Liga dos Campeões

Prévia: Milan x Tottenham

O dono da bola no Milan: decisivo na Serie A, caberá a Ibrahimovic levar os rossoneri adiante também na Liga dos Campeões (Getty Images)

Meses atrás, o Tottenham de Gareth Bale visitava Milão e dava um susto na Inter, depois de ensaiar um vexame histórico. Pela segunda vez na temporada, os Lilywhites retornam a Milão para um duelo da Liga dos Campeões, e, muito provavelmente, desta vez Bale não jogará, para alívio do Milan. O confronto acontecerá apenas pela segunda vez em partidas oficiais. O primeiro, na década de 70, aconteceu nas semifinais da Copa Uefa: os ingleses venceram por 2 a 1 na partida de ida, disputada no San Siro, e seguraram o 1-1 na volta. Naquela temporada, o Tottenham se sagraria campeão da competição pela primeira vez em sua história. Desta vez, o jogo não tem exatamente o mesmo significado, mas também guarda ares de decisão e expectativas de superação para os londrinos e de retorno ao caminho vencedor, do lado milanista.

Para os confrontos entre os clubes ingleses e italianos nesta edição da Liga, contaremos, assim como na última temporada, com a ótima colaboração dos parceiros do blog Ortodoxo e Moderno, especializado na Premier League. Confira a prévia de Milan x Tottenham e confira depois, nos dois endereços, o que aconteceu na partida. Quem analisa os Spurs é Leandro Gomes.

A temporada até aqui

Milan: Um mercado ambicioso, com a contratação de jogadores que agregaram talento ao elenco, como Ibrahimovic, Robinho e Boateng, no verão, além de Cassano, no inverno, ajudaram o Milan a voltar a brigar pelo título no campeonato italiano. Hoje, os rossoneri são líderes da Serie A com 52 pontos, três de vantagem sobre o vice-líder Napoli e oito sobre a Inter, que tem um jogo a menos mas é a principal concorrente ao título, ao menos em potencial. O Diavolo assumiu a liderança na 11ª rodada e, desde então, tem reinado na Serie A. Para manter a soberania, conta com Ibrahimovic, campeão nacional de maneira consecutiva há nove temporadas, garantia de pontos importantes até mesmo quando o time não está inspirado. O desempenho da equipe tem sido um pouco inferior nas últimas rodadas, depois que um alto número de lesões se abateu sobre Milanello, aliado ao cansaço decorrente da maratona de jogos de janeiro, que levou o Milan a e classificar para as semifinais da Coppa Italia contra o Palermo, mas perder parte da vantagem que tinha sobre os concorrentes na Serie A. Na Liga dos Campeões, o time ainda não engrenou: fez má fase de grupos e terminou em segundo no grupo E, com 8 pontos.

Tottenham: Alavancado pela chegada de van der Vaart e pelo crescimento de Bale, o Tottenham tem feito uma campanha agradável na Premier League e vem brigando de igual para igual com as equipes grandes. Prova disso é que, do grupo dos clubes top, só perdeu para o Manchester United em Old Trafford, além de ter voltado a vencer um dos integrantes do “Big Four” fora de casa após 68 jogos – na ocasião, bateu o rival Arsenal, de virada, por 3 a 2. Devido ao sólido desempenho no geral, os Spurs se encontram na 4ª posição – posto que, no entanto, seria melhor caso a equipe não tivesse empatado tanto em casa (cinco vezes em treze oportunidades). Porém, o destaque é mesmo a campanha na Champions League: os londrinos ficaram em primeiro num grupo difícil e que tinha a atual campeã Internazionale, com direito a mágicas atuações de Bale nos dois confrontos contra os italianos e uma vitória memorável sobre eles em White Hart Lane.

Pontos fortes
Milan: Max Allegri apostou em uma equipe mais equilibrada desde a primeira parte da temporada, desde que bancou a saída de Ronaldinho do onze inicial para a entrada de Boateng ou Seedorf. Tem colhido os frutos: hoje, mesmo quando Robinho, em sua melhor fase no futebol europeu, atua como trequartista, atrás dos atacantes, o Milan não parece mais um time sem esquema tático definido e não fica com um homem a menos para ajudar na marcação no centro do campo. Se Allegri tem conseguido sucesso na parte tática até com Robinho, o que dizer da aposta no avanço de Thiago Silva ao meio-campo por causa da falta de opções no setor? O brasileiro se saiu muito bem na volância (ao lado de um Gattuso recuperado) e ainda deu espaço para Yepes, que rapidamente se tornou um dos pilares do time, que tem a melhor defesa do campeonato, com 19 gols sofridos. No ataque, Ibrahimovic, obviamente, é o jogador que desequilibra: só na Serie A, marcou 13 gols e deu 10 passes para gols de companheiros, contradizendo aqueles que dizem que ele não joga um futebol coletivo. Na LC, colocará seu poder de decisão à prova mais uma vez.

Tottenham: O meio-campo do Tottenham é tão forte e talentoso que talvez possa ser considerado o melhor da Inglaterra. Os wingers são excelentes: Lennon pode não estar numa forma tão exuberante quanto a da temporada passada, mas ainda assim, com sua velocidade e habilidade para entortar adversários, é peça fundamental para equipe. Bale é simplesmente um dos grandes nomes da temporada europeia – tanto que é cogitado para ir para um dos grandes clubes do continente na temporada que vem. Enquanto isso, Modric, na faixa central, consegue aliar combatividade com muita criatividade. Porém, é impossível se esquecer de citar van der Vaart: por causa dele, Harry Redknapp mudou seu tradicionalíssimo 4-4-2 para um 4-4-1-1. Jogando como o homem de ligação entre o meio e o ataque, o holandês tem sido soberbo: somente na Premier League, já marcou 10 vezes e foi autor de sete assistências. É preciso também citar as outras ótimas opções que os Spurs têm para o meio: Huddlestone é bom marcador e Kranjcar e Pienaar são reservas muito úteis.

Pontos fracos
Milan: As laterais continuam sendo o problema mais grave do Milan, principalmente pelo fato de enfrentar um time que joga com wingers. Se ao menos Bale não deve jogar a partida de ida e Oddo poderá ficar menos preocupado, a expectativa é que Antonini tenha dificuldades com Lennon e obrigue Allegri a deslocar Flamini frequentemente para ajudar o lateral. Além disso, atualmente, o Milan tem nove jogadores lesionados no seu departamento médico. A bruxa solta atingiu sobretudo o meio-campo rossonero, que não poderá contar com Ambrosini e Pirlo para as duas partidas das oitavas e Boateng para a ida. Van Bommel e Emanuelson, reforços contratados em janeiro para substituírem os lesionados e darem possibilidade de os titulares descansarem, não puderam ser inscritos na Liga dos Campeões porque já atuaram por outras equipes antes. O mesmo discurso vale para Cassano, que vem salvando o Milan em algumas partidas e é o parceiro ideal para Ibrahimovic no ataque, ao invés de Pato. A dupla formada pelo brasileiro e pelo sueco nem sempre funciona bem e pode minar as esperanças milanistas de abrir uma boa vantagem no jogo de ida.

Tottenham: A defesa dos Spurs não chega a ser tão confiável. O miolo de zaga, com Dawson e Gallas, é bom, mas poderia ser melhor se King ou Woodgate, zagueiros eternamente machucados, pudessem substituir o francês. Gomes é um bom goleiro, porém, é capaz de em um jogo só fazer defesas fantásticas e cometer uma falha terrível que comprometa o resultado da sua equipe. O problema maior, no entanto, são as laterais: tanto o lateral-direito Hutton quanto o esquerdo Assou-Ekotto são limitados e marcam mal. O primeiro já voltou a ser substituído pelo não mais que regular Corluka, mas o segundo não tem um reserva. O preço pela deficiência pelos lados da defesa é caro: por exemplo, performances pífias de Hutton e Ekotto foram determinantes para a Internazionale, em casa, abrir 4 a 0 diante dos Spurs na fase de grupos da Champions League.

Expectativas
Milan: A melhor temporada milanista em anos. Sem títulos há três temporadas, os rossoneri estão empolgados com o desempenho na temporada e, vivos nas três competições que disputam, podem repetir a tripletta da rival Inter na última temporada, possibilidade considerada altamente improvável meses atrás. No ambiente do clube, Tottenham é encarado como um adversário bastante acessível e a expectativa é de tentar abrir uma boa vantagem logo na partida de ida, aproveitando a ausência de Bale, fantasma nerazzurro na fase de grupos. Cair novamente para um inglês nas oitavas da LC definitivamente não está nos planos da equipe de Milão. O otimismo é grande e Allegri não demonstra ter um plano B, para o caso de ter que viajar para decidir a classificação em Londres sem um resultado positivo debaixo do braço. Cuidado para não entrar em campo de salto alto é fundamental.

Tottenham: Ter de enfrentar o Milan nas oitavas-de-final foi um baque para o Tottenham, que pensou que teria um confronto mais tranquilo ao se classificar em primeiro no seu grupo. E a tarefa dos ingleses deverá se bem difícil, pelo menos no jogo de ida: o volante Huddlestone não jogará e Modric, se recuperando de uma apendicite, muito provavelmente também não; já Bale e van der Vaart, ainda se recuperando de contusões, são dúvidas, mas deverão ir a campo. E enquanto há a expectativa de voltar a ver Bale brilhar no San Siro, há o medo de ver a defesa entrar em colapso novamente e levar um verdadeiro chocolate no primeiro tempo. O problema é que falhas do tipo são imperdoáveis e muito difíceis de serem revertidas num mata-mata.

Prováveis escalações
Milan: Abbiati; Oddo (Abate), Yepes, Nesta, Antonini; Gattuso, Thiago Silva, Flamini; Robinho (Seedorf); Pato (Robinho), Ibrahimovic.
Tottenham: Gomes; Corluka, Gallas, Dawson, Assou-Ekkoto; Lennon, Palacios, Sandro (Modric), Bale (Kranjcar, Pienaar); van der Vaart; Defoe (Crouch).

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