O futebol da Itália e o da Argentina têm uma ligação centenária. Nosso vizinho é o país que mais exportou jogadores para a Bota em toda a história – quase 400 – e alguns dos principais atletas portenhos atuaram na Serie A. No entanto, nem todos tiveram a regularidade necessária para brilhar no campeonato. Ariel Ortega teve seus bons momentos, mas foi um dos que seguiram esta sina.
O Burrito nasceu em Ledesma, na distante província de Jujuy, próxima às fronteiras da Argentina com Chile e Bolívia. No entanto, descoberto pelo River Plate, foi na capital do país que Ortega iniciou: alçado ao time principal dos millionarios em 1991, por Daniel Passarella, o enganche nunca mais perdeu a posição no meio-campo da equipe e foi tricampeão do Apertura.
Graças a isto, El Burrito passou a ser notado pelas seleções argentinas – a principal e a de base. Estreou pela albiceleste em 1993, foi convocado por Alfio Basile para a Copa do Mundo de 1994 e substituiu Diego Maradona, suspenso por doping. Ele se consolidou na seleção com a chegada de Passarella ao comando e, em 1995, venceu os Jogos Pan-Americanos e foi vice da Copa das Confederações. No ano seguinte, faturou a prata olímpica e conquistou suas maiores glórias também em nível de clubes.
De volta ao River, já sob o comando de Ramón Díaz, Ortega fez parte de uma equipe histórica dos millionarios, ainda em 1996. Formando um quarteto fantástico com Marcelo Gallardo, Enzo Francescoli e Hernán Crespo, o habilidoso meio-campista ajudou La Banda a faturar mais um título argentino e também uma Copa Libertadores, batendo o América de Cali na final. Após o vice-campeonato mundial diante da Juventus, no mesmo ano, El Burrito foi atuar no futebol europeu: assinou com o Valencia.
Na Espanha, Ortega teve dificuldades de se firmar no time titular, muito por causa de uma relação ruim com o técnico Claudio Ranieri: o romano não confiava no jogador por causa de seu comportamento extracampo. Após um ano e meio sem ter sido muito utilizado – foram 29 jogos, com nove gols marcados – o meia-atacante ainda recebeu a camisa 10 na campanha da Argentina na Copa de 1998, mas não pode evitar a eliminação nas quartas de final contra a Holanda. Logo após o mundial da França, El Burrito se transferiu para a Itália, país em que vestiria a camisa da Sampdoria.
Ortega chegou a Gênova para substituir o compatriota Juan Sebastián Verón, que fez grande temporada em 1997-98 e foi vendido ao Parma. Apesar de ter sido contratado como herdeiro de La Brujita, o enganche de Jujuy foi utilizado pelo técnico Luciano Spalletti como parceiro de ataque de Vincenzo Montella e rendeu bastante na função.
El Burrito anotou oito gols ao longo do campeonato, incluindo um golaço por cobertura contra a Inter e outra pérola, em cobrança de falta contra a Juventus. Além disso, o camisa 10 foi responsável por muitas assistências para Montella. Embora a dupla tenha mostrado entrosamento, a Samp não vivia um momento muito bom e foi rebaixada por apenas dois pontos.
O argentino não permaneceu para disputar a Serie B: se transferiu para o Parma, outra vez ocupando a lacuna deixada pela saída de Verón. O meia-atacante, no entanto, não teve nem de longe o mesmo protagonismo no clube emiliano, não aproveitou o entrosamento com Crespo e só jogou 18 partidas com a camisa gialloblù, nas quais anotou três gols. Ofuscado por Mario Stanic, Johan Walem e Marco Di Vaio, o Burrito optou por retornar à Argentina ao final da temporada. Para qual time? O River Plate, é claro.
De volta a seu time do coração, Ortega editou uma nova versão do quarteto fantástico millionario, ao lado de Pablo Aimar, Javier Saviola e Juan Pablo Ángel e conquistou mais títulos pela equipe do estádio Monumental. Ainda em alta, El Burrito foi convocado para a Copa de 2002, mas caiu junto com a albiceleste na primeira fase.
A partir de então, Ortega rodou por uma série de clubes. Logo após o Mundial, ele foi negociado com o Fenerbahçe, mas não se adaptou à Turquia: em fevereiro de 2003 ele não se reapresentou após uma data Fifa e quis quebrar o contrato com a equipe azul e amarela. Processado pelo clube de Istambul, ele foi punido pela entidade máxima do futebol e só voltou aos gramados em meados de 2004, quando assinou pelo Newell’s Old Boys, dirigido por Américo Gallego, uma de suas referências no esporte.
Em dois anos com a camisa leprosa, Ortega teve certo destaque e venceu um torneio Apertura. Em nova boa fase, o enganche foi contratado outra vez pelo River Plate, mas alguns meses depois de estrear, precisou ser internado para desintoxicar-se: sofrendo de alcoolismo, teve uma recaída e viu o problema afetar seu rendimento, como outras vezes na carreira. Foi internado em janeiro de 2007 e, em março, o técnico Passarella o reintegrou ao elenco.
O meia-atacante ainda ficou em La Banda até 2008, ano em que venceu um torneio Clausura, e chegou a ser capitão do time durante a gestão de Diego Simeone. Por causa de seus problemas pessoais e comportamento antiprofissional, El Burrito foi emprestado ao Independiente Rivadavia em 2008, mas logo no ano seguinte retornou para sua última passagem por um dos maiores times do país.
Ortega ficou mais dois anos no River Plate, porém, seu declínio físico ficou notório e a irregularidade dava o tom: alternava golaços e boas atuações com partidas abaixo da média. Ainda assim, ganhou sua última convocação para a seleção argentina em 2010, para um amistoso contra o Haiti.
Na reta final da carreira, El Burrito Ortega atuou por equipes pequenas, como All Boys e Defensores de Belgrano – time da terceira divisão, seu último como profissional. O enganche poderia ter pendurado as chuteiras em alta, mas rejeitou uma oferta de Matías Almeyda, seu ex-companheiro de River, e não quis integrar a comissão técnica dos millionarios na temporada 2011-12. Como tantos craques, preferiu continuar jogando, mesmo em campeonatos de baixa qualidade e sem ter a mesma forma física de outrora. Nada apaga, porém, sua qualidade e a boa marca: em 704 partidas, anotou 147 gols profissionalmente.