Angelo Peruzzi fez história no futebol italiano entre os anos 90 e 2000, principalmente com as camisas de Juventus e Lazio. Por não ser muito alto (1,81m), o goleiro se destacava pelo ótima leitura de jogo, pela concentração e pela frieza. Estas características fizeram com que ele fosse muito forte nos confrontos um contra um. O grande problema, que persistiu durante toda sua trajetória futebolística, foi o peso. E, por ser meio gordinho, ele recebeu o apelido de “Cinghialone”– o grande javali.
No início da vida, ainda em Viterbo, Peruzzi seguia os passos do pai e era apaixonado pela pesca. Por isso, o uso das mãos sempre esteve presente na vida do futuro jogador. Logo depois, ele começou a jogar futebol, sempre atuando sob às traves. Neste período foi descoberto por olheiros romanistas e, aos 13 anos, começou a treinar em Trigoria, na capital italiana, que fica a 90 quilômetros da cidade natal. Apesar da resistência dos pais, os longos períodos fora de casa foram autorizados pelos familiares.
Na Roma, conheceu o treinador de goleiros, Roberto Negrisolo, que, além de ajuda-lo a evoluir em campo, convenceu o laziale Peruzzi a se tornar torcedor dos giallorossi. No site Ilportiere.com, o primeiro treinador específico do “Cinghialone”, Roberto Negrisolo afirmou: “Perruzzi é sem dúvida o goleiro mais completo que treinei. Eu trabalhei com muitos e assisti tantos outros, mas ainda não há nenhum como Angelo. Suas qualidades são surpreendentes e sua força física era extraordinária”.
Em 1987, aos 17 anos, estreou em uma fria, um jogo contra o Milan, que seria campeão da Serie A naquele ano, fora de casa. A estreia do jovem só se deu pois o titular Franco Tancredi foi atingido por dois rojões atirados pela torcida rossonera e teve que ser levado ao hospital – posteriormente, nenhum problema sério foi constatado. A estreia acabou com um gol sofrido e vitória rossonera por 1 a 0, porém, pelo comportamento dos torcedores milanistas, o resultado foi revertido para 2 a 0 para a Roma.
Mesmo jogando pouco, Peruzzi acabou recebendo convocações para as seleções de base italianas. Porém, a Roma decidiu que não deveria manter um goleiro deste nível no banco. Por isso, em 1989, foi emprestado ao Verona. Ele foi titular e teve bom desempenho na temporada em que culminou com o rebaixamento gialloblù à Serie B. Na teoria a volta à capital seria como titular, porém, um exame apontou o uso de uma substância ilegal para reduzir o apetite, o que resultou em uma suspensão de um ano por doping – naquela temporada, foram apenas três jogos pela equipe romana. A experiência negativa é apontada pelo goleiro como fundamental para ter alcançado o sucesso no restante da trajetória futebolística.
Por 4,5 bilhões de liras, foi concretizada a venda à Juventus e, portanto, após o ano suspenso, Peruzzi voltaria a jogar vestindo bianconero. A missão do ainda jovem goleiro seria dura: substituir o antigo camisa um, Stefano Tacconi, multi-campeão e com nível de seleção. Porém, mesmo com pouca idade, o novo protetor da baliza da Vecchia Signora mostrou maturidade e se impôs. O primeiro título veio em 1992-93, a Copa Uefa frente ao Borussia Dortmund. Nos dois jogos da final, só foi vazado por Rummenigge (irmão mais novo do Rummenigge da Inter) e, por isso, a Juventus ficou com taça, por 6 a 1 no placar agregado. O título europeu teve Roberto Baggio como protagonista e Trapattoni no comando.
À época a Juventus contava com um esquadrão, que ainda melhoria ao longo dos anos 90. Mas foi, a partir de 1994-95, que o time passou a ter ainda mais destaque. A chegada de Marcello Lippi foi fundamental para isso e, em campo, a contratação de Zidane um ano depois também fez a diferença. Peruzzi teve a honra de ser titular da equipe e dava segurança sob às traves. Foi na Juventus também que ele ganhou do companheiro Di Livio o apelido de “javali”, que o acompanhou por toda a carreira.
No ano de estreia de Lippi, Peruzzi liderou a terceira melhor defesa da Serie A e colaborou para a conquista do scudetto, que teve como destaques os atacantes Ravanelli e Vialli. A Juventus também venceu a Coppa Italia 1994-95 e Peruzzi não foi vazado nos dois jogos decisivos frente ao Parma.
O grande título veio em 1996, quando a Europa foi conquistada. Del Piero e Ravanelli lideraram a Juventus que venceu a Liga dos Campeões. Mas, na final contra o Ajax dos irmãos De Boer, de Davids e Litmanen, a estrela de Peruzzi apareceu. O empate em 1 a 1 no tempo normal e na prorrogação levou a partida para os pênaltis. Na disputa, o arqueiro fechou o gol e, enquanto seus companheiros acertavam as quatro cobranças, ele defendia os chutes de Davids e de Silooy. No final, 4 a 2 para Vecchia Signora e o segundo título da LC da história bianconera.
A partir de 1997, Peruzzi passou a vencer prêmios individuais também. Ganhou o título de melhor jogador da Serie A, dado pela revista Guerin Sportivo; foi o goleiro europeu do ano, eleito por um conjunto de publicações esportivas, e também foi o camisa um do time do Campeonato Italiano – as duas últimas conquistas foram repetidas na temporada seguinte. Entre 1997 e 1998, o goleiro ganhou com a Juventus três títulos, mas teve decepções muito grandes: as duas derrotas consecutivas em finais da Liga dos Campeões.
Com prêmios individuais e conquistas coletivas, o goleiro passou a ser nome certo na seleção italiana. Na Eurocopa de 1996, Peruzzi foi o titular de Arrigo Sacchi, mas a Squadra Azzurra decepcionou e caiu na primeira fase. O goleiro nunca deu sorte na Nazionale e, em 1998, iria à Copa como titular, porém, uma lesão o tirou do Mundial, deixando a vaga no gol para Pagliuca. Dois anos depois, ele se machucou novamente às vésperas de uma competição importante e, desta vez, perdeu a Euro 2000, que teve Toldo como titular. No Mundial de 2002, Peruzzi recusou a convocação, de forma polêmica, dizendo: “os mascotes da Copa já foram escolhidos”. O goleiro ainda fez parte do grupo na Euro 2004 e no título da Copa do Mundo de 2006, como terceiro goleiro.
A trajetória bianconera terminou em 1999, quando o técnico Marcello Lippi foi para a Inter e o goleiro decidiu seguir o treinador. Peruzzi jogou 38 vezes pela Beneamata, porém, a aventura nerazzurra terminou em uma temporada junto com a saída de Lippi. Aos 30 anos, Peruzzi iria jogar no clube que era apaixonado na infância, a Lazio. Para realizar esta transferência, os aquilotti desembolsaram 17,9 milhões de euros, à época, a maior transferência paga por um goleiro – atualmente é quarta mais alta.
Nessa fase da carreira, o peso passou a refletir ainda mais no trabalho em campo e as lesões apareciam. Mesmo sabendo que precisava emagrecer, o goleiro não conseguia deixar este problema para trás. Na Lazio, Peruzzi chegou vencendo um título, a Supercopa Italiana contra o ex-clube, a Inter. Na partida, vitória laziale por 4 a 3, com dois gols de Claudio López, um de Stankovic e outro de Mihajlovic – os dois últimos curiosamente jogariam na Inter depois. Pelos nerazzurri marcaram três jogadores que nunca explodiram na Itália: Vampeta, Farinós e Robbie Keane.
Apesar dos problemas que o peso lhe causava, Peruzzi atuou por sete anos pelos biancocelesti e disputou mais de duzentas partidas pelo clube. Porém não esteve presente na vitória sobre a Juventus, que valeu a Coppa Italia 2003-04, competição na qual o camisa um biancoceleste era reserva de Matteo Sereni. O final da carreira, mesmo sendo especulado há muito tempo, foi anunciado de surpresa. Em 2006-07, após um dérbi de Roma finalizado em 0 a 0, o goleiro afirmou que estava jogando com uma infiltração em um dedo fraturado e que não faria isso pelos últimos quatros jogos da temporada. Porém, diretoria e o técnico Delio Rossi removeram a ideia da cabeça de Peruzzi, que concluiu o campeonato jogando.
Por isso, a despedida do futebol, na última rodada da Serie A 2006-07, contra o Parma, teve ares de festa. Peruzzi veio do banco para jogar os últimos minutos do jogo e ser aplaudido pelo Olímpico de Roma lotado. Ao final da temporada, o goleiro ganhou o “Oscar del Calcio” como o melhor em sua posição no Campeonato Italiano, deixando Frey (Fiorentina) e Julio Cesar (Inter) para trás – Buffon estava na Serie B com a Juventus. Um reconhecimento importante para Peruzzi, que, aos 37 anos, conseguiu liderar a melhor defesa da Serie A, com apenas 33 gols sofridos.
Angelo Peruzzi pendurou as luvas com 13 títulos, em 21 anos de carreira, e, atualmente, é o 17° jogador com mais partidas disputadas na Serie A. O ex-goleiro não demorou muito para engatar outra ocupação, e entre 2008-10, foi um dos auxiliares do seu ex-comandante, Marcello Lippi, na seleção italiana. Depois deste trabalho, Peruzzi reencontrou o ex-companheiro de defesa na Juventus, Ciro Ferrara. Primeiro foi auxiliar do napolitano na Nazionale sub-21 e, depois, voltou a trabalhar com ele, na Sampdoria, em 2012. Hoje a dupla de ex-jogadores bianconeri está desempregada.
Angelo Peruzzi
Nascimento: 16 de fevereiro de 1970, em Viterbo, Itália
Posição: goleiro
Clubes: Roma (1986-89 e 1990-91), Verona (1989-90), Juventus (1991-99), Internazionale (1999-00) e Lazio (2000-07)
Títulos: 3 Serie A (1994-95, 1996-97 e 1997-98), 2 Coppa Italia (1994-95 e 2003-04), 3 Supercoppa Italiana (1995, 1997 e 2000), Copa Uefa (1992-93), Liga Dos Campeões (1995-96), Supercopa da Uefa (1996), Copa Intercontinental (1996) e Copa do Mundo de 2006
Seleção italiana: 31 jogos