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O xerife Rahman Rezaei foi o único representante expressivo do Irã no futebol italiano

O intercâmbio entre Itália e Ásia não é dos maiores quando o assunto é futebol. Até hoje, apenas 18 jogadores do maior e mais populoso continente do mundo jogaram a Serie A. Um número baixíssimo, que constitui o menor das cinco principais ligas da Europa e é quase um acinte, se comparado aos 70 asiáticos que já disputaram a Bundesliga, por exemplo.

Os dois clubes italianos que mais contrataram asiáticos foram o Perugia (cinco) e o Messina (três). Não à toa, ambos receberam de braços abertos o iraniano Rahman Rezaei, que passou sete anos no futebol do Belpaese. O zagueiro não foi um jogador brilhante, mas conseguiu desenvolver uma carreira respeitável em clubes pequenos da Itália.

No final dos anos 1990 e início dos anos 2000, o Perugia se destacou por uma política de contratações alternativa. Com olheiros e contatos espalhados por mercados pouco explorados do futebol à época (alguns deles, até hoje), o presidente Luciano Gaucci contratou Hidetoshi Nakata, em 1998, e logo obteve sucesso. O japonês abriu as portas da Itália para outros asiáticos e Rezaei foi um dos beneficiados pela explosão do meia.

Rezaei chegou ao Perugia ao lado do compatriota Ali Samereh, em 2001. O porte físico robusto e a força eram atributos muito caros ao zagueirão, que já tinha 26 anos e algumas partidas pela seleção do Irã. Estas características chamaram a atenção e eram muito importantes para a disputa do campeonato de seu país, no qual se destacava, embora sem levantar títulos. Com a camisa do Zob Ahan, os melhores resultados do xerife foram um terceiro lugar na liga e um vice-campeonato da copa nacional.

O iraniano foi escalado como titular por Serse Cosmi no primeiro ano e chegou a marcar dois gols, mostrando boa presença de área e auxiliando a equipe umbra a ficar na 8ª posição da Serie A. Na mesma temporada, viveu um momento desafortunado pela seleção de seu país: na repescagem para a Copa do Mundo de 2002, contra a Irlanda, cometeu um pênalti bobo e errou ao afastar um cruzamento, colaborando com os dois gols dos adversários no jogo de ida. O Irã acabou não se classificando.

Rezaei ajudou o Messina a disputar a Serie A depois de um período de quase quarenta anos (AFP/Getty)

Em seu segundo ano com a camisa dos grifoni, Rezaei acabou perdendo a posição para Sean Sogliano, mas fez parte do grupo que alcançou o 9º lugar no Italiano e as semifinais da Coppa Italia. Com a falta de espaço, o iraniano foi vendido no final da temporada ao Messina, que disputava a Serie B. Foi exatamente na Sicília que o defensor viveu sua melhor fase na Itália.

Titularíssimo da equipe peloritana desde a sua chegada, o iraniano contribuiu para que o time tivesse a quarta melhor defesa da competição e, com o quarto lugar, voltasse à elite após 39 anos de ausência. Seria apenas a terceira participação dos biancoscudati na primeira divisão em toda a história. Após o ano positivo em Messina, Rezaei disputou a Copa da Ásia pela seleção do Irã e ajudou os persas a ficarem com a terceira posição no torneio continental.

No retorno à Itália e à Serie A, Rezaei foi ainda mais importante para o Messina e se transformou em peça fundamental para a execução do maior feito da história dos biancoscudati. Depois de tanto tempo ausente dos maiores palcos do futebol da Velha Bota, o time siciliano voltou inaugurando o estádio San Filippo, lutou por vaga na Copa Uefa até a última rodada e conquistou a sétima colocação do campeonato, em 2004-05 – a posição valia uma vaga na finada Copa Intertoto, mas o Messina não atendia a pré-requisitos da Uefa e ficou de fora. Apesar de ter sofrido algumas derrotas duras para Inter, Milan e Lecce, a equipe giallorossa também venceu a dupla de Milão e obteve triunfos contra Roma e Lazio.

Durante aquela campanha, Rezaei foi o jogador que mais atuou, com 36 jogos. O iraniano atuou como pilar do 3-5-2 de Bortolo Mutti, e formou a linha defensiva ao lado de Marco Zanchi e Salvatore Aronica. Jogando assim, viveu a melhor temporada de sua carreira, ao mesmo tempo em que alcançava a maturidade como jogador, entre 29 e 30 anos. Ídolo da torcida peloritana, acabou ganhando os apelidos de “Tapete Voador” e “Secretário de Defesa”.

Pelo Livorno, o iraniano disputou a Copa Uefa (AFP/Getty)

O segundo ano do Messina na Serie A foi muito mais complicado do que o primeiro. Depois de bater na trave e quase disputar um torneio continental, o clube começou a enfrentar problemas fiscais e financeiros. As dificuldades nos bastidores afetaram o futebol dos biancoscudati e nem mesmo a solidez habitual de Rezaei e companhia deu jeito: o técnico Mutti foi substituído por Giampiero Ventura no final do campeonato, mas o time acabaria rebaixado. No final das contas, foi salvo (e repescado para a elite) porque a Juventus teve todos os seus pontos retirados no Calciopoli – o famoso escândalo de manipulação de resultados.

Em 2006, Rezaei disputou a Copa do Mundo com sua seleção, mas o Irã não conseguiu passar da primeira fase – foi eliminado juntamente a Angola, num grupo que tinha também México e Portugal. Após retornar à Itália, o iraniano nem ficou na Sicília: devido à crise do Messina, o iraniano foi contratado como reforço do Livorno. Os labronici disputariam a Copa Uefa também em virtude do Calciopoli, já que ganharam três posições por conta de punições a adversários.

Já experiente, Rezaei atuou poucas vezes pelos amaranto na primeira temporada, mas contribuiu com uma campanha digna na Serie A e na Copa Uefa. No ano seguinte, jogou menos ainda: só 217 minutos pelo Italiano, distribuídos em apenas cinco partidas. Com o rebaixamento do Livorno, o iraniano optou por deixar o Belpaese, aos 33 anos.

Rezaei ainda teve mais quatro anos como profissional no futebol da Ásia. Passou pelo Al Ahli, do Qatar, e no Irã, atuou por Persepolis (principal clube do país), Shahin Bushehr e Paykan até se aposentar, no início de 2012. Pouco após pendurar as chuteiras, o ex-zagueiro foi treinador dos times reservas de Paykan, Rah Ahan e Tractor Sazi, no qual estreou como auxiliar. Atualmente, Rezaei comanda o Bargh Jadid, na segunda divisão iraniana.

Rahman Rezaei
Nascimento: 20 de fevereiro de 1975, em Nur, Irã
Posição: zagueiro
Clubes como jogador: Bargh Tehran (1995), Rah Ahan (1996), Zob Ahan (1996-2001), Perugia (2001-03), Messina (2003-06), Livorno (2006-08), Persepolis (2008-09), Al Ahli SC (2009-10), Shahin Bushehr (2010), Paykan (2010-12)
Carreira como treinador: Bargh Jadid (2018)
Seleção iraniana: 56 jogos e 3 gols

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