Um ótimo passo para uma reformulação do futebol italiano foi dado pela Juventus. O clube de mais torcida do país construiu o primeiro estádio privado da Itália. Foram gastos 122 milhões de euros no empreendimento assinado por Fabrizio Giugiaro e Paolo Pinifarina, ícones da arquitetura – apenas 34% do que será gasto com o Itaquerão, por exemplo.
A cerimônia de abertura foi feita pelos mesmos projetistas dos Jogos de Inverno de Turim, em 2006. Fogos, coreografias, músicas. Minúcias trabalhadas; nada poderia dar errado. E não deu. As imagens da TV italiana mostravam a fila de torcedores fora da arena. Foram também apresentados os bastidores do novo estádio: vestiários do mandante e dos visitantes, salas da futura sede do clube e tribunas. As festividades começaram quando o sol já ameaçava dormir na cidade.
Andrea Agnelli pegou o microfone para dizer algumas palavras. Começou com “Signori, benvenuti a casa”. Entre outras, elevou o estado de espírito bianconero ao dizer que “hoje, escrevemos um novo capítulo na história”. Piero Fassino enalteceu a construção à cidade que governa. Em seguida, réplicas gigantescas em menção aos troféus conquistados pela Juve: Serie A, Copa Intercontinental, Copa da Uefa, Liga dos Campeões… Grande parte dos 50 jogadores do hall da fama entraram em campo; Marcello Lippi foi homenageado, e Trezeguet não conseguiu a liberação dos xeques do Baniyas. Del Piero e Boniperti tiveram um momento à parte, sozinhos. Houveram também manifestações emotivas a Gianni e Umberto Agnelli, além de minutos para expressar condolências ao acidente trágico na final da Copa dos Campeões de 1985, em Heysel.
A razão pela qual a Juventus escolheu o Notts County como adversário na inauguração de sua arena tem ligação histórica. O clube inglês, que atualmente disputa a terceira divisão local, é o time profissional mais antigo do mundo. Até 1903, a Juve usava um uniforme rosa – que retornou nesta temporada, como homenagem. Baseado no manto do Magpies, decidiu adotar o preto e branco. Antonio Conte usou 23 jogadores, entre eles os estreantes Estigarribia e Elia. O resultado final foi o empate em 1 a 1, com gols de Toni e Hughes. Toni, outrora dispensável, acabou sendo o primeiro jogador a marcar na nova casa juventina.
Exemplo a ser seguido
Ainda antes da inauguração do estádio, Del Piero falou sobre o que representava a Arena Juventus para a instituição e para o país. “É uma revolução cultural e é certamente uma revolução para o mundo do futebol. Eu realmente espero que isso se torne regra para o futebol italiano e seus estádios”, afirmou.
Agora, com um estádio particular, toda a administração do estádio está por conta da Juventus. Isso significa que todos os custos para manutenção, mas também todo o lucro conseguido será de responsabilidade do clube. Não é necessário pagar aluguel ao município, como era feito antigamente com o Olímpico, para utilizar o estádio apenas em dias de jogos. Com seu novo estádio, a Juventus pode diversificar formas de lucrar, fazendo com que o estádio fique economicamente ativo em dias nos quais não aconteçam partidas.
A escolha de 41 mil assentos tem fundamento: apesar da legião de seguidores, a maior parte dos torcedores residem na região sul da Itália. Em Turim, há também uma série de fanáticos pelo Torino. Um estudo feito nas médias das últimas décadas mostrou que o tamanho projetado era o necessário: nada monstuoso como o antigo Delle Alpi – de 69 mil lugares – e sem as pistas de corrida que separavam a torcida do campo. Francesco Ossola, engenheiro-chefe, afirmou que a arena foi projetada nos moldes dos estádios ingleses e La Bombonera. O intuito era a aproximação dos tifosi ao gramado, já que o Delle Alpi sempre foi tido como um estádio muito “frio”, e criar uma atmosfera para atazanar o time visitante.
No embalo dos estádios privados, o próximo representante do seleto grupo na Itália pode ser o Siena. A equipe campeã da Serie B na temporada passada projetou um estádio semi-subterrâneo para deixar o Artemio Franchi, da prefeitura. O único problema do estádio avaliado em 68 milhões de euros é que a instituição ainda não consegue bancar o projeto. O Cagliari também já apresentou um projeto de estádio e o Palermo deve fazer o mesmo no fim de setembro. O pontapé inicial foi dado pela Juventus, mas as condições do futebol na Itália só irão para frente se, de fato, outros clubes seguirem o conceito.
Pazzesco!
Prezado Murillo,
Milan, Inter e Roma não possuem nenhum projeto para construção de suas Arenas? Obrigado.
Olá, Elvis.
Projeto oficial, nenhum. Milan e Inter já manifestaram algum desejo de construírem novos estádios, mas não passou disso.