Tímido, técnico e inteligente. Essas eram as características de Andrea Mandorlini, líbero da famosa Internazionale de Giovanni Trapattoni no “scudetto dos recordes”. As mesmas valências que utilizou no comando do Verona, na incessante busca de voltar para a elite italiana, na década de 2010.
O garoto franzino de Ravenna, nascido em julho de 1960, na histórica cidade emiliana, chamou a atenção do Torino, sendo contratado em 1978. Em sua primeira temporada no clube de Piemonte, participou de cinco jogos na boa campanha no campeonato, no qual o Toro alcançou a terceira colocação.
Como titular, mostrou amadurecimento e foi importante em outra boa temporada do time de Luigi Radice, que terminou na quarta posição e foi vice-campeão da Coppa Italia, perdendo nos pênaltis para a Roma – Mandorlini, aliás, que havia desperdiçado uma cobrança contra a rival Juventus nas semifinais, marcou contra os giallorossi, mas quatro de seus companheiros erraram e a equipe grená perdeu.
Em 1980, acabou sendo contratado pela Atalanta para disputar a Serie B, e apesar de suas boas apresentações em 34 dos 38 jogos disputados, a equipe bergamasca acabou rebaixada para a Serie C1 no campeonato em que o Milan fora campeão e voltava para a elite italiana após o rebaixamento causado pelo escândalo de 1980, conhecido como Totonero.
O Ascoli acabou contratando Mandorlini para a disputa da Serie A, vendo no jogador uma promessa para a elite e não para a terceirona. Em sua primeira temporada, foi titular da segunda melhor campanha na história dos bianconeri na primeira divisão, terminando na sexta colocação. Andrea ainda ficou mais duas temporadas pelo clube do Marche, em modestas campanhas da equipe. Contudo, seguia mostrando bom futebol.
Então, em 1984, acabou contratado pela Inter, seu clube do coração. Treinado por Ilario Castagner, que passou a utilizá-lo no meio-campo para explorar sua capacidade técnica e inteligência, jogou em boa parte como titular na passagem do treinador. Para a temporada de 1986-87, o presidente nerazzurro Ernesto Pellegrini decidiu tirar o já renomado técnico Giovanni Trapattoni de sua maior rival, a Juventus.
Na Zona mista de Trapattoni, um 4-4-2 que se confundia com 3-5-2 ou 5-3-2, Mandorlini seguiu sendo utilizado no meio-campo, como médio-defensivo ou médio-central, ao lado de Matteoli, Tardelli (em 1986-87) e Scifo (em 1987-88). Mas com a saída de Passarella, então líbero do time, o treinador milanês confiou em Andrea para exercer a função, já que não teria espaço no meio-campo com as chegadas de Bianchi, Berti e Matthäus, que formariam o quarteto do meio com Matteoli.
Mandorlini foi importante na vencedora temporada de 1988-89, que até hoje é conhecida como temporada do “Scudetto dei record”. A pragmática Inter de Trapattoni foi campeã italiana com nunca antes atingidos 58 pontos – na época, uma vitória valia dois pontos, ou seja, com 26 vitórias em 34 jogos, além de seis empates, a Inter teria chegado a 84 pontos na fórmula atual, feito batido apenas pela Juventus em 2004-05 (título revogado devido ao Calciopoli) e pela Inter de Mancini em 2006-07 e 2007-08. Mandorlini foi um dos líderes da defesa que sofreu apenas 19 gols e também foi peça importante na saída de bola, dando suporte ao inspirado Serena, ao veloz Díaz e aos “alas” Bianchi e Brehme.
Em 1989-90 e 1990-91 acabou perdendo espaço para os jovens Battistini e Paganin devido a problemas físicos, mas ainda assim esteve presente em quase todas as partidas na conquista da Copa Uefa de 1991, seu terceiro e último título em sete anos de Inter. Depois, deixou o clube rumo à Udinese.
Em Údine, jogou pouco mais de 40 partidas em mais duas temporadas antes de se aposentar com 33 anos, jogando ao lado do argentino Sensini, que já despontava no futebol italiano como uma das referências defensivas da década de 90 e início de 2000.
Logo depois da aposentadoria como jogador, começou sua carreira de treinador no amador Manzanese, da província de Údine. Por lá não conseguiu fazer bom trabalho, e então passou a ser o assistente técnico do clube que havia iniciado seus passos no futebol, a Ravenna, por onde ficou por quatro anos ganhando experiência e ainda participou do acesso do time para a Serie B em 1996.
Somente na temporada de 1998-99 assumiu pela primeira vez o comando de uma equipe profissional, a Triestina, onde quase conseguiu o acesso para a Serie C1, mas perdeu a final dos play-offs. Pelo Spezia, onde ficou por três anos, foi campeão invicto da Serie C2, a quarta divisão do futebol italiano, em 1999-00. Agora comandando um time da Serie B, o Vicenza, começava a mostrar melhor sua filosofia de jogo, primando a troca de passes, a marcação por zona e ofensividade. Com a Atalanta, em 2003-04, garantiu o acesso para a elite italiana, terminando na 5ª colocação. Na Serie A, porém, o jogo ofensivo expôs a fragilidade mental e defensiva da equipe, ocasionando na sua demissão, sendo substituído por Delio Rossi – que não conseguiu impedir o rebaixamento dos nerazzurri.
Após a passagem pela equipe de Bérgamo, não conseguiu fazer bons trabalhos por Bologna, Padova e Siena, e somente em 2008-09, no comando de um modesto Sassuolo, conseguiu encaixar outro bom serviço, terminando na sétima colocação na Serie B. Entretanto, por divergências, acabou sendo demitido ao final da temporada.
Contratado pelo romeno Cluj, conquistou na primeira temporada o campeonato (o segundo na história do clube), a copa e a supercopa do futebol nacional. E em mais uma demonstração de instabilidade, acabou demitido devido aos maus resultados na temporada seguinte.
Em novembro de 2010, Mandorlini voltou a trabalhar na Itália, no comando do Verona, na Lega Pro Prima Divisione. Ainda pela temporada 2010-11, o Verona conseguiu se classificar para os playoffs, os quais acabou vencendo de forma emocionante e conquistando o acesso para a Serie B. Andrea, então, caiu no gosto da torcida gialloblù.
Mantido, Mandorlini conduziu o recém-promovido Verona a uma ótima campanha na segunda divisão, com sua equipe demonstrando um futebol ofensivo, conquistando uma vaga nos playoffs. Porém, a derrota diante do Varese eliminou as chances do tão sonhado acesso. O ex-líbero da Inter deu sequência ao bom trabalho na Serie B 2012-13, com o mesmo futebol de toque de bola e marcação por zona, e garantiu o acesso direto do Hellas graças ao vice-campeonato da categoria.
Mandorlini seguiu no cargo na elite e obteve duas excelentes campanhas de permanência na Serie A, com o 10º e 13º lugares, respectivamente – num time que contava com os gols de Luca Toni. O treinador renovou o seu contrato até 2017, mas em novembro de 2015, não conseguiu fazer uma equipe recheada de atletas lesionados render bem e acumulou maus resultados, que lhe levaram à demissão. Permaneceu sem clube, mas recebendo salários do Hellas, até fevereiro de 2017, quando assinou com um Genoa desesperado para escapar do descenso. Naquele período, vale destacar, volta e meia tinha seu nome especulado como interino de uma Inter em crise.
O fato é que, a partir da demissão do Verona, a carreira de Mandorlini estagnou. O tempo parado não lhe fez bem. Enferrujado, acumulou maus resultados e curtas passagens pelo Genoa e pela Cremonese, já na Serie B. Em janeiro de 2020, topou voltar ao Padova, na terceirona, e fez os biancoscudati brigarem por dois acessos consecutivos. Um lapso. Após outro biênio fora de ação, caiu com o Mantova para a quarta divisão e emendou uma segunda experiência decepcionante pelo Cluj.
Andrea Mandorlini
Nascimento: 17 de julho de 1960, Ravenna, Itália
Posição: defensor e meio-campista
Carreira como jogador: Torino (1978-80), Atalanta (1980-81), Ascoli (1981-84), Inter (1984-91) e Udinese (1991-93)
Títulos como jogador: Serie A (1989), Supercopa Italiana (1989) e Copa Uefa (1991)
Carreira como treinador: Manzanese (1993-94), Triestina (1998-99), Spezia (1999-02), Vicenza (2002-03), Atalanta (2003-04), Bologna (2006), Padova (2006-07 e 2020-21), Siena (2007), Sassuolo (2008-09), Cluj (2009-10 e 2023-24), Verona (2010-15), Genoa (2017), Cremonese (2018) e Mantova (2023)
Títulos como treinador: Serie C1 (1996), Serie C2 (2000), Campeonato Romeno (2010), Copa da Romênia (2010) e Supercopa Romena (2010)