Meia de muita técnica e ótima finalização de média e longa distância, Dejan Stankovic venceu tudo que um jogador sonha em nível de clubes. Entrou na história do futebol mundial na ótima passagem pela Itália, onde defendeu Lazio e a Inter, camisa que mais vestiu na carreira. No início da trajetória era meia-atacante, mas, com o passar do tempo, se tornou meia central. Jogando mais atrás, o sérvio também se destacou pela raça. Muitos podem não vê-lo como um jogador importante, mas Stankovic está no hall da fama como um dos estrangeiros mais vencedores na história do futebol da Bota.
Nascido em Belgrado, em uma família muito ligada ao futebol, desde cedo Stankovic começou a praticar o esporte. Com sete anos, atuava pelo Teleoptki, o time do bairro. Foram os desempenhos no clube amador que chamaram a atenção de um treinador da base do Estrela Vermelha e, assim, aos 14 anos, fechou com o grande clube do país. Antes de se profissionalizar, Stankovic foi treinado por Vladimir Petrovic, que, no futuro, o treinaria na seleção, entre 2010 e 2011.
Profissionalmente, Stankovic começou no Estrela Vermelha, onde quebrou recordes de precocidade. Em 1994, aos 16 anos, debutou de forma mais precoce; um ano depois, foi mais novo a marcar e, por fim, em 1997, se tornou o capitão mais jovem da história dos vermelhos e brancos. Como jogador do Estrela Vermelha foi à Copa do Mundo de 1998 com a Iugoslávia e alternou entre a titularidade e o banco de reservas. A seleção foi eliminada nas oitavas de final, contra a Holanda, mas, nesta partida, Deki não participou. Porém, as exibições na equipe de Belgrado e a precoce presença em um Mundial atraíram a atenção de clubes localizados em centros maiores da Europa.
A Lazio venceu a concorrência e trouxe o meia para Roma, por cerca de 10 milhões de euros. À época, a equipe capitolina montava um grande elenco, que viria a ser um dos melhores times da história laziale. Apesar do plantel estrelado, Stankovic conquistou o próprio espaço e marcou nove gols na temporada – inclusive, anotou logo no debute, contra o Vicenza. O ano de estreia trouxe a primeira conquista internacional de Deki, a última edição da Recopa europeia. Porém, em 1998-99, também houve uma grande decepção: a perda do scudetto, na última rodada da Serie A para o Milan.
O grande ano daquela Lazio ocorreu em 1999-2000. Stankovic, apelidado de Drago, disputava posição em um meio-campo que tinha ótimas opções: Simeone, Almeyda, Nedved e Verón. Logo no início da temporada, a Supercopa Uefa foi conquistada, com o 1 a 0 sobre o Manchester United, que tinha Beckham, Roy Keane e Scholes no meio-campo. Depois veio a Coppa Italia, em uma campanha com apenas uma derrota. A final colocou a Inter pela frente e, o 2 a 1 no Olímpico e o 0 a 0 em Milão, deram o título para a Lazio.
Mas a conquista mais saborosa foi a da Serie A, pois veio como redenção ao vice-campeonato do ano anterior. A Juventus liderava até a última rodada, mas tropeçou frente ao Perugia e deu oportunidade à Lazio. Desta vez, os laziali não desperdiçaram a chance, venceram a Reggina por 3 a 0 e conquistaram o segundo scudetto da história biancoceleste, 26 anos depois do primeiro. Stankovic foi peça importante do elenco e mostrou a sina de vencedor, que o acompanhou em toda a trajetória futebolística. Para completar, veio a Supercopa Italiana logo no início da temporada seguinte, conquistada em um 4 a 3 contra a Inter, que contou com gol decisivo de Stankovic.
Após os muitos títulos, a Lazio entrou em crise financeira e muitos dos destaques deixaram Roma. A principal interessada no futebol do sérvio, a Fiorentina, também teve problemas financeiros e não pôde levá-lo para Florença e, por isso, ele seguiu na capital italiana.
Com menos investimentos e sem títulos, esta segunda fase em biancoceleste serviu para o Drago se tornar ainda mais ídolo do Estrela Vermelha. Primeiro, em uma competição europeia, marcou um gol contra o grande rival Partizan e declarou que jogava com a camisa vermelha e branca por baixo. Posteriormente, enfrentaria o time do coração na Europa, mas o técnico Roberto Mancini entendeu a dificuldade que Stankovic teria para jogar e o deixou fora da partida – o mesmo ocorreu com o companheiro Mihajlovic.
A crise aumentou e o Drago teve que partir durante a temporada 2003-04. A Juventus esteve muito perto de contratá-lo, mas o sérvio optou pela Inter, naquela que considera a decisão mais acertada da carreira. Afinal, se juntou aos nerazzurri em um dos períodos mais vencedores da história do clube.
Stankovic mostrou a que veio logo no primeiro semestre, pois anotou três vezes, sendo uma contra Juventus e outra contra o Milan – pela Inter, foram quatro gols contra os rossoneri, rival que sempre lhe trouxe sorte. Contra a Roma, o sérvio também sempre foi bem, honrando seu passado biancoceleste, e marcou três gols na carreira, além de ter colecionado grandes atuações.
Na Inter, Stankovic sempre foi importante, mesmo, muitas vezes, alternando entre os onze iniciais e a reserva. Em seus primeiros anos em Milão, contou com o aval de Roberto Mancini, que havia jogado com ele e também já havia sido seu treinador na Lazio. Com Mancio, Stankovic jogava como titular como trequartista e chegou até mesmo a deixar o veterano craque Luís Figo no banco.
Em 2006-07, disputou uma de suas principais temporadas pela Inter, marcou seis gols no campeonato (como este golaço contra o Chievo e este contra o Milan) e foi o líder de assistências da equipe que marcou 80 gols e conquistou a Serie A com apenas uma derrota, alcançando diversos recordes: 97 pontos, o maior número da história, além de 17 vitórias consecutivas, invencibilidade fora de casa (15 jogos, com 11 vitórias em sequência), e ainda o feito de conquistar o scudetto com cinco rodadas de antecedência, assim como o Torino em 1948-49 e a Fiorentina em 1955-56. Naquele ano, foi selecionado para a seleção da temporada da European Sports Magazine, uma das mais importantes do continente.
A chegada de Mourinho à equipe em 2008 colocou dúvidas sobre a permanência de Stankovic na Inter, uma vez que o português desejava trazer Lampard, um de seus pupilos, e também queria mudar o esquema de um 4-3-1-2 para um 4-3-3. Aproveitando os rumores que davam conta da saída do sérbio para a Juventus, o comediante Fiorello, torcedor da Inter e exímio imitador, passou um trote para o atleta, se passando pelo presidente da Inter, Massimo Moratti. Ele dizia que o jogador não fazia parte dos planos e acabaria afastado. Stankovic chorou compulsivamente, em uma atitude que o aproximou ainda mais dos torcedores da Inter, que o tinham como ídolo.
Fato é que Deki ficou e continuou sendo peça importante no esquema de Mourinho. Volta e meia, o jogador aparecia com um golaço, como os que marcou frente ao Genoa e contra o Schalke, ambos em arremates improváveis, de primeira e do meio-campo, ou Porém, o Drago foi um líder em campo e, por isso, tão importante na recente fase vencedora nerazzurra – tinha jeito de campeão, trouxe mentalidade vencedora junto com ele. Aproveitando o momento da Inter, Stankovic multiplicou os títulos conquistados na Lazio e ainda venceu taças inéditas na carreira.
Ao todo, foram 15 troféus, em nove anos de Internazionale. Mas a temporada 2009-10 foi a mais especial entre todas, e começou em altíssimo nível, com esse golaço que encerrou um 4 a 0 contra o Milan, na segunda rodada da Serie A. No ano foram cinco títulos, dois deles inéditos. O mais importante, sem dúvida, a Liga dos Campeões.
Stankovic foi fundamental na trajetória campeã, principalmente, pelos dois gols marcados na claudicante primeira fase interista. Os tentos contra Rubin Kazan e Dynamo Kyiv, em jogos complicadíssimos, garantiram dois pontos que colaboraram na classificação. Na decisão, vencida por 2 a 0, contra o Bayern, o sérvio foi um dos reservas utilizados por José Mourinho. Na outra conquista inédita, o Mundial de Clubes, Stankovic foi titular e marcou no primeiro jogo, contra o Seongnam. Na final, frente ao Mazembe, o sérvio veio do banco de reserva para participar do título, que teve Eto’o como protagonista.
Enquanto foi interista, além de multiplicar as conquistas, o Drago se concretizou como o jogador que mais defendeu a seleção do país natal, com 103 participações. Stankovic participou de três Copas do Mundo e com um fato curioso, cada vez que jogou a máxima competição entre seleções, jogou por um “país” diferente. Além do Mundial de estreia, em que o país ainda era chamado de Iugoslávia, o camisa 5 nerazzurro esteve nas Copas de 2006 e 2010. Na primeira ocasião, a seleção era a de Sérvia e Montenegro e, por fim, no Mundial sul-africano, o time nacional foi a Sérvia.
Pelas águias, Deki não se deu bem e, nas duas últimas copas, vestiu a dez e viu a seleção cair na primeira fase, sempre em último lugar dos respectivos grupos. Por isso, muitas vezes, Stankovic recebeu críticas no país natal, por não repetir pela equipe nacional o que fazia pelos clubes. Reclamações injustas, pois, no período em que esteve na seleção, o jogador nunca teve companheiros do nível em que tinha nos times que defendeu. Mesmo assim, Stankovic foi eleito o jogador sérvio do ano em 2006 e 2010 e ainda foi sondado para dirigir a federação de futebol do país após a aposentadoria.
Nos dois últimos anos da carreira, Stankovic pouco jogou, por causa de uma grave e recorrente lesão no tendão de Aquiles, que o fez entrar em campo apenas três vezes entre 2012 e 2013. No ano passado, chegou a hora de dizer adeus à Inter, em fim de contrato, e antes de finalmente parar de jogar, o Drago foi especulado na Fiorentina, na MLS e no Estrela Vermelha. Porém, preferiu encerrar a carreira.
Desta forma, Stankovic encerrou a carreira como um dos estrangeiros mais vencedores do futebol italiano – em sua passagem, conquistou incríveis 25 títulos, sendo o maior campeão de Supercopas, com seis conquistas, e um dos estrangeiros com mais campeonatos nacionais, com seis Serie A, assim como Walter Samuel (cinco pela Inter e um pela Roma) e o inglês James Spensley, que venceu seis scudetti pelo Genoa na época do futebol amador italiano, entre 1898 e 1904.
Na despedida da Inter e do futebol, o sérvio, que vestiu a camisa nerazzurra em 326 oportunidades, foi ovacionado pelos torcedores que compareceram ao estádio Giuseppe Meazza e chorou muito. O ex-jogador ainda declarou amor à equipe e ao esporte. “Este é um dia emocionante para mim. Eu dei tudo por esta camisa e me tornei parte da história da Inter. Este não é só meu adeus aos nerazzurri, mas sim ao futebol”.
Stankovic descansou por um ano e, depois, assumiu o cargo de auxiliar de Andrea Stramaccioni na Udinese. Em seguida, retornou à Inter para fazer a ponte entre os jogadores e a diretoria durante uma temporada. Também foi consultor de Aleksander Ceferin, presidente da Uefa.
No fim de 2019, Stankovic chegou a fazer parte do estafe das divisões de base da Inter, mas logo partiu em carreira como treinador – e iniciou trajetória importante. No Estrela Vermelha, clube em que foi formado, emendou um tricampeonato sérvio e ainda faturou duas copas nacionais. Deki, contudo, não chegou à fase de grupos da Champions League e se demitiu. Em seguida, o ex-meia chegou a fazer um trabalho decente na Sampdoria, que tinha muitos problemas financeiros e acabou rebaixada apesar dos seus esforços. Isso não parou o dragão, que retomou suas vitórias no Ferencváros, campeão húngaro sob sua batuta, e rumou ao Spartak Moscou meses depois de mais uma conquista.
Veja todos os gols marcados por Stankovic na Serie A italiana nos dois links a seguir. A parte 1, que corresponde aos gols marcados pela Lazio, e a parte 2, correspondente aos gols feitos por ele em seus tempos de Inter.
Dejan Stankovic
Nascimento: 11 de setembro de 1978, em Belgrado, antiga Iugoslávia (atualmente Sérvia)
Posição: meio-campista
Clubes como jogador: Estrela Vermelha (1992-98), Lazio (1998-2004) e Inter (2004-13)
Títulos como jogador: Campeonato Iugoslavo (1995), Copa da Iugoslávia (1995, 1996 e 1997), Supercopa Italiana (1998, 2000, 2005, 2006, 2008 e 2010), Recopa Uefa (1999), Supercopa Uefa (1999), Serie A (2000, 2006, 2007, 2008, 2009 e 2010), Coppa Italia (2000, 2005, 2006, 2010 e 2011), Liga dos Campeões (2010) e Mundial de Clubes (2010)
Clubes como treinador: Estrela Vermelha (2019-22), Sampdoria (2022-23), Ferencváros (2023-24) e Spartak Moscou (2024-25)
Títulos como treinador: Campeonato Sérvio (2020, 2021 e 2022), Copa da Sérvia (2021 e 2022) e Campeonato Húngaro (2024)
Seleção iugoslava: 39 jogos e 9 gols
Seleção sérvio-montenegrina: 22 jogos e 4 gols
Seleção sérvia: 42 jogos e 3 gols
Total por seleções: 103 jogos e 15 gols
Ele foi um mega jogador
Este merece o selo de craque imortal.
Grande jogador! técnico e de jogo limpo!