Um dos tantos que construíram uma longa jornada com a camisa da Roma, o ex-zagueiro Sergio Santarini foi um líbero de enorme qualidade que passou pelo clube entre os anos 1960 e 1980. Capitão e herói em anos inglórios, chegou à capital após cinco temporadas como profissional. Suas passagens anteriores, por Rimini e Inter, não tiveram o mesmo impacto que os treze anos como xerife da zaga romanista.
Revelado como produto da base do Rimini no início dos anos 1960, Santarini ascendeu aos times adultos em plena era do catenaccio, e rapidamente se tornou peça fundamental para os biancorossi. A Inter, grande time do período, dominava a Europa com o seu jogo fulminante e cauteloso, sob o comando de Helenio Herrera. Depois que Sergio foi descoberto por olheiros nerazzurri, seu nome deslanchou no cenário nacional. E isso aconteceu de forma bizarra: um amistoso especial pelo Venezia, contra o Santos de Pelé, serviu para alavancar de vez a promessa do jovem Santarini.
Embora não tenha encontrado espaço para evoluir entre os titulares da Inter, Santarini ganhou a confiança de Herrera, que fez questão de levá-lo para a Roma, em 1968. A mudança de ares não caiu bem para o mister, que se envolveu em muitas polêmicas e saiu em 1970, com apenas um título da Coppa Italia e diversos choques com o comando romanista.
Para Sergio, a troca de clube lhe caiu bem como uma luva: ele não precisou de muito tempo para se acomodar no coração da defesa romanista. Era o fim da carreira de outro monstro da posição, Giacomo Losi, histórico líbero do clube, que ajudou na recepção e na adaptação de seu sucessor. Além do talento e da inteligência em campo, os dois tinham algo a mais em comum: a data de nascimento. Ambos nasceram no dia 10 de setembro, com 12 anos de diferença. De Losi a Santarini, começava a se desenhar a era mais bem sucedida dos giallorossi.
Logo de cara, Santarini venceu a Coppa Italia, em sua temporada de estreia. Mesmo com a glória no torneio, o ambiente romanista foi chacoalhado com a morte de Giuliano Taccola, nos vestiários, após uma partida contra a Sampdoria. O acontecimento afetou seriamente a relação de Helenio Herrera com o então presidente, Alvaro Marchini, que o demitiu em 1970.
A maturidade na condução de bola e no posicionamento compensavam sua falta de velocidade e fizeram de Sergio um pilar defensivo. Seu primeiro grande parceiro foi Aldo Bet, que curiosamente também havia vindo da Inter, em 1968, a pedido de Herrera – e que também se tornaria seu cunhado. Os dois dividiram a área até 1973, quando Bet tomou o caminho do Verona.
Enquanto isso, Santarini estava a caminho do reconhecimento. Em 1972, a Roma venceu a Copa Anglo-Italiana em cima do Blackpool, somando mais um troféu para o salão nobre. A conquista, pouco lembrada pela torcida, ajudou a garantir um lugar de Santarini na afeição romanista.
A trajetória do líbero poderia ter sido drasticamente alterada, não fosse a intervenção do barão Nils Liedholm. O sueco, que chegava para treinar a Roma em 1976, fez questão de manter o defensor e apontá-lo como capitão. Àquela altura, Santarini considerava mudar de clube e buscar novos desafios. O voto de confiança fez bem para os dois lados: o dono da faixa levantou mais duas vezes a Coppa Italia, em 1980 e 1981, esta, sua última conquista com o clube romano.
Santarini confiava em Liedholm e Liedholm confiava em Santarini. O canto do cisne do capitão veio mesmo em 1981, quando se despediu da Roma para assinar com o Catanzaro. Dois anos depois, em 1983, ele anunciava a sua aposentadoria e celebrava a sua longa estrada no esporte, enquanto a Roma levantava seu segundo scudetto. Mas as coincidências não acabam aí.
O ex-líbero retornou à Roma como treinador das categorias de base, ainda nos anos 1980. Formado como na função, partiu em nova jornada em dupla com Sven-Göran Eriksson, que não tinha licença para ser técnico na Itália e precisava que seu auxiliar fosse o comandante oficial, nas súmulas. Santarini rumou com Svennie à Fiorentina e estava com o sueco na Sampdoria – onde ganhou uma Coppa Italia – quando foi convidado pelos giallorossi para uma terceira passagem por Trigoria, em 1996.
Em sua trajetória à beira dos campos ou nos bastidores, Santarini teve destaque nesse período com Eriksson, passou por clubes menores e chegou até a ser presidente do Rimini entre 2016 e 2018. Porém, nenhuma dessas experiências deixou um resultado tão marcante quanto os seus meses como ajudante do argentino Carlos Bianchi na Roma. Profundo conhecedor das raízes romanistas, o ex-defensor logo se viu diante de uma situação insólita: uma das primeiras decisões que o seu superior queria tomar era mandar um certo Francesco Totti por empréstimo à Sampdoria.
Antes que a transferência fosse assinada (e isso esteve bem perto de acontecer), a Roma organizou um triangular amistoso de pré-temporada com o Ajax e o Borussia Mönchengladbach. O torneio servia para que Bianchi analisasse de perto o talento do finlandês Jari Litmanen, seu grande alvo para a janela de transferências. Mas quem roubou a cena foi mesmo Totti, que marcou nos dois jogos e ofuscou completamente o camisa 10 do time holandês. Santarini fez questão de defender o talento do garoto e oferecer a ele um novo contrato, contrariando Bianchi, que o queria fora. E o resto é história.
Sergio Santarini
Nascimento: 10 de setembro de 1947, em Rimini, Itália
Posição: líbero e zagueiro
Clubes como jogador: Rimini (1963-67), Inter (1967-68), Roma (1968-81) e Catanzaro (1981-83)
Títulos como jogador: Coppa Italia (1969, 1980 e 1981) e Copa Anglo-Italiana (1972)
Clubes como treinador: ALMAS (1983-84 e 1986-87), Rimini (1985-86), Fiorentina (1987-89), Vigor Lamezia (1990-91), Sampdoria (1992-92), Roma (1996-97), Ravenna (1998-99 e 2000) e Modena (1999-2000)
Títulos como treinador: Coppa Italia (1994)
Seleção italiana: 2 jogos