Uma das maiores escalações de uma equipe italiana não pode ser feita sem que seu nome seja citado. Integrante de uma das mais fabulosas formações que o Milan teve em toda sua história, o italiano Roberto Donadoni marcou sua passagem pelo futebol como um jogador versátil, rápido e cerebral. Ficou famoso também por ser um dos primeiros a desbravar o futebol dos Estados Unidos, além de ter sobrevivido a um dos episódios trágicos da Liga dos Campeões.
Sempre conhecido por ser um jogador que flutuava bem entre o meio-campo e o ataque – onde costumava exercer a função de ponta -, Donadoni começou sua carreira ainda jovem, aos 18 anos, quando se tornou um dos destaques das categorias de base do Atalanta. Promovido em 1981-82 ao time principal dos nerazzurri, o meio-campista não demorou para assumir a titularidade e, em pouco tempo, ser um dos grandes nomes da equipe. Com sua habilidade e inteligência na armação de jogadas, Donadoni foi o grande destaque na campanha que levou a Dea de volta à Serie A na temporada 1983-84, após cinco anos de ausência.
Atuando na primeira divisão, o meio-campo se destacou e despertou o interesse do Milan, que desde 1979 não ganhava nenhum scudetto. A falta de títulos dos rossoneri fez com que a diretoria se movesse na tentativa de montar um grande time. Com Donadoni envolvido, a equipe de Milão obteve êxito e montou aquele que ficou conhecido como um dos grandes times de sua história. Comandado por Arrigo Sacchi, o Milan trouxe, além de Donadoni, jogadores como Rudd Gullit e Marco van Basten, que ao lado de atletas formados na base rossonera, como Paolo Maldini e Franco Baresi, formaram um esquadrão que devolveu à equipe o scudetto na temporada 1987-88.
O título da Serie A, no entanto, seria apenas o primeiro de uma série que Donadoni conquistaria atuando como ponta-esquerda do time de Milão. As boas atuações com a camisa rossonera fizeram com que Donadoni ganhasse vaga cativa como jogador da Squadra Azzurra. Assim, no final da década de 80, o jogador fez parte do elenco que chegou às semifinais da Eurocopa de 1988, quando os italianos caíram diante da União Soviética. A boa passagem na seleção o credenciou como um dos principais nomes do Milan no final dos anos 1980.
Donadoni fez parte do time que marcou a Europa e ficou conhecido como L’Invincibile. Sem marcar muitos gols, mas sempre participando das jogadas que originavam os gols rossoneri, o meio-campista foi peça-chave na mudança tática promovida em Milão por Sacchi, considerada como fator primordial para que o Milan vencesse a Liga dos Campeões em duas temporadas consecutivas, 1988-89 e 1989-90. O esquadrão invencível foi o último time a conquistar a competição em duas oportunidades seguidas.
Foi em uma dessas edições da Liga dos Campeões que Donadoni passou por um dos piores episódios de sua carreira. Atuando diante do Estrela Vermelha, da antiga Iugoslávia, o meio-campista rossonero sofreu uma falta violentíssima e caiu desacordado no chão. Médicos de ambas as equipes se aproximaram do jogador estirado no campo e se desesperaram ao ver que além de desacordado, Donadoni não respirava. Sua morte foi evitada por um lapso de um dos médicos do adversário, que em um momento de desespero quebrou a mandíbula do atleta, fazendo assim com que o ar chegasse até o pulmão.
O fato de a vida de Donadoni ter corrido risco durante a partida em questão, porém, não afetou sua carreira no futebol. De volta aos gramados após breve recuperação, o meio-campista recebeu a notícia que todo jogador espera: defenderia seu país em uma Copa do Mundo – e justamente na Copa de 1990, que aconteceria na Itália.
A chegada do Mundial fez com que a imprensa local reconhecesse o ágil meio-campista, tão importante para o Milan de Sacchi, como um dos principais nomes na busca da Squadra Azzurra pelo tetra. E mesmo sem marcar sequer um gol, Donadoni foi essencial para a caminhada italiana, sempre tendo a responsabilidade de municiar Salvatore Schilaci e Roberto Baggio no ataque azzurro.
As semifinais, no entanto, foram marcadas pela derrocada da Itália diante da Argentina, nas cobranças de pênalti. Em um San Paolo completamente lotado, a torcida local viu Donadoni perder a quarta penalidade italiana, com Diego Maradona convertendo a cobrança seguinte para os argentinos. E com Aldo Serena parando nas mãos do goleiro Sergio Goycochea, acabava o sonho azzurro de ser o primeiro país tetracampeão do mundo.
De volta ao Milan após o fracasso no Mundial, Donadoni conseguiu se manter em alto nível, mantendo também a soberania rossonera na Itália. Três temporadas após o scudetto de 1988, o meio-campista mostrou que mantinha a qualidade de seu futebol ao ser parte fundamental do tricampeonato italiano conquistado pela equipe de Milão, comandada neste período pelo então jovem treinador Fabio Capello. Mais experiente, Donadoni ainda participou da conquista de mais uma Liga dos Campeões, em 1993-94, quando os rossoneri atropelaram com o Barcelona na final, vencida por 4 a 0.
Experiente, Donadoni disputaria sua segunda Copa do Mundo, respaldado pela confiança de Arrigo Sacchi, técnico da Nazionale. No Mundial de 1994, nos Estados Unidos, o meio-campista, assim como toda a Squadra Azzurra, não brilhou. Apáticos, os italianos se classificaram na fase de grupos como os piores dentre os terceiros colocados, chegando desacreditados à fase seguinte. A caminhada azzurra seguiu dramática nas oitavas de final, quando o time passou, na prorrogação, pela surpreendente Nigéria.
Donadoni, porém, não foi nem de longe o jogador que marcara a última década atuando pelo Milan. Oscilando entre a titularidade e o banco de reservas, o meio-campista basicamente assistiu a Itália chegar, aos trancos e barrancos, à grande final, após eliminar Espanha e Bulgária carregada por um inspirado Roberto Baggio. Em campo na final contra o Brasil, Donadoni, desta vez, não esteve presente entre os cobradores dos pênaltis que deram aos brasileiros o título mundial. Se o pesadelo italiano da marca do cal continuava, desta vez o astro não estava entre os responsáveis.
De volta ao Milan, Donadoni passou cerca de dois anos sendo utilizado como um reserva de luxo em Milão. Ciente da renovação pela qual o time passaria, o jogador voltou aos Estados Unidos, desta vez para atuar na Major League Soccer, criada três anos antes mas em seu ano de estreia. Na América, apesar da idade já avançada, Donadoni brilhou e, em 1996, foi eleito para a seleção da liga por suas atuações pelo MetroStars.
De volta ao seu país em 1997, Donadoni se sentiria em casa, ao defender novamente o Milan, clube que o consagrou. O scudetto conquistado pelo clube em 1998-99 título marcou o final de sua passagem com a camisa rossonera, mas não o fim de sua carreira. O jogador ainda atuou em 15 partidas pelo Al-Ittihad, da Arábia Saudita, clube pelo qual ganhou alguns petrodólares e se aposentou.
Após deixar o futebol como jogador, Roberto Donadoni passou a se dedicar à função de treinador. O bergamasco não foi bem por Lecco e Genoa, mas realizou dois bons trabalho no Livorno, que lhe credenciaram a dirigir a Itália por um biênio, até a Eurocopa de 2008. Por divergências com a Federação Italiana e resultados insatisfatórios no comando da Nazionale, deixou o cargo.
Donadoni ficou nove meses parado e, em março de 2009, assumiu o Napoli, em substituição a Edy Reja. Pegou o bonde andando, mas não foi nada bem: somou apenas duas vitórias em 11 rodadas e deixou o time no meio da tabela do Italiano. No campeonato seguinte, sete pontos em sete partidas foram suficientes para ocasionar a sua demissão. Roberto projetou seu renascimento como treinador no Cagliari, que salvou do rebaixamento em 2010-11, e só não iniciou a temporada seguinte porque, às vésperas da Serie A, foi demitido por conta de diferenças com o presidente Massimo Cellino.
Seus melhores momentos como treinador se dariam na Emília-Romanha, com dois trabalhos em que entregou futebol consistente e times sólidos, que sabiam se defender e atacavam de maneira organizada. Primeiramente, o fez no Parma, que assumiu em janeiro de 2012, no lugar de Franco Colomba. Logo de cara, somou 36 dos 56 pontos do time gialloblù, que deixou numa ótima oitava posição; depois, o manteve no meio da tabela e, em 2013-14, o classificou à Liga Europa, com uma sexta colocação muito acima das expectativas. Só que os ducali estavam falidos e, pelos problemas financeiros, não puderam se inscrever no torneio continental. A situação periclitante acabaria levando os crociati à derrocada técnica e econômica, com direito a rebaixamento na lanterna seguido de bancarrota.
Donadoni ficou sem clube por alguns meses e, em outubro de 2015, mudou de casa na Emília-Romanha: com a demissão de Delio Rossi, assinou com o Bologna. No clube rossoblù, entregou um futebol ligeiramente inferior ao da época de Parma e resultados também abaixo do que produziu antes. Entretanto, conduziu os felsinei a três permanências seguras na elite. Depois disso, em janeiro de 2019, o bergamasco foi encher os bolsos na China. Na prática, só isso. Afinal, seu trabalho no Shenzen durou somente 13 meses e teve até um rebaixamento – cancelado porque o Tianjin Tianhai deixou de existir.
Roberto Donadoni
Nascimento: 9 de setembro de 1963, em Bérgamo, Itália
Posição: meio-campista
Clubes como jogador: Atalanta (1981-86), Milan (1986-96 e 1997-99), New York MetroStars (1996-97) e Al-Ittihad (1999-2000)
Títulos como jogador: Serie C1 (1982), Serie B (1984), Serie A (1988, 1992, 1993, 1994, 1996 e 1999), Supercopa italiana (1988, 1992, 1993 e 1994), Copa/Liga dos Campeões (1989, 1990 e 1994), Supercopa Uefa (1989, 1990 e 1994), Copa Intercontinental (1989 e 1990) e Campeonato Saudita (2000)
Carreira como treinador: Lecco (2001 e 2002), Livorno (2002-03 e 2005-06), Genoa (2003-04), Itália (2006-08), Napoli (2009) e Cagliari (2010-11), Parma (2012-15), Bologna (2015-18) e Shenzhen (2018-20)
Seleção italiana: 63 jogos e cinco gols
[…] o afastamento de Buffon por uma hérnia de disco, foi preponderante. Pela seleção, treinada por Roberto Donadoni e Lippi, os resultados também não eram bons – e, na Copa de 2010, as lesões também limitaram […]