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A carreira meteórica de Francesco Rocca, o lateral veloz como uma motocicleta

“Romano e romanista se transforma em ídolo do clube que era apaixonado desde a infância”. Pode parecer que estamos falando de forma resumida da biografia de Agostino Di Bartolomei, Francesco Totti, Daniele De Rossi ou Alessandro Florenzi, mas antes desse quarteto fazer sucesso na capital, quem representava o povo giallorosso dentro de campo era o lateral Francesco Rocca.

Francesco, que tem nome de santo pelos lados de Trigoria, não teve uma longa carreira em campo como se supõe. Sua presença pela Roma durou breves nove anos e foi um reflexo da má sorte e da sua propensão a se contundir, em uma época na qual a medicina esportiva ainda era atrasada e não oferecia soluções fáceis para lesões sérias.

Nos anos 2010, parece comum um atleta romper os ligamentos do joelho. Mesmo que o problema seja grave, quatro ou seis meses depois, tal jogador está de volta à atividade, novo em folha. Há um número razoável de especialistas em joelho e estudiosos em torno de padrões no rompimento de ligamentos, além de rotinas específicas de fisioterapia e outros tratamentos. Contudo, Rocca atuava nos anos 1970 e não encontrou o mesmo amparo na medicina.

Na seleção, Rocca se esforça para marcar Grzegorz Lato, da Polônia (Wikipedia)

A sociedade italiana no pós-II Guerra Mundial também não lhe deu muita guarida. Filho de um encanador e de uma dona de casa, Francesco começou a jogar futebol na paróquia de sua cidadezinha, como tantos pequenos italianos. Depois, para frequentar a escolinha do Audace Genazzano, precisava deixar a sua casa em San Vito Romano e andar 12 quilômetros todos os dias. O deslocamento também era grande (cerca de 60 quilômetros) para que ele atuasse pelo amador Bettini-Cinecittà, em Quadraro.

Tudo mudou em 1972, quando Rocca chamou a atenção de Helenio Herrera e foi contratado pela Roma. Ele alternou entre os profissionais e juvenis até 1974, quando era inevitável a sua presença entre os mais velhos. Muitos companheiros de Francesco relatam o sofrimento nos treinos para acompanhar a velocidade do garoto. Franco Cordova, capitão do clube em 1974, dizia que se ele não parasse de correr tanto, chegaria sozinho à linha de fundo sem ter ninguém para acionar com um cruzamento. Essa potência lhe rendeu o apelido de “Kawasaki”, como as ferozes motocicletas japonesas.

Na base, foram três títulos importantes: dois do campeonato Primavera e um da Coppa Italia juvenil, entre 1973 e 1974. Rocca chegou muito maduro para se firmar no time principal. E só sairia dele em virtude de seu malfadado destino. Em 1976, contra o Cesena, rompeu os ligamentos do joelho pela primeira vez, iniciando um período de muito sofrimento.

Rocca e sua íntima relação com as muletas: o lateral nunca conseguiu exprimir todo o seu potencial (Notizie AS Roma)

Uma escolha de Rocca fez muita diferença nesse intervalo. Convocado pela seleção italiana, negligenciou a lesão no joelho para poder defender seu país em uma partida contra Luxemburgo, pelas Eliminatórias da Copa do Mundo de 1978. O romanista jogou os 90 minutos e agravou a condição de seu joelho. Nunca mais ele teve a mesma saúde.

Quando estava 100%, era um monstro: corria por toda a extensão do campo, esbanjava técnica e inteligência. Poderia ter sido titular da seleção na Copa do Mundo de 1982, na de 1978 ou na Euro de 1976. Mas quando se fala em Rocca, tudo vira apenas suposição: ao todo, somou meros 170 jogos pela Roma em toda a sua passagem como profissional e 18 pela Squadra Azzurra. Muito pouco para alguém que sonhou desde criança com a vida de astro no Olímpico e na Nazionale.

Depois de perder a temporada inteira em 1977-78, Rocca voltou lentamente e recuperou seu espaço na equipe, mas sempre atento à sua fragilidade. Em 1981, o lateral já fazia pouquíssimas aparições e sofria com ciática – consequência de sua lesão, que nem cinco cirurgias no joelho foram capazes de curar. Encostado no departamento médico, anunciou sua aposentadoria em agosto, com apenas 26 anos, e entrou em campo pela última vez num amistoso contra o Internacional, que havia vendido Paulo Roberto Falcão aos giallorossi uma temporada antes. A promessa de que Francesco seria um craque inigualável jamais foi cumprida, mas ele continua tendo carinho especial das arquibancadas em Roma.

Nos vestiários do Olímpico, um Rocca em fim de carreira conversa com o técnico Giagnoni (Il Romanista)

Rocca, que conquistou os títulos da Coppa Italia em 1980 e 1981, foi eleito como membro do Hall da Fama romanista em 2012, tendo sido um dos primeiros 11 jogadores a receberem a honraria. Seus serviços prestados ficaram na memória do clube, que retribuiu a dedicação e o empenho com um ingresso especial para a eternidade.

Após deixar o futebol de forma prematura, Rocca se dedicou à formação de atletas e desenvolveu uma longa carreira como treinador das seleções de base da Itália. Além de comandar a Nazionale na Olimpíada de 1988, Francesco dirigiu os azzurrini das categorias sub-15 à sub-20, entre 1995 e 2014, além de ter sido também olheiro da seleção principal. Suas principais glórias foram os vice-campeonatos nos Jogos do Mediterrâneo, em 2001 e 2009 (sub-20) e o Europeu sub-19, em 2008.

Francesco Rocca
Nascimento: 2 de agosto de 1954, em San Vito Romano, Itália
Posição: lateral-esquerdo
Clubes como jogador: Roma (1972-81)
Títulos: Coppa Italia (1980, 1981)
Seleção italiana: 18 jogos, 1 gol

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