Alguns jogadores marcam suas passagens no futebol como atletas que defenderam apenas um clube, criando uma identificação gigantesca com a equipe em questão. Poucos, porém, somam a esse grande feito o fato de se tornarem muito mais do que ídolos dentro das quatro linhas. Adorado por toda uma cidade e tratado como herói local, Giacomo Bulgarelli é um exemplo de jogador que foi muito mais do que apenas um ídolo dentro dos gramados.
Ainda garoto, no decorrer da década de 1950, Bulgarelli se mostrava diferenciado quando atuava nos campos de Portonovo di Medicina, pequena província de Bolonha. Muito melhor do que os garotos de sua idade, foi levado para a maior equipe da região, o Bologna, onde conseguiu cavar uma vaga na equipe de jovens. Sua inteligência dentro dos gramados o fez ser destacado rapidamente, ganhando sua primeira chance entre os profissionais com apenas 19 anos, em 1959.
O que poucos poderiam imaginar, porém, é que naquele 19 de abril de 1959 estava prestes a começar uma das mais intensas relações entre um jogador e um clube na história do futebol. A qualidade técnica fez de Bulgarelli um dos titulares e mais importantes jogadores dos rossoblù em pouco tempo, após apenas duas temporadas sendo lapidado para ter maiores condições de brilhar entre os profissionais.
Os dois anos de convivência com os profissionais e algumas presenças em jogos da Serie A fizeram de Bulgarelli um jovem pronto para mostrar todo seu potencial como titular. Mesmo antes de se firmar com a camisa do Bologna, chamou atenção e serviu pela primeira vez a Nazionale em 1960, quando foi um dos convocados para disputar os Jogos Olímpicos daquele ano, sediados em Roma. Apesar de não sair com a medalha de ouro, os italianos não fizeram feio diante de sua torcida e avançaram até a disputa do bronze, quando saíram de campo derrotados pelo ótimo time da Hungria.
Em 1961, primeiro ano no qual teve uma sequência considerável de jogos, sendo a maior parte deles como titular, o meio-campista foi um dos grandes destaques na conquista da já extinta Copa Mitropa daquele ano. A conquista do torneio internacional e sua participação nos Jogos de Roma o credenciaram como titular absoluto do time, condição que não seria alterada até o final de sua carreira. Os melhores momentos com a camisa do Bologna, porém, viriam apenas com o tempo. Enquanto isso, Bulgarelli se firmava como um dos principais jogadores da Itália, ganhando convocação para disputar a Copa do Mundo de 1962, no Chile.
Na péssima campanha italiana em território chileno, com eliminação logo na primeira fase, Bulgarelli foi um dos poucos destaques e, com seus lampejos, anotou dois dos únicos três gols italianos na competição, saindo do Chile com o consolo de ser o artilheiro da Squadra Azzurra na Copa. O retorno para a Itália, porém, reservava a conquista daquele que foi o título mais importante de toda a carreira do meio-campista.
Já consagrado como um dos melhores meio-campista da Europa, Bulgarelli conseguiu consolidar para sempre sua presença como ídolo rossoblù ao levar o Bologna novamente à conquista de um scudetto, em 1964, ao lado de jogadores importantes como o compatriota Ezio Pascutti, o alemão Helmut Haller e o dinamarquês Harald Nielsen. O título que não vinha desde 1941, época na qual o clube ainda colhia os louros do ótimo time montado por Árpád Weisz, aconteceu em meio a um turbilhão emocional causado pela morte do então presidente da equipe, Renato Dall’Ara, que morrera apenas três dias antes de Bulgarelli, com a faixa de capitão, erguer o sétimo título italiano da história do time de Bolonha.
A conquista do scudetto marcou para sempre a história de Bulgarelli no Bologna. O meio-campista ainda viria a conquistar mais duas Coppa Italia com a camisa rossoblù, sendo leal ao time até sua última partida, disputada em 4 de maio de 1975, data na qual as seguidas lesões fizeram com que o capitão não suportasse mais atuar como profissional. Pela Nazionale, Bulgarelli disputou ainda a Copa de 1966, na trágica campanha italiana, que culminou uma uma eliminação precoce, com direito a derrota humilhante para a Coreia do Norte. Dois anos depois, em 1968, conquistou seu único título servindo a seleção, a Eurocopa daquele ano, mesmo sem ter disputado a fase final do torneio.
O jogador deixou o futebol em 1975, depois de 16 temporadas pelo time rossoblù e uma curta passagem (dois jogos) pelo Hartford Bicentennials, da recém-formada NASL, A liga norte-americana de futebol. Após se aposentar, Bulgarelli tentou a sorte fora das quatro linhas como diretor de futebol. Passou por Modena, Pistoiese, Catania, Palermo e pelo próprio Bologna, mas sem repetir o mesmo sucesso que tivera como meio-campista. Nos anos 1990 e 2000, também comentou partidas de futebol para redes de TV na Itália.
Trabalhar em outros clubes que não o Bologna não alterou em nada a devoção – termo que pode ser utilizado sem nenhum exagero quando se fala da relação do capitão com sua torcida – dos torcedores rossoblù. Sinal disso aconteceu 12 de fevereiro de 2009, data na qual o jogador faleceu. Foi neste dia que a cidade de Bolonha, pela primeira vez em sua história, declarou luto oficial devido ao falecimento de um atleta. Forma de agradecer a lealdade e as glórias conquistadas por Bulgarelli em 16 anos de lealdade a uma única camisa.
Giacomo Bulgarelli
Nascimento: 24 de outubro de 1940, em Portonovo di Medicina, Itália
Morte: 12 de fevereiro de 2009, em Bolonha, Itália
Posição: meio-campista
Clubes: Bologna (1959-1975) e Hartford Bicentennials (1975)
Títulos: Copa Mitropa (1961), Serie A (1964), Eurocopa (1968) e Coppa Italia (1970 e 1974)
Seleção italiana: 29 jogos e 7 gols