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Michael Essien chegou ao Milan quando já era veterano e não se deu bem num time bagunçado

Considerado um dos melhores meio-campistas do mundo, Michael Essien ia além de ser um bom defensor da cabeça de área e chamou a atenção ao longo de sua carreira por fazer gols através de chutes de longa distância. Ícone na Inglaterra, o ganês fez história no Chelsea e teve uma breve passagem pelo futebol italiano ao defender as cores do Milan. Infelizmente, para o volante e para os rossoneri, tal experiência ocorreu num dos piores momentos da história recente do Diavolo e a união entre as partes não deu muito certo.

Essien nasceu em Acra, capital de Gana. Bem estudado, sempre frequentou bons colégios, o que provavelmente lhe ofereceu contato com o futebol de forma precoce. Mas foi somente após se formar no St. Augustine’s College que ele passou a atuar em um time, pelos juvenis do Liberty Professionals.

Destaque, o jovem passou a frequentar as seleções de base de Gana, e foi convocado para a disputa do Mundial Sub-17 de 1999, na Nova Zelândia. As atuações de Essien na campanha do terceiro lugar dos Estrelas Negras chamaram a atenção de olheiros ingleses, que lhe arranjaram um teste no Manchester United, em abril de 2000. O volante recebeu a oferta de um contrato, mas não conseguiu um visto de trabalho para atuar no Reino Unido e, apesar de ter uma proposta do belga Royal Antwerp, ouviu os conselhos da mãe e acertou com o Bastia, da França.

Na época, o Bastia atuava na máxima divisão francesa e era um time que costumava ficar no meio da tabela. Essien ficou três anos lá e ajudou os turchini a manterem o mesmo patamar, embora com participações distintas ao longo desse período. Primeiro, ainda em adaptação, não conseguiu cavar vaga como titular dos azuis e chegou até a ser escalado na linha de retaguarda, mostrando uma versatilidade que o acompanharia ao longo da carreira. A partir da segunda temporada, se consolidou na função de volante e ganhou destaque tanto pela capacidade de roubar bolas e defender quanto por marcar alguns gols – foram 12 em 75 aparições.

Em 2003, Essien já tinha relativa experiência, apesar dos 20 anos. Havia representado Gana na Copa Africana de Nações de 2002 e também no Mundial Sub-20 de 2001, no qual os Estrelas Negras ficaram com o segundo lugar. Pelo Bastia, integrara o onze ideal da Ligue 1 de 2002-03. Assim, o volante atraiu o interesse de clubes como Paris Saint-Germain e Marseille, mas foi o Lyon, então bicampeão nacional, que assegurou seu futebol.

O novo camisa 4 chegou ao OL e teve a companhia de quatro brasileiros: os zagueiros Cláudio Caçapa e Edmílson, o atacante Giovane Élber e o meia e craque do time: Juninho Pernambucano. No Lyon, Essien explodiu: tendo liberdade para dialogar com o Reizinho e chegar ao ataque, teve um biênio dourado, no qual faturou quatro taças, sendo duas da Ligue 1, e ainda foi eleito como craque do Campeonato Francês, em 2005. O ganês também teve um desempenho formidável no cenário internacional: na Champions League de 2004-05, por exemplo, marcou cinco gols e ajudou os Gones a alcançarem as quartas de final.

Com tal gabarito, Essien passou a ser considerado um dos melhores do mundo em sua posição e virou objeto de desejo do endinheirado Chelsea de Roman Abramovich. Como de costume, o ex-presidente do Lyon, Jean-Michel Aulas, fez jogo duro. Mas, em meados de agosto de 2005, o ganês se tornou a contratação mais cara dos Blues até o momento – 24,4 milhões de libras esterlinas. A transação foi um sucesso para os londrinos, visto que Michael se adaptou muito bem ao clube, que seria aquele em que mais vezes atuou na carreira, e ao futebol do técnico José Mourinho.

Essien foi um dos melhores volantes do mundo e chegou ao Milan na fase final da carreira, quando já havia sofrido graves lesões (Getty)

Defendendo os Blues, Essien acumulou gols importantes e boas atuações. Logo no seu segundo ano no clube inglês, ele foi indicado ao prêmio de melhor do mundo da Fifa e à Bola de Ouro da revista France Football, além de ter sido eleito o terceiro melhor futebolista africano de 2006 – sendo que havia vencido a disputa de 2005. Também em 2006, uma lesão o deixou de fora da Copa Africana de Nações, mas Michael pode disputar sua primeira Copa do Mundo. Gana caiu nas oitavas, após sofrer 3 a 0 do Brasil, porém o volante cumpria suspensão e não pode entrar em campo.

Entre 2005 e 2008, com lapsos em 2009-10, Essien viveu o auge de sua carreira. O volante ajudou o Chelsea a faturar sete troféus nesse período, sendo dois da Premier League, e também a chegar a uma final de Liga dos Campeões, perdida nos pênaltis para o Manchester United. Em 2007, Michael, apelidado de The Bison (“o bisão”, em português), devido a sua força, se tornou o primeiro africano a ser escolhido como Jogador do Ano dos Blues. Também naquela temporada, foi eleito como melhor futebolista ganês; curiosamente, na única das cinco temporadas em que não entrou no onze ideal da CAF, a Confederação Africana de Futebol.

O problema é que, nesse mesmo período, o volante rompeu os ligamentos cruzados do joelho esquerdo e teve lesões no menisco adjacente, o que viria a comprometer o seu rendimento no futuro – e a razão pela qual ele não jogaria a Copa de 2010, por exemplo. Ambas as contusões ocorreram quando Michael estava com a seleção de Gana. Os Estrelas Negras viviam um excelente momento e vinham de um terceiro e de um segundo lugar na Copa Africana de Nações, ambas com a ajuda de Essien. Apesar de terem ido até as quartas de final do Mundial disputado na África do Sul, certamente se ressentiram da ausência de um de seus pilares.

Com a camisa do Chelsea, Essien teve um bom desempenho pela última vez ao longo de 2010-11, quando foi treinado por Carlo Ancelotti – a temporada terminou sem títulos e foi a derradeira do italiano em Stamford Bridge. Em seguida, a ruptura de ligamentos do joelho direito lhe deixou de molho por bastante tempo e o levou ao banco de reservas. De lá, assistiu os Blues ganharem a Champions League de forma inédita, sob as ordens do então interino Roberto Di Matteo.

Sem espaço no time titular do Chelsea por motivos físicos e técnicos, Essien foi emprestado ao Real Madrid em agosto de 2012. A chegada ao clube merengue tinha um motivo: o pedido de Mourinho, que o via como um filho. Michael não aportava na capital da Espanha para ser titular, mas tinha a confiança do treinador e foi uma peça bastante utilizada em 2012-13. Após o vice em La Liga e na Copa do Rei, além da queda nas semifinais da Champions League, o treinador português foi demitido e o volante ganês não foi adquirido em definitivo.

No fim das contas, Mourinho acabou retornando ao Chelsea juntamente a Essien. Mas, dessa vez, o bisão não teve muito espaço com seu “pai”. Sofrendo com a concorrência de Frank Lampard, John Obi Mikel, Ramires e Oscar, Michael participou de apenas nove partidas dos Blues até janeiro de 2014. Com a chegada de Nemanja Matic a Londres no início daquele mesmo ano, o ganês foi liberado para procurar outro clube. E aí, então, acertou com outro gigante europeu: o Milan.

A estreia de Essien pelo time italiano não foi das melhores e refletiu o momento complicado que o clube começava a atravessar: o 3 a 1 sofrido para o Napoli era o retrato de um Milan que começava a entrar em colapso financeiro, administrativo e técnico. Massimiliano Allegri, campeão pelos rossoneri em 2011, havia acabado de ser demitido por Silvio Berlusconi e Clarence Seedorf estreou como técnico apenas dois dias depois de pendurar as chuteiras e dar adeus ao Botafogo. Era uma aposta muito arriscada e a contundente derrota em seu terceiro jogo na nova profissão deixou isso evidente.

Seedorf, por incrível que pareça, fez o Milan entregar a quarta melhor campanha do returno da Serie A e, mesmo assim, o Diavolo concluiu a competição apenas no oitavo lugar, sem vaga em competições europeias pela primeira vez em 16 anos. Na Champions League, os rossoneri foram surrados: acabaram eliminados pelo Atlético de Madrid, nas oitavas de final, com um placar agregado de 5 a 1. Essien – que, em campo, fazia algumas funções similares às que o holandês executava como atleta – era visto como opção a Riccardo Montolivo e Andrea Poli, atuando principalmente quando o ex-meia optava pelo 4-2-3-1, com mais proteção à defesa.

Essien chegou ao Milan no início de um dos piores períodos que o clube viveu em sua história: obviamente, não se deu bem (AFP/Getty)

Sob o comando de Seedorf, o camisa 15 ganês atuou em nove ocasiões e voltou a ganhar algum ritmo de jogo. Assim, foi convocado para disputar a Copa do Mundo de 2014, realizada no Brasil, mas só entrou em campo na estreia, ante os Estados Unidos. Após perder a posição e ver os Estrelas Negras serem eliminados ainda na fase de grupos, Michael se aposentou da seleção, aos 31 anos.

De volta ao Milan, Essien foi vítima de um boato de cunho racista: espalharam que ele teria contraído o vírus ebola, o que não procedia. Na época, ele ainda viu o seu time passar por uma revolução de efeitos deletérios. Estrelas como Kaká e Mario Balotelli deixaram o elenco, que se enfraqueceu devido à diminuição do aporte financeiro da parte de Berlusconi. Além disso, Seedorf se desentendeu com a diretoria e deu lugar a Filippo Inzaghi, que treinara apenas a equipe sub-19 rossonera.

A mudança no comando não fez bem ao futuro de Michael. Para Pippo, o bisão era apenas a quinta opção de meio-campo – e só não foi a sexta porque Montolivo se lesionara gravemente e teve de ser afastado. De Jong, Poli, Sulley Muntari e os reforços Giacomo Bonaventura e Marco van Ginkel foram mais utilizados pelo técnico, que permitiu a Essien fazer 13 aparições em 2014-15.

No fim das contas, Inzaghi mexeu muito no time por falta de convicção e colheu péssimos resultados. Os rossoneri caíram nas quartas de final da Coppa Italia e, pior, tiveram um desempenho pior do que o da temporada anterior na Serie A: concluíram o certame na modestíssima 10ª posição, novamente sem direito a vaga em competição continental. Esta foi a senha para Essien, que se lesionou na reta final da campanha, se despedir da Itália depois de apenas 22 partidas pelo Diavolo.

Os anos seguintes continuaram péssimos para o Milan, que virou um time que penava para se classificar para a Liga Europa – só tornou à Champions League em 2021, devido ao vice-campeonato da Serie A. Àquela altura, Essien já tinha pendurado as chuteiras e passado por mais três clubes e países, sem nenhum destaque: Panathinaikos, da Grécia; Persib, da Indonésia; e Sabail, do Azerbaijão. Neste último é que se aposentou, em 2020.

No próprio Sabail, o ganês atuou como colaborador técnico do time sub-19 e deu início a uma trajetória de formação de atletas que continuou nas prolíficas categorias de base do Nordsjaelland, da Dinamarca. Essien também é assistente da equipe principal dos tigres desde 2020.

Referência na posição de volante, Essien tornou-se um dos melhores jogadores africanos do mundo. Cobiçado por gigantes europeus e capaz de atuar em alguns deles, o ganês construiu uma sólida carreira, mas viu sua longevidade ser minada pelas lesões. E, também, por uma má escolha. Michael foi referência em bom posicionamento, porém certamente esteve na hora errada e num lugar equivocado quando decidiu acertar com um Milan em derrocada.

Michael Kojo Essien
Nascimento: 3 de dezembro de 1982, em Acra, Gana
Posição: volante
Clubes: Bastia (2000-03), Lyon (2003-05), Chelsea (2005-12 e 2013-14), Real Madrid (2012-13), Milan (2014-15), Panathinaikos (2015-16), Persib (2017) e Sabail (2018-20)
Títulos: Supercopa da França (2003 e 2004), Ligue 1 (2004 e 2005), Premier League (2006 e 2010), Copa da Liga Inglesa (2007), Copa da Inglaterra (2007, 2009, 2010 e 2012) e Liga dos Campeões (2012)
Seleção ganesa: 59 jogos e 9 gols

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