Vencer nem sempre significa jogar bem. A Juventus conhece bem esse roteiro e o Napoli parece ter aprendido como se faz. Na semana passada, o campeonato havia sofrido uma reviravolta a favor da Juve, que ficou com quatro pontos de vantagem sobre os napolitanos, mas voltou a ficar mais acirrado graças aos resultados desta rodada. No sábado, a Spal segurou o ataque juventino, feito que poucos conseguiram nessa temporada; e no dia seguinte o Napoli precisou suar sangue para derrotar o Genoa e encostar na líder. A rodada ainda teve o show de Icardi, que fez quatro gols contra a Sampdoria e entrou para uma seleta lista de grandes atacantes do futebol italiano; a vitória do Milan, no melhor estilo Gattuso; e a sina do Benevento, que conta os dias para retornar a segunda divisão.
Spal 0-0 Juventus
Tops: Thiago Cionek e Schiattarella (Spal) | Flops: Asamoah e Mandzukic (Juventus)
A Spal se juntou a Inter e Barcelona no seleto grupo de times que conseguiram passar 90 minutos sem sofrer gols do poderoso ataque da Juventus nesta temporada. A equipe de Ferrara conseguiu, surpreendentemente, segurar a Vecchia Signora e somou um ponto importantíssimo, suficiente para deixá-la fora da zona de rebaixamento – ao menos provisoriamente. Quem também agradeceu foi o Napoli: afinal, depois de dois tropeços, os napolitanos tinham visto a Juventus reassumir a ponta e disparar após o jogo contra a Atalanta no meio da última semana. Se por um lado a equipe bianconera interrompeu a sequência de 14 jogos consecutivos marcando, por outro chegou à décima partida sem sofrer gols no campeonato e igualou seu próprio recorde, estabelecido em março de 2016.
A verdade é que, apesar de ter dominado o jogo, a Juventus fez uma partida lenta e burocrática, sem conseguir criar chances de perigo. A Spal de Semplici, é claro, teve méritos e foi merecedora do resultado, graças a seu grande empenho defensivo num lotado Paolo Mazza, que viu o recorde de público spallino na temporada. Na primeira etapa, a Juve chegou com perigo em apenas duas oportunidades, com Douglas Costa e Dybala, em cobrança de falta. Após o intervalo, a Juventus se lançou mais ao ataque, mas nem mesmo as substituições foram capazes de aumentar o ímpeto da equipe. A nota preocupante foi a lesão de Chiellini, que saiu no final da segunda etapa e, além de ter sido cortado dos amistosos da seleção italiana, preocupa, para o primeiro jogo da Juve contra o Real Madrid nas quartas de final da Liga dos Campeões.
Napoli 1-0 Genoa
Albiol (Callejón)
Tops: Albiol (Napoli) e Pandev (Genoa) | Flops: Zielinski (Napoli) e Galabinov (Genoa)
Pela primeira vez o Napoli sentiu a pressão da disputa pelo título. Após dois tropeços que custaram a liderança, o time napolitano entrou em campo no encerramento da rodada ciente de que precisava vencer para reduzir a vantagem da Juventus, que um dia antes empatara com a Spal. Porém, o futebol vistoso de toda a temporada passou longe do estádio San Paolo: nitidamente via-se a ansiedade dos jogadores em marcar o gol e desespero por ver que a bola teimava em não entrar. Mertens (duas vezes) e Allan perderam chances incríveis. O Genoa se aproveitou e assustou a torcida azzurra, primeiro com Bertolacci e depois com Spolli.
No entanto, vencer à base do esforço e não apenas do talento não é mérito única e exclusivamente da Juventus. Quando o Napoli menos conseguia criar oportunidades, em um escanteio despretensioso, Albiol subiu mais alto que toda a defesa genovesa e abriu o placar. O Genoa tentou reagir, mas apenas abriu espaços para o ataque do Napoli. Insigne teve a bola do jogo em seus pés, mas a cavadinha foi tirada em cima da linha pelo zagueiro Biraschi. Quando o árbitro Fabrizio Pasqua apitou o final do jogo, os jogadores do Napoli desabaram ao gramado: uns festejando, outros exaustos – não apenas física, mas mentalmente. Numa das mais acirradas disputas da história do Campeonato Italiano, o Napoli precisará não apenas reverter a desvantagem que hoje tem para a Juventus, mas não deixar a pressão pelo scudetto influenciar suas atuações.
Sampdoria 0-5 Inter
Perisic (João Cancelo), Icardi (pênalti), Icardi, Icardi e Icardi
Tops: Icardi e João Cancelo (Inter) | Flops: Bereszynski e Barreto (Sampdoria)
Quatro vezes Icardi. De pênalti, de calcanhar e com faro de artilheiro. Em tarde de recordes pessoais, o argentino acabou com o jogo ante a Samp, sua antiga equipe, em uma das melhores apresentações da Inter na temporada. O camisa 9 interista se tornou o sexto jogador mais jovem (25 anos e 27 dias) a chegar aos 100 gols na Serie A, atrás apenas de lendas como Giuseppe Meazza, Silvio Piola, Giampiero Boniperti, Felice Borel e José Altafini. Agora são 103 gols na Serie A e 100 com a camisa da Inter, que o colocam como décimo maior artilheiro da história do clube. Icardi ainda chegou aos 22 na atual temporada, apenas dois atrás de Immobile, atual artilheiro do campeonato, e alcançou outra marca. Desde sua estreia na primeira divisão italiana, nenhum outro jogador anotou pelo menos três gols em tantas partidas (seis).
Em campo, apenas uma equipe. A partir do momento em que se encontrou no jogo, a Inter não tomou conhecimento de uma Sampdoria desorganizada, muito aquém do que pode demonstrar. Em um espaço de dez minutos, a Inter praticamente definiu a partida, sempre em jogadas oriundas do lado direito. De cabeça, Perisic abriu o placar aos 21; aos 26, Icardi converteu pênalti sofrido por Rafinha; e aos 31, o argentino fez um lindo gol de calcanhar. Entregue, a Sampdoria sequer conseguiu reagir, nem mesmo com as trocas feitas por Marco Giampaolo. O quarto gol ainda na primeira criou a expectativa até de uma goleada histórica, mas a Inter tirou o pé e apenas igualou seu maior placar contra a Sampdoria em jogos disputados em Gênova. Icardi fez seu quarto gol e logo na sequência foi substituído por Spalletti, que poupou mais alguns jogadores e deu um refresco para a torcida doriana.
Crotone 0-2 Roma
El Shaarawy (Kolarov) e Nainggolan
Tops: Alisson e Nainggolan (Roma) | Flops: Trotta e Capuano (Crotone)
Após a classificação às quartas de final da Champions League, a Roma voltou a campo bastante modificada para encarar o Crotone, desesperado na luta contra o rebaixamento. Mas, mesmo sem tanto esforço, o time de Eusebio Di Francesco conseguiu sua terceira vitória consecutiva e se consolidou na zona de classificação à principal competição europeia da próxima temporada. O próprio treinador romanista não se iludiu com o triunfo. “Crescemos no segundo tempo, mas apenas superficialmente. Complicamos nossa vida sozinhos”, disse, logo após o jogo.
De fato, apesar da tranquilidade no placar, a Roma contou com mais uma boa atuação de Alisson, que trabalhou pouco, mas foi fundamental para evitar o gol de Trotta quando o Crotone perdia apenas por 1 a 0. Esse lance mostrou que, apesar da motivação para sair da zona de rebaixamento, a falta de qualidade técnica pesou para o time calabrês. Por outro lado, a Roma foi precisa: na melhor chance da primeira etapa, El Shaarawy aproveitou cruzamento de Kolarov e abriu o placar. O sérvio deu sua sexta assistência na competição, duas a mais que qualquer outro defensor. No segundo tempo. Nainggolan tentou pelo menos três vezes, mas apenas no final do jogo acertou um belo chute, rasteiro, sem defesa para Cordaz.
Lazio 1-1 Bologna
Lucas Leiva (Luis Alberto) | Verdi
Tops: Luis Alberto (Lazio) e Verdi (Bologna) | Flops: Nani (Lazio) e Palacio (Bologna)
Recarregar as baterias. Essas são as palavras de ordem na Lazio para os próximos dias. Inzaghi justificou o empate, em casa, contra o Bologna, com o cansaço de sua equipe: “jogamos muitas partidas. Agora repousaremos para poder reagir da melhor maneira”, disse. Embora tenha visto qualidade e um pouco de falta de sorte, após tantas chances criadas, o treinador sabe que o momento não é bom, ao menos no Italiano. São dois pontos nas últimas três partidas e apenas oito pontos nos últimos oito jogos, que derrubaram o time da terceira para a quinta colocação. Vencer um freguês como o Bologna, que só triunfou uma vez nas 16 partidas mais recentes no Olímpico, era fundamental para reagir.
Logo aos 3 minutos, para anotar o primeiro da partida, Verdi aproveitou a sobra de uma bola que Strakosha não rebateu bem e explodiu no travessão. O empate do time da casa não demorou. Luis Alberto, líder em assistências na Serie A, achou Lucas no meio da área e o brasileiro mostrou toda sua categoria para igualar. Inzaghi colocou seu time para cima, mas o quarteto com Felipe Anderson, Luis Alberto, Nani e Immobile durou apenas 45 minutos. A formação obrigou o treinador laziale a tentar corrigir os erros defensivos de sua equipe, trocando o português por Lukaku. Os celestes até melhoraram ofensivamente, mas os espaços atrás ainda ofereceram muitas oportunidades ao Bologna, que não conseguiu aproveitar. No fim do jogo, vaias ecoaram no Olímpico.
Milan 3-2 Chievo
Çalhanoglu, Cutrone e André Silva | Stepinski e Inglese
Tops: Çalhanoglu (Milan) e Inglese (Chievo) | Flops: Kessié (Milan) e Jaroszynski (Chievo)
Duas viradas, pênalti perdido e muita emoção. O Milan deixou para trás a eliminação na Liga Europa e voltou com tudo as atenções para a Serie A, sonhando ainda com uma das vagas para a Liga dos Campeões da próxima temporada. Na sexta posição, a equipe de Gattuso está a apenas cinco pontos da Inter (quarta) e tem seis pontos de vantagem sobre a Atalanta, sétima colocada. O que deveria ser um jogo tranquilo contra o Chievo, que nunca venceu em San Siro, foi definido apenas nos minutos finais, com outro gol importantíssimo de André Silva: tal como foi contra o Genoa na última semana, o português foi decisivo. O segundo gol do camisa 9 consolidou a quinta vitória consecutiva dos rossoneri, algo que a equipe não conseguia desde abril de 2014. O Chievo, por sua vez, se complica cada vez mais e está apenas um ponto acima da zona de rebaixamento.
Embora com força máxima em campo, Gattuso já havia dito que seus jogadores estavam cansados da sequência de jogos. Mas, nos primeiros 20 minutos, o Diavolo controlou o jogo com certa facilidade e chegou ao gol com Çalhanoglu. Alguns minutos de desatenção, com o meio de campo desconexo, bastaram para o Chievo aproveitar para empatar com Stepinski e, e na sequência, virar o jogo, num golaço de Inglese. Gattuso deve ter dado um chacoalhão em seus jogadores no intervalo, já que eles voltaram em outro ritmo. Cutrone rapidamente empatou, após um rebote de Sorrentino, mas a igualdade se manteve até o fim do jogo, quando André Silva aproveitou a sobra no meio da área e garantiu a vitória.
Torino 1-2 Fiorentina
Belotti (Ljajic) | Veretout e Théréau (pênalti)
Tops: Sirigu (Torino) e Badelj (Fiorentina) | Flops: Acquah (Torino) e Simeone (Fiorentina)
Crise instalada no lado grená de Turim: quarta derrota consecutiva do Torino (o que não acontecia desde março de 2014), vaias no estádio Olímpico e Mazzarri questionado mesmo com pouco mais de três meses de trabalho. O presidente Urbano Cairo insiste que o ex-treinador do Napoli e Inter será o comandante para a próxima temporada, mas os seguidos resultados negativos e o mau futebol da equipe colocam em xeque o trabalho do técnico que tinha o objetivo de levar o Toro novamente à Liga Europa. Disputa que ficou mais real para a Fiorentina, após a terceira vitória consecutiva: a equipe viola está a três pontos da sétima colocação.
O jogo contra a Fiorentina foi um belo exemplo de como os granatê ainda tem dificuldades em encaixar o bom futebol. A viola controlou a partida, principalmente por causa da liderança de Badelj e Veretout, e criou as principais oportunidades. Não fossem as boas defesas de Sirigu, que defendeu inclusive um pênalti de Veretout, a Fiorentina poderia ter vencido com facilidade. O goleiro do Torino só não pode fazer muita coisa quando Acquah falhou e deixou Veretout frente a frente para abrir o marcador, já na segunda etapa. Belotti empatou no final da partida, mas o VAR foi decisivo em sua terceira utilização no duelo. Gavillucci já havia sido chamado duas vezes para consultar as imagens da TV: na primeira, constatou simulação de Simeone e na segunda, assinalou o pênalti desperdiçado por Veretout. Na terceira e última, marcou novo pênalti para a Fiorentina, aos 48 da segunda etapa. Théréau, que havia falhado no gol de Belotti, cobrou e deu a vitória ao time de Florença.
Verona 0-5 Atalanta
Cristante, Ilicic, Ilicic (pênalti), Ilicic (Gómez) e Gómez
Tops: Ilicic e Petagna (Atalanta) | Flops: Buchel e Verde (Verona)
Indiscutível vitória da Atalanta contra o Verona. A diferença técnica vista no jogo foi abissal. O time de Bérgamo fez o que quis com a defesa veronesa, que simplesmente sucumbiu frente à intensidade proporcionada por Ilicic e Gómez, estrelas da companhia de Gasperini. E, acredite: 5 a 0 foi pouco para os atalantinos, que estão firmes na briga por vaga na Liga Europa.
Petagna, que não marcou gols, teve pelo menos três oportunidades claras de deixar sua marca. Cristante abriu o marcador logo aos dois minutos e Papu Gómez o segundo anulado ainda na primeira etapa – menos mal para o argentino que ele ainda fez outro que realmente valeu, deu uma assistência e ainda viu outra bola bater na trave do goleiro Nícolas. Apesar disso tudo, o nome do jogo foi Ilicic. O esloveno fez três e participou ativamente de praticamente todas as jogadas de ataque dos nerazzurri. Uma partida que será dura de assimilar para o Verona, que havia se recuperado nas últimas rodadas. Além de ter sido goleado, o Hellas viu os outros resultados afundá-lo mais na zona de rebaixamento.
Udinese 1-2 Sassuolo
Fofana | Adnan (contra) e Sensi (Politano)
Tops: Fofana (Udinese) e Politano (Sassuolo) | Flops: Maxi Lopez (Udinese) e Babacar (Sassuolo)
Foram quase três meses sem saber o que é vencer. A última vitória do Sassuolo havia sido em 23 de dezembro, contra a Inter. Os nove jogos sem triunfos derrubaram os neroverdi para o fundo da tabela, mas o time emiliano não podia ter provado o sabor dos primeiros três pontos de 2018 em melhor hora. A importantíssima vitória em Údine veio em consonância com as quedas de Chievo, Crotone e Verona, o que aliviou um pouco a situação do Sassuolo. Os bianconeri, por sua vez, praticamente enterraram suas chances de lutar pela Liga Europa. A preocupação agora é encerrar a temporada sem sustos.
O primeiro tempo foi de poucas emoções, até que, após um escanteio cobrado, a bola bateu em Adnan e enganou o goleiro Bizzarri. A vantagem do Sassuolo durou apenas dois minutos, até Fofana acertar um lindo chute de fora da área, no ângulo de Consigli. Mesmo vindo de quadro derrotas consecutivas, o time de Massimo Oddo não conseguiu se impor e o Sassuolo, bem armado, conseguia controlar as ações do jogo, impedindo a criação de De Paul e deixando seus pontas jogarem com tranquilidade. Em uma das jogadas em profundidade, Politano achou Sensi livre no meio da área para dar a vitória ao time emiliano.
Benevento 1-2 Cagliari
Brignola | Pavoletti (Miangue) e Barella (pênalti)
Tops: Brignola (Benevento) e Barella (Cagliari) | Flops: Sagna (Benevento) e Han (Cagliari)
O Cagliari anotou três gols além dos 41 do segundo tempo nesta temporada: todos contra o Benevento. No primeiro turno, quem tirou a oportunidade de os stregoni conquistarem seu primeiro ponto foi Pavoletti, autor também do gol de empate neste domingo. O carrasco puniu o time da Campânia, que teve a vitória nas mãos, mas novamente não conseguiu segurar o resultado. Falta de sorte? Talvez.
De Zerbi ainda acredita na salvação de sua equipe, mas é quase certo que os giallorossi disputarão a segundona da próxima temporada: a equipe está 15 pontos abaixo da Spal, que está fora da zona de rebaixamento. Brignola, uma das sensações do campeonato, abriu o placar com um golaço, mas Pavoletti, em um lance que gerou muita polêmica do lado do Benevento, igualou escorando cruzamento de escanteio. Barella, de pênalti, definiu uma importante vitória para os sardos na luta pela salvezza.
*Os nomes entre parênteses após os autores dos gols se referem aos responsáveis pelas assistências
Seleção da rodada
Alisson (Roma); Thiago Cionek (Spal), Vicari (Spal), Albiol (Napoli); João Cancelo (Inter), Ilicic (Atalanta), Barella (Cagliari), Rafinha (Inter), Çalhanoglu (Milan); Gómez (Atalanta), Icardi (Inter). Técnico: Leonardo Semplici (Spal).