Serie A

Velha cara, novos desafios

O Mancio está de volta à Inter após seis anos (Inter.it)

Walter Mazzarri caiu. Depois de semanas de muita pressão e um mês antes do Natal, o treinador livornês vai ficar sem comer o panetone. O técnico foi demitido pela primeira vez em uma sólida carreira de quase 20 anos, que acabou estremecida em Milão. De forma até inesperada, a diretoria interista agiu rápido depois do último tropeço, teve resposta positiva de Roberto Mancini e tudo foi resolvido na última sexta-feira.

Depois de um quinto lugar suado, com muita inconsistência durante a temporada, mas com vaga na Liga Europa garantida, o “projeto” deveria ir para o próximo passo: a Liga dos Campeões. Porém, depois de quatro meses, a realidade é bem diferente: a Inter está na nona colocação, exatamente a mesma de quando Mazzarri substituiu Andrea Stramaccioni. A Beneamata tem apenas 16 pontos, quatro vitórias e aproveitamento de 48%, além de poucos 17 gols marcados e tantos 14 sofridos.

Com esse retrospecto, Mazzarri sai de Appiano Gentile com a pior porcentagem de vitórias nos últimos dez anos, sem considerar os três jogos de Gian Piero Gasperini em sua curtíssima pasagem. Em 49 jogos, o toscano conseguiu apenas 19 vitórias, com 19 empates, 11 derrotas e aproveitamento de 51%, com pouco mais de 38% de vitórias. A efeito de comparação, Stramaccioni teve 47 jogos na Serie A, com 21 vitórias, 8 empates e 18 derrotas, 50% de aproveitamento e 44% de vitórias.

Quem assume? Nada mais nada menos que Roberto Mancini, o terceiro treinador com mais partidas na história da Inter (226), o quarto com mais vitórias (140), terceiro com maior porcentagem de vitórias com mais de duas temporadas (62%) e primeiro com a menor de derrotas com mais de duas temporadas (11%). Mancini terá um grande legado para dar sequência.

Mas por legado, há exatamente um ano de presidência, Erick Thohir talvez tenha tomado a decisão mais significante desde que substituiu Massimo Moratti. Depois de tanto tempo deixando Marco Fassone e Piero Ausilio tomarem conta do futebol e confiar nas suas ideias, dando a extensão do contrato de Mazzarri e o apoiando nos últimos meses, o indonésio entendeu que o momento precisava de algo mais duro.

Essa decisão também afeta diretamente na política financeira do clube, que está sendo investigado pela Uefa de acordo com as regras do Fair Play Financeiro e tem um elaborado projeto de recuperação financeira do rombo deixado pela última gerência. Por alto, o clube de Milão gastará 35 milhões de euros com Mancini e Mazzarri, apenas com salários. De acordo com a Gazzetta dello Sport, Roberto receberá 2,7 milhões de euros líquidos até o final desta temporada, e após isto, terá salário de 4 milhões de euros líquidos por temporada e contrato até junho de 2017, o maior da Serie A. Walter, por outro lado, com contrato até junho de 2016, tem salário de 3,5 milhões de euros líquidos por temporada – também era o mais bem pago do país.

Com tamanha gastança, é imprescindível a Liga dos Campeões se tornar algo palpável para os nerazzurri. É exatamente isso que a diretoria busca em Mancini. Um nome de confiança, mesmo com os problemas que ele vive e viveu: seu insucesso na Europa na primeira passagem por Milãp, a falta de tempo para construir um grupo, ainda que possa aproveitar muito do que Mazzarri fez – e, sim, por esse lado ele fez algo, especialmente com os alas, Kovacic, Icardi, Juan Jesus e Ranocchia – e a situação financeira que não permite grandes gastos, algo que Mancini não estava acostumado com Moratti e em seus tempos de Manchester City e Galatasaray.

Assim, em termo curto, Mancini terá que encontrar um equilíbrio para o grupo, trabalhar com Ausilio e Thohir alguns reforços para o time e, claro, conquistar os resultados. O próprio treinador fez questão de dizer isso na primeira coletiva: “temos de começar a ganhar, agora. Precisamos de seriedade e profissionalismo no nosso trabalho”.

Entre outras coisas, alguns trechos da sua coletiva: “O que me convenceu a aceitar? O projeto me convenceu. A Inter é um grande clube, sou feliz por ter aceitado. Eu espero que nós possamos fazer o que fizemos há dez anos. Eu não sei se existem semelhanças, eu não conheço todos os jogadores. Há, certamente, a qualidade como antes. Você tem que ter um pouco de sorte e errar o menos possível. Como jogará esta Inter? Eu tenho que começar a treinar, vamos ver. Eu tenho as minhas ideias, vou conversar com os jogadores para ver o que eles pensam. Sobre o mercado de janeiro, preciso conhecer a equipe bem, é difícil dizer agora. O fato de a equipe ser jovem é um estímulo, certamente, porque podemos crescer, ter entusiasmo e criar uma equipe jovem e forte. Quero jogar um bom futebol”.

Sua comissão técnica provavelmente terá Daniele Adani como vice-treinador, Fausto Salsano, assistente, Giulio Nuciari, treinador de goleiros, Ivan Carminati, preparador físico e José Duquè, gerente de equipe, além das saídas dos parceiros de Mazzarri e também de Beppe Baresi, depois de três décadas de Inter. A bandeira nerazzurra poderá assumir outro cargo na diretoria.

Como esperado, os jornais logo começaram a especular possíveis escalações, jogadores que serão favorecidos ou desfavorecidos com a mudança, contratações e entre outras coisas. A princípio, pelo menos até o verão, Mancini terá que trabalhar basicamente com o que tem hoje, e suas ideias relativamente se encaixam com o que tem no momento. Bons meias, volantes, laterais versáteis e bom número de zagueiros, por exemplo.

Em seu primeiro treino, Mancio procurou trabalhar a defesa com quatro homens e um 4-3-1-2, com Palacio como trequartista e Osvaldo e Icardi no ataque. Sem Kovacic, Medel, Ranocchia e Handanovic, além de outros com as suas seleções, não dá pra afirmar que esse será o sistema base, mas é o preferido de Mancio e encaixa com o que tem. Outras possibilidades são o 4-4-2 em linha, o 4-2-3-1, que precisaria de reforços, e até mesmo o 3-5-2, que já utilizou nos últimos dois clubes, ainda que como alternativa. 

De qualquer forma, este sem dúvidas será o trabalho mais desafiador de Mancini, que já começará contra Milan e Roma. A torcida nerazzurra, certamente, acompanhará com atenção os primeiros passos do já conhecido treinador e deverá apoiá-lo no estádio, afinal, Mazzarri já havia se tornado inimigo público.

Além disso, Mancini é sinônimo de boas lembranças, e nem mesmo algumas críticas relacionadas ao futebol pragmático e à falta de resultados mais expressivos em nível continental devem ser questões agora. Afinal, são momentos diferentes, equipes diferentes. O objetivo, porém, é o mesmo: fazer a Inter voltar a vencer. E, com o novo treinador, isto parece mais possível de acontecer. A princípio, os nerazzurri parecem sair ganhando. Cabe a Mancini demonstrar até o final da temporada que os enormes gastos com a troca serão válidos.

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