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Tarcisio Burgnich ficou famoso na linha defensiva da Inter de Helenio Herrera

Discreto e de poucas palavras fora de campo, Tarcisio Burginch era diferente dentro dele: agressivo e preciso nos desarmes. Sua solidez defensiva lhe rendeu o apelido de La Roccia – a rocha, em português. Ele defendeu apenas cinco clubes durante os 19 anos de carreira, mas se tornou ídolo da Inter, onde fez parte do histórico time comandado por Helenio Herrera. Depois de “pendurar as chuteiras”, Tarcisio Burginch foi treinador por 23 anos.

Burgnich iniciou a carreira na Udinese, equipe na qual se profissionalizou. A estadia na equipe de sua região, entretanto, foi curta, e logo o defensor se juntou à Juventus, então campeã italiana. Em Turim, no clube que contava com o Trio Mágico composto por Giampiero Boniperti, John Charles e Omar Sívori, La Roccia venceu o primeiro título de sua trajetória futebolística, mesmo sem ter a vaga de titular na Velha Senhora. Após o scudetto, em temporada em que atuou 13 vezes, Burgnich fez preferiu jogar mais vezes e optou por deixar os bianconeri para jogar no Palermo, que vinha da Serie B.

A passagem pela Sicília foi rápida e durou apenas um ano. Nos rosanero, o defensor ganhou o posto entre no onze inicial e, isso, aliado ao bom desempenho, lhe garantiu a transferência para a Inter. No catenaccio montado por Herrera, Burgnich era homem da direita do tridente defensivo, que ainda tinha Armando Picchi como líbero e Giacinto Facchettti à esquerda. Versátil, também podia executar tranquilamente a função dos colegas de zaga. O forte daquela Inter era a defesa, mas no setor ofensivo, a equipe nerazzurra contava com outros jogadores brilhantes, como Sandro Mazzola, Jair da Costa, Luis Suárez e Mario Corso.

Duro defensor, Burgnich (dir.) era o pilar da forte zaga da Inter nos anos 1960 (Tomikoshi)

Logo na temporada de estreia na Inter, o defensor ganhou o segundo scudetto de sua carreira – o primeiro em nerazzurro. Em 1963-64, a Beneamata ficou apenas na segunda colocação da Serie A, mas em âmbito europeu, comemorou: na Liga dos Campeões, com uma defesa muito forte, que sofreu apenas cinco gols em toda a competição, a Inter venceu o multi-campeão Real Madrid, conquistando pela primeira vez a taça das grandes orelhas. Em setembro, os campeões europeus ganharam o mundo, contra o Independiente, embora Burgnich tenha ficado de fora no terceiro e decisivo jogo.

As conquistas chamaram a atenção de Edmondo Fabbri, que convocou La Roccia pela primeira vez à seleção italiana principal, que defenderia ao longo de 11 anos e 66 partidas – 58 das quais ao lado do companheiro Facchetti, 45 delas como dupla de zaga. Porém, a temporada mais brilhante seria a seguinte, quando a Inter venceu três títulos, a começar pela Serie A, que teve o rival Milan amargando o vice-campeonato – naquela época, as duas equipes dominavam o cenário europeu e, antes da Inter, os rossoneri a haviam vencido.

Na Copa dos Campeões, a defesa mais uma vez se destacou: foi vazada apenas cinco vezes na campanha do bicampeonato e passou ilesa na final, contra o Benfica dos artilheiros Eusébio e José Augusto Torres. A alegria completa foi alcançada novamente contra o Independiente, e, dessa vez, o defensor jogou as duas partidas, nas quais a defesa também não sofreu gols.

Burgnich foi o marcador de Pelé na final de 1970 (imago)

No ano seguinte, Burgnich venceu mais um campeonato italiano com os nerazzurri. Após a conquista, o defensor esteve como titular na Copa de 1966, quando a Squadra Azzurra foi eliminada na primeira fase, inclusive perdendo para a Coreia do Norte – partida que o camisa cinco viu do banco. A redenção ocorreu na Euro 1968, quando La Roccia esteve entre os 11 titulares da Nazionale de Ferruccio Valcareggi, que conquistou o título e teve a defesa vazada apenas uma vez na fase final do torneio.

Todavia, a grande campanha de Burgnich vestindo o azzurro da seleção foi na Copa de 1970. Titular durante toda a competição, o defensor ainda marcou um gol contra a Alemanha Ocidental, na chamada “Partida do Século”, na prorrogação da semifinal, vencida pelos italianos por 4 a 3. Na final, frente ao Brasil, não foi o suficiente para segurar os sul-americanos, que venceram por 4 a 1, com um gol que Pelé fez, de cabeça, ao ter tempo de bola mais correto que o zagueiro da Inter. La Roccia se destacou pelo que disse do brasileiro: “eu pensei que o Pelé fosse feito de carne e osso, como eu. Eu estava errado”.

Na volta ao Belpaese, o defensor venceu seu último scudetto vestindo nerazzurro, em 1970-71. Pela equipe de Milão, o defensor viveu ainda o fim da Grande Inter e a passagem de propriedade do clube de Angelo Moratti para Ivanoe Fraizzoli, além de ter sido duas vezes vice-campeão da Copa dos Campeões, em 1966-67 e 1971-72, contra Celtic e Ajax, respectivamente.

O defensor encerrou sua carreira no Napoli (imago)

Em 1974, Burgnich voltou para o sul da Itália ao se transferir para o Napoli, onde também conseguiu títulos. O primeiro e mais importante, a Coppa Italia, em 1975-76, sobre o Hellas Verona, deu o direito à equipe partenopea de jogar, no ano seguinte, a extinta Copa da Liga Ítalo-Inglesa, que também acabou em título. Um ano depois, Burgnich se aposentou como ídolo em Nápoles e, já em 1978, se tornou treinador do Livorno.

Fora das quatros linhas, ele passou por 13 clubes, mas jamais repetiu o sucesso conquistado no tempo de jogador. Tarcisio Burgnich terminou a carreira sem conquistar título algum, mas com ao menos um consolo: ele pode se vangloriar por ter lançado o atacante Roberto Mancini, aos 16 anos de idade, na época em que comandava o Bologna.

Em 26 de maio de 2021, exatas cinco décadas depois da morte de Picchi, seu companheiro na zaga da Grande Inter, Burgnich nos deixou. Aos 82 anos, o craque faleceu após lutar contra uma doença que o acompanhou por muito tempo.

Tarcisio Burgnich
Nascimento: 25 de abril de 1939, em Ruda, Itália
Morte: 26 de maio de 2021, em Versilia, Itália
Posição: defensor
Clubes como jogador: Udinese (1958-60), Juventus (1960-61), Palermo (1961-62), Inter (1962-74) e Napoli (1974-77)
Títulos: Serie A (1961, 1963, 1965, 1966 e 1971), Copa dos Campeões (1964 e 1965), Mundial Interclubes (1964 e 1965), Eurocopa (1968), Copa da Liga Ítalo-Inglesa (1976) e Coppa Italia (1976)
Carreira como treinador: Livorno (1978-80), Catanzaro (1980-81 e 1988-89), Bologna (1981-82), Como (1982-84, 1987-88 e 1992-93), Genoa (1984-86 e 1997-98), Lanerossi Vicenza (1986-87), Cremonese (1989-91), Salernitana (1991-92), Livorno (1994-95), Foggia (1995-97), Lucchese (1998-99), Ternana (1999-00) e Pescara (2000-01)
Seleção italiana: 66 partidas e 2 gols

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