A Fiorentina nutre uma rivalidade muito forte com a Juventus. Desde que as equipes disputaram o scudetto cabeça a cabeça, em 1981-82, a raiva dos florentinos pelos bianconeri explodiu. As idas de Roberto Baggio, em 1990, e, mais recentemente, de Federico Bernardeschi e Federico Chiesa para a Vecchia Signora também não agradaram a torcida toscana. Quando a discussão vai para campo de jogo, a situação é mais dolorosa para a Viola, já que a Juve é o seu grande algoz na Serie A, com 78 vitórias e 266 gols marcados. Porém, no dia 20 de outubro de 2013, Giuseppe Rossi mudou esse cenário.
Com atuação apoteótica, o atacante liderou uma virada histórica da Fiorentina sobre a Juventus, no Artemio Franchi, pela oitava rodada da Serie A. A Viola foi para o intervalo perdendo por 2 a 0, mas, no segundo tempo, Rossi marcou uma tripletta e deixou o campo ovacionado pelos torcedores. Assim, os gigliati venceram por 4 a 2 e acabaram com a invencibilidade da rival.
O triunfo também fez a Fiorentina encerrar um jejum que perdurava desde março de 2008, quando havia superado a Vecchia Signora pela última vez até aquele momento – triunfo por 3 a 2, em Turim. Além disso, a última vitória da Viola sobre a Juve em Florença havia sido em 1998, quando Gabriel Batistuta, ídolo violeta, fez o único gol da partida.
A Juventus começou na frente com um gol de Tevez (imago/AFLOSPORT)
Tevez e Pogba provocam os rivais
A Fiorentina de Vincenzo Montella e a Juventus de Antonio Conte viviam boa fase. Enquanto a equipe de Florença havia sido quarta colocada em 2012-13, temporada de estreia do ex-atacante no comando, a formação piemontesa era bicampeã italiana à época. Os times atuavam em esquemas táticos quase que espelhados: três zagueiros, dois alas, três meio-campistas e dois homens no ataque. A diferença do 3-5-2 da Viola para o da Vecchia Signora é que, na frente, Montella optou por colocar Alberto Aquilani atrás de Rossi. Do outro lado, Fernando Llorente e Carlos Tevez comandavam o setor ofensivo bianconero.
Antes de a bola rolar no Artemio Franchi, a torcida violeta fazia festa nas arquibancadas. Grande contratação para a temporada 2013-14, Mario Gómez, lesionado, acompanhou a partida das tribunas do estádio. Era possível ouvir o famoso cântico “quem não pular é alvinegro”. Mas, minutos depois que o o árbitro Nicola Rizzoli apitou o início do clássico, os torcedores da Fiorentina ficaram apreensivos. É que Rossi precisou receber atendimento médico fora dos gramados – o problema era nas duas pernas. Antes de chegar à Fiorentina vindo do Villarreal, em janeiro de 2013, o ítalo-americano havia lesionado os ligamentos cruzados do joelho.
Mais tarde, aos 23 minutos, Massimo Ambrosini se lesionou e deixou o gramado para a entrada de Mati Fernández. O confronto foi monótono durante mais da metade do primeiro tempo. Borja Valero e Juan Cuadrado, dois dos principais nomes daquela Fiorentina, se destacavam no time da casa. Já a Juventus tentava superar a defesa mandante com Tevez e Llorente, dupla abastecida pelas chegadas à frente de Paul Pogba e Claudio Marchisio. Andrea Pirlo regia o jogo à frente do trio BBC, formado por Andrea Barzagli, Leonardo Bonucci e Giorgio Chiellini.
Assim como Tevez, Pogba provocou os torcedores da Fiorentina (imago)
Perto dos 30 minutos, a Fiorentina assustou pela primeira vez. Facundo Roncaglia arriscou de fora da área, mas Gianluigi Buffon encaixou. Em seguida, veio a resposta da Juve: Marchisio finalizou de longa distância, fazendo Neto espalmar para a linha de fundo.
O jogo não estava favorável para os atacantes. Tevez e Rossi não tinham espaço nem chances de arrematar a gol. No entanto, aos 35 minutos, o argentino sofreu pênalti. A decisão de Rizzoli gerou muita reclamação dos gigliati, que alegaram que o camisa 10 não havia sido derrubado por Gonzalo Rodríguez. Polêmicas à parte, o próprio Tevez partiu para a marca da cal a bateu no meio do gol; Neto caiu no canto esquerdo. Na comemoração, o atacante imitou Batistuta, fazendo uma metralhadora com as mãos e apontando para os torcedores rivais.
A torcida da Fiorentina murchou após o gol de Carlitos. Porém, a situação ficaria ainda pior. Antes de terminar a etapa inicial, Pogba ampliou a vantagem bianconera. O francês aproveitou corte errado de Cuadrado e, de carrinho, estufou as redes da Fiorentina. Assim como Tevez, Pogba também fez uma metralhadora fictícia com as mãos ao celebrar o seu tento. Na etapa final, contudo, a torcida violeta teria a chance de retribuir a provocação.
Três vezes Rossi: Pepito teve segundo tempo de gala e anotou uma tripletta contra a odiada Juventus (imago/AFLOSPORT)
Show de Rossi
Na volta do intervalo, a Juventus adotou uma postura mais reativa: compactou-se em seu campo defensivo e, quando possível, disparava em contra-ataques, geralmente puxados por Tevez. Já a Fiorentina dominou a posse de bola, mas não conseguia criar chances de gol. Não à toa, Montella sacou Aquilani, apagado em campo, e colocou o espanhol Joaquín na partida. Com a alteração, Cuadrado passou a jogar mais perto de Rossi, com o espanhol atuando na ala direita.
O goleiro Neto teve de salvar a Fiorentina quatro vezes após o reinício do jogo. Ele impediu um gol de cavadinha de Marchisio, segurou uma cabeçada à queima-roupa de Chiellini, espalmou uma cobrança de falta venenosa de Pirlo e, por fim, defendeu um chute rasteiro de Kwadwo Asamoah. A equipe da Fiorentina tinha que recompensar as intervenções de Neto. E assim o fez.
Aos 65 minutos, Asamoah derrubou Fernández na área. Penalidade máxima. Rossi converteu e deu gás à Viola em busca do empate. A Vecchia Signora até esboçou uma pressão depois do gol sofrido, mas quem voltaria a balançar as redes seria o time de Florença, novamente na dobradinha entre chileno e argentino. Mati tocou para Rossi, que escapou da marcação de Pogba e disparou um chute relativamente defensável, mas que Buffon aceitou: 2 a 2.
Conte respondeu ao empate da Fiorentina com uma alteração: saiu Marchisio e Arturo Vidal foi para o jogo. O chileno, entretanto, entrou desligado e perdeu a bola no lance que gerou o tento da virada florentina. Após bater a carteira de Vidal, Valero apareceu na entrada da área e encontrou Joaquín livre na direita. O camisa 17 arrematou no canto de Buffon e colocou a Fiorentina em vantagem, explodindo o Artemio Franchi.
Rossi é abraçado por Valero e Joaquín, outros dois destaques da Fiorentina naquele jogo (imago/Insidefoto)
Depois de sofrer a virada, Conte fez mais uma substituição: colocou o atacante Sebastian Giovinco na vaga do ala Asamoah. A ideia era tornar o time mais ofensivo e tentar igualar o placar, mas a tarde estava destinada à felicidade dos torcedores gigliati. Dois minutos depois, a Fiorentina fechou o caixão.
A Juve se lançou ao ataque numa cobrança de escanteio e, após o corte da defesa, Valero encontrou um passe maravilhoso de primeira, que acionou Cuadrado. Com sua rapidez, o colombiano deu continuidade ao contragolpe fatal e rolou para Rossi, que chapou a bola no canto direito do arqueiro juventino. O camisa 49 precisou de 15 minutos para anotar três gols.
Na ausência de Gómez, Rossi conseguiu ser o artilheiro que o torcedor esperava ao início da temporada 2013-14. Ao fim dela, a Fiorentina repetiu a quarta posição na Serie A e também foi vice-campeã da Coppa Italia. A Juventus, por sua vez, faturou novamente o scudetto, com incríveis 102 pontos somados – pontuação recorde na Serie A. No campeonato, perdeu apenas uma outra vez, para o Napoli.
Substituído por Ryder Matos após a tripletta naquele clássico, Rossi deixou o campo nos últimos minutos ovacionado pelos torcedores. Não era para menos. Pelo contexto da partida, o artilheiro teve a maior atuação de sua carreira, marcada por recorrentes lesões. Os três gols anotados sobre a rival Juventus fizeram de Pepito um dos grandes personagens violetas na rivalidade com a Juve. Uma pena que as contusões impediram-no de atingir todo o seu potencial e de servir à seleção italiana na Copa do Mundo de 2014.
Fiorentina 4-2 Juventus
Fiorentina: Neto; Roncaglia, Rodríguez, Savic; Cuadrado, Ambrosini (Mati Fernández), Pizarro, Borja Valero, Pasqual; Aquilani (Joaquín); Rossi (Ryder Matos). Técnico: Vincenzo Montella.
Juventus: Buffon; Barzagli, Bonucci, Chiellini; Padoin (Motta), Pogba, Pirlo, Marchisio (Vidal), Asamoah (Giovinco); Tevez, Llorente. Técnico: Antonio Conte.
Gols: Rossi (66′, 76′ e 81′) e Joaquín (78′); Tevez (37′) e Pogba (40′)
Árbitro: Nicola Rizzoli (Itália)
Local e data: Artemio Franchi, Florença (Itália), em 20 de outubro de 2013
