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Simone Barone tem ‘só’ o título da Copa do Mundo em seu currículo

Em 2006, no último título mundial da seleção italiana, a convocação teve diversos craques da bola. Gianluigi Buffon, Fabio Cannavaro, Andrea Pirlo, Francesco Totti, Alessandro Del Piero e tantos outros formaram uma equipe extremamente forte, que trouxe muitas alegrias à Itália. No entanto, a lista dos 23 selecionáveis teve um nome contestável e de talento bem inferior aos demais: Simone Barone, então volante do Palermo, que  pode entrar em campo duas vezes durante a campanha da Nazionale e conquistou, na Alemanha, o seu único título na carreira.

Muito antes de fazer história em terras germânicas, Simone nasceu em Nocera Inferiore, uma comuna da região da Campânia, em 1978. Seu pai, Michele, também era um jogador de futebol e atuava como atacante da Turris, equipe da vizinha Torre Del Greco. Seguindo os passos do pai, o jovem começou a sua carreira bem cedo e, ainda adolescente, rumou ao norte da Itália para se formar nas categorias de base do Parma.

O clube gialloblù vivia a melhor fase de sua história, devido ao patrocínio da Parmalat, e diversos craques desfilavam no Ennio Tardini, o que diminuía as oportunidades para os jogadores mais jovens. Barone estreou profissionalmente na temporada 1996-97 e atuou em apenas 16 minutos, distribuídos em duas partidas. Na seguinte não chegou a entrar em campo e, para desenvolver a sua carreira, aceitou o empréstimo ao Padova, da Serie C1, em 1998.

Se até então o meia não havia jogado muitas partidas no profissional, no biênio seguinte pode atuar com regularidade. No Padova, Barone foi titular numa campanha terminada com rebaixamento para a quarta divisão e, em seguida, passou ao Alzano Virescit, que subiu para a Serie B pela primeira vez na história. Simone novamente foi peça importante, mas não conseguiu evitar o descenso do time de Bérgamo. O que poderia ser visto como uma má fase na carreira acabou se transformando num ponto de virada graças a uma grande oportunidade em Verona.

Em 2000, Barone foi contratado em definitivo pelo Chievo, que também disputava a segundona. O clube nunca havia jogado na elite do futebol italiano e para a surpresa de muitos, conseguiu o terceiro lugar da competição e o inédito acesso. Com 31 jogos e quatro gols na campanha, o volante conseguiu marcar o seu nome na história da equipe.

Barone iniciou sua carreira no Parma e, após rodar pela Itália, se consolidou no clube emiliano (Getty)

A temporada seguinte seria ainda mais surpreendente. Enquanto todos esperavam o rebaixamento do Céo, o time comandado por Luigi Delneri, encantou: terminou em sexto lugar e se classificou para a Copa Uefa seguinte. Durante seis semanas, no outono europeu, a equipe liderou o certame, porém a falta de elenco acabou pesando. Os alas Luciano e Christian Manfredini eram a força pelos lados do campo, enquanto Simone Perrotta e Eugenio Corini formavam o meio. Os clivensi ainda contavam com Bernardo Corradi no ataque e Nicola Legrottaglie na defesa. Apesar da boa campanha coletiva, Barone era reserva de Perrotta e disputou apenas 16 jogos na Serie A.

Mesmo não jogando tantas partidas, o volante chamou a atenção de Cesare Prandelli, que quis utilizá-lo em seu trabalho recém-iniciado no Parma – assim, Barone retornou para a sua casa após quatro anos. Em sua primeira temporada de volta, atuou 29 vezes e contribuiu com um gol, ajudando os crociati a serem quintos colocados na Serie A. Num meio-campo ao lado de Hidetoshi Nakata, Sabri Lamouchi e Emanuele Filippini, fazia a contenção para que Adriano, Adrian Mutu e Alberto Gilardino brilhassem.

Na época seguinte, 2003-04, Barone começou a viver a sua melhor fase da carreira. Conseguiu a consolidação no clube, com 39 partidas disputadas e três gols marcados – o Parma, outra vez, foi quinto colocado. Simone também obteve a sua primeira convocação para a seleção italiana aos 26 anos, com o treinador Giovanni Trapattoni, e, em fevereiro de 2004, estreou em empate por 2 a 2 num amistoso contra a Chéquia, em Palermo.

Terminada a temporada e valorizado por ser selecionável, Barone acabou rumando justamente para a Sicília: assinou com o Palermo por quase 5 milhões de euros. O Parma não vivia bom momento financeiro após a falência da Parmalat e, para se reestruturar, precisou vender a maior parte de seus bons jogadores. Por outro lado, o time do sul da Itália estava em crescimento, desde que se iniciara, em 2002, a gestão do presidente Maurizio Zamparini.

Barone decolou no Palermo e conseguiu vaga na seleção italiana que foi campeã mundial, em 2006 (AFP/Getty)

Vindo da Serie B, o Palermo passou por uma reformulação e contratou também Cristian Zaccardo, Andrea Barzagli, Mario Santana, Franco Brienza e outros jogadores de bom nível que ajudaram a encorpar a equipe. Com Francesco Guidolin como treinador e Luca Toni como destaque, os rosanero se tornaram uma das sensações da temporada, junto com a Udinese de Luciano Spalletti. O time siciliano conseguiu terminar em sexto lugar, a sua melhor colocação na sua história, e ainda se classificou para a Copa Uefa, pela primeira vez. Isso já não era uma novidade para Barone, convertido em pilar da formação sulista – o volante perdeu apenas três rodadas do campeonato, todas por suspensão.

Para a temporada 2005-06, a situação não começou tão bem para os sicilianos. Apesar de segurar a maioria dos seus jogadores, o Palermo vendeu Toni para a Fiorentina e o treinador Guidolin pediu para sair por divergências com a direção. Mesmo com as turbulências, a campanha foi bem sucedida para o clube. Os rosanero foram eliminados pelo Schalke 04 nas oitavas da Copa Uefa, caíram nas semifinais na Coppa Italia para a Roma e abocanharam a quinta colocação na Serie A, após as sentenças estabelecidas após a eclosão do escândalo Calciopoli, e retornaram às competições europeias. Durante seu biênio na Sicília, Barone jogou 86 partidas e marcou cinco gols. E, principalmente, garantiu espaço na seleção italiana.

Com a chegada de Marcello Lippi ao comando da Itália, em 2004, Barone continuou a ser convocado e ganhou um admirador do seu futebol. Durante os dois anos de preparação para a Copa do Mundo, o seu nome foi constante na lista do treinador. O volante chegou até a marcar um gol em amistoso contra a Rússia, em 2005, numa vitória da Squadra Azzurra por 2 a 0.

No verão de 2006, após mais uma boa temporada pelo Palermo, Barone conseguiu a sua convocação para a Copa: foi um dos quatro jogadores rosanero a embarcarem para a Alemanha, juntamente a Zaccardo, Barzagli e Fabio Grosso. Na histórica campanha que culminou no quatro título mundial da Itália, Simone participou de duas partidas: jogou 16 minutos na vitória por 2 a 0 sobre a Chéquia, na fase de grupos, e 22 no triunfo por 3 a 0 contra a Ucrânia, pelas quartas de final.

Após o título mundial, o volante teve uma passagem complicada de três anos pelo Torino (imago/IPA Photo)

Apesar de uma participação breve, esse momento foi o auge de Barone. Enquanto os fogos explodiam nos céus do estádio Olímpico de Berlim, o meia concretizava um sonho de infância e comemorava aquele que seria o seu único troféu na carreira, aos 28 anos. Após a máxima conquista na carreira de qualquer futebolista, Simone viu a sua trajetória no esporte entrar em descendente.

Com o fim da Copa do Mundo e o sucesso na Serie A, o Palermo aproveitou para vender seus jogadores. Grosso e Mariano González foram para a Inter, Santana para a Fiorentina e Barone para o Torino, recém-promovido à elite. Se esperava que Simone se tornasse o principal rosto de um time grande em reconstrução. Afinal, ainda que ele nunca tivesse sido protagonista, era um campeão mundial. Não foi exatamente o que aconteceu.

Barone foi a cereja do bolo de uma campanha de reforços que também levou Stefano Fiore, Giuseppe Pancaro e Christian Abbiati ao lado granata de Turim. A missão era fazer o time escapar do rebaixamento e o Torino terminou a Serie A num modesto 16º lugar, um ponto acima da zona de descenso. Simone jogou 33 partidas e foi fundamental para a manutenção de categoria, permitindo que Alessandro Rosina, Roberto Stellone e Roberto Muzzi comandassem a equipe.

Na temporada 2007-08, no auge dos seus 30 anos, Barone começou bem, mas, após uma lesão, só disputou 22 partidas. O Torino se manteve na primeira divisão, mas Simone foi perdendo espaço, devido ao declínio físico e técnico, e deixou de ser titular absoluto na campanha seguinte. A trajetória grená, muito atribulada, foi concluída com o 18º posto na Serie A e o rebaixamento.

Já em declínio, Barone vestiu a camisa do Cagliari em sua última experiência na Serie A (Getty)

Apesar da queda, o volante foi contratado pelo Cagliari, que estava na elite. Barone não conseguiu se impor como titular no meio-campo e, atrás de Daniele Conti, Daniele Dessena e Davide Biondini na hierarquia, jogou apenas 17 partidas pelo clube. Embora tivesse um contrato de três anos para cumprir, entrou em acordo com o presidente Massimo Cellino e foi dispensado no final da temporada.

Sem clube, Barone chegou a treinar com o Crociati Noceto, de Parma, para manter a forma. No entanto, ficou quase 12 meses parado e, no verão de 2011, chegou a efetuar parte da pré-temporada com o Varese. O volante foi chamado para fazer um período de testes pelo Livorno e, no fim das contas, foi contratado pelos amaranto para jogar a Serie B. Com 33 anos, disputou 22 partidas e fez dois gols numa temporada terrível para os labronici: além de terem flertado com o rebaixamento, os toscanos ainda passaram pelo trauma da morte do meio-campista Piermario Morosini, num duelo contra o Pescara.

Ao fim de seu contrato com o Livorno, Barone ficou sem clube e, em janeiro de 2013, sem alternativas, decidiu encerrar a carreira. Quase de imediato, deu início a uma nova etapa, fora das quatro linhas: se tornou treinador dos juvenis do Modena. Nas categorias de base, Simone também ocupou cargos em Parma, Sassuolo e Juventus, além de ter sido assistente de Gianluca Zambrotta no Delhi Dynamos, da Superliga Indiana, e colaborador de Davide Nicola em seus trabalhos na Salernitana e no Empoli. Além disso, foi técnico da Correggese, na Serie D.

Fora dos campos, o ex-volante continua a desempenhar um papel discreto, longe dos holofotes. Mesmo tendo demorado a explodir e nunca ter atuado nos principais clubes da Itália, ter a marca de campeão mundial pelo seu país é um dos maiores orgulhos que um jogador de futebol pode ter e Barone poderá contar para seus filhos e netos que conseguiu deixar a sua marca no coração de seus compatriotas.

Simone Barone
Nascimento: 30 de abril de 1978, em Nocera Inferiore, Itália
Posição: volante
Clubes como jogador: Parma (1996-98 e 2002-04), Padova (1998-99), Alzano Virescit (1999-2000), Chievo (2000-02), Palermo (2004-06), Torino (2006-09), Cagliari (2009-10) e Livorno (2011-12)
Títulos como jogador: Copa do Mundo (2006)
Carreira como treinador: Correggese (2021)
Seleção italiana: 16 jogos e 1 gol

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