Fora das quatro linhas, vale lembrar a inoperância da justiça criminal do país, vergonhosamente lenta. O acontecimento só não foi completamente arquivado porque a mídia italiana mantém a cobertura aquecida com algumas notas mensais, como a missa desta terça-feira na Piazza Balduina, de Roma. No caso Sandri (relembre aqui), a indignação pública foi bem mais forte do que qualquer ação aguardada: quase nenhuma resposta para as várias perguntas.
Os estádios se mantêm cheios de problemas, com um observatório vetando as viagens de torcedores em situações potencialmente críticas. Uma das poucas idéias com chance de vingar em curto prazo só foi colocada em prática no último dia 2. Não houve venda de bilhetes para Milan x Napoli, e só entrou no San Siro os portadores da carteirinha Cuore Rossonero, uma espécie de documento de identificação da torcida rossonera. Com essa medida, o governo italiano cogita inclusive acabar com o ingresso, em longo prazo.
Mas o torcedor comum, aquele sem uma carteirinha que oficializa sua condição de apaixonado pelo futebol, se afasta cada vez mais dos campos. Seja como refém da violência ou da burocracia. Realidade bem conhecida no Brasil. A ameaça de paralisação do último campeonato não parece ter sido dura o suficiente para fazer com que autoridades e órgãos responsáveis se dedicassem a segurar a situação de forma mais efetiva. E o futebol italiano, que por muito pouco não entrou na maior crise de sua história, passou incólume. Se isso foi bom, só o tempo dirá.
Quanto a Sandri, o agente Luigi Spaccarotella admitiu a responsabilidade em sua morte. Mais um motivo para a indignação, já que nenhum procedimento disclipinar foi aberto para investigar o caso.
Falando em caos…
Esta terça-feira também foi um dia importante para o possível desfecho das investigações sobre o Moggiopoli, crise que estourou em 2006 e culminou no rebaixamento da Juventus para a Serie B. O promotor Luca Palamara fez o requerimento das penas: seis anos de reclusão para Luciano Moggi (ex-diretor geral da Juve), cinco para Alessandro Moggi (ex-diretor da Gea, sociedade de procuradores esportivos) e três e meio para Franco Zavaglia (ex-administrador delegado da empresa. Francesco Ceravolo (ex-diretor das categorias de base da Juve) e Davide Lippi (empresário, filho do técnico da seleção italiana) também tiveram suas prisões requeridas. As sentenças devem sair em janeiro.
“o torcedor comum, aquele sem uma carteirinha que oficializa sua condição de apaixonado pelo futebol, se afasta cada vez mais dos campos”
Acabar com a venda de ingressos acho um absurdo. Precisa disso? Não seria melhor identifcar os compradores? Não seria melhor criar leis para acabar com a violência nos estádios?
O que aconteceu com o agente que matou Sandri? Nada. O que aconteceu com tantos outros torcedores que criaram confusão nos estádios? Nada.
É preciso mudar a estrutura política estilo “brasileira” da Itália. Uma dica para eles: vão até a Inglaterra.