Liga dos Campeões

Revanche quase perfeita

Dybala decidiu o jogo contra o Barcelona para a Juve e ofuscou Messi em Turim (Reuters)

Argentino, baixinho, canhoto, habilidoso e decisivo. Messi? Que nada, Dybala. La Joya foi o maestro de uma Juventus absolutamente coletiva e praticamente impecável, que conseguiu dominar o Barcelona e que pouco sofreu diante de Iniesta, Messi, Suárez e Neymar. Foi uma atuação para entrar para a história do clube bianconero: além da revanche da final da Liga dos Campeões de 2015, a Velha Senhora se aproximou muito da vaga nas semifinais e mostrou que é candidatíssima ao título europeu.

O 3 a 0 imposto ao Barça traz à Juventus bons presságios em termos de retrospecto: nunca a equipe de Turim foi eliminada em uma competição europeia após vencer a partida de ida de um mata-mata por três gols de diferença. Mais do que isso, desde fevereiro de 2004, quando levou 4 a 0 da Roma na Serie A, a Velha Senhora não perde por mais de três gols de diferença em qualquer competição. Neste espaço de 13 anos, foi derrotada por 3 a 0 (placar que leva o jogo à prorrogação) em menos de 10 oportunidades. 

Se retrospecto não entra em campo, o futebol da Juve entra. E a organização e equilíbrio do time de Allegri – principalmente se comparados com o do Barcelona desta temporada – deixam pouquíssima margem para imaginar que os blaugrana possam repetir a façanha e a remontada que protagonizou contra o Paris Saint-Germain. Buffon, Bonucci e Chiellini construíram sua reputação entre os melhores em suas posições no futebol mundial justamente por se transformarem em muros dentre de campo. Super Gigi, por exemplo, não sofreu gols em 43% das mais de 1000 partidas como profissional. O Barcelona terá um grande desafio pela frente.

Porém, o assunto agora é o jogo desta terça, que levou juventinos e barcelonistas a este cenário. Desde o início, a Juventus mostrou fome e foco, mas curiosamente foi um dos poucos momentos em que teve mais a bola e pressionou – o Barça terminou a partida com quase 70% de uma posse estéril da pelota, já que os jogadores da Velha Senhora marcaram em espaços reduzidos e fecharam as principais linhas de passe dos adversários. 

Espaço foi justamente o que sobrou para Dybala marcar seus dois gols, ambos com a perna canhota. Logo aos sete minutos, La Joya recebeu passe curto de Cuadrado na área e, cercado por quatro jogadores (que apenas o observaram), girou e acertou o canto de Ter Stegen. Quinze minutos depois, foi a vez de Mandzukic achar o argentino na entrada da área, para apenas assisti-lo acertar um chute de primeira. Assustou como jogadores do calibre de Piqué e Mascherano vacilaram e cometeram erros infantis, dando ao camisa 21 juventino todas as possibilidades de finalizar em posições em que ele é especialista.

Três dos melhores em campo pela Juventus: dominantes em seus setores (Reuters)

Vale lembrar que o segundo gol da Juve surgiu no ataque que sucedeu à grande chance do Barcelona no jogo. Messi – o único que tentou fazer os catalães reagirem na partida – achou Iniesta com um passe magistral, mas o espanhol tinha Buffon pela frente. O goleiro italiano respondeu com uma defesa dificílima, esticando a mão esquerda e espalmando a bola para escanteio, sem estardalhaço. O gol de Dybala tornou a defesa de Gigi ainda mais importante – afinal, a partida poderia ter sido outra se o Barcelona tivesse empatado naquele momento.

O restante da partida foi quase inteira de muito sacrifício coletivo da Juventus, que mesmo com um esquema recheado de jogadores com características ofensivas, se defendeu com maestria. Alex Sandro (um dos melhores em campo) fez uma partida impecável, contendo avanços de Sergi Roberto e Messi, sendo ajudado também por um incansável Mandzukic, cada vez mais dedicado à marcação pelo flanco esquerdo, e pelo leão Chiellini. Khedira e Pjanic dominaram o meio-campo, por sua vez, e ofuscaram Mascherano (pior em campo), Rakitic e Iniesta. Neymar, muito bem marcado pelo amigo Daniel Alves, foi quase um fantasma.

Enquanto o sistema defensivo da Juventus funcionava à perfeição e isolava Suárez e Neymar, tornando estéreis as tentativas de criação de Messi, o ataque bianconero poderia ter sido ainda mais efetivo. Higuaín (que só fez dois gols em 23 jogos eliminatórios na LC) perdeu um gol feito, no início da segunda etapa, mas contou com a sorte. Na sequência da jogada, Chiellini não tomou conhecimento de Mascherano e completou, com bela cabeçada, a cobrança de escanteio de Pjanic. Um impedimento mal marcado pela arbitragem ainda tirou da equipe italiana a chance do quarto gol. 

O 3 a 0, porém, foi uma demonstração de força suficiente para o time de Allegri. Uma atuação coletiva tão dedicada quanto a desta terça-feira levará a Juventus às semifinais da Champions e o treinador merece todos os méritos, sobretudo por ter se reinventado após o péssimo final de sua passagem pelo Milan. Ele, que viveu momentos tenebrosos, hoje está sonhando com uma Tríplice Coroa e não se importará em adicionar mais melancolia aos últimos dias de Luis Enrique no comando do Barcelona.

Juventus 3-0 Barcelona

Quartas de final da Liga dos Campeões (ida)

Juventus: Buffon; Daniel Alves, Bonucci, Chiellini, Alex Sandro; Pjanic (Barzagli), Khedira; Cuadrado (Lemina), Dybala (Rincón), Mandzukic; Higuaín. Técnico: Massmiliano Allegri.

Barcelona: Ter Stegen; Piqué, Umtiti, Mathieu (André Gomes); Sergi Roberto, Mascherano, Iniesta, Rakitic; Messi, Suárez, Neymar. Técnico: Luis Enrique.

Gols: Dybala (7′; 22′) e Chiellini (55′)

Local: Juventus Stadium (Turim, Itália)

Árbitro: Szymon Marciniak (Polônia)

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