Brasileiros no calcio

Geovani, a joia vascaína que foi um relâmpago no Bologna

O futebol italiano é conhecido pela longevidade que alguns jogadores desenvolveram em seus clubes. No entanto, nem todos os atletas que demonstraram algum brilho individual na Serie A foram homens de um clube só ou se tornaram bandeiras das cores que defenderam. O brasileiro Geovani, ídolo do Vasco, só atuou um ano na Itália e, mesmo irregular, foi querido pela torcida do Bologna.

Nascido em Vitória, capital do Espírito Santo, Geovani foi um garoto prodígio: o meio-campista começou nas categorias de base da Desportiva e, logo aos 16 anos, estreou pelo clube capixaba. Não demorou para que ele seguisse os passos de tantos conterrâneos e fosse morar no estado vizinho, o Rio de Janeiro. O Vasco, atento aos talentos espírito-santenses, assegurou a contratação de Geovani em 1982, quando ele ainda tinha 18 anos.

Em São Januário, Geovani se tornou o Pequeno Príncipe. Em sete anos pelo cruz-maltino, o meia ganhou a torcida com a conquista de seis certames estaduais – três campeonatos cariocas, em 1982, 1987 e 1988 –, bom desempenho no Brasileirão e por causa de sua enorme habilidade e classe dentro de campo. Logo na conquista de sua primeira taça, ele deu um chapéu em Zico no jogo decisivo, algo que lhe deu moral e abriu as portas para que ele se tornasse o dono do meio-campo vascaíno dali para frente.

Em seu único ano em Bolonha, Geovani teve problemas de peso (Onze)

O ídolo do Gigante da Colina no Brasileirão também atuou pela seleção brasileira, com a qual disputou 23 jogos, com cinco gols marcados. No entanto, os melhores momentos do jogador vestindo verde e amarelo foi com as equipes de base: foi campeão mundial sub-20 e eleito o melhor da competição em 1983 e, como titular, conquistou a prata nos Jogos Olímpicos de Seul, em 1988. O reconhecimento em solo nacional e internacional fez com que ele contrariasse a história de uma das equipes mais antigas da Itália: o Bologna não tinha tradição de dar espaço para brasileiros em seu elenco, mas cedeu ao talento de Geovani.

A equipe do estádio Renato Dall’Ara apostava que o meia-atacante repetiria na Emília-Romanha os momentos que fizeram com que ele se tornasse um dos jogadores mais adorados pela torcida cruz-maltina. Geovani foi contratado pelo presidente Gino Corioni para dar classe a um time com alguns bons e veteranos jogadores, como Bruno Giordano, Antonio Cabrini e Massimo Bonini. Durante a única temporada em que jogou na Itália, o capixaba ajudou os felsinei a alcançarem a oitava posição na Serie A e a classificação à Copa Uefa. O Pequeno Príncipe até conseguiu repetir a boa forma dos tempos de Vasco, mas somente em alguns momentos.

Os lampejos de Geovani se devem, basicamente, às dificuldades que ele teve em manter o peso – lendas urbanas de Bolonha dão conta de que o jogador ficou viciado em tortellini, uma massa a base de ovos, típica da cidade. O brasileiro atuou em 27 jogos, mas foi escalado como titular em apenas 18 – dos quais, permaneceu até o fim em somente sete. Apesar disso, um dos grandes momentos do Pequeno Príncipe vestindo rossoblù foi o golaço que decidiu o Dérbi dos Apeninos, contra a Fiorentina.

No fim da participação bolonhesa na Serie A, Geovani acabou sendo negociado com o Karlsruher, da Alemanha, mas também atuou poucas vezes pelo clube azulino. Após dar uma mão e ajudar o KSC a não ser rebaixado, o Pequeno Príncipe foi repatriado pelo Vasco e voltou à Colina. Bicampeão estadual, o camisa 8 vascaíno ainda teve uma nova experiência no exterior entre 1993 e 1994, com a camisa do Tigres. Em 1995, o meia-atacante retornou a São Januário para, aos 31 anos, ter sua terceira e última passagem pelo clube: ao todo, o ídolo fez 408 jogos e marcou 49 gols com a camisa do Vasco.

Geovani esticou a carreira profissional até os 38 anos, mas sem se destacar – atuou por ABC-RN, XV de Jaú-SP e em seis equipes capixabas. Após encerrar as atividades como jogador, Geovani teve sua importância reconhecida pelo Bologna mesmo tendo passado apenas um ano na Emília-Romanha: querido pela torcida, participou das festividades pelo centenário do clube, em 2009.

Fora dos campos, ele adentrou na política e conseguiu se eleger deputado estadual pelo Espírito Santo, em 2006, mas viveu um calvário em sua vida pessoal. Entre 2005 e 2012, o capixaba lutou contra um câncer na coluna e a polineuropatia, um distúrbio neurológico que ataca nervos periféricos do organismo. Por causa das doenças, teve os movimentos comprometidos, mas após vencer a batalha, o Pequeno Príncipe vive bem em Vila Velha, no estado em que nasceu.

Geovani Faria da Silva
Nascimento: 6 de março de 1964, em Vitória (ES)
Posição: meia
Clubes: Desportiva (1978-81, 1998 e 2000), Vasco da Gama (1982-89 e 1991-93 e 1995), Bologna (1989-90), Karlsruher (1990-91), Tigres (1993-94), ABC (1996), XV de Jaú (1996), Rio Branco (1997 e 2000), Linhares (1998), Serra (1999), Tupy-ES (2000-2001) e Vilavelhense (2002)
Títulos: Mundial Sub-20 (1983), Copa América (1989), Prata Olímpica (1988), Campeonato Carioca (1982, 1987, 1988, 1992 e 1993), Taça Guanabara (1986, 1987 e 1992), Taça Rio (1988, 1992 e 1993) e Campeonato Capixaba (1981, 1998, 1999 e 2000)
Seleção brasileira: 23 jogos e 5 gols

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