Serie A

Sem muita fantasia

Nesta temporada, o 4-3-1-2 tem se mostrado como o esquema tático mais popular entre os treinadores da Serie A. É bastante provável que o sucesso deste esquema tático tenha relação ao tricampeonato da Inter de Roberto Mancini, que se consagrou jogando assim durante praticamente todas essas três temporadas. Hoje, a maior parte dos clubes que disputam a Serie A contam com um jogador que possa exercer a função de trequartista no elenco. Inter, Fiorentina, Roma, Lecce, Cagliari, Palermo, Siena, Atalanta e Torino (os dois últimos atuam sob um 4-4-1-1) jogam com um homem posicionado logo atrás dos atacantes. Segundo a Gazzetta dello Sport, até Carlo Ancelotti pensa em usar o 4-3-1-2 para conseguir encaixar Ronaldinho, que tem freqüentado o banco de reservas após a chegada de Beckham. No entanto, poucos deles se enquadram no conceito de fantasista.

Doni e Stankovic: dois trequartisti bem-sucedidos

É hora da revisão
Até José Mourinho, que chegou a Inter declarando que não gostava da Inter de Mancini e iria utilizar dois pontas e um centroavante, teve de repensar o que iria fazer em seu primeiro ano no time de Appiano Gentile. Tendo de engolir suas palavras, Mourinho lançou mão de uma equipe completamente “manciniana” em estilo tático. Dessa forma, Stankovic recuperou seu futebol (esquecido há dois anos) e voltou a ser um dos jogadores mais importantes da Inter, com quatro assistências. Com certa dose de classe e muita disposição – inclusive para marcar – Stankovic tem características semelhantes a Muntari, que joga em uma posição que ele próprio pode desempenhar.

Mesmo assim, o sérvio não é o principal responsável por propiciar as chances de gol da Inter. Jogadores que atuam pelos lados do campo, como Maicon, Muntari e Ibrahimovic (em suas conhecidas flutuações pelos lados do campo) apareceram com mais importância que o trequartista durante a temporada. Ainda: nos jogos em que a atual campeã enfrentou dura marcação efetuada na entrada da área (como contra Sampdoria e Torino), as dificuldades encontradas foram muitas, por causa da má performance de Il Draco.

Luciano Spalletti também precisou rever seus conceitos. Fidelíssimo a um 4-2-3-1 que não funcionava mais como antes, o técnico toscano agora passeia pelo 4-3-2-1 e, especialmente nas últimas partidas, também pelo 4-3-1-2. No passado, a Roma poderia contar com Totti exercendo o “1” com bastante “fantasia”. Hoje, Pizarro, Perrotta e Aquilani concorrem à vaga, com clara predileção do técnico pelo chileno (a quem já conhece desde os tempos de Udinese). Outro postulante à função é Júlio Baptista. Com todos o elenco em totais condições, aliás, o brasileiro tende a assumir a vaga, às costas de Totti e Vucinic.

Até que nem tão fantasista assim
Stankovic não é o único dos trequartisti que precisa desempenhar funções defensivas com alguma freqüência. Fábio Simplício, do Palermo, e Giacomazzi, do Lecce, também precisam fazê-lo. Ambos com formação defensiva, foram adaptados para uma função mais ofensiva e cerebral, por possuírem boa qualidade no passe. Enquanto o uruguaio foi o herói salentino no primeiro turno, Simplício é peça fundamental no Palermo desde que chegou ao clube, em 2006. Nesta temporada, o ex-jogador do São Paulo já fez cinco gols e deu outros cinco passes açucarados para que seus companheiros empurrassem a bola para as redes adversárias. Depois de duas temporadas como estrela no Parma e mais duas na Sicília, o estigmatizado brasileiro faz por merecer uma oportunidade real na Seleção.

Mas nem sempre os trequartisti são os responsáveis diretos para que o jogo de suas equipes flua. No Cagliari e na Fiorentina, por exemplo, os principais assistentes são Fini (10 – maior marca nesta edição da Serie A) e Montolivo (4), que jogam normalmente pelos lados da linha de três do meio-campo.

No entanto, os casos são diferentes: pela equipe rossoblù, Cossu – o trequartista – também tem jogado muito bem, contribuindo com sete assists. Na equipe da Toscana as coisas são completamente diferentes: enquanto Cesare Prandelli não utilizou dois pontas, Santana foi o trequartista, sem muito sucesso. Nesta semana o argentino acabou se lesionando e deve ficar de fora durante o resto da temporada. Montolivo, então, foi promovido pelo técnico viola à trequartista da equipe. Com isso, a Fiorentina ganha nesta posição, mas perde na linha de trás: Gobbi deve assumir a vaga deixada pelo meia da Azzurra. No Siena acontece algo parecido: Kharja é o trequartista, mas o lateral-direito Zúñiga é o principal vetor criativo da equipe.

A essência
Desta forma, talvez apenas dois jogadores da Serie A podem receber o título de fantasista, pelo seu estilo de jogo: Cristiano Doni e Alessandro Rosina. No entanto, apenas um deles tem brilhado, com jogadas surpreendentes. Doni, mais uma vez, é o principal jogador da Atalanta – embora Floccari ganhe cada vez mais espaço. Do alto dos seus quase 36 anos, o ídolo nerazzurro é um dos poucos remanescentes de uma escola que teve Roberto Baggio como uma das principais figuras nos anos 90. Rosina, por outro lado, é um jogador de lampejos (cada vez mais raros). Contra a Inter, no último fim de semana, fez uma de suas melhores atuações nos últimos tempos. A posição do Torino na tabela, além do parco futebol demonstrado por toda a equipe, reflete sua fase.

No final das contas, a pergunta é: o quanto a mudança dos pré-requisitos atuais para que um jogador exerça a função de trequartista pode contribuir positivamente para o futebol dessas equipes?

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3 comentários

  • com três times a disposição, tica fácil vencer a Série A, fora as ajudinhas extras e um pouco de “sorte” também ajuda. Fato é que no centenário da Inter, seria impossível não pensar que eles levariam o título. Agora precisamos saber, porque com os 160 milhões mensais que custa o elenco, sub elenco e banco de reservas de luxo não conseguiram chegar nem nas semifinais da UCL durante os três anos citados pelo Nelson Oliveira de “glória” nerazzurra. Não falo isto por ressentimentos, como um romanista magoado, mas falo como esportista e pela ótica, porque não assim dizer de torcedor interista. Se contentar apenas com scudetto, sendo que o rival, com um time de “masters” levou facinho a champions neste meio tempo, é fazer vista grossa demais. no mais forza roma sempre!

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