa é Murá Mérrrni.