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Giancarlo Antognoni: uma vida dedicada ao violeta da Fiorentina

Quantos jogadores você conhece que já tiveram um dia no calendário só para si? Em Florença, Giancarlo Antognoni conseguiu alcançar o feito. No dia 4 de março de 2011, o maior jogador da história da Fiorentina lotou o Ginásio Mandela Forum, no centro da cidade, para o Antognoni Day. Em meio à uma grande festa, ex-jogadores viola, técnicos, diretores, imprensa e fãs prestaram inúmeras homenagens ao ídolo, que vestiu a camisa gigliata em 429 oportunidades – mais do que qualquer outro atleta.

Este evento mostra um pouco da grandeza de Antognoni diante da torcida da Fiorentina. Mas só um pouco. A idolatria dos torcedores pelo meio-campista ultrapassa os padrões. Os mais desavisados questionam como um jogador que tem apenas dois títulos pelo clube (Coppa Italia e Copa Anglo-italiana de 1975) pode ser tão amado. Os mais fervorosos respondem que ele representava, dentro de campo, toda a arte da cidade, que já foi casa de gênios como Leonardo Da Vinci, Michelangelo e Donatello.

Desde cedo, Antognoni assumiu a braçadeira da Fiorentina (imago)

Logo em sua partida de estreia com a camisa viola, no dia 15 de outubro de 1972, Antognoni mostrou toda a sua classe e saiu de campo elogiado. Lançado por Nils Liedholm na segunda etapa do jogo e com apenas 18 anos, ele encantou quem estava presente naquele Verona 1-2 Fiorentina. O jornalista Vladimiro Caminti o descreveu como “il ragazzo che corre guardando le stelle” (o menino que corre olhando para as estrelas, em português), se referindo ao estilo de jogo do novato: com a cabeça sempre erguida, de olho nos companheiros e preparado para tocar a bola com precisão. Antognoni tinha ainda um pé calibrado, que lhe fazia dificultar a vida dos goleiros com chutes de fora da área.

São vários os fatores que contribuem para o status de Antognoni, mas a fidelidade do meio-campista ao clube talvez seja um dos principais. Durante seus 15 anos no time, ele recusou propostas de Juventus, Inter, Milan e Roma diversas vezes, alegando que a Fiorentina era sua casa. O capitão e camisa 10, recordista de presenças com a camisa do clube na Serie A, só deixou a Fiorentina em sua penúltima temporada como profissional, quando optou pelo suíço Lausanne, em busca de tranquilidade financeira.

O craque da Fiorentina disputou duas Copas e uma Euro, sendo campeão mundial em 1982 (imago/WEREK)

Em contrapartida, Antognoni nunca integrou uma equipe que pudesse ajudá-lo a vencer grandes títulos. Exceto uma vez: na Copa do Mundo de 1982, na Espanha. Se na Fiorentina os melhores resultados do “menino que joga olhando para as estrelas” foram os títulos da Coppa Italia e da Copa Anglo-Italiana de 1975 e um vice-campeonato da Serie A em 1982, com a seleção italiana ele fez história. Quase sempre titular, foi essencial na campanha do tricampeonato mundial azzurro. O jogador só não jogou a finalíssima, contra a Alemanha Ocidental, porque havia se machucado no jogo anterior, após entrada dura do polonês Zmuda.

As lesões, aliás, acompanharam Antognoni em sua carreira. A primeira aconteceu em novembro de 1981, quando chocou-se com o goleiro Silvano Martina, do Genoa, sofreu uma fratura no crânio e por um tempo achou-se que ele poderia, inclusive, ficar de fora da Copa de 1982. Porém, ele se recuperou rápido e ainda conseguiu ajudar o time a conquistar o vice-campeonato da Serie A daquele ano, antes de embarcar para a Espanha com a seleção. A segunda, e mais grave, foi durante a temporada 1983-84, quando ele se deu mal em uma dividida com Luca Pellegrini e ficou fora dos gramados por um ano e meio. Nenhuma das contusões mais sérias de Antognoni, no entanto, conseguiu manchar sua grande carreira.

Embora combalido por lesões, Antognoni não perdeu destaque na Fiorentina (Getty)

O antes e o depois
Durante sua juventude, Antognoni treinou no Asti-MaCoBi, pequeno clube da cidade de Turim, já sonhando em ser jogador de futebol. Pelo time, jogou a Serie D, na temporada de 1970-71, com apenas 16 anos. As boas apresentações lhe renderam uma vaga na equipe titular. Em 1971-72, então, Antognoni jogou quase todas as partidas e exibiu seu bom futebol, chamando a atenção da Fiorentina, mesmo atuando em uma divisão ainda não-profissional (a Serie D é a primeira divisão do futebol amador, atrás da Lega Pro Seconda Divisione, quarta divisão nacional). A partir daí sua carreira decolou. Em sua primeira temporada vistindo viola já foram 20 presenças e dois gols.

Em 1989, então, após pendurar as chuteiras, tentou uma carreira como dirigente, mas nunca foi muito bem sucedido. Em seu primeiro ano como diretor-geral da Fiorentina (1992-93), viu a equipe ser rebaixada para a Serie B e deixou o cargo. Atuou em outras funções administrativas do clube até 2001, quando pediu demissão para assumir um posto na diretoria das seleções de base da Itália. Fez parte do organograma da FIGC até 2017, quando retornou à Viola, permanecendo até 2021 como club manager. Em 2018, entrou, merecidamente, para o Hall da Fama do futebol italiano.

Giancarlo Antognoni
Nascimento: 1º de abril de 1954, em Marsciano, Itália
Posição: meio-campista
Clubes: Asti-MaCoBi (1970-72), Fiorentina (1972-87) e Lausanne (1987-89)
Títulos: Coppa Italia (1975), Copa da Liga Ítalo-Inglesa (1975) e Copa do Mundo (1982)
Seleção italiana: 73 jogos e 7 gols

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