na indiferença de quem espera um negócio melhor (Ansa)
Não há mais tempo para o Perugia: o clube umbro, que há apenas seis temporadas figurava na Serie A, e que teve sua falência decretada no último mês de maio, não despertou o interesse de nenhum outro proprietário, e seguirá os procedimento normais para a sua extinção. O futebol na cidade, agora, depende da formação de um novo clube, amparado por uma nova sociedade, que deverá começar sua vida a partir dos campeonato amadores (provavelmente, no torneio regional de Eccellenza). Entenda o porquê de mais esta triste página do futebol italiano ter sido uma vitória incontestável do futebol moderno.
A sentença
No dia último dia 20 de maio, e pela segunda vez em cinco anos, o Perugia teve sua falência decretada pelo Tribunal da cidade. A bancarrota do clube perugino foi uma conseqüência direta da também falência de sua proprietária, a imobiliária Mas, de Leonardo Covarelli. A realidade era previsível. Desde sua primeira falência – que aconteceu após a Serie B 2004-05, – o Perugia vinha lutando com dificuldade. No terreno de jogo, o resultado mais expressivo foi em 2007-08, com a classificação para os frustrados play-offs de acesso à Serie B. Em seus gabinetes, a equipe umbra não conseguia encontrar uma solução em longo prazo para seus problemas financeiros, chegando a ter quatro patronos diferentes nos últimos cinco anos.
O caos havia se intalado definitivamente no clube perugino. A equipe, desmotivada pela falta de pagamentos, perdeu quaisquer possibilidades de alcançar os play-offs e, por pouco, não condenou o clube à disputa dos play-outs – o que, naquele momento da temporada, significaria “meio rebaixamento”. Nos bastidores, hipotizou-se de tudo para tentar salvar o clube: a venda do título à prefeitura (que faria a transição para um eventual interessado), uma possível cessão da sociedade a um grupo árabe – algo que nunca foi confirmado – até um programa de acionário popular, de baixíssima aceitação, chamado Io sto con il Grifo. Nada deu certo.
Morte lenta
Em seus últimos dias, já em agonia, o clube travou um autêntica guerra especulatória contra si mesmo. Lançava a esmo comunicados à imprensa, prontamente desmentidos por sua propriedade. No último deles, falava sobre mais uma tratativa de cessão que seria mal sucedida, a ponto de declarar que, no mesmo dia 20 de maio em que viu sua história sofrer um hiato, seriam depositados documentos que provariam a integridade financeira de uma possível nova compradora.
A curadoria falimentar havia estabelecido que hoje deveria ocorrer um leilão do pacote societário do clube. As ofertas deveriam ser depositadas, no máximo, até a véspera, e o lance mínimo estva fixado em 665 mil euros. Estimadamente, salvar a equipe ainda na Prima Divisione custaria cerca de 4 milhões de euros ao novo comprador. Mais uma vez, especulou-se de tudo: pessoas interessadas em salvá-la, que constituiriam uma frente em prol do Perugia; ou empreendedores que esperavam, apenas, a entrada de mais um sócio para dar vida ao novo projeto.
Conforme o tempo passava e as coisas não se resolviam, o torcedor do Perugia sofria, talvez já conformado. Ontem, o triste caso conheceu sua última página de descaso: nenhuma oferta fora oferecida por suas ações. Nenhuma pessoa se interessou em resgatar um time que, em seus melhores tempos, chegou a ser vice-campeão da Serie A (1978-79, temporada em que terminou invicto) e viajar várias vezes pela Europa, inclusive sendo campeão da Copa Intertoto, em 2003. A partir do segundo semestre de 2010, o futebol da cidade deverá se contentar com vôos bem menores: os regionais e amadores do campeonato de Eccellenza.
Um grande negócio
Tal desfecho era esperado. Desde a “fundação” do que hoje podemos ter como futebol moderno, muito mudou. Mais que conduzir os clubes à profissionalização plena, há uma destruição da identificação dos mesmos com suas praças de origem. Não se pretende isentar de culpa administrações embaraçosas, nem repudiar o profissionalismo. Mas está claro que a mudança de um clube para uma sociedade – seja por ações ou por cotas – tem transformado o sentimento coletivo em um negócio particular.
É evidente que o título de um clube da história e da torcida do Perugia, falido, em uma divisão amadora, interesse muito mais, em termos de negócio, do que o resgate de um problemático, em uma categoria profissional. Os motivos são vários, mas citemos apenas três. Primeiro: os investimentos iniciais seriam incomparavelmente menores, uma vez que seria constituída uma nova sociedade e sua nova propriedade não precisaria arcar com débitos anteriores. Segundo: a perspectiva de alcançar resultados positivos a curto prazo seria muito maior em campeonatos de nível técnico modesto do que numa competição profissional. Terceiro: a nova propriedade ganharia muito em imagem e relações públicas; a possibilidade de guiar um clube à Seconda Divisione após vencer seguidamente o campeonato de Eccellenza e a Serie D criariam um clima positivo na praça, endossariam um trabalho sério e empenhado para a reconstrução da equipe, atrairia patrocinadores e geraria mais vendas de abonamentos e produtos.
Exemplos recentes não faltam para essa dinâmica. O Pisa não foi salvo, no começo da temporada, para ser prontamente reconstituído após sua falência e voltar à Seconda Divisione como campeão de seu grupo, na Serie D. A Lucchese, que ainda festeja seu retorno à Prima Divisione, foi refundada há dois anos, e apenas na Serie D – na época, seus torcedores chegaram a propor uma frente de mendicância para salvar o clube. A Massese, também falida há dois anos, inscreveu um time às pressas na Serie D, e só após ter sido rebaixada (com apenas quatro pontos marcados) e ter seu pacote leiloado, sem comprador, em três sessões, foi refundada, no torneio de Eccellenza. Mais acima na hierarquia do futebol italiano, lembre-se que Aurelio De Laurentis poderia ter adquirido o Napoli já em 2004, na Serie B, mas preferiu recomeçar na antiga C1.
Por tudo isso, o clube constituído em sociedade deixa de ser o que era, em essência: um patrimônio de sentimentos, que representa uma cidade e sua gente, que exprime seus sentimentos, sua história e sua cultura – e passa a ser um negócio de particulares. Talvez por isso, as torcidas italianas de província, cada vez mais, estejam cantando as músicas tradicionais de suas cidades e torcendo em dialeto. Algo que, por enquanto, a gente do Perugia não pode fazer: vítimas reincidentes do futebol moderno e dos riscos de negócio que ele compreende, estão sem clube, sem história e sem identidade.
Saiba mais
Em março de 2008, o Perugia precisava de um milagre para voltar ao convívio dos grandes. Guilherme Daroit falou sobre o tema. Confira clicando aqui.
Ola sempre acompanho o blog,e atraves dele descubro e aprendo muita coisa sobre o calcio,acompanho o futebol italiano desde os anos noventa,quando ainda tinhamos Silvio Lancelloti comentando os jogos na tv aberta,mas voltando ao assunto,sempre fiquei intrigado com essas falencias e renascimentos do futebol italiano,o primeiro caso que me vem a mente é do Reggiana,que pelo menos na minha lembrança era onome do time que o Taffarel jogava,o que eu queria saber é,como funciona exatamente esse processo,sei que aconteceu o mesmo com a Fiorentina e com o Napoli,se puderem me explicar mais detalhadamente,ficarei grato,obrigado..