Terça-feira gorda para o futebol: pela primeira vez em suas carreiras, Pep Guardiola e Maurizio Sarri se enfrentariam. Os dois treinadores são queridos pelos amantes do esporte e têm muitos pontos de vista semelhantes quando o assunto é estratégia e abordagem das partidas, mas trajetórias completamente diferentes. Enquanto o catalão vive cercado pelos holofotes desde os anos 1990 e rapidamente se consolidou como um dos maiores técnicos da história, só há pouco tempo o italiano deixou as categorias inferiores e o trabalho como bancário.
Esta foi mais ou menos a diferença entre Manchester City e Napoli nesta terça. Os jogadores dos citizens, mais acostumados aos grandes jogos da Liga dos Campeões e aos duelos de alto nível, entraram em campo mais atentos que os atletas da equipe napolitana – muitos deles sem a mesma cancha que os adversários. Um panorama curioso, se levarmos em conta que a estreia dos Sky Blues na Champions League se deu em 2011, exatamente diante dos rivais desta terça. Fato é que até a tensão inicial napolitana passar, o time da casa já havia dado um enorme passo rumo à vitória no Etihad Stadium.
O Manchester City de Pep construiu o caminho para o triunfo logo nos primeiros minutos. O Napoli não via a cor da bola, mas o primeiro ataque perigoso dos mandantes aconteceu aos 9 minutos, quando Sané acionou Silva em profundidade pelo lado esquerdo e o espanhol, deixado livre por Zielinski, só rolou para a área. A velocidade da jogada confundiu a defesa azzurra e Sterling colocou para as redes o rebote do arremate de Gabriel Jesus.
Quatro minutos depois, foi a vez de Albiol, Diawara e Hamsík cochilarem e darem todo o espaço do mundo para De Bruyne e Jesus. Após o corte errado do zagueiro espanhol, o belga, que é o principal jogador do Manchester City, teve liberdade para cruzar rasteiro na pequena área para o ex-atacante do Palmeiras completar para as redes.
Os Sky Blues eram soberanos na partida e tiveram diversas chances para ampliar a vantagem e nocautear o Napoli, justamente com os protagonistas do segundo gol. A liberdade dada a De Bruyne impressionava e o camisa 17 respondeu com um belíssimo chute, que carimbou o travessão. Na sequência, Koulibaly evitou mais um tento de Gabriel Jesus ao interceptar a finalização do brasileiro em cima da linha e dar um chutão para clarear. Ao Napoli faltava intensidade no meio-campo, transformado em latifúndio da equipe inglesa. Faltava Allan.
Sarri é um treinador que, declaradamente, não gosta de fazer rodízio no elenco. Ele só abre exceção quando quer modificar as características do meio-campo e descansar algumas de suas peças, ao optar por Allan ou Zielinski e Jorginho ou Diawara. É notável que o time joga melhor com os brasileiros, mas o estrategista toscano mandou o polonês e o guineense a campo – até porque Allan e Jorginho se desgastaram no sábado, contra a Roma, e devem atuar na próxima rodada da Serie A, diante da Inter. A prioridade dada ao Italiano acabou comprometendo a partida napolitana em Manchester, não só pelos erros dos dois nos gols, mas sobretudo pela pífia atuação de Zielinski e pela postura inadequada do time na pressão aos meias adversários.
Na parte final do primeiro tempo, os partenopei conseguiram equilibrar as ações e a partida ficou com mais cara do que se esperava de um confronto entre Guardiola e Sarri. O Napoli deixou de sofrer e teve até a chance de voltar à partida graças a um pênalti cometido por Walker sobre Albiol, mas Mertens cobrou mal e permitiu que Ederson defendesse. Ironicamente, os visitantes melhoraram de vez após a lesão muscular de Insigne, aos 11 da segunda etapa. Sarri optou por lançar Allan e adiantar Zielinski, o que devolveu a habitual intensidade do Napoli no meio-campo. Com isso, a equipe voltou a pressionar a saída de bola adversária com a marcação adiantada.
O Napoli ainda precisou driblar a lesão de Hysaj – e a consequente entrada do envelhecido Maggio – e um gol feito que Hamsík desperdiçou, finalizando sem goleiro, mas em cima de Stones; isto após uma roubada de bola de Allan na entrada da área inglesa. Após Fernandinho derrubar Ghoulam na área e Diawara cobrar a penalidade com perfeição, o cenário de reação estava finalmente desenhado. Os partenopei tinham 20 minutos para conseguir o empate, mas não criaram chances agudas. A melhora era nítida e a pressão sobre o Manchester City foi grande (a ponto de Guardiola sacar Silva e Gabriel Jesus para fechar o time com Gündogan e Danilo).
No final das contas, os citizens mantiveram o placar favorável e conquistaram sua primeira vitória em casa contra equipes italianas, ao passo que o Napoli continua sem triunfos em solo inglês. Os Sky Blues seguem invictos no Grupo F, com nove pontos em três jogos; já os campanos perderam duas partidas e, com apenas três pontos, veem o Shakhtar Donetsk na vice-liderança da chave, com seis.
Após a partida, Sarri e Guardiola continuaram a rasgar seda um para o outro, como já vinham fazendo em entrevistas anteriores ao duelo. Pep não poupou elogios: disse que o Napoli talvez fosse a melhor equipe que enfrentou em toda a carreira. Embora tenha sido elogiado, Sarri ficou nervoso pelo desempenho partenopeo na meia hora inicial e sabe que seu time pode render mais e que é capaz de vencer o Manchester City. Quem sabe na volta, daqui a 15 dias.