Um craque além dos gramados. David Beckham sempre carregou a pecha de jogador midiático, que se destacava mais por suas ações de marketing e aparições públicas do que pelo próprio talento nas quatro linhas. Sua trajetória e seu currículo, no entanto, comprovam o quanto este ponto de vista não faz sentido e quão grande foi o inglês na história do futebol.
Cria do Manchester United, Becks surgiu ao lado de outras lendas dos Diabos Vermelhos como Ryan Giggs, Paul Scholes e Gary Neville. Era a fantástica geração de 1992, conhecida também como “Fergie Babies”, pois se desenvolveram sob o comando de Sir Alex Ferguson. Beckham foi também um dos ícones do Real Madrid “galático” antes de desbravar a América de forma surpreendente. E foi durante a sua experiência em Los Angeles que surgiram as brechas para que o craque inglês pudesse jogar no Milan.
Beckham chegou ao clube italiano em 2009, sob alguma desconfiança, já que atuava no futebol dos Estados Unidos. O astro inglês era um sonho antigo de Silvio Berlusconi, que já havia tentado sua contratação em 2003. “Beckham é nosso alvo principal. Vamos fazer tudo ao nosso alcance para tê-lo”, disse à época o vice-presidente do Milan, Adriano Galliani.
O rossonero foi vencido pelo Real Madrid, que assinou com o inglês por quatro temporadas. Na capital espanhola, cada vez mais deixou de ser visto apenas como o “jogador que sabia bater bem na bola”. Beckham se reinventou, passando a atuar mais defensivo, ao lado de Zinédine Zidane e Luís Figo. Foram quatro anos, porém, sem muitas glórias e uma infinidade de críticas pela falta de conquistas. Ao final de sua passagem pelos merengues, Beckham, então com 31 anos, surpreendentemente assinou com o Los Angeles Galaxy, dos Estados Unidos, para ganhar mais que Tom Cruise, por exemplo.
Muitos já tratavam o craque como um ex-jogador, que teria como objetivo apostar em sua carreira como popstar hollywoodiano ao invés de se dedicar ao futebol. Na verdade, o próprio Beckham vislumbrava difundir a Major League Soccer, liga da qual seria ativo participante, como dono de uma franquia. “Estou orgulhoso de ter jogado por dois dos maiores clubes da história e ansioso para este novo desafio de aumentar as fronteiras para o esporte mais popular mundo em um país que ama tanto os esportes quanto eu”, destacou, durante sua saída do Real Madrid.
O calendário de futebol nos Estados Unidos permitiu que o Milan fizesse uma manobra – também praticada pelo Bayern de Munique, ao fechar com Landon Donovan – para contratar David Beckham. Se especulou inicialmente que o inglês chegaria para manter a forma durante o período de férias da MLS, mas as partes acabaram assinando um contrato de empréstimo por três meses, prolongado por mais três – com o jogador pagando parte do valor do empréstimo do próprio bolso. Com isso, Becks se tornou o quinto inglês da história dos rossoneri, após Jimmy Greaves, Luther Blissett, Mark Hateley e Ray Wilkins. Nenhum outro clube italiano teve tantos atletas do English Team quanto o Milan.
Com a camisa 32 rossonera, Beckham atuou em 20 partidas, com dois gols marcados – logo no mês de debute, contra Bologna e Genoa. Em seu primeiro jogo como titular, o Spice Boy foi ofuscado por Kaká: o brasileiro sequer jogou, mas as atenções nas arquibancadas ficaram para os pedidos de permanência diante do rumor de sua transferência ao Manchester City.
Nesse período, o Milan contou com três dos maiores batedores de falta do futebol mundial: Beckham, Andrea Pirlo e Ronaldinho. O time que ainda contava com outros nomes experientes como Andriy Shevchenko, Pippo Inzaghi e Clarence Seedorf, além de Alexandre Pato, não ganhou nada além do coração do astro inglês.
Beckham queria ficar em Milão, já pensando na possibilidade de disputar o Mundial de 2010, mas fazer negócio com os americanos não foi fácil. “No momento, o Milan é mais importante para mim do que dinheiro. Quero pensar na minha carreira primeiro. Ficando na Itália, eu teria a chance de jogar regularmente e fazer parte da seleção da Inglaterra na Copa”, disse Beckham.
O acordo não veio, mas o Milan foi insistente e repetiu a ação de contar com David ao final da temporada americana. Beckham viria para disputar as oitavas de final da Liga dos Campeões, em que o Milan enfrentaria justamente o Manchester United. Becks retornou a Old Trafford, mas viu os rossoneri sofrerem um sonoro 4 a 0, depois de já terem perdido em casa por 3 a 2.
A partida seguinte à eliminação, contra o Chievo, seria exatamente a sua última pelo Diavolo: uma lesão no tendão de Aquiles inclusive tirou a chance de Beckham disputar o Mundial na África do Sul. O Spice Boy fez somente 13 jogos naquela temporada, mas sempre afirmou a paixão que leva dos dias em San Siro.
Beckham voltou para o Los Angeles Galaxy, por onde jogou até o final de seu contrato, em 2012. Livre, fechou com o Paris Saint-Germain para atuar durante seis meses – seus últimos como profissional. Em meio ao time bilionário do momento, o inglês fez poucas partidas, mas sua despedida foi marcante. Mais de 50 mil pessoas no Parc des Princes aplaudiam e ovacionavam David, enquanto ele chorava feito criança.
Um adeus emocionante para um grande jogador, que sempre superou as críticas – muitas vezes infundadas. Como em 2002, quando a eliminação da Inglaterra caiu sobre suas costas, ou quando chegou à Madrid e Los Angeles com a fama de popstar; e mesmo quando abdicou de férias e investiu para jogar na Europa novamente. Além disso, Beckham sempre esteve envolvido com trabalhos de caridade e até hoje é embaixador da Unicef no Reino Unido, na área de desenvolvimento infantil.
Beckham é proprietário do Inter Miami, franquia que se uniu à MLS em 2020. Assim, realiza um sonho que começou a cultivar ainda nos tempos de jogador, entre períodos de prestígio em Milão.
David Robert Joseph Beckham
Nascimento: 2 de maio de 1975, em Leytonstone, Inglaterra
Posição: meio-campista
Clubes como jogador: Manchester United (1992-2003), Preston North End (1994-95), Real Madrid (2003-07), Los Angeles Galaxy (2007-2012), Milan (2009 e 2010) e Paris Saint-Germain (2013)
Títulos conquistados: Premier League (1996, 1997, 1999, 2000, 2001 e 2003), FA Cup (1996 e 1999), Community Shield (1996 e 1997), Uefa Champions League (1999), Mundial de Clubes (1999), Campeonato Espanhol (2007), Supercopa da Espanha (2003), MLS Cup (2011 e 2012), MLS Supporters’ Shield (2010 e 2011) e Ligue 1 (2013)
Seleção inglesa: 115 jogos e 17 gols