Milan e Barcelona já protagonizaram jogaços pela Champions. Na foto, Desailly comemora gol do título do rossonero sobre os catalães em 1994. Hoje, tempos são outros (TheNational.ae)
Não é a primeira vez que Milan e Barcelona se enfrentam em competições europeias. Foram 15 confrontos, com 6 vitórias do Barça, quatro do Diavolo e outros cinco empates. Um duelo muito equilibrado, que já valeu até final da competição (foto). Naquela ocasião, os italianos atropelaram os catalães e aplicaram um sonoro 4 a 0. Desta vez, o favoritismo está do lado espanhol, assim como nos quatro jogos entre os clubes na última temporada.
Para a prévia deste confronto,
que terá seu jogo de ida nesta quarta, 20 de fevereiro, e o de volta no dia 12
de março, contaremos com a colaboração de Victor Mendes, do blog Quatro Tiempos,
especializado no futebol da Espanha. Para o Quattro Tratti, escreve Arthur Barcelos. Veja o que esperamos desta
partida das quartas de final e depois confira as análises dos jogos nos
dois endereços.
A temporada até aqui
Milan:
Depois de um início tenebroso, com seis derrotas, dois empates e apenas
quatro vitórias, gerando um aproveitamento de 33,3%, o time de
Massimiliano Allegri vem conseguindo se recuperar na Serie A. Nos
últimos 13 jogos pelo campeonato, o Diavolo teve um aproveitamento de
69,2%, com nove vitórias, três empates e apenas uma derrota, marcando 26
gols e sofrendo outros 15. Atualmente, o clube de Milanello é o quarto
colocado, com 44 pontos em 25 jogos, empatado com a Lazio, a última
equipe na zona de classificação para a próxima Champions League. Pela
Coppa Italia, o Milan parou nas quartas de finais, contra a Juventus,
após ter batido sem dificuldades a Reggina nas oitavas. Já na fase de
grupos da Champions, os comandados de Allegri fizeram campanha
irregular, surpreendidos pela ótima campanha do Málaga, conseguindo uma
vaga no mata-mata apenas na penúltima rodada.
Barcelona:
Líder isolado e virtual campeão da Liga Espanhola, nem tudo foi mil
maravilhas para o Barcelona no início da temporada. Sem Josep Guardiola,
que em abril, logo após a eliminação para o Chelsea, havia anunciado
que não renovaria seu contrato para 2012-13, a equipe demorou a
engrenar. Em campo, Tito Vilanova não mexeu na filosofia de jogo de Pep,
dando continuidade ao estilo do ex-treinador. No entanto, o jogo
encantandor dos últimos quatro anos não fluía. Especialmente na Uefa
Champions League, o Barcelona não convencia. O estopim foram dois jogos
muito abaixo da média contra o Celtic, que resultaram em uma derrota por
2 a 1 e uma vitória pelo mesmo placar com o gol da vitória aos 47 minutos
do segundo tempo, através de Jordi Alba. A perda da Supercopa para o
Real Madrid, que dominou o jogo amplamente, foi
moralmente absorvida pela campanha louvável em âmbito doméstico:
enquanto os merengues iniciaram a temporada pecando na busca pela
manuntenção do título, os blaugranas, por sua vez, firmaram o melhor
início de um time em toda história do campeonato, vindo a perder sua
invencibilidade apenas na primeira rodada do returno (derrota para a
Real Sociedad por 3 a 2 no País Basco). Pela Copa do Rei, o Barça
conseguiu boa vantagem ao empatar contra o Real Madrid no Bernabéu por
1 a 1.
Pontos fortes
Milan:
A sequência de bons resultados deve dar um gás a mais para a equipe
milanesa, mas são poucos os pontos fortes do atual Milan. Allegri tem no
jovem El Shaarawy sua principal arma ofensiva, o artilheiro do time na
Serie A e na Champions League, com 15 e 2 gols, respectivamente,
contribuindo também com 4 assistências na temporada. Outros destacáveis
dos rossoneri são Montolivo, Constant e De Sciglio. O primeiro vem
rendendo bem na função de regista, correspondendo as expectativas,
enquanto o segundo, por sua vez, talvez seja a grande surpresa na
temporada, indo bem na lateral esquerda. Mesmo lhe faltando técnica,
compensa com entrega e bom posicionamento. Já o último é a grande
revelação do Diavolo, fazendo valer toda a expectativa criada após seu
ótimo desempenho na base rossonera, desbancando o antes titularíssimo
Abate e conquistando, inclusive, uma lembrança de Prandelli na seleção italiana.
Barcelona: Messi e Iniesta vivem estados de graça. O primeiro,
eleito pela quarta vez consecutiva o melhor jogador do mundo pela Fifa e
France Football no início de janeiro, caminha para registrar sua melhor
temporada nos números, após assombrosos 72 gols na temporada passada –
91 no ano. São 48 gols em 36 jogos, uma média de 1.33 por partida.
Iniesta, por sua vez, é o motor do time. Adaptado ao setor esquerdo do
ataque, em uma tentativa de encaixar Fàbregas no meio-campo, o espanhol,
segundo muitos especialistas, faz a melhor temporada de sua carreira.
Impulsionado pelo título e o troféu de MVP da Eurocopa, o camisa 8 é
fundamental para o esquema do treinador, fazendo ótima parceria com
Jordi Alba pelo lado esquerdo. Fàbregas é outro grande nome do Barça na
temporada. Após um início fulminante, ele caiu de rendimento nos últimos
jogos, mas nada de tão impressionante. Por outro lado, quem cresceu
consideravelmente na temporada foi Xavi. O camisa 6 começou de maneira
tímida, não tão dominante no meio-campo, mas desde dezembro tem feito
partidas com selo Xavi.
Pontos fracos
Milan:
Apesar do bom momento dos últimos quatro meses, o time de Allegri não
apresenta bom futebol, que, certamente, não enche os olhos dos
rossoneri. Suas vitórias geralmente vêm de placares apertados e/ou
decididos no final dos 90 minutos, tendo muitas dificuldades contra
equipes que jogam mais fechados e que usam contra-ataque e bola longa. O
Milan tem a segunda maior média de posse de bola, 57,9%, atrás apenas
da Juventus, contudo apresenta problemas. Quando com a posse, pouco consegue
aproveitá-la para abrir espaços na defesa adversária, fazer
infiltrações, chutar ao gol e, claro, converter suas chances, mesmo
tendo o quarto melhor ataque da Serie A – 34% de gols do menino El
Shaarawy, sobrecarregado no ataque. Balotelli, contratado no mercado de
inverno, conseguiu amenizar um pouco a situação, marcando quatro gols em
três jogos, porém não poderá jogar pelo Diavolo na Champions League,
por já ter atuado pelo Manchester City. Não bastasse isso, a defesa
segue falha, especialmente os zagueiros. Os veteranos Mexès, Yepes e
Bonera não conseguem substituir a altura Nesta e Thiago Silva, e ainda
apresentam certa irregularidade, enquanto Zapata não consegue repetir as
atuações dos tempos de Udinese, também apresentando irregularidade.
Barcelona:
Desde a Era Guardiola a zaga não inspirava confiança. Com Tito Vilanova
tem exagerado. Os erros são múltiplos e cruciais. A recomposição é
feita com muita lentidão, o que gera muitas bolas nas costas, sobretudo
pelo lado de Daniel Alves, lateral que ataca com mais frequência que
Alba, o lateral esquerdo. O catalão, talvez, seja o grande destaque
desse sistema defensivo. Inteligente taticamente, ele comete poucos
erros e ajuda substancialmente o ataque. Com Puyol apto, a melhoria é
considerável, porém não garante 100% de confiança. Piqué, após bom
início de temporada, voltou a falhar em janeiro, mas ganhou moral após
anular Cristiano Ronaldo no superclássico de três semanas atrás. Outro
ponto fraco conhecido desse time do Barça é a dificuldades de encarar
retrancas. A eliminação para o Chelsea ratificou essa deficiência. Contra
o próprio Milan, pelas quartas-de-finais da LC 2011-12, os azulgrenás
passaram por dificuldades no San Siro, quando os rossoneros retraíram as
linhas e diminuiram os espaços de Messi e Xavi.
Expectativas
Milan:
Bom momento, futebol burocrático… as expectativas do Milan contra o
líder espanhol e soberano Barcelona não são das melhores. Contra o
eficiente time de Tito Vilanova, Allegri já não conta mais com
Ibrahimovic e Thiago Silva, além da disposição tática da equipe das
últimas duas temporadas, fatores que seriam fundamentais contra o clube
catalão, que também vem apresentando problemas na defesa. Problemas
esses que poderiam ser explorados pelo trio Niang-Balotelli-El Shaarawy,
que não poderá se repetir nos dois confrontos pela ausência do camisa
45. Além de tudo isso, o retrospecto da equipe de Milanello contra o
Barcelona também pesa contra: nos últimos seis jogos, foram três
vitórias dos culés, sendo duas em pleno San Siro, e três empates. Os
comandados de Allegri terão de se superar caso ainda sonhem com o avanço
para as quartas, mas pelo visto as atenções do time de Berlusconi estão
todas voltadas para a Serie A, na briga por uma vaga na próxima
Champions.
Barcelona:
O Barcelona recuperou o bom futebol dos últimos tempos, após um fraco
início quanto ao desempenho em campo, e chega ao confronto com muita
confiança e com o peso do favoritismo ao seu lado. 12 pontos à frente do
vice-líder Atlético de Madrid, os azulgrenás podem se concentrar com
mais atenção à competição europeia. O treinador Tito Vilanova não estará
presente nos confrontos devido a uma ida a Nova York para o início da
quimioterapia para curar um câncer. O auxiliar Jordi Roura, nos últimos
três jogos, tem feito alguns turnovers no time titular especialmente
para evitar algumas lesões, principalmente de jogadores “frágeis”
fisicamente, casos de Iniesta, Fàbregas, Daniel Alves, Puyol e Xavi. Em
quatro confrontos contra o Milan na temporada passada, o Barcelona
venceu dois, enquanto os outros dois terminaram empatados. Por tudo que
as equipes vem apresentando na atual temporada, é fácil imaginar os
catalães avançando de fase com certa facilidade. Mas uma camisa como a
do Milan merece respeito, como frisou Roura na coletiva pós-jogo contra o
Granada, no sábado.
" os italianos atropelaram os italianos " ?!