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Massimo Bonini, maior jogador de San Marino, brilhou na Juventus

Houve um tempo em que associar as expressões “San Marino” e “futebol” em uma mesma frase não necessariamente significava que o autor da sentença iria se referir a uma goleada imposta por uma seleção mais forte. Nessa época, nos anos 1980 e início dos 1990, falar sobre a prática do esporte na pequena república encravada no centro da Itália era o mesmo que citar o meia central Massimo Bonini, até hoje o maior jogador nascido no país. Com a camisa da Juventus, ele é o único atleta samarinês que conquistou uma competição internacional.

Bonini começou sua carreira no Juvenes, um dos times da república samarinesa. A estreia como profissional, no entanto, só aconteceu em 1977: o meio-campista defensivo atravessou a fronteira para ir morar na Emília-Romanha e atuar no Bellaria Igea Marina, cuja sede ficava em cidade localizada a apenas 40 km de sua terra natal. Bonini começou a fazer seu nome no futebol exatamente naquela região da Itália, na qual atuou na Serie D pelo Bellaria e, um ano depois, a terceirona pelo Forlì. Em 1979, o meia acertou com o maior clube romanholo, o Cesena, e começou a ganhar projeção no cenário italiano.

Em Cesena, o volante foi lapidado pelo técnico Osvaldo Bagnoli, que aprimorou suas características técnicas e seu posicionamento em campo. O samarinês já demonstrava preparo físico invejável, mas passou a colocar-se melhor no gramado após as instruções do treinador, o que o fez roubar mais bolas e acionar mais vezes os contra-ataques dos bianconeri. Apesar de ter menos de 20 anos quando assinou com o Cesena, Bonini foi um dos destaques nas duas campanhas dos cavalos marinhos na segundona, sendo vital para a 4ª colocação em 1979-80 e para o acesso à elite, em 1980-81. Uma das revelações da Serie B, o jogador chegou a ser convocado para a seleção sub-21 da Itália (San Marino não era filiado à Fifa naquela época) e foi contratado pela Juventus.

O salto na carreira de Bonini havia sido incrível. Em menos de cinco anos o volante loiro havia deixado um pequeno clube de um país de população minúscula (atualmente, San Marino tem somente 32 mil habitantes) e já era um feito ter passado pelas séries D, C e B. Acertar com a maior campeã do Belpaese era um sonho para o jovem, que completaria 22 anos em outubro de 1981. A estreia na Juve de Giovanni Trapattoni aconteceu exatamente um mês antes de seu aniversário, durante um massacre: ele entrou em campo no 6 a 1 contra o Cesena, seu ex-clube, na 1ª rodada da Serie A 1981-82.

Bonini chegou à Juventus ainda garoto e se consolidou numa equipe histórica (BT Sports Photography/Getty)

Aquele campeonato foi marcante para Bonini e para a Juventus. Trapattoni logo deu espaço ao jovem, que atuava em um meio-campo de força e qualidade técnica, com nomes como Giuseppe Furino, Marco Tardelli e Liam Brady. O setor, inclusive, foi um dos pontos mais positivos naquela campanha e acabou sendo um dos principais motivos pelos quais a Velha Senhora chegou a seu vigésimo scudetto – título ainda mais comemorado pois deu aos bianconeri o direito de estampar a segunda estrela dourada no peito.

No entanto, foi apenas em 1982-83 que Bonini ganhou de vez uma vaga no time titular juventino, tomando o lugar do então capitão Furino. O seu desempenho atlético e a enorme quantidade de gás nos pulmões renderam ao samarinês o apelido de Maratoneta e o rótulo de stakanovista – na Itália, o termo, que se refere a um movimento comunista da antiga União Soviética, é usado para designar jogadores que trabalham como operários incansáveis dentro da equipe. Em 1983, Bonini ainda recebeu o Troféu Bravo, dado pela revista Guerin Sportivo ao melhor jogador sub-23 da Europa.

Durante os anos 1980, o Maratoneta se tornou uma peça fundamental da Juve trapattoniana, sobretudo depois da chegada de Michel Platini. Uma história verídica até hoje é contada como anedota na Itália: Gianni Agnelli, manda-chuva juventino, adentrou os vestiários da equipe durante o intervalo de uma partida e se deparou com o craque francês fumando. Assustado, o patron perguntou a Platini como um atleta de seu nível poderia acender um cigarro no curso de uma partida. O meia-atacante deu um longo trago em sua bagana e emendou: “Chefe, o importante é que Bonini não fume, porque ele é quem deve correr”, disse, dando um tapinha nas costas do volante. De fato, Bonini exercia o papel de pulmão daquela equipe.

Incansável, o volante samarinês foi pilar da Juventus treinada por Trapattoni (BT Sports Photography/Getty)

Bonini foi titular da Juventus até o final da década e ainda conquistou mais dois scudetti, uma Coppa Italia, uma Recopa Uefa, uma Supercopa continental, uma Copa dos Campeões e um Mundial Interclubes – único natural de San Marino a ter um título mundial em qualquer esporte, ao lado do piloto de MotoGP Manuel Poggiali. O volante loiro só deixou o clube em 1988, quando Trapattoni já havia encerrado seu ciclo e havia a necessidade de renovação do elenco. Depois de 296 partidas com a camisa bianconera, o meio-campista de 29 anos se transferiu para o Bologna, que retornava para a Serie A.

Em sua volta à Emília-Romanha, o Maratoneta ganhou rapidamente o carinho da torcida. Titular absoluto da equipe treinada por Luigi Maifredi, Bonini foi o grande destaque da campanha que viu o Bologna chegar na 8ª posição na Serie A, em 1989-90, e ficar com uma vaga na Copa Uefa. O volante samarinês, que ostentava a faixa de capitão, ajudou os rossoblù a alcançarem as quartas de final no torneio continental, mas o Bologna acabou rebaixado para a segundona naquela ocasião.

A queda abriu caminho para anos duros em Bolonha, já que havia forte crise nas finanças dos felsinei. Mesmo com problemas salariais e cenário de terra arrasada, Bonini topou continuar no clube do estádio Renato Dall’Ara para a disputa da Serie B. O problema é que o samarinês era um oásis no meio de um elenco muito fraco: os emilianos nunca brigaram para retornar à elite e acabaram sendo rebaixados para a terceira divisão, em 1993. Foi aí que o loiro acabou decidindo deixar o time rossoblù, depois de 112 jogos e cinco gols anotados.

Vestindo bianconero, Bonini conquistou diversos títulos, incluindo o europeu e o mundial (Getty)

Já na fase final da carreira, Bonini voltou para seu país, onde jogou pelo Juvenes e pelo San Marino – time formado pelos melhores da república e que atua nas divisões inferiores do futebol italiano. O meio-campista, que não queria abrir mão da nacionalidade samarinesa e, por isso, sempre recusou convocações da seleção italiana, ainda teve o prazer de atuar pelo selecionado de sua terra natal. Em 1990, San Marino se filiou à Uefa e o Maratoneta pode realizar o sonho de defender La Serenissima em 19 jogos, de 1990 a 1995.

O voluntarioso Bonini se aposentou do futebol profissional exatamente em 1995, com quase 36 anos. Meses depois de pendurar as chuteiras, o jogador tentou transmitir seus conhecimentos para os conterrâneos: entre 1996 e 1998 ele foi treinador da seleção de San Marino, em um período em que a equipe do Monte Titano só marcou um gol, diante da Áustria, e teve como melhor resultado uma derrota por 1 a 0 contra Chipre. Após a experiência, Bonini ainda foi colaborador do setor juvenil do Cesena entre 1998 e 2000.

Em 2004, o volante recebeu outra homenagem para a eternidade. A Uefa completava 50 anos de existência e pediu a cada entidade filiada para eleger o melhor jogador de sua história: a federação samarinesa escolheu Bonini como o Golden Player de San Marino. Nada mais justo para o homem que ficou conhecido por ser “os pulmões de Platini”.

Massimo Bonini
Nascimento: 13 de outubro de 1959, em San Marino, San Marino
Posição: meio-campista
Clubes como jogador: Bellaria Igea Marina (1977-78), Forlì (1978-79), Cesena (1979-81), Juventus (1981-88), Bologna (1988-93), Juvenes (1994 e 1995-97) e San Marino (95)
Títulos: Serie A (1982, 1984 e 1986), Copa dos Campeões (1985), Mundial Interclubes (1985), Recopa Uefa (1984), Supercopa Uefa (1984) e Coppa Italia (1983)
Carreira como treinador: San Marino (1996-98)
Seleção samarinesa: 19 jogos e nenhum goL

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