Quando lembramos dos maiores jogadores da história do futebol da França, é impossível que não citemos o atacante Jean-Pierre Papin. A escola francesa, que mescla elementos europeus com os de suas ex-colônias africanas, é uma das mais importantes do esporte e alguns de seus principais representantes passaram pela Itália. Papin, que atuou pelo Milan, foi um deles.
O atacante nasceu no noroeste da França, mas depois que seus pais se separaram ele se mudou para Jeumont, cidade no norte do país, na fronteira com a Bélgica. Depois de realizar as categorias de base em clubes da região, incluindo o Valenciennes, JPP, como era conhecido, foi para a região central, onde jogou as divisões inferiores pelo Racing de Vichy, sendo campeão da terceirona. Não demorou para que ele voltasse para o norte, onde jogaria a segundona francesa pelo Valenciennes e marcaria 15 gols.
A partir daí, a carreira do jogador entrou em uma crescente rápida: foi contratado pelo Club Brugge, equipe pela qual foi vice-campeão belga – a temporada regular acabou em empate entre os azuis e pretos e o Anderlecht, que venceu no desempate –, terceiro colocado na artilharia e campeão da copa local. Em fevereiro de 1986, Papin começou a ser convocado por Henri Michel para a seleção francesa, e acabou fazendo parte do elenco que eliminou o Brasil nas quartas de final do Mundial daquele ano e ficou com o terceiro lugar. JPP atuou em quatro partidas e fez dois gols. O suficiente para assinar com o Olympique Marseille.
Foi em Marselha que Papin iniciou a escrever a história que o colocaria entre um dos maiores atacantes do futebol francês. Nos anos de ouro do OM, sob a presidência de Bernard Tapie, JPP, um dos primeiros contratados pelo cartola, foi a estrela da companhia e capitão do time. Ao longo de seis temporadas, o atacante dos phocéens teve como colegas jogadores do calibre de Alain Giresse, Chris Waddle, Klaus Allofs, Enzo Francescoli, Abedi Pelé, Didier Deschamps, Marcel Desailly, Rudi Völler e Eric Cantona, além de ter sido treinado até mesmo por Franz Beckenbauer. Não à toa, o tetracampeonato consecutivo, de 1989 a 1992, foi merecidíssimo. Os marselheses também foram vice-campeões europeus em 1991, ano em que perderam a Copa dos Campeões para o Estrela Vermelha, da antiga Iugoslávia, apenas nos pênaltis.
Este período foi recheado de conquistas no plano pessoal para Papin. O francês foi o vencedor da Bola de Ouro em 1991 e segundo colocado na eleição de melhor jogador do mundo da Fifa, que acontecia separadamente à época. O atacante também foi artilheiro do campeonato francês e da Copa dos Campeões por cinco e três vezes seguidas, respectivamente. Por outro lado, o jogador teve fracassos com a camisa da França: os Bleus ficaram de fora da Copa de 1990 e, na Euro 1992 – capitaneados por JPP –, não passaram da fase de grupos. Anos depois, a sua geração também não conseguiria fazer os franceses chegarem ao Mundial de 1994.
Por tudo o que fazia em campo, Papin era um dos principais jogadores não só no panorama europeu como no mundial. Apesar do forte investimento do Marseille, surpreendia que ele não atuasse na Serie A, melhor torneio da época. Silvio Berlusconi, dono do Milan, “corrigiu” isso em 1992.
Papin teve passagem curta pela Bota – ou pelo menos menor do que o planejado. O prolífico atacante, que anotou 184 gols em seus seis anos de Olympique Marseille, foi contratado por quantia recorde à época: o equivalente a 10 milhões de libras, valor que seria superado na mesma janela do mercado, com a contratação de Gianluca Vialli pela Juventus e de Gianluigi Lentini pelo próprio Milan.
Não se imaginava que a impressionante média de 30 gols/ano de Papin se repetisse na Itália, já que a Serie A já era conhecida pelo defensivismo. O francês chegou ao Milan com 29 anos, no auge de sua carreira e com a esperança de que fosse o parceiro ideal de Marco van Basten. Afinal, JPP era goleador, ágil e tinha
movimentos que encaixavam no time de Fabio Capello.
Na prática, acabou sendo diferente. O holandês se lesionou, fazendo suas últimas partidas na carreira no primeiro ano de Papin em Milão, enquanto o francês acabou não convencendo: fez 22 partidas e 13 gols na Serie A, bem atrás de concorrentes na artilharia. Apesar disso, Papin e van Basten foram os artilheiros dos rossoneri naquela temporada, que acabou com o título da Serie A. JPP também anotou outros sete gols em outras competições, alguns deles importantes, como sobre a Inter, na Coppa Italia, e no Porto, pela Liga dos Campeões – na final da competição continental, perdeu para seu antigo clube, o Marseille.
Na temporada seguinte, Papin teve problemas físicos e a falta de adaptação lhe prejudicou em Milanello. Acabou relegado ao banco, perdendo espaço para Daniele Massaro e Marco Simone, mas ainda assim acumulou títulos, como a Liga dos Campeões, a Serie A e a Supercopa Italiana, além do vice na Supercopa Europeia e no Mundial Interclubes. Entre os 11 gols de JPP na temporada, ele vitimou novamente a Inter e marcou contra o São Paulo, em Tóquio, e contra o Parma, na Supercopa Uefa.
De forma geral, a passagem do francês pela Itália foi considerada um fracasso, pela expectativa gerada – em campo, JPP rendeu razoavelmente. Por isso, ele acabou cedido ao Bayern de Munique. Em fim de carreira, Papin se aposentou da seleção francesa, até porque também não estava conseguindo jogar bem na Alemanha. Em 1996, o craque voltou a seu país e teve uma passagem digna pelo Bordeaux. Foi a última vez que ele apareceu bem para o futebol, antes de disputar a Ligue 2 pelo Guingamp e campeonatos amadores na ilha de Reunião, pelo Saint-Pierroise.
Após curtir um tempo no departamento ultramarino francês, localizado próximo a Madagascar, na África, Papin voltou para a Europa e se aposentou pelo Lège-Cap-Ferret. Em seguida, o craque francês desenvolveu uma medíocre carreira de treinador e deu seus pitacos como comentarista do canal beIN Sports.
Jean-Pierre Papin
Nascimento: 5 de novembro de 1963, em Boulogne-sur-Mer, França
Posição: atacante
Clubes como jogador: Vichy (1981-84), Valenciennes (1984-95), Club Brugge (1985-86), Marseille (1986-92), Milan (1992-94), Bayern de Munique (1994-96), Bordeaux (1996-98), Guingamp (1998-99), Saint-Pierroise (1999-2001) e Lège-Cap-Ferret (2001-04)
Títulos como jogador: Division 3 (1983), Torneio de Toulon (1985), Copa da Bélgica (1986), Campeonato Francês (1989, 1990, 1991 e 1992), Copa da França (1989), Supercopa Italiana (1992 e 1993), Serie A (1993 e 1994), Liga dos Campeões (1994) e Copa Uefa (1996)
Clubes como treinador: Bassin d’Arcachon (2004-06 e 2014-15), Strasbourg (2006-07), Lens (2007-08), Châteauroux (2009-10), C’Chartres (2020-22) e Marseille B (2023-24)
Seleção francesa: 54 jogos e 30 gols