36 anos depois do histórico 4 a 3 no estádio Azteca, considerado “o jogo do século”, Alemanha e Itália voltavam a se encontrar em uma semifinal de Copa do Mundo. Por si só, seria um confronto de muita rivalidade, mas ainda mais apimentado pelo contexto: além de, claro, ser uma semifinal da maior competição de futebol de seleções, a partida acontecia na Alemanha e no gigante Westfalenstadion (rebatizado Signal Iduna Park), considerado a fortaleza dos anfitriões. Os visitantes, por outro lado, tinham a chance de vingar um empate por 0 a 0 que significou a eliminação na Euro 1996 e, em meio à crise estabelecida pelo Calciopoli, superar o momento mais turbulento do seu futebol.
Para a semifinal, Marcello Lippi foi pragmático, como sempre, e manteve o 4-4-2 e a mesma formação da vitória sobre a Ucrânia – com exceção de Materazzi, que voltou ao time titular após cumprir suspensão e entrou no lugar de Barzagli. Jürgen Klinsmann espelhou o esquema tático italiano, mas surpreendeu ao colocar Frings e Schweinsteiger no banco, preferindo os mais altos e físicos Kehl e Borowski. Klinsi deixou clara sua intenção na partida: superar pela força e nas jogadas aéreas uma Itália de baixinhos, mas que ainda tinha as torres simbolizadas por Materazzi, Grosso e Toni.
Quando a bola rolou, os talentos técnicos não tiveram tanto espaço em meio à tanta força física. Um jogo muito truncado e de poucas oportunidades de gol, que teve a dupla de ataque alemã Klose e Podolski completamente anulada, enquanto Toni e Totti não se encontraram entre as duas rígidas linhas alemãs. Ballack esteve apático com a bola e Pirlo assumiu o controle do setor, mas também sem muita criatividade para buscar Toni na área adversária ou os desmarques dos pontas e laterais.
A semifinal acabou indo para a prorrogação, depois de 90 minutos cansativos, especialmente para os anfitriões, que cinco dias antes jogaram 120 minutos contra a Argentina nas quartas de final – por sua vez, os azzurri jogaram 30 minutos a menos contra a Ucrânia no mesmo dia. Com mais fôlego, os italianos cresceram na prorrogação. No primeiro tempo, Gilardino (substituto de um apagado Toni) e Zambrotta pararam na trave após grandes jogadas, enquanto Podolski acertou o único chute perigoso alemão, defendido com segurança por Buffon.
No segundo tempo, Pirlo reinou e Del Piero finalmente entrou no jogo – havia substituído Perrotta no fim da primeira etapa suplementar. Nesse momento, a Itália tinha quatro atacantes: Iaquinta na ponta direita, Totti e Gilardino por dentro e o craque juventino na esquerda, sustentados pela garra de Gattuso, a classe e liderança de Pirlo, regista do Milan, e o insuperável quinteto defensivo.
Em jogada de Iaquinta, Pirlo recebeu livre na entrada da área e obrigou Lehmann a defender, mas a bola foi para a linha de fundo. Então, Del Piero cobrou o escanteio: a bola voltou a sobrar para Pirlo, que dessa vez achou Grosso livre pela direita para acertar um chute fantástico, pegando de primeira com a canhota e mirando o contrapé do goleiro alemão, que não teve chances de defesa. Aos 119 minutos, finalmente o tão buscado gol italiano.
Mas a partida não estava acabada, restava um minuto. A Alemanha colocou todos seus grandalhões na área, mas foi justamente o baixinho Cannavaro que dominou a área. Pulou alto como nunca para vencer o gigante Mertesacker, de quase 2 metros, e voltou a dividir com Podolski, armando um contra-ataque fulminante. Na sobra, Totti deu continuidade à jogada, com ampla vantagem italiana, e lançou Gilardino. O promissor atacante agora tinha a chance de vingar a bola na trave, mas viu muito bem Del Piero voando pela esquerda e tocou de calcanhar para o camisa 7 acertar outra finalização espetacular, para derrubar de vez Lehmann e a Alemanha. Um gol com a assinatura do craque.
Euforia total, em campo e fora dele: 12 anos depois, a Itália estava de volta à final da Copa do Mundo. Andiamo a Berlino, Beppe!
Alemanha 0-2 Itália
Alemanha: Lehmann; Friedrich, Metzelder, Mertesacker, Lahm; Schneider (Odonkor), Ballack, Kehl, Borowski (Schweinsteiger); Klose (Neuville), Podolski. Técnico: Jürgen Klinsmann.
Itália: Buffon; Zambrotta, Cannavaro, Materazzi, Grosso; Camoranesi (Iaquinta), Pirlo, Gattuso, Perrotta (Del Piero); Totti; Toni (Gilardino). Técnico: Marcelo Lippi.
Gols: Grosso (119) e Del Piero (120 + 1)
Melhor em campo Fifa: Pirlo
Cartões amarelos: Borowski e Metzelder; Camoranesi
Árbitro: Benito Archundia (México)
Local: Signal Iduna Park, Dortmund (Alemanha), em 4 de julho de 2006