Vigor é uma qualidade indispensável para jogadores que façam parte do sistema defensivo. Na verdade, chega ser um pré-requisito. Mas e quando esta qualidade física alia-se a técnica e elegância? Quando uma combinação tão agradável acontece, temos como exemplo o francês Marcel Desailly. Com ótima visão de jogo, o jogador não deixava a desejar também quando a situação pedia simplicidade e seriedade. Foi equilibrando essas características s que o atleta tornou-se um dos ícones do futebol dos anos 1990.
Com o nome de Odenke Abbey, Desailly nasceu em Accra, capital de Gana, em 1968. Adotado por um diplomata francês, chegou ao país com quatro anos. Desde muito jovem freqüentou as categorias de base do Nantes. A facilidade para efetuar desarmes e o bom porte físico agradou muito aos treinadores das equipes jovens e, em 1986, o atleta tornou-se profissional.
Na equipe verde e amarela, o jovem zagueiro não fez muito sucesso em seus primeiros anos. O elenco era limitado e não lhe dava oportunidades de demonstrar seu potencial. Entretanto, após as árduas primeiras temporadas, seu futebol evoluiu bastante e Desailly, em 1992, acertou com o gigante Olympique de Marseille.
Em seu novo clube, Desailly tinha companheiros de enorme qualidade, que o ajudariam a desenvolver ainda mais o nível de seu futebol e, principalmente, a conquistar títulos. Ao lado de Abedi Pelé, Rudi Völler e Alen Boksic, o zagueiro, que já começava a ser utilizado também como primeiro homem de meio-campo, conquistou dois títulos, incluindo uma Liga dos Campeões, quando os Phocéens derrotaram o Milan por 1 a 0, em uma final disputada em Munique.
Entretanto a conquista do campeonato francês foi cassada, sob a acusação de que a equipe teria oferecido suborno aos atletas do Valenciennes para que não tivesse a necessidade de realizar um jogo extra com o Paris Saint-German. O Marseille venceu por 1 a 0, mas o troféu foi repassado ao time da capital.
Após uma vitoriosa temporada na equipe francesa, Desailly transferiu-se para o Milan. O então técnico Fabio Capello, que já contava com Mauro Tassotti, Franco Baresi, Alessandro Costacurta e Paolo Maldini para compor sua linha de quatro defensores titulares, resolveu utilizá-lo como volante, ao lado de Demetrio Albertini. Com esta retaguarda, o Milan sofreu apenas 15 gols em 34 jogos pela Serie A e a conquistou com autoridade.
Se no campeonato nacional a equipe foi campeã com um ataque que não funcionava muito, na Liga dos Campeões atropelou Monaco e Barcelona, na semifinal e na final, com vitórias por 3 a 0 e 4 a 0. Desailly marcou em ambas as ocasiões, sendo o tento contra a equipe espanhola um dos mais bonitos de sua carreira. O francês foi o primeiro jogador a conquistar o campeonato por duas vezes consecutivas em clubes diferentes.
Em 1996, pela segunda vez, “a Rocha” foi campeão italiano. Nesta ocasião, o Milan aliou sua sólida defesa a um ataque perigosíssimo (segundo melhor do campeonato, atrás da Lazio), que contava com Simone, Weah e Baggio. Desailly ainda atuou por mais duas temporadas pelo Diavolo antes de transferir-se para o Chelsea, disputando um total de 186 jogos pelo clube milanês, pelo qual marcou sete gols.
Pouco antes de chegar a sua nova casa, o craque teve a honra, com todo mérito, de defender a seleção francesa que disputou a Copa do Mundo em seu solo. A partir das oitavas, a equipe passou sufoco para derrotar Paraguai e Itália, a primeira com um gol de ouro de Blanc, a segunda nos pênaltis, após um 0 a 0. Os Bleus seguiam com uma campanha impecável defensivamente e Thuram, Blanc e Desailly eram apontados como os responsáveis pelo feito.
Após passar pela sensação Croácia, de Suker, com dois gols de Thuram, o time teria a oportunidade de sagrar-se campeão mundial pela primeira vez. A missão não era fácil, o adversário era o Brasil, detentor da taça e que tinha Ronaldo no auge de sua forma no comando do ataque. Desailly fez um primeiro tempo impecável, mas, na segunda etapa, recebeu dois cartões amarelos e acabou expulso. No último lance do jogo, Petit deu números finais ao placar e, com um 3 a 0, a França era a nova campeã mundial.
Assim que chegou ao time londrino, o já experiente Desailly conquistou seu primeiro título com os Blues, a Supercopa Uefa, sobre o Real Madrid. Primeiramente, teve como companheiro de zaga o compatriota Leboeuf. Pouco depois, foi o encarregado de ajudar o promissor John Terry no início de sua carreira futebolística, sendo, sem sombra de dúvidas, um dos responsáveis pelo amadurecimento do agora elemento chave da seleção inglesa. Nos anos seguintes, seguiu colecionando ótimas atuações e conquistou a Charity Shield e a Copa da Inglaterra, em 2000, mesmo ano em que alcançou mais uma glória com a seleção francesa, a Eurocopa.
Desailly passou mais quatro anos no clube inglês e, em 2004, aventurou-se no Qatar. Primeiro, defendeu o Al-Gharafa e, depois, o Qatar SC. Desde 2006, ano em que anunciou sua aposentadoria, o ex-astro assumiu um posto como comentarista em emissoras francesas e inglesas de TV. Também passou a ser embaixador da Unicef em Gana e teve a mesma função na Euro 2020.
Marcel Desailly
Nascimento: 7 de setembro de 1968, em Accra, Gana
Posição: zagueiro e volante
Clubes: Nantes (1986-92), Marseille (1992-93), Milan (1993-98), Chelsea (1998-2004), Al-Gharafa (2004-05) e Qatar SC (2005)
Títulos: Liga dos Campeões (1993 e 1994), Supercopa Uefa (1994 e 1998), Serie A (1994 e 1996), Copa do Mundo (1998), Copa da Inglaterra (2000), Eurocopa (2000), Charity Shield (2000), Copa das Confederações (2001 e 2003), e Campeonato Qatariano (2005)
Seleção francesa: 116 jogos e três gols