A historia da Sampdoria está intimamente ligada à carreira de Roberto Mancini. Não é nenhum exagero afirmar isto, afinal, todos os títulos da história doriana passaram – e como – pelos pés daquele atacante rápido e de técnica refinada. Nos 15 anos em que Mancio vestiu blucerchiato, o clube conquistou seu primeiro título em 40 anos de existência, após a fundação da Unione Calcio Sampdoria, num processo de fusão que envolveu Andrea Doria e Sampierdarenese em 1946. Pela equipe lígure, Mancini conquistou quatro Coppa Italia, uma Supercoppa italiana, uma Recopa Europeia e o único scudetto da história do clube.
Porém, Mancini não iniciou sua carreira pelo clube do estádio Luigi Ferraris, com o qual tanto se identificou. O atacante chegou ao Bologna com 13 anos e, com apenas 16, estreou pelo clube na Serie A, lançado por Tarcisio Burgnich, ex-zagueiro da Inter. Àquela época, se tornou o mais jovem jogador a entrar em campo pelo campeonato e, mesmo com a pouca idade, foi o único rossoblù a atuar em todas as partidas na competição.
Sua expressiva temporada de estreia, na qual foi artilheiro do clube com nove gols naquela Serie A 1981-82, não foi suficiente para manter o Bologna na primeira divisão. Mancini foi um dos poucos que se salvaram no primeiro rebaixamento da história dos felsinei, que deixavam a elite junto a Como e Milan – este caía para a Serie B pela segunda vez em sua história.
No fim da temporada, Mancini trocou o clube da Emilia-Romagna pela Sampdoria, que retornava à elite do futebol italiano após seis anos de ausência. O atacante foi contratado pelo presidente Paolo Mantovani por uma cifra bastante alta para os padrões da época: dois milhões e meio de liras, além de três outros jogadores como contrapartida técnica.
Em seu segundo ano vestindo blucerchiato – já ao lado de Gianluca Vialli, que se tornou um grande companheiro dentro e fora dos campos -, conquistou a Coppa Italia da temporada 1984-85, além de levar o clube à 4ª posição na Serie A. Mancini e Vialli, no entanto, ainda eram muito jovens e não foram essenciais ao título, que contou com a participação importante dos ingleses Graeme Souness e Trevor Francis, além dos zagueiros Moreno Mannini e Pietro Vierchowod.
Após um breve período de amadurecimento, os gêmeos do gol se tornaram imparáveis. Mancini e Vialli já faziam parte da seleção sub-21 da Itália, treinada por Azeglio Vicini, que lhe lançaria também na seleção principal em 1986. No mesmo ano, Mancio fazia parte da equipe de azzurrini que seria vice-campeã europeia, perdendo nos pênaltis para a Espanha.
A partir da chegada do técnico Vujadin Boskov, no mesmo período, o futebol de Mancini cresceu, juntamente com o de Vialli. O sucesso de um significava o sucesso do outro e, por isso, a dupla ficou conhecida como “os gêmeos dos gols”. Na temporada de estreia do técnico sérvio, a Sampdoria chegou perto das competições europeias, mas foi eliminada pelo Milan no spareggio.
No entanto, com um trabalho duro e pensando a médio prazo, a sorte mudou e a Samp venceu ao menos um título por temporada. No período que compreende os anos de 1987 a 1990, o clube do Marassi jogou todas as edições da Copa Uefa, venceu duas Coppa Italia e uma Recopa.
O título da “copa das copas” foi conquistado sobre o bom Anderlecht de Oliveira e Nilis, graças a uma doppietta de Vialli na prorrogação. Mancini e Vialli já haviam se tornado os protagonistas daquele time, que ainda contava com Mannini e Vierchowod, e que tinha se reforçado com Salsano, Toninho Cerezo, Pagliuca, Invernizzi, Katanec, Lombardo e Carboni.
Porém, se todos esses títulos já qualificavam os feitos deste grupo liderado pelos gêmeos do gol, a conquista da primeira (e única) Serie A da história blucerchiata punha a cereja no bolo. Como sempre, Mancini (com 12 gols e várias assistências) e Vialli (com 19 gols) comandaram os dorianos dentro e fora de campo rumo ao inédito título, conquistado com todos os méritos.
A campanha foi quase perfeita, não fosse maculada por três derrotas – uma no dérbi contra o bom Genoa de Osvaldo Bagnoli. Dentre os feitos mais notáveis, destacam-se as vitórias sobre as boas equipes de Inter e Milan, principais rivais naquela temporada, e as duas goleadas contra o Napoli de Maradona e Careca.
Na temporada 1991-92, a Sampdoria disputaria a Copa dos Campeões pela primeira vez em sua história. A experiência conquistada em gramados europeus nos últimos anos fez com que aquele time aliasse sua qualidade à experiência para chegar à final que seria disputada no histórico estádio de Wembley, em Londres. A partida acabou perdida para o Barcelona de Andoni Zubizarreta, Ronald Koeman, Josep Guardiola, Julio salinas, Hristo Stoichkov e Michael Laudrup na prorrogação. A derrota encerrou o ciclo de Boskov e de Vialli no clube: o treinador transferiu-se para a Roma, enquanto o artilheiro assinou com a Juventus.
Polêmico, Mancini não tinha o mesmo mercado que seu companheiro de ataque e permaneceu no time, para ser treinado por Sven-Göran Eriksson, que assumia o clube após passagem significativa pelo Benfica. Sem Vialli, Mancio assumiu o posto de artilheiro do time, sem desprezar a fantasia característica de sua carreira.
Na temporada 1993-94, a Samp de Eriksson conseguiu seu melhor resultado: 3º lugar na Serie A e o título da Coppa Italia – última conquista do clube até os dias de hoje. Outro fato marcante daquele período foi a morte do histórico presidente Paolo Mantovani, que deu início à época de vacas magras. Mesmo com jogadores do calibre de Gullit, Platt, Jugovic, Mihajlovic, Zenga, Seedorf, Montella e Verón, a Samp apenas chegou às semifinais da Recopa 1994-95 e não conseguia superar as posições de meio de tabela na Serie A.
Espertos, os dirigentes da Lazio, enriquecida durante a presidência de Sergio Cragnotti, estavam de olho naquele time recheado de bons jogadores, mas que não conquistava títulos. Os primeiros a se transferirem para a capital foram o técnico Eriksson e o próprio Mancini, histórico camisa 10 da Sampdoria. Em Roma, o atacante fortaleceu os laços de amizade com Eriksson e Mihajlovic – que depois se juntaria a eles na sociedade biancoceleste.
Amizades à parte, em sua temporada de estreia na Lazio, Mancini já chegou comemorando. Foi a única vez na história que a Lazio bateu a Roma quatro vezes numa mesma temporada: duas na Serie A e outras duas na Coppa Italia, vencida pelos biancocelesti. Os laziali poderiam ter comemorado mais, caso a Inter de Ronaldo e Zamorano não os tivesse atropelado na final da Copa Uefa.
Na temporada seguinte, mais dois dorianos aportavam em Formello: Mihajlovic e Verón. O argentino chegava a peso de ouro, assim como Christian Vieri, o que parecia relegar Mancini, de quase 34 anos, à posição de simples coadjuvante de uma equipe estrelada. Só que Mancio formou uma dupla infernal com Vieri, que levou a Lazio ao vice-campeonato da Serie A (um ponto atrás do Milan), e aos títulos da Recopa e da Supercopa da Itália. Mancini ainda marcou dois gols contra a Roma, uma de suas vítimas prediletas, e um fantástico gol de calcanhar contra o Parma, vencendo um ainda jovem Buffon.
A Lazio deslanchou mesmo na temporada seguinte, período em que Mancio não jogava com tanta frequência. O fantasista atuava mais nos bastidores, liderando o time com a experiência desenvolvida ao longo dos anos. Dessa forma, ajudou sua equipe a conquistar a Supercopa Uefa e a dobradinha caseira: Coppa Italia e scudetto.
Com tantos títulos e anos de sucesso na carreira nos clubes, merece menção sua passagem apagada pela seleção italiana. A já citada postura polêmica endossada por Mancini durante toda sua carreira lhe fechava muitas portas. Não foi diferente na Nazionale: suas únicas chances vestindo azzurro foram dadas pelo mesmo Azeglio Vicini que o lançou na equipe principal.
A Eurocopa de 1988, na qual a Itália caiu nas semifinais, foi a única competição oficial de seleções disputada pelo atacante. No jogo de estreia, Mancini marcou o gol de empate contra a Alemanha Ocidental e comemorou com o gesto característico de quem exige que os críticos se calem, o que gerou enorme polêmica na Itália. Mancio até chegou a ser convocado para a Copa de 90, mas não entrou em campo. Depois disso, pouco figurou nas listas de convocados de Arrigo Sacchi, sucessor de Vicini no cargo.
Ao fim da temporada 1999-2000, em que somou mais três títulos à sua carreira, Mancini anunciou sua despedida como jogador profissional e assumiu o posto de vice-treinador da própria Lazio, treinada por Eriksson. Porém, ainda havia clubes que o queriam dentro das quatro linhas: mesmo sem atuar em mais de seis meses, Mancini era requisitado por times de diversas partes do mundo.
Dessa maneira, em janeiro de 2001, ele aceitou uma proposta do Leicester City, da Inglaterra, e aceitou vestir a 10 mais uma vez na sua carreira. Retorno que durou muito pouco: um mês e quatro jogos depois, Mancio rescindiu com os ingleses e aceitou o cargo de técnico da Fiorentina, com a qual conseguiu vencer mais uma Coppa Italia.
Mancini, aliás, é o maior vencedor da história da copa, com 10 títulos conquistados, somando os tempos gloriosos como atleta e sua trajetória brilhante como treinador. Sua carreira à beira dos gramados é assunto para um outro texto, evidentemente, mas podemos citar, para além do recorde na Coppa Italia, os scudetti vencidos no comando da Inter, a Premier League com o Manchester City e, claro, a Euro pela Nazionale.
Roberto Mancini
Nascimento: 27 de novembro de 1964, em Jesi, Itália
Posição: atacante
Clubes como jogador: Bologna (1981-82), Sampdoria (1982-97), Lazio (1997-2000), Leicester City (2000-01)
Títulos como jogador: Coppa Italia (1985, 1988, 1989, 1994, 1998 e 2000), Recopa Uefa (1990 e 1999), Serie A (1991 e 2000), Supercopa Italiana (1991 e 1998) e Supercopa Uefa (1999)
Carreira como treinador: Fiorentina (2001-02), Lazio (2002-04), Inter (2004-08 e 2014-16), Manchester City (2009-13), Galatasaray (2013-14), Zenit (2017-18), Itália (2018-23) e Arábia Saudita (2023-24)
Títulos como treinador: Coppa Italia (2001, 2004, 2005 e 2006), Supercopa Italiana (2005 e 2006), Serie A (2006, 2007 e 2008), Copa da Inglaterra (2011), Premier League (2012), Community Shield (2012), Copa da Turquia (2014) e Eurocopa (2021)
Seleção italiana: 36 jogos e 4 gols
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