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A passagem melancólica de Wladyslaw Zmuda pela Itália

Nos anos 1970, uma força atravessou a Cortina de Ferro e impressionou o mundo ocidental: era a seleção da Polônia de futebol, que conseguiu ser terceira colocada na Copa do Mundo de 1974. Nos dois mundiais seguintes os poloneses voltaram a impressionar e, em 1982, subiram no pódio outra vez. Nas três conquistas esteve presente o forte zagueiro Władysław Żmuda, que na parte final da sua carreira também atuou na Itália.

Żmuda teve uma ascensão meteórica. Aos 16 anos, ele estreou pelo Motor Lublin, de sua cidade, e dois anos depois se transferiu para Varsóvia, capital do país, para defender o Gwardia. Neste clube o zagueiro disputou a Copa Uefa, começou a se destacar e foi convocado para a seleção, fazendo parte do elenco que foi bem sucedido na Copa da Alemanha Ocidental. Ao lado de Grzegorz Lato e Kazimierz Deyna, o defensor de 20 anos foi uma das grandes figuras das Águias Brancas e vestiu a camisa de titular em todas as partidas da competição.

Fosse nos tempos atuais, Żmuda teria se transferido para uma equipe de um grande centro do futebol europeu já naquele momento. No entanto, um embargo comercial impedia que jogadores do bloco socialista, alinhado à União Soviética, assinassem com equipes do “mundo ocidental” antes de completarem 30 anos. Dessa forma, o craque ainda atuou por Slask Wroclaw e Widzew Lodz, do seu país, e impressionou em jogos contra gigantes na Copa Uefa – os duelos contra Feyenoord, Liverpool e Borussia Mönchengladbach marcaram a década. Em Lodz, Żmuda também fez grande parceria com Zbigniew Boniek e foi bicampeão polonês.

O polonês passou rapidamente pelo Verona, onde foi colega do brasileiro Dirceu (Guerin Sportivo)

Żmuda ainda brilhou com a seleção da Polônia nos Jogos Olímpicos de 1976, quando o time do Leste Europeu conquistou a prata, e participou das Copas de 1978 e 1982. Na Espanha, capitaneou os poloneses e dividiu a liderança técnica com Lato, Boniek e Włodzimierz Smolarek. Só após o sucesso no torneio é que o zagueiro, já com 28 anos – e com o afrouxamento nas regras de transferências – foi atuar no exterior. Enquanto Boniek fechou com a gigante Juventus, seu destino foi o Verona: foram os primeiros polacos a jogarem na Serie A.

Se Boniek virou estrela da Juve e da Roma, Żmuda teve um caminho bem mais tortuoso. Em um país capitalista e com uma cultura e um idioma bem diferentes, o zagueiro teve muitos problemas de adaptação, que só pioraram depois de uma lesão no joelho, sofrida no primeiro amistoso que ele disputou pelo Hellas. A cirurgia deu errado, o tempo de recuperação aumentou e, para piorar, logo que Żmuda ia retornar à ação, feriu a cabeça em um batente localizado nos vestiários do clube.

Em duas temporadas em Verona, o polonês atuou em apenas sete partidas (duas em 1982-83 e cinco em 1983-84), tendo frequentado o banco quase sempre em que esteve disponível e sido praticamente irrelevante para os dois vice-campeonatos dos butei na Coppa Italia. Żmuda também deixou de comer o filé mignon em Verona e trocou de clube na janela anterior à temporada que culminou no scudetto dos mastini.

O grande defensor representou a Cremonese durante três temporadas (Guerin Sportivo)

Em 1984, Żmuda teve curtíssima passagem pelo New York Cosmos e depois voltou para Itália, anunciado como um dos principais reforços da Cremonese. A equipe grigiorssa voltava à Serie A treinada por Emiliano Mondonico e Żmuda aparecia como grande nome do time, ao lado do atacante brasileiro Juary. O polonês bem que tentou, mas não evitou a queda dos lombardos para a segunda divisão: o zagueiro só esteve em campo 12 vezes na temporada (até marcou um gol, seu único em solo italiano) e viu sua equipe terminar a competição com a lanterna e a pior defesa do torneio.

Os dois anos seguintes, últimos de sua carreira, foram melancólicos: apesar de ter atuado em 28 partidas em 1985-86, Żmuda não conseguiu ajudar a Cremonese à voltar para a elite do futebol italiano. Depois da disputa da Serie B, o defensor também fez pouco com a Polônia na Copa de 1986 (a quarta que disputou) e, na volta para a Itália, resolveu se aposentar depois de apenas três jogos com o time de Cremona, já em 1986-87.

Do ponto de vista individual, o craque polonês alcançou marcas importantes com a participação na Copa do Mundo de 1986: com 21 partidas em Mundiais, ele é frequenta a lista dos 10 jogadores que mais entraram em campo na história do maior torneio de seleções do mundo. As 91 convocações pela Polônia ainda fizeram de Żmuda um dos 10 atletas que mais vestiram a camisa branca e vermelha – acabaria perdendo o posto somente em 2023.

Zmuda permaneceu em Cremona para disputar a Serie B (Ivano Frittoli)

Apesar do fracasso esportivo na Itália, Żmuda acabou obtendo a cidadania italiana e diz ter tomado gosto pelo Belpaese. Após a aposentadoria, o zagueiro foi colaborador das seleções de base polonesas e ajudou a formar grande parte dos jogadores que hoje colocam a Polônia como uma das melhores equipes nacionais da Europa. Um de seus pupilos e, de certa forma, seu herdeiro é Kamil Glik, ex-capitão do Torino e beque de passagens por Palermo e Bari.

Władysław Antoni Żmuda
Nascimento: 6 de junho de 1954, em Lublin, Polônia
Posição: zagueiro
Clubes como jogador: Motor Lublin (1970-72), Gwardia Varsóvia (1972-74), Slask Wroclaw (1974-80), Widzew Lodz (1980-82), Verona (1982-84), New York Cosmos (1984) e Cremonese (1984-87)
Títulos: Prata Olímpica (1976) e Campeonato Polonês (1981 e 1982)
Seleção polonesa: 91 jogos e 2 gols

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