Qualquer lista dedicada aos melhores zagueiros da história do futebol contará com pelo menos três nomes italianos: Franco Baresi, Gaetano Scirea e Paolo Maldini. Muitos desses rankings também relacionam o paraguaio Carlos Gamarra, que construiu uma carreira muito sólida nos anos 1990 e 2000. O defensor sul-americano, contudo, não conseguiu expressar o máximo de suas qualidades na Inter.
Nascido em Ypacaraí, Gamarra teve uma longa trajetória até chegar ao futebol italiano – com desempenho brilhante no Brasil, mas apagado na Europa. O zagueiro começou profissionalmente em 1990, com a camisa do Cerro Porteño, clube em que disputou cinco temporadas, com uma breve passagem pelo Independiente, da Argentina, entre 1992 e 1993. Em 1995, dois anos depois de estrear pela seleção do Paraguai e disputar sua primeira Copa América, Gamarra acertou com o Internacional e passou a construir sua fama.
No Beira-Rio, o paraguaio deu uma amostra de seus principais atributos: liderança, lealdade, força física, habilidade em jogadas aéreas, precisão em cabeçadas e excelência nos desarmes. O Inter costumava ficar no meio da tabela do Brasileirão naqueles tempos, mas Gamarra se destacava assim mesmo. Tanto é que, em 1997, depois de ser campeão gaúcho, foi contratado pelo Benfica e ganhou o prêmio de melhor jogador de seu país.
Carlos jogou muito pouco pelos encarnados: nem mesmo 20 partidas. Contudo, não perdeu espaço na seleção paraguaia, então treinada por Paulo César Carpegiani, e foi titular na campanha da Copa do Mundo de 1998. O Paraguai caiu apenas no gol de ouro ante a França, dona da casa, nas oitavas de final, mas Gamarra se notificou por não ter feito uma falta sequer no Mundial – o que, somado ao bom desempenho da defesa sul-americana, o levou à seleção do torneio. Após a competição, o zagueiro não permaneceu na Europa: voltou ao Brasil, dessa vez para defender o Corinthians.
Aos 27 anos, no auge de sua forma, Gamarra foi dominante no time de Vanderlei Luxemburgo, que conquistou o Brasileirão em 1998 e Paulista em 1999. Eleito novamente como melhor jogador paraguaio da época, o zagueiro teve uma nova chance na Europa: o Atlético de Madrid foi seu destino. Com a camisa colchonera – que tem as mesmas cores que as do Paraguai –, Gamarra se saiu melhor: foi titular absoluto, mas viu o Atleti, afundado em dívidas, ser rebaixado na Liga. Com isso, em 2000, o zagueiro retornou ao Brasil.
A passagem pelo Flamengo foi curta, mas Gamarra adicionou o título carioca e o da Copa dos Campeões a seu currículo. Em 2001, o paraguaio tentou a sorte na Europa pela terceira vez, ao acertar com o AEK, da Grécia. Contratado por 5 milhões de euros – um recorde do clube, até então –, Carlos correspondeu às expectativas e levantou o título da copa nacional. Depois disso, disputou sua segunda Copa do Mundo e, novamente, não cometeu nenhuma falta na boa campanha da albirroja: o Paraguai, sob sua capitania, vendeu caro a queda nas oitavas para a Alemanha, que seria finalista.
Ao final da Copa do Mundo, Gamarra garantiu uma transferência para um grande centro: aos 31 anos, acertou com a Inter. Não seria titular em Appiano Gentile, mas poderia tentar colocar dúvidas na cabeça de Héctor Cúper. O argentino considerava Fabio Cannavaro, Iván Córdoba e Marco Materazzi à frente em sua hierarquia para o setor e Gamarra não conseguiu demover o técnico de sua opinião na primeira temporada. Em 2002-03, esquentou o banco até dezembro, quando colecionou suas primeiras partidas. Estreou contra o Bari, na Coppa Italia, e emendou uma sequência naquele mês.
Como a Inter foi vice-campeã italiana e foi até as semifinais da Champions League, acumulando grande desgaste em alto nível competitivo, Cúper teve de rodar bastante o elenco. Com isso, Gamarra entrou em campo 20 vezes na temporada. Em 2003-04, o comandante argentino caiu após a sétima rodada da Serie A, dando lugar a Alberto Zaccheroni. Com Zac, Gamarra ganhou espaço e chegou a ter breve período de titularidade, entre março e abril de 2004 – período em que a equipe ficou invicta. No total, Gamarra teve 18 participações naquele ano.
A troca no comando da Inter, no verão de 2004, e o peso da idade fizeram mal a Gamarra. Com 33 anos e sob as ordens de Roberto Mancini, o experiente paraguaio foi praticamente descartado. Em seu último ano de contrato com a Beneamata, foi liberado sem resistência para disputar a Olimpíada de Atenas, na qual conquistou a prata.
A liberação da Inter só confirmou o que estava desenhado: Gamarra estava fora dos planos. O fato é que o paraguaio só foi relacionado nos jogos finais da campanha nerazzurra. Carlos entrou em campo apenas seis vezes pela Inter e, depois de totalizar 44 jogos pelo clube italiano – nos quais nunca conseguiu sequência duradoura –, deixou o clube. Curiosamente, a Inter foi a agremiação que o paraguaio mais defendeu em seus anos de Europa.
Todas as vezes que abandonou o continente europeu, Gamarra encontrou guarida no Brasil, onde tinha grande respaldo. Em 2005 não foi diferente e o paraguaio rumou ao nosso país para acertar com seu quarto clube verde e amarelo. Ou apenas verde, dessa vez: o Palmeiras. Pelo clube paulista, o paraguaio contribuiu com uma boa campanha no Brasileirão de 2005 e, depois de ajudar sua equipe a garantir vaga na Copa Libertadores, integrou a seleção do campeonato.
Gamarra disputou o Campeonato Paulista e o início do Brasileiro de 2006 pelo Palmeiras antes de embarcar para a Copa do Mundo, na Alemanha. O capitão marcou um gol contra na estreia, contra a Inglaterra, e o Paraguai acabou não avançando para o mata-mata. Carlos, então, se aposentou da equipe guarani, com 110 jogos – ainda é um dos cinco que mais vezes vestiram a camisa albirroja. Depois da eliminação paraguaia, o zagueiro rescindiu com o Palmeiras e foi jogar no Olimpia, onde se aposentou, aos 36 anos.
Embora Gamarra tenha mostrado muita liderança, equilíbrio e conhecimento tático no decorrer de sua carreira, ele decidiu não se tornar treinador depois de se aposentar. De maneira surpreendente, até, o zagueiraço se afastou do futebol. Atualmente, é empresário em sua terra natal e só aparece na mídia de vez em quando, para dar alguns pitacos esportivos.
Carlos Alberto Gamarra Pavón
Nascimento: 17 de fevereiro de 1971, em Ypacaraí, Paraguai
Posição: zagueiro
Clubes: Cerro Porteño (1991-92 e 1993-95), Independiente (1992), Internacional (1995-97), Benfica (1997-98), Corinthians (1998-99), Atlético de Madrid (1999-2000), Flamengo (2000-01), AEK (2001-02), Inter (2002-05), Palmeiras (2005-06) e Olimpia (2007)
Títulos: Campeonato Paraguaio (1992), Campeonato Gaúcho (1997), Campeonato Brasileiro (1998), Campeonato Paulista (1999), Campeonato Carioca (2001), Copa dos Campeões (2001), Copa da Grécia (2002), Prata Olímpica (2004) e Coppa Italia (2005)
Seleção paraguaia: 110 jogos e 12 gols
Belo texto é ótimo resumo de uma esplendoroso zagueiro. Apenas um ponto: Carlos Gamarra chegou ao Corinthians em janeiro de 1998, antes portanto da Copa do Mundo. Pelo alvinegro paulista foi vice campeão estadual ante de viajar à França na histórica campanha paraguaia. Ainda pelo Corinthians, foi campeão brasileiro no fim de 1998 e despediu-se em junho de 1999 rumo à Espanha, após se segrar campeão paulista. Abraços a todos.