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Claudio Marchisio: o príncipe que nunca virou rei ​

A expectativa era de uma Juventus apenas figurante no último dia da janela de transferências na Itália, mas o anúncio da rescisão com Claudio Marchisio colocou a Velha Senhora de volta no centro dos holofotes, surpreendendo grande parte da torcida e da mídia especializada do país. O meia dedicou 25 dos seus 32 anos de idade ao clube de coração e encerra mais uma das poucas histórias de amor à camisa que ainda restam nesta era de futebol globalizado e mercantilizado.

Apelidado de Principino (pequeno príncipe) por seu comportamento exemplar dentro de campo e pela elegância na hora de se vestir, Marchisio deixa Turim com a sensação de que poderia ter sido maior do que foi – e olha que já foi grande. Quando subiu para o profissional do clube, em 2006, ele despontava como enorme promessa do time e do futebol italiano. Era tido como possível substituto de Alessandro Del Piero no hall de ídolos fabricados em casa. Esperava-se que, com alguns anos de experiência, ele herdasse a braçadeira de capitão, virasse o dono do time e se tornasse uma referência técnica dentro de campo, e isso nunca aconteceu.

Desde cedo, o meio-campista Marchisio mostrou qualidade e poder de decisão em clássicos (AFP/Getty)

Não que sua passagem não tenha sido memorável. Ela foi. Marchisio disputou 389 partidas vestindo bianconero, levantou 15 taças (sete vezes a Serie A, quatro edições da Coppa Italia, três Supercopas Italianas e uma Serie B), marcou 37 gols, participou do calvário na segundona e da reestruturação do clube pós-Calciopoli e ainda foi duas vezes vice-campeão europeu. A expectativa, no entanto, era maior.

Depois da saída de Del Piero, em 2012, quando achava-se que ele poderia assumir o papel do torcedor dentro de campo e ganhar tamanho no clube, ele acabou eclipsado pelo novo capitão Gianluigi Buffon (em questão de raça e liderança) e pelas grandes temporadas de Paul Pogba, Andrea Pirlo, Arturo Vidal, Carlos Tévez e Paulo Dybala (no quesito técnico).

Evoluindo ano após ano, Marchisio foi um dos rostos do período de dominação da Juventus na Serie A (Getty)

Ainda assim, sua saída foi muito sentida pela torcida juventina. Afinal, Marchisio era uma lembrança de tempos em que o jogador era mais identificado com a camisa do clube que defendia. E também de um tempo em que a Juventus ainda revelava grandes nomes para o futebol mundial, sem precisar comprá-los de outros clubes. O Principino é o último grande produto genuinamente bianconero que vingou em altíssimo nível.

O fato de sua rescisão acontecer pouco tempo depois de Buffon deixar Turim um gosto ainda mais amargo. Agora, o goleiro Carlo Pinsoglio é o único jogador formado na base da Juve inscrito no time principal. Além disso, restam apenas dois atletas que estiveram em todas as campanhas do heptacampeonato da Serie A: Giorgio Chiellini e Andrea Barzagli.

Apesar de sua importância para a Velha Senhora e do status de xodó da torcida, Marchisio não se tornou mais relevante devido a questões físicas (Getty)

É mesmo o início de um novo ciclo, com foco total na conquista da Liga dos Campeões e no crescimento da marca, e já não havia espaço para um Marchisio cada vez mais prejudicado fisicamente. Nas duas últimas temporadas, em especial, ele sofreu com diversas lesões. O camisa 8 deixou de ser essencial para o time de Max Allegri e, percebendo isso, decidiu tentar uma nova experiência em outro lugar.

Ainda não há nada certo, mas os boatos não são poucos. Alguns apostam que o meio-campista vai para um mercado emergente, como o da China ou o dos Estados Unidos, mas há quem acredite que Marchisio jogue mais uma ou duas temporadas na Europa. Paris Saint-Germain, Monaco e Nice teriam interesse. Ventilou-se até a possibilidade de Pep Guardiola ter entrado em contato com ele para que Marchisio substituísse De Bruyne no City nos três meses que o belga estará afastado por lesão. Jogador e clube ainda não deram nenhum sinal e a expectativa, por enquanto, é de uma despedida além de uma troca de mensagens carinhosas pelas redes sociais.

O meia teve problemas físicos no fim de sua carreira, que terminou cedo e não foi encerrada em Turim (Getty)

Para onde quer que ele vá, a esperança é de que ele repita alguns dos grandes momentos que viveu vestindo bianconero. Na Itália, ficará a lembrança de um grande meio-campista, versátil até dizer chega. Forte, com passe preciso e bom chute de média distância, Marchisio passou por todas as posições do meio com muita qualidade. Pode até não ter sido rei, mas foi um membro exemplar da corte juventina.

Atualizado em 2024: Marchisio acertou com o Zenit, da Rússia, e até comemorou o título da Premier League local. Porém, lesionou novamente o joelho e pouco jogou. O meia rescindiu o seu contrato com o time de São Petersburgo em julho de 2019 e até tentou se recuperar fisicamente, mas acabou dando o braço a torcer: após recusar ofertas, anunciou a aposentadoria em outubro do mesmo ano, aos 33. O Principino decidiu se dedicar ao jornalismo na seguida e, além de ser comentarista esportivo, escreveu uma coluna no Corriere della Sera, na qual tratou, com a classe habitual, sobre diversos temas alheios ao esporte.

Claudio Marchisio
Nascimento: 19 de janeiro de 1986, em Turim, Itália
Posição: meio-campista
Clubes: Juventus (2006-07 e 2008-18), Empoli (2007-08) e Zenit (2018-19)
Títulos: Serie B (2007), Torneio de Toulon (2008), Serie A (2012, 2013, 2014, 2015, 2016, 2017 e 2018), Supercopa Italiana (2012, 2013 e 2015), Coppa Italia (2015, 2016, 2017 e 2018) e Premier League Russa (2019)
Seleção italiana: 55 jogos e cinco gols

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