Um dos nomes da Inter super vencedora de Giovanni Trapattoni na transição entre as décadas de 1980 e 1990, Alessandro Bianchi se notabilizou por ser um meio-campista de talento, que tinha boa técnica e esbanjava qualidade em passes e cruzamentos. O jogador, porém, viu sua carreira praticamente ruir após uma lesão no joelho, que possivelmente o tirou a possibilidade de disputar a Copa do Mundo de 1994.
Antes de fazer sucesso em Milão, Bianchi começou como profissional no Cesena. Nascido na Romanha, ele fez parte de sua formação no Cervia, de sua cidade natal, e ainda juvenil, se transferiu ao clube bianconero, o mais tradicional de suas redondezas. No time de La Fiorita, participou na campanha da Serie B em 1985-86 e, na sequência, foi emprestado ao Padova, clube pelo qual ganhou minutos e momentos em evidência. Como titular no Vêneto, conquistou a promoção à segunda divisão e foi semifinalista da Coppa Italia da Serie C.
No retorno aos cavalos marinhos, Alessandro participou da segunda melhor campanha do Cesena em toda a sua história na primeira divisão: com 28 partidas e três gols marcados, incluindo uma doppietta sobre a Sampdoria, Bianchi contribuiu bastante para que os bianconeri ficassem com o nono lugar. Considerando toda a temporada, o meia que atuava pelo lado direito só não jogou mais vezes do que Ruggiero Rizzitelli, Davor Jozic e Agatino Cuttone.
As apresentações de Bianchi chamaram a atenção da Inter, que pagou uma verdadeira bolada (cerca de 4,5 bilhões de velhas liras) para levar o meia de 22 anos para Milão. O destino do jogador, porém, poderia ter sido outro. O Napoli de Diego Maradona, contra o qual Alessandro disputou sua primeira partida na Serie A, fez de tudo para leva-lo ao sul do país. Mas, por escolha própria, o romanholo descartou o time napolitano: por ser reservado, não se sentiria confortável com o fanatismo da torcida azzurra, que costumava azucrinar os jogadores do time.
Outra possibilidade seria ficar mais um ano no Cesena e ter a possibilidade de transferir-se à Juventus, mas Bianchi sempre deixou claro que sua preferência era a Inter. “Trapattoni ligou para a casa da minha mãe. Achei que fosse uma piada, mas ele disse que estava satisfeito por me ter disponível. Ele estava confiante de que eu poderia ter uma boa carreira na equipe. Já tinha escolhido a Inter, mas este telefonema me deu a certeza de ir para Milão”, declarou o meio-campista ao Inter Channel.
Trappatoni, aliás, foi um grande mentor para Bianchi, que sempre lembra com muito carinho do ex-treinador. “É um grande técnico, mas sobretudo uma grandíssima pessoa. Em seus três anos como comandante da Inter, sempre teve muita consideração por mim, mesmo quando a torcida não acreditava”, afirmou. Alessandro disputou 237 partidas com a Inter, distribuídas em oito temporadas.
Na primeira campanha, conquistou logo de cara o scudetto, com um recorde de maior número de pontos para um campeão – 58, considerando os tempos em que a vitória valia dois e em campeonatos de 18 times. A Beneamata sofreu apenas duas derrotas: uma para a Fiorentina, que encerrou a sua invencibilidade de 16 jogos, e outra para o Torino, na penúltima rodada, quando a equipe nerazzurra já era campeã. Jogando com liberdade na ala direita do 3-5-2 de Trap, Bianchi realizou 45 partidas e quatro gols, incluindo belíssimos tentos sobre Cesena e Lazio.
“Foi um ano histórico! E pensar que não tinha começado da melhor maneira. Trapattoni foi questionado pela venda de [Alessandro] Altobelli, pela polêmica com torcedores e jornalistas. Nós ficamos sem dar entrevistas”, lembrou Bianchi, citando as quedas precoces na Coppa Italia e também na Copa Uefa. A Inter foi eliminada na segunda fase de grupos do torneio nacional e nas oitavas de final do continental, para o Bayern de Munique.
Na temporada seguinte, a Inter só faturou a Supercopa Italiana e o ala destro teve atuações bem mais discretas. Contudo, em 1990-91, ressurgiu em momento fundamental. Na ida da fase de 16 avos de final da Copa Uefa, a Inter perdeu por 2 a 0 para o Aston Villa, na Inglaterra, e teria uma montanha para escalar na volta. As dificuldades começaram a ser superadas por Jürgen Klinsmann, aos 7, e Nicola Berti, aos 62, fez o jogo se encaminhar para a prorrogação. Mas, antes de qualquer possibilidade de tempo extra, Bianchi apareceu na área e, com lindo sem pulo, completou um cruzamento na medida de Fausto Pizzi: foi o gol da classificação.
Bianchi ficou em campo durante todos os minutos seguintes que a Inter disputou na competição – e não foram poucos. O ala voltou a castigar o Partizan nas oitavas de final e contribuiu para que a equipe nerazzurra avançasse até a final, contra a Roma. A vitória por 2 a 0 em Milão estabeleceu uma boa vantagem para a Beneamata e a derrota no retorno, no Olímpico, foi suficiente para que o time de Trapattoni ficasse com o título.
Em 1991-92, já depois da saída de Trap para a Juventus, o romanholo teve a sua última boa temporada pela Inter – e a derradeira como titular. Os nerazzurri fizeram uma campanha atribulada e de resultados pífios em ambas as frentes, mas Bianchi começou a ter chances na seleção italiana, dirigida por Arrigo Sacchi. Alessandro estreou num amistoso disputado contra San Marino, em Cesena, em fevereiro de 1992.
O ala continuou a figurar nas convocações da Nazionale até janeiro do ano seguinte, quando sofreu uma grave lesão muscular e ficou quase oito meses no estaleiro. Aos 27 anos e com a perspectiva de disputar a Copa do Mundo de 1994, o jogador tentou se recuperar e ganhou a confiança de Sacchi, que chegou a convocá-lo mais uma vez antes da competição, mas Bianchi não conseguiu sequer entrar em campo – e nem se recuperar para embarcar para os Estados Unidos.
A verdade é que o problema físico comprometeu a sua carreira: Bianchi jamais conseguiria se recuperar plenamente. Após a lesão, o meia cumpriu os três anos de contrato que tinha com a Inter, mas teve poucas aparições. Nesse período, foi outra vez campeão da Copa Uefa, em 1994, mas não foi muito útil na campanha – e ainda foi expulso na partida de ida, contra o Casino Salzburg.
Depois que deixou a Inter, em 1996, Bianchi retornou ao Cesena, onde atuou por mais cinco temporadas – todas por divisões inferiores. Na segunda passagem pelo Dino Manuzzi, Alessandro atuou com regularidade, embora seu físico não lhe permitisse mais ser titular absoluto. Neste período, o romanholo foi rebaixado duas vezes para a terceirona, mas também conquistou uma vez a promoção à segunda categoria e um vice da Coppa Italia da Serie C.
Bianchi pendurou as chuteiras em 2001, aos 36 anos. Quase uma década depois, já com 46, ele voltaria a jogar no time de veteranos do Cervia e ainda atuaria também na Eugubina, apenas pela paixão ao esporte. Porém, o futebol já não é mais a prioridade do ex-meia. Ainda que participe do projeto Inter Forever, que reúne ex-jogadores da Inter para partidas beneficentes, Alessandro confessa que raramente assiste a jogos de futebol – costume que não tinha nem quando era profissional. Em seu tempo livre, quer apenas relaxar com os seus amigos.
Alessandro Bianchi
Nascimento: 7 de abril de 1966, em Cervia, Itália
Posição: meio-campista
Clubes como jogador: Cesena (1985-86, 1987-88 e 1996-2001), Padova (1986-87) e Inter (1988-96)
Títulos conquistados: Serie A (1989), Supercopa Italiana (1989), Copa Uefa (1991 e 1994) e Serie C1 (1998)
Seleção italiana: 9 jogos