A quarta de Liga dos Campeões reservava expectativas bastante diferentes para Juventus e Roma. Enquanto a Velha Senhora atuava em casa contra um time ranqueado no pote 4, a Loba da capital viajava até Londres para um dos maiores desafios que terá no seu complicado grupo: enfrentaria o campeão inglês, o Chelsea de Antonio Conte. No final das contas, as duas equipes celebraram a conquista de resultados importantes, mas foi a Roma que impressionou mais.
No Stamford Bridge, a Roma colocava à prova um retrospecto negativo em partidas na Inglaterra: apenas uma vitória no país, que não evitou a queda para o Liverpool na Copa Uefa, em 2001. Isto poderia gerar alguma desconfiança da torcida, mas os giallorossi já tinham um ótimo resultado a seu favor. Afinal, o Atlético de Madrid tropeçara contra o Qarabag e chegava a apenas dois pontos no Grupo C. A Roma não venceu em Londres, mas o empate por 3 a 3 aumentou a vantagem sobre os colchoneros e deixou o time de Di Francesco com 5 pontos, dois a menos que o líder Chelsea. Com duas partidas a serem disputadas no Olímpico, as condições para avançar às oitavas da Champions League são muito boas.
Tão boas, aliás, quanto a atuação da Roma. Quem viu o placar de 2 a 0 a favor dos anfitriões até os 40 minutos do primeiro tempo certamente se espantaria com esta afirmação, mas há de se convir que em nenhum momento os italianos se apequenaram ou deixaram de colocar em prática os seus conceitos e a proposta ofensiva de Di Francesco. Antes de vencer o Qarabag na última rodada da LC, a Loba não triunfava fora de casa pela competição desde 2009 – nove jogos no total – e não atuava com convicção. Nem mesmo contra os azeri a equipe foi bem, mas enfim entregou uma partida digna de sua história.
Os primeiros minutos foram de domínio do Chelsea, que não vinha de bons resultados na Premier League. O Stamford Bridge, inclusive, não podia mais ser chamado de fortaleza azul: nesta temporada, o time de Conte deixou escapar oito pontos em quatro partidas em casa; dois a mais que em toda a campanha do título em 2016-17. David Luiz levou alegria aos torcedores londrinos ao aproveitar corte errado de Juan Jesus e, com um belo chute, abriu o placar, aos 11 minutos. Em um contra-ataque, Hazard aproveitou outra sobra e, aos 37 ampliou para o time da casa. Apesar do 2 a 0, o Chelsea era clínico e cínico: se fechou bem no 3-5-2 e partiu para o contra-ataque.
A Roma competia e fez o placar ficar mais justo três minutos depois do gol anotado pelo belga. Aos 40, Kolarov fez jogada individual e contou com um desvio em Christensen para diminuir. Com moral renovado, o time de Di Francesco descansou no intervalo e voltou para o segundo com apetite. A substituição de David Luiz por Pedro facilitou o trabalho para a Roma, já que o brasileiro fazia uma boa partida como volante. A mudança tática no Chelsea foi contemporânea ao início do show de Dzeko.
Aos 64 minutos, Fazio tentou um lançamento longo para o centroavante bósnio, que se desgarrou de Azpilicueta e Christensen e, sem deixar a bola cair, acertou um petardo de canhota. Courtois ficou vendido e não teve tempo de reagir à finalização, que poderia ter sido tranquilamente assinada por Totti ou Van Basten. Seis minutos depois, Dzeko deu contornos épicos à sua performance e à partida da Roma: ele aproveitou a falha na marcação em zona dos Blues e desviou a pelota levantada na área por Kolarov. Era a virada da equipe italiana, que capitalizava os 61% de posse de bola exercidos.
A vantagem não durou mais do que cinco minutos, já que Juan Jesus e Fazio deixaram Hazard livre para cabecear e vencer Alisson, mas a virada já havia sido uma demonstração da força do time romano, que ainda tem a evoluir. Na reta final da partida, os times trocaram golpes e Dzeko quase conseguiu sua tripletta, em cabeçada perigosa. No entanto, embora tenha tido a chance de ficar com três pontos, a Roma estava satisfeita com o empate e se arriscou menos do que em outros momentos do jogo.
Di Francesco e os jogadores não esconderam que o futebol mostrado em Londres lhes agradou – empate sofrido à parte. A atuação foi muito positiva, até porque a equipe não contou com De Rossi, Manolas, El Shaarawy e Defrel, e ainda teve uma formação alternativa, com Gerson e Gonalons escalados no onze inicial. Os giallorossi têm motivos para acreditar que descobriram os caminhos para baterem o Chelsea no Olímpico, daqui a 15 dias. Conte, porém, não vai deixar barato: passou a partida toda irritado e confessou que cometeu erros táticos. Perfeccionista do jeito que é, tentará revolucionar a equipe em duas semanas.
No Allianz Stadium, Juventus e Sporting se enfrentaram pela primeira vez em jogos oficiais e fizeram uma partida disputada, em que a vitória por 2 a 1 do time da casa só saiu graças a uma virada no final. A equipe bianconera, que chegou aos 6 pontos e à vice-liderança do Grupo D, tinha em seu balanço sete vitórias em 13 partidas contra times portugueses – além de quatro derrotas, todas diante do Benfica, maior rival dos Leões. Os sportinguistas, por sua vez, nunca tinham vencido em solo italiano: até entrarem em campo, tinham 10 derrotas em 13 partidas.
O retrospecto tornava ainda mais surpreendente o fato de os visitantes terem aberto o placar na primeira chegada de perigo, aos 12 minutos, na sintonia entre Bruno Fernandes e Gelson Martins. O ex-meia de Udinese e Sampdoria enfiou a bola para a joia portuguesa, que contou com erro de Alex Sandro e ainda contou com a sorte: dividiu com Buffon, mas a bola rebateu no lateral brasileiro e acabou entrando. Os verdes e brancos vivem bom momento e souberam aproveitar os piores minutos da Juve em toda a temporada. O time da casa errava muito e parecia desconexo.
Depois do lapso, a Juve tentou reagir com Khedira, Mandzukic e Dybala, mas só empatou aos 29, quando Pjanic cobrou falta com perfeição. O bósnio voltou à equipe após ficar de fora contra a Lazio e mostrou sua importância: além de poder decidir na bola parada, é o articulador de todas as jogadas e, sem ele, a Velha Senhora perde a lucidez. Dybala também ajudou, caindo pelo setor defendido por Fábio Coentrão e Acuña, mas ainda está abaixo do nível já apresentado anteriormente.
No segundo tempo, a Juve pressionou muito, mas Jorge Jesus conseguiu erguer um muro bastante eficiente, que pouco foi penetrado. Quando a equipe da casa chegou, Rui Patrício bloqueou Higuaín (em duas oportunidades) ou a defesa afastou para escanteio – foram 13 a favor dos juventinos e nenhum para o Sporting. Mandzukic, no entanto, decidiu tudo, aos 84. O croata, que marcou nas quatro últimas partidas da Juventus na Liga dos Campeões, se antecipou a Silva e completou cruzamento de Douglas Costa. Nada mais justo que uma vitória conquistada com tanto esforço fosse assinada pelo mais voluntarioso jogador do elenco piemontês.