O futebol italiano se notabilizou ao longo da história por esquemas defensivos e, por isso, a presença de jogadores velozes e habilidosos era importantíssima: atacantes com tais características eram a válvula de escape dos treinadores para puxar contra-ataques e quebrar as linhas adversárias. Graças a esse estilo de jogo, o uruguaio Rubén Sosa foi um dos atletas que fizeram sucesso na Itália no final dos anos 1980 e início dos 1990.
Nascido na periferia de Montevidéu, o baixinho Sosa começou cedo no futebol e foi rapidamente notado nas categorias de base. Como tantos jogadores sul-americanos, El Principito se destacava pela explosão e grande controle de bola na perna canhota, sem falar em sua agilidade, facilidade nos dribles e grande poder de finalização – tinha um chute muito potente. Dessa forma, estreou no Danubio quando ainda tinha 15 anos, graças ao técnico Sergio Markarián, e foi convocado pela primeira vez para a seleção uruguaia em 1984, quando tinha acabado de completar 18 anos.
Rubén Sosa rapidamente se estabeleceu como um dos maiores talentos do Uruguai na década de 1980 e começou a colecionar apelidos: Sosita, El Principito, Peter Pan, Poeta do Gol… O sucesso estrondoso levou o atacante para a Espanha, contratado pelo Zaragoza, em 1985. A princípio, muita gente olhou para ele com desconfiança, já que ele tinha apenas 1,75m e parecia estar alguns quilos acima do peso (era massa muscular), mas o atarracado atacante mudou a opinião dos desavisados depois de poucos meses em Aragón.
Sosita ficou três anos no Zaragoza e fez parte de um dos melhores times da história dos blanquillos. Logo em seu primeiro ano na Espanha, o jogador de 19 anos foi um dos destaques da campanha que colocou os maños na quarta posição de La Liga – três pontos abaixo do Barcelona, vice-campeão – e que deu o título da Copa do Rei, conquistada exatamente sobre os catalães. O gol solitário da decisão foi marcado exatamente por El Principito.
Nos dois anos que se seguiram, o Zaragoza ainda foi sexto colocado no Campeonato Espanhol e caiu nas semifinais da Recopa Uefa 1986-87, derrotado pelo campeão, Ajax. Em 1987-88 os blanquillos não fizeram uma temporada tão interessante, mas Sosita estabeleceu uma marca expressiva do ponto de vista pessoal: anotou 18 gols em La Liga e foi o vice-artilheiro da competição. Com estes números e já titular da seleção uruguaia (com a qual faturou a Copa América em 1987), o atacante se transferiu para o mais forte torneio da época, a Serie A, ao assinar contrato com a Lazio.
Apesar do cartaz, El Principito chegava a uma equipe que acabava de retornar à primeira divisão depois de uma década conturbada e que dificilmente brigaria por algo além de uma posição intermediária na tabela. Foi exatamente o que acabou acontecendo nos quatro anos em que Sosa jogou em Roma, entre 1988 e 1992: a melhor participação laziale na Serie A foi uma 9ª colocação, em 1989-90.
Apesar do temperamento forte, o uruguaio se deu bem com Paolo Di Canio – pelo menos dentro de campo –, com o qual formou uma dupla de ataque temível nos dois anos em que jogaram juntos. Naqueles anos, Sosa era titular absoluto da seleção uruguaia, com a qual marcou quatro gols na Copa América de 1989, em que amargou o vice-campeonato perante o Brasil. O Poeta do Gol ainda foi convocado por Óscar Tabárez para a Copa do Mundo de 1990, disputada na Itália, e participou de todos os jogos da campanha charrua no torneio.
De volta à Lazio após cair nas oitavas do Mundial, Sosita perdeu a companhia de Di Canio, mas ganhou a companhia de um campeão mundial: Karl-Heinz Riedle, com quem editou nova parceria. Ao todo, Peter Pan fez 140 jogos e 47 gols com a camisa biancoceleste – ótimos números para um atacante que tinha como principal função servir como suporte ao comandante do setor.
O destaque individual levou Sosa a uma equipe com maiores ambições na Serie A: a Inter, que buscava voltar a conquistar títulos após a Serie A de 1989 e a Copa Uefa de 1991. Já em sua primeira temporada na Lombardia, El Principito foi o grande nome da campanha do vice-campeonato italiano e se sagrou como artilheiro da equipe, com 20 gols, ofuscando Salvatore Schillaci, que tinha muitos problemas físicos. Esta foi, inclusive, a temporada em que o uruguaio marcou mais gols na carreira.
No ano seguinte, a campanha na Serie A não foi boa (a Inter escapou do rebaixamento por apenas um ponto, nas rodadas finais), mas Sosa novamente foi o artilheiro da equipe na competição, com 16 gols marcados. Entre todos os tentos que ajudaram a Beneamata a se manterem na elite, destaca-se uma tripletta anotada contra o Parma: o uruguaio virou a partida com duas bombas de fora da área. A temporada 1993-94 ainda guardou para o atacante o único título conquistado na Itália: a Copa Uefa. Sosita contribuiu para a taça com o passe para o holandês Wim Jonk marcar o gol decisivo da final, contra o Casino Salzburg – atual Red Bull Salzburg.
Em 1994-95 a Inter não foi bem na Serie A e na Copa Uefa, mas Sosa outra vez foi o principal artilheiro da equipe, com oito gols no Campeonato Italiano – 11, considerando todas as competições. Embora se esforçasse para ter destaque em campo, o uruguaio protagonizou várias discussões com Dennis Bergkamp, durante treinamentos e em jogos – o holandês, vale lembrar, teve passagem pouco célebre por Milão. O clima ruim e a chegada de Massimo Moratti à presidência acabou gerando uma reformulação no elenco e ocasionou a saída dos dois jogadores.
Aos 29 anos, Sosa ainda tinha lenha para queimar. Depois de representar o Uruguai na Copa América de 1995 e conquistar outro título com a Celeste, o atacante acertou com o poderoso Borussia Dortmund, que dominava o futebol alemão naquela época. El Principito fez parte do elenco que conquistou a Bundesliga, em 1996, mas jogou pouco e se transferiu para o pequeno Logroñés, da Espanha. Meses depois ele preferiu deixar a equipe de La Rioja para realizar um sonho: atuar pelo Nacional de Montevidéu, time que sempre amou.
Sosita atuou pela equipe do coração entre 1997 e 2001, ajudando-a a ser tricampeã uruguaia neste período. O atacante deixou o Bolso em 2002 para atuar na China, mas retornou no ano seguinte, permanecendo na equipe até 2004. Após se aposentar, em 2006, com a camisa do pequeno Racing de Montevidéu, Sosa mais uma vez voltou ao Nacional, dessa vez para trabalhar como auxiliar técnico.
Hoje em dia, El Principito continua colaborando com o Nacional e também é responsável por escolinhas de futebol em Montevidéu. Um dos melhores jogadores formados no Uruguai nas últimas décadas, Sosa chegou a ser o maior artilheiro charrua na Serie A, com 84 gols marcados por Lazio e Inter. O baixinho foi superado por Edinson Cavani, mas mantém intocado seu lugar de destaque na história do Campeonato Italiano.
Rubén Sosa Arzaiz
Nascimento: 25 de abril de 1966, em Montevidéu, Uruguai
Posição: atacante
Clubes: Danubio (1982-85), Zaragoza (1985-88), Lazio (1988-92), Inter (1992-95), Borussia Dortmund (1995-96), Logroñés (1996-97), Nacional de Montevidéu (1997-2001 e 2003-04), Shangai Shenhua (2002) e Racing de Montevidéu (2006)
Títulos: Liguilla Pré-Libertadores da América (1983), Copa América (1987 e 1995), Copa do Rei (1986), Copa Uefa (1994), Bundesliga (1996) e Campeonato Uruguaio (1998, 2000 e 2001)
Seleção uruguaia: 46 jogos e 19 gols